Porquê as pessoas vão votar?
A ciência econômica ainda não pode nos dar respostas a esta questão de forma convincente. Se seguirmos somente o critério de racionalidade puramente econômica, isto é, aquele que nos leva a fazer escolhas em termos de custos e benefícios para o indivíduo, nenhum cidadão racional deveria ir às urnas. De fato, o impacto que um único voto tem sobre o resultado final de uma votação política está muito perto de zero, enquanto que o custo (em tempo, especialmente) está todo sobre o indivíduo. Se, em outras palavras, cada pessoa se perguntasse “o que o meu voto acrescenta na política nacional?” e agisse de conseqüência, deveríamos nos encontrar com as sessões eleitorais desertas.
Mas porque então, não obstante a teoria econômica e os economistas, ainda muitas pessoas vão votar? Talvez porque quando participamos da vida civil e política não olhamos somente aos benefícios e aos custos individuais e materiais, mas atribuímos também um valor intrínseco ou ético à participação política em si. Quando Franca deve se decidir se ir ou não votar, se o custo material do voto é 2 (tempo, gasolina…) e o benefício é 0,1 (isto é, quanto vai influenciar o seu voto no êxito eleitoral), se ela não considerasse outros tipos de benefícios, ficaria tranquilamente em casa ou iria passear. Se, ao invés, a participação política lhe traz por si mesma bem estar ou felicidade, é como se àquele 0,1 se acrescentasse um valor material que, se bastante elevado, a faz ir às urnas ao invés de gozar de um repouso dominical. O que podemos dizer então, a partir desta prospectiva, sobre o declínio da afluência? Antes de tudo, deduzir que este declínio é também resultado de um número crescente de pessoas que pensam em termos puramente individualistas e “econômicos”.
Mas podemos dizer ainda algo mais. Quando a qualidade do debate político e a moralidade dos políticos decaem, aquele valor intrínseco e simbólico da participação se reduz nas pessoas. E quando decaem abaixo do limiar crítico (para Franca é de 1,9 e cada um tem o seu “limiar crítico”) pode-se não ir mais votar: “não vale mais a pena”, é uma expressão que diz em extrema síntese tudo isso. E mesmo se Franca ignora qual seja o seu “limiar crítico”, se este ano não foi votar, com esta sua escolha nos revelou que o seu valor intrínseco da participação política decaiu. Neste caso até mesmo um ‘não voto’ é um sinal de mal-estar e talvez um pedido por uma melhor qualidade da vida política. É claro, existem cidadãos para os quais o valor ético da participação política é muito alto, mas muitos outros gravitam ao redor daquele valor “limiar” e a crise moral da política pode ter induzido muitos destes a renunciar ao voto.
O que concluir então? Se quisermos que as pessoas continuem a votar, a exercitar este direito-dever príncipe em uma democracia, é preciso preencher de ideais e de moralidade a política e fazer com que aquele valor simbólico, mas muito real, seja sempre alto e que “valha a pena”.