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Por Valter Hugo Muniz
Do dia 16 ao dia 22 deste mês se realizará a Semana Mundo Unido. Jovens de todo o mundo estão programando diversas iniciativas com o objetivo de mostrar que a paz, a solidariedade, a fraternidade podem ser construídos e cultivados a partir de nossas cidades
Explode a guerra no Líbano. A morte de civis, a intolerância e os atos terroristas parecem di-recionar o país a rumos catastróficos. Os números oficiais dizem que os ataques já mataram quase duzentas crianças até o início de setembro e elas já contabilizam um terço dos feridos no conflito.
Enquanto o mundo dirige suas atenções para o Oriente Médio, na África as mulheres ainda lutam por uma vida melhor, quase sempre utópica, pois a falta de credibilidade nos governantes é evidente. Em uma pesquisa feita pela BBC, televisão inglesa, percebe-se que a situação da mulher africana é mascarada. Elas ainda sofrem muito com a violência, sobretudo a doméstica.
Na Europa, o descontentamento de jovens que habitam nas periferias das cidades francesas tem gerado fortes conflitos com a sociedade. E poderíamos continuar a relação de fatos que demonstram a situação atual do mundo segundo a leitura da mídia.
Contudo, não é preciso ir muito longe para se dar conta da violência, da intolerância e da guerra que parecem infindáveis em todo o planeta. Os ataques de grupos criminosos em São Paulo, os conflitos nas favelas do Rio de Janeiro, sequestros, vandalismo e manifestações de intolerância de todo tipo, são problemas que têm feito cada vez mais parte do cotidia-no de todos.
Em meio a toda esta balbúrdia é possível acreditar em um mundo melhor? É utópico demais pensar na paz?
Um desafio aos jovens
Em 1995, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, falando para milhares de jovens de todo o mundo que se reuniam em Roma, convidou-os a não se deixarem intimidar pelos sinais de ódio e de violência que marcam o nosso tempo e lançou uma proposta original: a realização de uma “Semana Mundo Unido”. Com essa proposta, Chiara confiava aos jovens a difusão de uma cultura de paz e de fraternidade baseada em relacionamentos de convivência pacífica e de enriquecimento recíproco entre os povos e as culturas, no respeito à dignidade de cada ser humano e à identidade de cada povo ou comunidade.
“Uma proposta para todos nós, para os jovens do mundo inteiro, para as instituições nacionais e internacionais, públicas e privadas, para todos; uma proposta, ou melhor, um compromisso: um encontro marcado com a Semana Mundo Unido. O objetivo? Evidenciar e valorizar as iniciativas que promovem a unidade, em todos os níveis”, explicou Chiara.
A proposta de Chiara teve a adesão imediata de jovens de todo o mundo pertencentes ao Movimento Jovens por um Mundo Unido (MJMU, expressão do Movimento dos Focolares) que engloba jovens de diversas raças e nacionalidades, pertencentes às principais Igrejas, mas também de outras religiões e culturas que não professam um credo religioso. E já em 1996 despontaram iniciativas em todo o mundo — cinefóruns, manifestações públicas pela paz, divulgação na mídia, iniciativas sociais — que tinham o objetivo de chamar a atenção da opinião pública para os ideais de paz e de fraternidade.
Um momento fundamental da SMU – no seu início ou na sua conclusão – é a conexão telefónica que coloca em comunicação simultânea os jovens do MJMU de diversos países para uma troca de experiências sobre as iniciativas empreendidas por eles ou para uma comunicação direta com jovens de países em guerra ou que sofreram alguma catástrofe natural. Também Chiara Lubich participa da conexão com uma mensagem que, em geral, leva os jovens a olharem o mundo e os acontecimentos sob o prisma da fraternidade e da unidade entre os homens.
Trabalhando pelo mundo unido
A primeira edição da Semana Mundo Unido já contou com a participação de 80 cidades nos cinco continentes. Do Peru à Coreia do Sul, da Finlândia à África do Sul, os jovens se mobilizaram em iniciativas originais e muito concretas.
Na SMU de 1998, representantes do Movimento Jovens por um Mundo Unido dos Estados Unidos levaram ao secretário-geral da ONU um documento elaborado com a ajuda dos jovens do Iraque em favor da unidade entre os povos.
Em 2002, os jovens do Oriente Médio desenvolveram diversas iniciativas para renovar na população a esperança e a fé no mundo unido e na fraternidade universal. No Líbano, por exemplo, eles anunciaram a proposta do mundo unido nas praças, com concertos e outras manifestações artísticas. Além disso, eles recolheram uma grande quantidade de alimentos em frente aos seis maiores supermercados de Beirute, que depois foram distribuídos para 100 famílias carentes.
No ano passado, quando a SMU completou seus 10 anos, as atividades se alastraram por todo o mundo. Na Tanzânia, país da África subsaariana, 42 Jovens por um Mundo Unido construíram duas cabanas com barro e palha, para dois refugiados idosos que não tinham um lugar para ficar. Foram também às duas escolas de ensino médio do campo de refugiados para partilhar as experiências feitas pelos Jovens por um Mundo Unido de seu país.
A Semana Mundo Unido deste ano se realizará do dia 16 ao dia 22 de Outubro e terá como lema: “Mundo Unido: comece pela sua cidade”. Diversas ações estão sendo programadas em muitos países, procurando agora, mais do que tudo, mostrar que a paz, a solidariedade, a fraternidade, todos os valores que parecem estar perdidos, devem ser construídos e cultivados nos nossos ambientes, em família, na escola, no trabalho, com os amigos, a partir de nossas cidades.
Agenda Mundo Unido
Uma pequena agenda com pensamentos para serem concretizados a cada dia durante a SMU foi uma das ideias que os jovens tiveram para disseminar a proposta de fraternidade assumida por eles.
Seguem abaixo os textos da Agenda para serem refletidos e vividos a cada dia da Semana Mundo Unido.
SEGUNDA-FEIRA
Uma cidade… SOLIDÁRIA “A diferença entre o que fazemos e o que somos capazes de fazer seria suficiente para resolver a maioria dos problemas do mundo.” (Mahatma Gandhi)
Relato de uma cidade
“Sou artista plástica e sempre me incomodou a diferença social que existe na minha cidade. Decidi me aproximar de uma comunidade carente onde as pessoas moravam em casas de tábuas e papelão. Depois de 25 anos de trabalho ali, junto com os moradores, foi possível substituir e reformar 84 casas em regime de mutirão. Hoje também já existem muitos outros trabalhos em prol dessa comunidade.” (A.R. – São Paulo)
TERÇA-FEIRA
Uma cidade… FRATERNA
“Épreciso amar a todos, simpáticos e antipáticos, pobres e ricos, da nossa pátria ou de outra, amigos ou inimigos.” (Chiara Lubich)
Relato de uma cidade
“Sou libanesa e trabalho na recepção de um hospital em Beirute. Um dia chegou um palestino com um parente doente em estado grave. Sua origem palestina seria suficiente para que eu me recusasse a atendê-lo, porque venho de um vilarejo que foi totalmente queimado por eles. Procurei superar o ódio e o rancor que tinha dentro de mim e ajudá-lo. Críamos uma amizade que foi muito além do período de convalescença de seu parente e envolveu também nossas famílias”. (H.N. – Líbano)
QUARTA-FEIRA
Uma cidade… DE PAZ “O amor é a única força capaz de transformar um inimigo em amigo.”
(Martin Luther King)
Relato de uma cidade
“Dois meninos estavam brigando na escola. Eu os separei e sugeri que fizessem as pazes, mas eles não quiseram. Mais tarde, um deles estava no pátio e foi procurar o outro. Chamei-o para dar uma volta, fazendo com que nos encontrássemos ‘por acaso’. Eles se deram as mãos e voltaram a ser amigos.”
(R., sete anos – Venezuela)
QUINTA-FEIRA
Uma cidade… QUE ACOLHE “Podemos nos contentar com o bem de um só indivíduo, mas é muito melhor e mais divino o bem da inteira comunidade. ” (Aristóteles)
Relato de uma cidade
“Na esquina, perto de casa, tem um cruzamento movimentado que não tinha sinalização adequada. Por isso aconteciam muitos acidentes. Como cidadã, deveria fazer alguma coisa e resolvi buscar ajuda dos órgãos competentes. Depois de muita insistência foi colocada nessa esquina uma rotatória e os acidentes diminuíram bastante.”
(C.P. – Ribeirão Preto, SP)
SEXTA-FEIRA
Uma cidade… DE ESPERANÇA “Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo se for para ajudá-lo a levantar-se.” (Gabriel Garcia Marques)
Relato de uma cidade
“Sempre fiquei inquieto ao ver jovens entregues às drogas pelas ruas de minha cidade. Então, tive uma ideia: ajudá-los a ter uma esperança e desenvolver alguma atividade que os ajudasse a deixar o vício. Comecei a ensiná-los a fazer pulseirínhas. Hoje sou um dos responsáveis pela Fazenda da Esperança, um lugar de recuperação de dependentes químicos que tem como base de tratamento o exercido de sair de si, amando quem está ao redor.”
(N. – Guaratinguetá, SP)
SÁBADO
Uma cidade… TRANSFORMADORA “…Olhe bem, veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas -mas que elas vão sempre mudando.” (João Guimarães Rosa)
Relato de uma cidade
“Há seis anos mudei de cidade e quando cheguei ao terminal rodoviário percebi que não havia uma escada rolante que ajudasse os passageiros idosos e deficientes. Exercendo meu direito de cidadão em favor do bem comum, fiz várias solicitações à administração do terminal, pedindo providências. Depois de mais de um ano, foi instalada uma escada rolante que, por muitos meses, ficou sem funcionar. Voltei a solicitar providências e a escada logo começou a operar e contínua funcionando até hoje.”
(E. – Rio de Janeiro)
DOMINGO
Uma cidade… JUSTA
“(…) a liberdade e a responsabilidade caminham juntas. A verdadeira liberdade demonstra-se na responsabilidade, num modo de agir que assume sobre si a co-responsabilidade pelo mundo, por si mesmo e pelos outros.” , (Bento XVI)
Relato de uma cidade
“Um dia perdi meu celular, e meus amigos, sabendo que eu tinha seguro, tentaram me convencer afazer um boletim de ocorrendo informando que tinha sido roubado, de modo a conseguir um novo aparelho gratuitamente. Minha consciência me mandava ser coerente e não fiz o boletim. Alguns dias depois uma senhora me telefonou dizendo que havia encontrado meu celular.”
(A.M. – São Paulo)