jornaleiro

Pensar em um trabalho de conclusão de curso foi, antes de tudo, me defrontar mais uma vez com uma pergunta primária, simples, mas que gera uma avalanche de questionamentos.

Porque estou aqui? De onde eu vim? Para onde vou? São indagações que, não raramente, pousam na minha cabeça, nessa busca existencialista constante e que tem a finalidade de dar um sentido profundo a minha participação nesse grande jogo que é a vida.

Como jornalista talvez a primeira pergunta nessa vertente foi: informação ou conhecimento? Claro que, em tempos de muita informação e escasso conhecimento decidi, pela complexidade, partir à procura de outra questão que satisfizesse essas exigências pessoais.

Foi assim que, no meu desespero introspectivo, caminhando pelo espaço arborizado da TV Cultura, último local me acolheu como estagiário, fui surpreendido com o vôo rasante de um pássaro munido de matéria orgânica fecal, que por centímetros não sujou minha camiseta.

A raiva e mesmo o alivio só foram amenizados quando cumprimentei, logo em seguida, dois funcionários do jardim, que transportavam um carrinho com algo mal cheiroso, que logo conclui o que era: adubo orgânico.

Eureka!!! Um insight cotidiano onde finalmente encontrei a pergunta chave para o meu tcc. Qualquer um de nós pode produzir matéria orgânica, até os animais. Mas quem é capaz de transformar matéria em conteúdo? Dar utilidade social a algo natural? Melhor, como fazer das fezes, item essencial para o enriquecimento da terra?

Nós, seres humanos, pensantes, somos capazes de tudo isso. Podemos ser verdadeiros protagonistas da mudança da sociedade… Pro bem e pro mal.

Mas o que o meu tcc tem a ver com isso?.

Há tempos venho sofrendo muito para encontrar uma linha, um fio que pudesse realmente transformar em conteúdo, todas as doze horas de material gravado que fiz durante os últimos seis meses.

Trabalhando em diversas empresas de comunicação, mesmo na grande imprensa, percebo uma ausência de reflexão sobre a necessidade de transformar os fatos do cotidiano em algo edificador e por que não, transgressor dessa realidade esquizofrênica.

Discursos que apontam a velocidade, a falta de tempo e incriminam as Novas Mídias servem de desculpas, mesmo que parcialmente plausíveis, para o descomprometimento e a redenção dos profissionais na pratica diária de seus trabalhos.

Claro… criticar é fácil. Mas quando você se vê diante da necessidade de tomar decisões no que diz respeito a isso, não tendo capacidade técnica e muito menos amadurecimento profissional, entende-se rapidamente que, concretamente, o fazer jornalismo no mundo atual precisa de novas perguntas e, claro, novas respostas.

Escolhi para o meu documentário quatro personagens, quatro jovens que, como eu, não têm essas respostas e talvez nem mesmo a esperança concreta de que uma mudança “alla grande” é possível, mas eles precisam ser ouvidos.

Não porque supostamente representam um perfil dos profissionais que começarão sua vida profissional, nem mesmo porque são portadores de uma mensagem inovadora, discursos novos, não é nada disso, mas simplesmente pelo exercício que, nem estudantes, nem profissionais e nem formadores da área de comunicação estão acostumados a fazer: OUVIR.

Mas também os formadores precisam pontuar algumas coisas, precisam enriquecer a discussão com a experiência, a vivencia e a sabedoria que só o tempo é capaz de encarnar. Precisa existir um relacionamento intenso entre formadores e formandos, realidade e utopia.

Está sendo repensado o currículo dos estudantes de jornalismo, mas existe pouca discussão e participação dos principais interessados. O diploma não é mais exigido e ninguém parou para pensar no que isso significa para aqueles que estão se formando. Existe uma grande frustração dos estudantes de jornalismo que saem da faculdade, mas e daí? Ninguém se olha, se ouve, se interessa pelas diferentes vozes que devem soar em uníssono para que a “orquestra encontre sintonia”, para que se possa começar a construir o tal novo jornalismo.

Porque um jovem escolhe o jornalismo hoje, em uma sociedade sem projetos e perspectivas? O que imaginam os professores sobre isso? Para que serve o jornalismo para esses futuros profissionais? O que motiva esses alunos segundo seus formadores? Qual o papel da formação que tiveram? Jornalistas ou jornaleiros?

O documentário não foi concluído, ainda existe muita matéria orgânica a ser descartada, mas a perspectiva é boa, pois existe uma exigência interior de transformá-la em algo que sirva, transforme.

Links no Youtube:

Parte 1:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=JIBpbzzyqEU]

Parte 2:

[youtube= http://www.youtube.com/watch?v=gm9LQuVCOo8]

Parte3:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=TmRjBdtlzd0]

Parte 4:

[youtube= http://www.youtube.com/watch?v=Fxw7Wzqxw-A]

Parte 5:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=lmHvfyau2QU]

Parte 6:

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