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Eduardo Campos e o ardor futebolístico das eleições

Eduardo Campos

Não conhecia Eduardo Campos. Nem o ser humano, muito menos o político. Sei que as opiniões são divergentes a respeito do legado que ele deixou como homem público, claro, porque como ser humano certamente os frutos são mais evidentes.

Acompanhando tudo à distância, devo dizer que não me entusiasma a emotividade criada após a triste tragédia que tirou da disputa, o terceiro candidato nas pesquisas de intenção de voto. Os motivos, acredito, são simples.

A primeira decepção foi em relação a banalização da vida perdida. Redes sociais serviram de palco para manifestações tolas, algumas vezes desumanas, em que a política, novamente, passou a ser discutida com ardor futebolístico, enquanto uma família perdia seu pai, seu marido. Antes de tudo, o ser humano. Por favor!

Outro aspecto que me entristeceu foram as acusações grosseiras, conspiratórias, sobre as explicações ligadas ao acidente aéreo envolvendo Eduardo Campos. Não que ele não possa ter sido planejado, mas cabe à polícia apurar e não aos blogueiros especularem, criando situações que nada acrescentam ao cenário eleitoral que se aproxima.

Eduardo CamposPor fim, a ilusão dos eleitores. Por melhor que tenha sido como político, por mais competente, Eduardo Campos não era o salvador da pátria. Como foram Lula, Dilma e tantos outros, ele era, sobretudo, uma promessa. Campos representava uma força política que diminuía a ingrata polarização PT-PSDB. Uma terceira possibilidade. Ponto.

Contudo, creio que as mudanças significativas que almejamos não está na escolha de fulano ou ciclano, mas na sua capacidade de dialogar, de enfrentar questões difíceis, governando para todos e não só para um determinado grupo de interesse. Dito isso, sim, talvez, entre os candidatos, podemos observar um mais capaz, outro menos, mas, depois, o foco deve estar nos projetos apresentados e nas estratégias traçada para colocá-los em prática.

O que refletir no pós Eduardo Campos

Infelizmente, pela segunda vez seguida, não vou poder participar diretamente da escolha dos próximos governantes do meu país e estado. Porém, tenho procurado participar indiretamente, lendo, propondo debates e refletindo sobre o que eu quero para o Brasil. Como podemos caminhar, juntos, em direção ao bem comum.

Eduardo CamposExistem muitos caminhos. Modelos ideológicos de Direita, de Esquerda e, claro, de Centro. Existem pessoas moralmente engajadas, outras preocupadas na manutenção do próprio poder. Para votar bem é fundamental informar-se (de preferência variar as fontes de informação, mas preocupando-se com a credibilidade das mesmas).

Eu, particularmente, tenho vivido um período de descontentamento, não só em relação aos projetos políticos (ou a ausência deles), mas com a sociedade brasileira como um todo. Sinto que continuamos vivendo os períodos eleitorais com o tal ardor futebolístico, em que a emoção vale mais que a razão, as ideias, e o outro, a oposição, não tem nada a acrescentar ao “meu” ponto de vista. Assim, caminhamos, dialeticamente, mais preocupados em sermos a antítese do “legado do outro”, que em chegarmos a uma síntese comum.

Sem ouvir as opiniões contrárias, sem procurar colher o “bom” de cada argumento, sem saber negociar (que é, muitas vezes, ceder), não será possível construir um país que, também politicamente, espelhe a nossa fantástica diversidade cultural. É nessa dinâmica, difícil e desafiadora, onde precisamos depositar nossas energias e não simplesmente usando argumentos destrutivos.

Quando aceitarmos esse desafio, aí sim poderemos sentar juntos, situação e oposição, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres, para iniciar as reformas necessárias, que irão determinar o futuro do nosso Brasil.

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Eleições

Voto obrigatório: serve um instrumento se não se sabe usá-lo?

Voto obrigatório

Nunca achei que a obrigatoriedade do voto pudesse, de alguma maneira, dar legitimidade a uma democracia. Ter em mãos um importante instrumento da vida democrática, mas não saber usá-lo para o próprio bem (e para o bem comum), é como tomar remédio “tarja preta” sem prescrição médica. Nos dois casos os danos podem ser irreversíveis.

No advento de mais uma eleição e na evidente necessidade de uma reforma política, tenho pensado no valor que o voto obrigatório tem para a democracia brasileira. Na nação em que eu, agora, vivo, o Estado não obriga seus cidadãos a votarem. O problema da abstenção existe, mas isso não afeta o bem estar geral e nem diminui a qualidade da democracia do país.

Quando passou a ser obrigado votar?

Voto obrigatórioSegundo o excelente estudo feito pela Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina, Luzia Helena Herrmann de Oliveira, “O voto obrigatório foi implantado no Brasil com o Código Eleitoral de 1932 e transformado em norma constitucional a partir de 1934. Regulamentado em um período de transformações institucionais que objetivavam dar credibilidade ao processo eleitoral, ele foi justificado como uma necessidade para garantir a presença dos eleitores nas eleições.

No período em que o voto foi determinado obrigatório, explica Luzia de Oliveira, o eleitorado “restringia-se a cerca de 10% da população adulta, o que significava um número muito reduzido (Soares, 1973). Contudo, com as transformações da sociedade brasileira e a concessão dos direitos políticos aos maiores de 16 anos e aos analfabetos, esse percentual cresceu expressivamente”. Nas eleições de 1998, por exemplo, tivemos a participação de 67% da população brasileira (TSE, 1998a; IBGE, 1998a).

Não basta poder votar

Hoje, como pudemos observar, o percentual de eleitores cresceu bastante. Dessa forma, acredito que se deva privilegiar não mais a quantidade de eleitores, mas a qualidade da participação. Não sou um especialista em política eleitoral e não quero fazer um tratado sobre o assunto, mas tendo a pensar que o voto, sem uma educação política, é um instrumento ineficaz, com valor exclusivamente simbólico.304561_333063526785406_586973567_n

Votar é a ponta do iceberg da participação política e não deve se limitar a escolha de representantes, mas englobar outros aspectos políticos, como a aprovação/rejeição direta de leis, por exemplo. Creio que o cidadão eleitor, ao enxergar a ressonância direta de suas escolhas nas decisões políticas, irá viver a democracia com mais constância. Cabe também ao governo estimular a participação política, criando mecanismos de informação e formação para que seus cidadãos, desde muito cedo, descubram as possibilidades de protagonismo, no interior do espaço político onde vivem.

A defesa do voto obrigatório

Muitos daqueles que defendem o voto obrigatório afirmam que não existe qualquer comprovação do argumento de que o voto obrigatório prejudica a qualidade da democracia. É verdade. Não é o voto em si que prejudica a nossa democracia, mas a ilusão de que a possibilidade de votar qualifica positivamente um ambiente democrático.

No Brasil, na prática, o eleitor pode justificar seu voto em qualquer seção eleitoral do país e se não fizer, recebe uma multa irrisória de R$ 3,50. Além disso, o eleitor pode escolher anular seu voto nas modernas urnas de nosso sistema.

“Nas últimas três eleições presidenciais, tivemos o comparecimento de quase 75% dos eleitores, uma marca invejável para qualquer democracia do planeta. A obrigatoriedade do voto também faz da eleição um momento especial de informação do eleitorado. De dois em dois anos, somos levados a nos atualizar acerca dos assuntos que dizem respeito a nossa vida coletiva e decidir por pessoas, ideias e projetos, em detrimento de outras pessoas, ideias e projetos. Em países onde o voto não é obrigatório, como nos Estados Unidos, esse processo é mais diluído, e boa parte dos cidadãos passa incólume pelo processo eleitoral. Não no Brasil. Nossas eleições são um evento cívico vivido por quase todos nós” explicam os João Feres Júnior, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Fábio Kerche, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Contudo, da mesma forma que o comparecimento quantitativo não enriquece o contexto participativo em uma democracia, viver o período das eleições com a mesma emotividade que existe no contexto futebolístico, por exemplo, é extremamente pouco produtivo. Quanto mais nos aproximamos das eleições, mais vejo, sobretudo nas redes sociais, a reprodução indiscriminada de acusações e críticas pouco construtivas direcionadas a um ou outro candidato.

Com a obrigatoriedade do voto, o sistema eleitoral brasileiro promove uma justificativa falaciosa do que deveria ser a participação política. É fundamental informar-se e educar-se para entender que a democracia é um sistema vivo, dinâmico, de negociação de interesses, na diversidade e, principalmente, no respeito ao outro. Poder influenciar diretamente, não somente votando os representantes políticos, mas interferindo nas decisões ligadas ao município aonde se vive, é um instrumento que, acredito, valeria à pena ser experimentado.

Luzia Oliveira afirma que, “na Venezuela, análises realizadas anteriormente à reforma de 1993, indicavam a possibilidade de uma significativa queda na participação política, o que foi confirmado pelos fatos. Na Holanda, Irwin (1974) também observou mudanças nas atitudes dos eleitores após a implantação do voto facultativo em 1971”.

Mais participação é certamente garantia de uma democracia legítima e rica, mas não acredito que a mesma, delimitada há alguns cliques na urna eletrônica, pode ser considerada real e construtivas.

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[i] OLIVEIRA, Luzia Helena Herrmann de. Voto obrigatório e eqüidade um estudo de caso. São Paulo Perspec. [online]. 1999, vol.13, n.4 [cited  2014-08-11], pp. 144-152 . Available from: . ISSN 0102-8839.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88391999000400016.

O polêmico Silas Malafaia

Silas Malafaia

Idealista! Foi assim que o pastor Silas Malafaia se denominou na entrevista sensacional dada à renomada jornalista Maria Gabriela. Tenho de admitir que gosto de seres humanos idealistas. Talvez porque foi assim que, algumas vezes, meus professores me definiram.

Decidi escrever minhas reflexões logo após ver o programa, para tentar ser o mais fiel possível aos pensamentos e sentimentos que ele me suscitou.

Silas Malafaia: o orador

Silas MalafaiaSem sombra de dúvidas, o pastor pentecostal brasileiro tem um enorme dom da palavra. Não sei quantas vezes em minha vida encontrei um ser humano tão habilidoso no discursar como o senhor Malafaia. É incrível a sua capacidade de manejar sabiamente o tom e o teor das palavras.

A estratégia do pastor da Assembleia de Deus não é, nem de longe, se esconder. Silas Malafaia não é irônico ou pedante, mas uma espécie de gladiador, um guerreiro que usa seu discurso para expressar claramente suas verdades, seu idealismo.

Silas Malafaia: a incógnita

A veemência e a força expressiva de Malafaia me fez realmente pensar na veracidade daquilo que ele afirma. Não as verdades que ele descreve como bíblicas, os valores que defende, mas o “não dito”, a ausência de explicações completas de alguém que goza de – muitos ou poucos – recursos econômicos que a sua instituição religiosa parece prover.

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Sempre considerei os extremos perigosos. E em se tratando de um ser humano, desconfio da impressão de credibilidade extrema que ele, intencionalmente ou não, acaba passando. Durante a entrevista, ocultaram-se as fragilidades, os desvios, as dissonâncias que qualquer ser humano carrega consigo. Malafaia defendeu suas ideias a todo o momento sem, contudo, expor seus medos, suas dúvidas, aspectos fundamentais para um retrato completo de sua humanidade.

Silas Malafaia: o religioso

Muito daquilo que vejo muitos católicos, como eu, questionam nas igrejas evangélicas era praticado, há alguns séculos atrás, pela Igreja Católica. Toda instituição religiosa, quando prospera economicamente, passa a receber um olhar crítico, suspeito, como se fosse um instrumento perverso de poder, que usa de sua ideologia para convencer “ignorantes” e, em seguida, enriquecer. Esse pensamento me incomoda e, ao mesmo tempo que é carregado de ignorância e preconceito, muitas vezes exprime uma enorme ingenuidade.

É notável: a nossa sociedade é construída sobre diferentes ideologias. Religiosas, políticas, sociais, existe uma infinidade de “fragmentos de verdades” e, cada um, livremente, é levado a acreditar em um ou outro. O que não se pode, contudo, defender é ausência da ideologia “ateísta” que, com objetivos econômicos, quer edificar as verdades e os pressupostos sociais coletivos, ignorando as diferentes tradições religiosas.

SIM! Religião e política se discute

O que me incomodou em Malafaia, o que me incomoda no extremismo judeu, muçulmano, católico, é a incapacidade de negociar, de tolerar, sobretudo quando a religião se encontra com o poder político.

A democracia deveria ser um espaço dinâmico onde discutimos nossas verdades, não como torcedores de futebol, mas como seres humanos preocupados com o bem estar de TODOS, independentemente da cor, raça, opção sexual e etc.

Todas as leis devem proteger os cidadãos, não importa quem sejam. É preciso olhar sempre o ser humano, na sua multiplicidade, e jugar o que é certo e o que é errado baseado em uma séria observação, sem fundamentalismos, estando sempre pronto a negociar, descobrir o que é bem comum.

O bem que a entrevista com o pastor Silas Malafaia me fez foi enorme. Ajudou-me a descobrir quão fundamental é manter a mente aberta, ouvir os pontos de vista diferentes e me surpreender com aqueles em comum. Talvez a ESCUTAR seja uma das habilidades mais importantes que nós, brasileiros, precisamos urgentemente desenvolver. O futuro do Brasil depende profundamente disso.

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Política: o que eu tenho a ver com isso?

Eu e a política

Interesses. Todo mundo tem os seus. Tem gente que sonha em ter uma casa própria, ou um bom trabalho, ou uma educação de qualidade. São os nossos interesses pessoais que nos impulsionam a realizar nossos projetos, a trabalhar visando o nosso próprio bem estar.

Entretanto, inseridos em um contexto comunitário, que envolve outros indivíduos iguais em dignidade, direitos e deveres, encontramos um importante obstáculo toda vez que, individualmente, queremos algo. Não é que os nossos desejos pessoais tenham, essencialmente, menos valor quando expressos em um contexto coletivo. Mas, dentro de uma comunidade (unidade social reunida com base nos interesses/valores comuns) todo anseio individual, por melhor que seja, vem confrontado com o bem coletivo, com a sua capacidade de trazer bem estar também às outras pessoas que convivem em um mesmo espaço geográfico.

Para negociar civilizadamente os anseios individuais de maneira coletiva, surgiu a tal democracia, um “espaço dinâmico” onde a aplicação de um determinado interesse deve, à priori, ser discutida e aprovada pela “maioria”, com o pressuposto de que as decisões tomadas, de maneira representativa ou não, devem visar o bem comum.

Eu e a política

eu e a politicaA descrição acima foi a maneira mais simples que encontrei para explicar a importância da política na minha vida como cidadão, isto é, como um indivíduo inserido dentro de uma comunidade.

Eu, como qualquer outro ser humano, também anseio muitas coisas. Algumas realmente boas para mim e para as outras pessoas, outras nem tanto. Contudo, é o confronto com os outros “cidadãos” que vai permitir que as minhas ideias sejam aplicadas ou não a todos.

O sistema democrático brasileiro

Infelizmente, no Brasil, o sistema político (ou sistema democrático) é profundamente distante da população. Diante de uma estrutura baseada no governo representativo, isto é, onde escolhemos alguém para decidir por nós, temos como instrumento efetivo de participação “somente” o voto.

Claro, como os utópicos de plantão tentam nos convencer, podemos também acompanhar nossos candidatos eleitos e pressioná-los para que tomem decisões baseadas nos nossos interesses. Além disso, podemos propor iniciativas populares para transformar em lei uma boa ideia individual.

No primeiro caso, pressionar não muda muito uma situação, pois o político eleito raramente tem seu cargo ameaçado, mesmo se decidir desrespeitar os interesses dos seus eleitores. No segundo caso, uma iniciativa popular raramente consegue superar todos os entraves burocráticos para chegar ao plenário e, acima de tudo, ser aprovada pelo Congresso.

Enfim, como em qualquer sistema democrático, a participação é fundamental. Mas, especificamente no modelo brasileiro, ela tem ressonâncias limitadas. Ao meu ver, a verdadeira dinâmica democrática é feita, mais das discussões do dia-a-dia, do que do período eleitoral.

A necessidade de sermos atores políticos

No contexto atual, uma corajosa proposta precisa ser avaliada: a reforma política. Precisamos de mais instrumentos para incidir diretamente nas decisões políticas que nos concernem, começando em escala municipal, até chegar ao contexto federal. Alguns exemplos, como o orçamento participativo foram implementados em alguns municípios brasileiros, mas acho que limitar-se às decisões voltadas aos aspectos econômicos é muito pouco.

É fundamental a possibilidade (não a obrigatoriedade) de fazer valer os nossos interesses, obrigando o Poder Legislativo, em alguns casos, à consulta popular antes de aprovar uma determinada lei.

Até as próximas eleições presidenciais, uma vez por semana, irei publicar algumas reflexões e ideias baseadas na vivência de outros ambientes democráticos, com o simples objetivo de fomentar discussões sobre o Brasil que queremos.

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