Quantas vezes já ouvimos dizer que aparelhos eletrônicos antigos duravam décadas, enquanto os produtos de hoje estragam em poucos anos de uso? Talvez em relação aos celulares, essa afirmação não se aplica muito, não porque eles estragam, mas porque a cada ano uma nova funcionalidade é lançada, levando à maioria das pessoas trocarem de aparelho. Dessa forma, é realmente difícil saber quanto tempo dura um celular.
Phoneblocks: um projeto audacioso
Os telefones móveis evoluíram muito desde o seu lançamento. Os primeiros eram gigantes, depois vieram os pequenos e finos. Inventaram os toques polifônicos, as telas coloridas, as câmeras embutidas, as telas touch, e chegamos aos “minicomputadores” de hoje.
Minha primeira troca de celular foi porque eu desejava um aparelho com câmera, depois troquei de novo porque queria um modelo com GPS e foi assim até chegar ao meu atual smartphone.
Pensando em produzir um celular que facilite a inovação e ofereça um dispositivo versátil que não seja descartado logo que a primeira peça quebra, a Motorola anunciou, esta semana, em seu blog oficial o lançamento do projeto ARA.
Baseada na ideia promovida pela Phoneblocks, lançada na internet em setembro deste ano, a gigante do setor de telefonia móvel quer produzir um celular personalizável, com peças substituíveis e que pode trazer uma mudança de paradigma para o mercado de celulares. Por exemplo, se você é uma pessoa que só usa o celular para ligar (Só?!) você poderia procurar um alto-falante de primeira e tirar o resto que você nem sabe para que serve; se você usa a internet o tempo todo, poderia investir em mais bateria. A customização seria uma forma de ter um celular apenas com o essencial para cada pessoa.
No vídeo abaixo, que teve um milhão de visualizações em 24h, há mais informações sobre como seria este novo celular.
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Novos paradigmas de consumo
Mais do que um novo aparelho de celular, o Phoneblocks traz à tona uma discussão sobre consumismo, sustentabilidade e a tendência das pessoas hoje procurarem produtos personalizados. Se eu tivesse a possibilidade de trocar apenas algumas peças do meu primeiro celular, para colocar a câmera, o GPS e uma nova tela, talvez estivesse com ele até hoje, em vez comprar um celular novo só por causa de uma única funcionalidade. Consequentemente, não teria jogado no meio ambiente os componentes nocivos, presentes na bateria dos celulares e teria economizado os metais e o ouro presentes em algumas peças. Por outro lado, eu também não teria contribuído para o enriquecimento das fabricantes de celulares.
Aí é que, acredito, está a grande questão! Será que um celular que “dure para sempre” é interessante para o mercado? Para ele, talvez não, mas para nós e para o planeta Terra sim.
É intrigante ver a Motorola, uma fabricante de celulares que fatura, sobretudo, com a troca constante de aparelhos, apoiando um projeto deste tipo. Claro que haverá um ganho com a compra de peças novas, mas a ideia é justamente que o custo seja menor e que o comprador aproveite o máximo do aparelho, de acordo com as suas necessidades. Também é de se colocar na balança se estas novas peças terão uma boa qualidade, pois de nada adianta não trocar o celular, mas ter que comprar novas peças em um curto espaço de tempo.
Ideais simples que revolucionam
Mesmo parecendo um pouco utópico, o projeto tem grandes chances de ser concretizado. A Motorola está convocando desenvolvedores e pessoas que queiram contribuir com suas opiniões e ideias, com a pretensão de lançar uma versão alpha do aparelho nos próximos meses.
Quem sabe na próxima vez que trocar o celular você já possa ter um aparelho com a sua cara e que vá durar mais do que o anterior? Economizaríamos dinheiro e o meio-ambiente agradeceria.
Para as fabricantes de celulares talvez, no início, não seja economicamente vantajoso, mas o projeto possivelmente estimularia a busca por soluções que respondam às nossas necessidades reais, em vez de se contentarem em nos fazer gastar dinheiro com coisas supérfluas.
Algumas ideias podem parecer utópicas no papel, mas quando se tornam realidade podem ser revolucionárias.
Mariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.