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O silêncio e a palavra: uma relação com potencial de iluminar a sociedade

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Uma das lições mais ricas que aprendi nos meus estudos teológicos é que a Verdade se revela (Alétheia) de maneira ternária: no silêncio interior (kenosis), nas manifestações exteriores (fenômenos naturais ou sociais) e na relação com Outro. Essa descoberta fundamental  me ajudou a entender melhor o meu papel como jornalista profissional e comunicólogo pois, no universo da comunicação de massa, a relatividade da Verdade é defendida como pilar pragmático.

É a partir dessa leitura pessoal que me debrucei na obra do “massmidiólogo” italiano, diretor da editora Città Nuova e professor do Instituto Universitário Sophia, Michele Zanzucchi. “Il silenzio e la parola. La luce. Ascolto, comunicazione e mass media” é um ensaio sobre essa relação ternária como lógica da comunicação.

A obra de Zanzucchi apresenta o silêncio e a palavra como “sujeitos” do ato comunicativo. Sem um verdadeiro silêncio “kenótico” e uma palavra que se relaciona com ele, a comunicação não é capaz de gerar/transmitir/revelar a Luz que nasce (ou pode nascer) dessa relação.  Na linguagem “comunicativa”, escutar e comunicar são dois pilares que constroem a identidade da communicatio.

Algumas críticas do autor ao fazer comunicativo (de massas), na minha opinião, não procedem. Muitas vezes ele também se mantém na análise demasiada dos “meios”. O grande buraco teórico está nos capítulos conclusivos da obra, que sofrem para sustentar, com argumentos sólidos, a teoria principal. Mesmo assim, o livro tem leituras transdisciplinares essenciais para entender profundamente a comunicação de massas na lógica ternária.

Muitas das intuições de Michelle eu não tenho agora presente, algumas delas geniais, mas irei explorá-las depois de concluir a primeira parte do estudo aplicado de Dominique Wolton, a partir da análise da obra “É preciso salvar a comunicação”.

Contudo, este é um livro que vale a pena ler e meditar.

Silêncio como palavra

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É sempre mais fácil dizer aquilo que achamos do mundo, criticar, julgar situações e pessoas. Acreditar na nossa razão, confiar nos nossos instintos e potencializarmos o valor da nossa auto – suficiência.

Ou…

É sempre mais fácil calar-nos, omitir tudo aquilo que vemos, tirar o corpo fora nas situações e nos relacionamentos com as pessoas. Não nos envolvermos e deixar-nos levar pela nossa falta de confiança e dependência das outras pessoas.
Contrastes de caráter, pois parece que em qualquer relacionamento, um fala e outro escuta, um se abre e outro se fecha, um diz o que pensa e o outro omite. Parece troca, mas não é.

O silêncio é a comunicação por excelência, o ápice, que mostra desnecessário a materialização de desejos e idéias em palavras. É estar sintonizado no Outro ao ponto de nos entendermos através de olhares, gestos…

Porém, não é possível esperar essa sintonia, esperar do Outro, e para isso a comunicação é imprescindível. Comunicar (e muitas vezes comunicar é permanecer em silêncio) é sobretudo permitir que se construa essa ponte em direção ao outro, para que esta sintonia possa transformar e potencializar cada relacionamento.
O silêncio. Que importância avassaladora existe nesse calar-se!! Afinal de contas, se alguém falasse e o outro não permanecesse em silêncio, não haveria comunicação, pois ela nasce do comum acordo entre o silêncio e a palavra.

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