08-12-201212-24-35Mariapolis
Mariápolis-SP – Cidade onde morava o Sr. Antônio Berto

O pai do meu pai concluiu sua viagem hermenêutica no mundo do pluralismo de almas.

Não o chamo de avô pelo simples motivo de não ter tido uma convivência familiar próxima. As minhas lembranças do Sr. Antônio Berto se resumem a dois ou três encontros e inúmeras memórias que meu pai sempre guardou com carinho e admiração.

Contudo, um fim contingente (ele tinha 89 anos) pode servir como oportunidade de reflexão, de entendimento sobre o valor do passado e a sua consequência no presente.

Conversando recentemente com a minha Flávia redescobri algo que só o intelecto (no sentido Aristotélico) poderia permitir: que as dores do mundo já foram divinizadas no Cristo que acredito.

Eu sempre abominei qualquer tipo determinismo baseado na experiência religiosa, pois foi justamente dela que entendi o mais profundo e verdadeiro de «livre arbítrio».

Mas, no estudo de teologia feito aqui no Istituto Universitario Sophia entendi que uma coisa não anula a outra. O livre arbítrio não é violado no evento histórico da crucificação, muito pelo contrário, a morte do Cristo aconteceu justamente porque os homens eram livres. O que é difícil de entender é que podemos acolher a dor, vivendo totalmente livres (nós e os outros), como “graça”, participando do mistério vivido pelo tal Filho do Homem.

Aceitando o silêncio, a incompreensão, a solidão, o Cristo transformou algo ontologicamente negativo em possibilidade de protagonismo e “ressurreição” por parte de nós, igualmente filhos de Deus.

Dessa forma a mais (aparentemente) insignificante dor pode ser vivida na Luz (especialmente em comunhão com o próximo). Claro que essa conclusão se desdobra às dores maiores.

Não existe condenação pelo fato de que se sofre. Dessa forma somos convidados a passar de uma visão hermenêutica que considera «vazio ontológico» esse “espaço de ausência de sentido” a um olhar renovado que enxerga na dor «oportunidade de amar sem condicionamentos».

É nessa dimensão que tenho entendido os laços de fraternidade e é nesse encontro pessoal com o “silêncio que falar” que me despeço do sr. Antônio, que pode até não ser considerado (pelos meus limites humanos) avô, mas que, indiscutivelmente, é irmão.