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Dia dos pais

Dia dos pais

Acabei de falar com o meu pai, que semana passada festejou seus 73 anos de vida. Que privilégio eu sinto de ser filho dele!

Pensar no meu pai me faz sempre refletir sobre o impacto dele na minha vida enquanto pai, homem e, acima de tudo, ser humano. Apesar dos seus limites e vazios, ele sempre esteve presente, com um olhar sereno e um sorriso acolhedor que me fez sentir amado. 

Hoje, mesmo com toda abertura da sociedade e o incentivo do Feminismo, o papel do homem continua problemático. Além do machismo estrutural, que muitas vezes custa a vida de mulheres em todo mundo, outro aspecto negativo de impacto avassalador é justamente a aceitação da ausência dos pais dentro de casa. Na partilha das tarefas domésticas, mas sobretudo na falta de participação na educação e no acompanhamento de filhos e filhas.

Infelizmente, existe também um certo conservadorismo imbecil que sustenta a manutenção de papéis ditos tradicionais com justificativas religiosas. Família é um espaço dinâmico, que encontra o próprio equilíbrio no esforço comum e cotidiano de pais e filhos para que todos encontrem a propria realização. TODOS.  Nos mais variavelmente coloridos caminhos.

Rotular ou encaixotar os papéis de pais e mães é como cultivar um jardim monocromático.

Que hoje seja um dia para festejarmos pais presentes (valeu pai!), protagonistas, abertos e dinâmicos.

É esse pai que eu tento ser, esforçando-me e rezando todo dia para me aproximar mais dele.

Pai, especial

Poder participar da geração de um novo ser foi, sem sombra de dúvidas, um dos presentes mais lindos que a vida me deu. Ser pai é, a priori, viver eternamente grato por ver frutificado o seu amor mais puro e verdadeiro.

Mas e depois? O que sobra? Fraldas sujas? Banhos? Gorfadas, babadas, xixizadas e cocozadas? Mesmo que esses sejam elementos cotidianos da paternidade real, ser pai vai muito além. Viver a paternidade é mais um convite que a vida nos faz para sermos homens melhores.

A primeira descoberta que fiz nas primeiras semanas de vida da Tainá foi que a minha grande ocupação seria tomar conta da principal cuidadora da minha filha: a mãe dela. Claro que logo que a Tainá nasceu procurei me fazer útil da melhor forma possível, com a troca de fraldas e tudo mais, mas ela precisava sobretudo da mãe, fonte de calor e de alimento. Enquanto isso a Flavia ainda estava bem fragilizada. Fisicamente cansada pela intensidade do parto, lidando com o desconforto das feridas e sobretudo a descarga hormonal que causava exaustão. Ali se apresentou a minha primeira chance de ser pai.

Aquele insight me fez descobrir que, se minha esposa está bem, feliz, descansada, a família inteira fica em paz. Dessa forma, desde o início tenho procurado exercitar a paciência, duplicar o cuidado e a atenção para que a Flavia esteja bem.

Outra importante descoberta é fruto de uma minha reflexão recente sobre a construção de vínculos com os filhos. Enquanto as mães ganham uma « ajudinha » da natureza com a gestação, a amamentação, os pais são jogados à deriva, sozinhos, nesse oceano agitado da paternidade.

Mas será mesmo que não recebemos nenhum sinal interior? Para falar a verdade, acredito que não. Talvez isso explique o porquê de vermos muito mais pais que mães abandonando seus próprios filhos. Por outro lado, vínculos que ficam para vida e sobrevivem ao tempo, como amizades de infância, casamentos, entre outros, precisam conter um elemento fundamental, que também existe na paternidade (e em outras fases da maternidade): a escolha.

Ser pai é viver diariamente a escolha de querer, do fundo do coração, construir e fortalecer os vínculos com os filhos. Não existe romantismo ou impulso interior. É escolha pura, que me faz sentir, de certa forma, especial. Troco fraldas, dou banho, faço dormir, me sentindo profundamente feliz. Não faço porque é minha obrigação, mas porque são as únicas oportunidades que tenho para, diariamente, fortalecer a relação com a minha filha.

Investir em vínculos tem tornado a minha paternidade ainda mais completa. Sinto que posso amar mais, curtir ainda mais minha família e renunciar outras coisas sem arrependimentos. Quando entro em casa deixo todo o resto do lado de fora, para poder dar o meu melhor para minha família.

Porém, pai só é pai se tem filha (o). E a minha filha é um ser maravilhoso que vou contar um pouco mais no próximo texto.

 

Mãe, incondicional

Dois meses já se passaram da fantástica experiência do nascimento da nossa pequena Tainá e só agora me sinto pronto para partilhar um pouco daquilo que temos vivido nessa nova etapa da nossa família.

Durante esse período, temos nos ajudado dia após dia a nos tornarmos pai, mãe e filha. Não vou esconder que alcançar o desejado equilíbrio tem exigido muita disposição física e psicológica pois são três novas realidades que nenhum de nós estava acostumado a viver.

Testemunhar o «nascimento» da Flavia como mãe tem sido uma das experiências mais lindas dessa fase. Como grande parte das mulheres, ela também teve de passar pelas dificuldades e inseguranças comuns nos primeiros dois meses de vida de um bebê. Algumas soluções deram muito certo, outras nem tanto, mas grande parte dos desafios iniciais passaram (e chegaram novos).

O mais interessante é notar que a Flavia não vive ansiosa para que as fases dessa nova vivência passem rápido. Desde que a Tainá chegou, todos os dias em que olho para minha esposa, mesmo cansada, sinto leveza e contemplo um semblante “novo” que para mim é Mistério. Essa experiência me fez entender que o “ser Mãe” não está na perfeição das tarefas cumpridas ou nas melhores soluções relativas aos cuidados, mas no sentimento que está por trás, que transcende e move tudo isso.

Não acredito que somos programados para algo. Muito menos para amar (ou para não amar). A vida é cheia de oportunidades para descobrirmos o Amor, que muitas vezes se traduz em empatia, paciência, perdão, mas a escolha de fazer por amor (ou não) é nossa.

Podemos reduzir a maternidade/paternidade aos seus automatismos. Lidar com as tarefas e cuidados por obrigação ou enxergá-las como expressão do melhor Amor que podemos gerar. E o Amor respeita tanto o sujeito que ama quanto o objeto desse Amor. Não pode ser nocivo para uma das partes. Assim, mesmo quando amar custa, esse amor-escolha se traduz em serenidade, leveza.

Fico emocionado pelo privilégio de respirar esse tal amor incondicional em casa. Hoje ele é bem mais concreto para mim e é fonte inesgotável de inspiração. Só de observar o comportamento da Flavia em relação à nossa filha sinto-me chamado a ser um pai melhor, que transcende o simples fazer, para aperfeiçoar-se no “como”. Mas vou explicar mais sobre minhas descobertas da paternidade no próximo texto.

O beijo de Deus na alma

beijo de Deus

 

Alguns minutos após publicar a mensagem acima, tive meu perfil do Facebook invadido com centenas de curtidas e dezenas de mensagens de amigos de todas as partes do planeta. Fiquei espantado com as palavras de carinho até mesmo de gente que não vejo há muito tempo.

Viver pelos outros tem sido o projeto de vida da família que eu e minha esposa Flavia estamos construindo juntos. Foi esse o grande fundamento das nossas escolhas até aqui. Foi também o motivo que nos levou a casar e começar nossa vida em família no Brasil. Dois anos depois, fez com que deixássemos tudo para uma missão de três meses na Costa do Marfim e em seguida voltar para Suíça para estarmos próximos da “outra” família e para que a Flavia fizesse o mestrado dela e assim poder servir melhor a sociedade.

Através dos nossos trabalhos e em família optamos pelas pessoas. Porém, vivenciar o desenvolvimento de uma “pessoinha”, fruto do nosso amor, no ventre da minha esposa tem sido algo tão incrivelmente maluco que eu só consigo pensar em uma palavra quando tento traduzir essa experiência para as pessoas próximas: milagre.

Estou procurando me preparar para viver bem esse período. Sou do tipo de pessoa que gosta de ler, ouvir o testemunho de outros casais, para que tudo transcorra da melhor maneira possível. Contudo, a falta de certezas e também o fato de ainda não poder sentir fisicamente a presença da minha esperada filha obriga-me a confiar Naquele que sempre conduziu os nossos passos.

Uma lembrança marcante não tem saído do meu coração ultimamente. Há quase um ano, tivemos o privilégio de estar próximos de um casal de amigos-irmãos brasileiros no momento em que eles se tornaram pais. No dia seguinte ao nascimento, ainda no hospital, nos encontramos com o novo pai que, com lágrimas nos olhos, traduziu aquela experiência com a seguinte expressão: “um beijo de Deus na alma”.

Olhando para os rostos daqueles amigos tão amados e sua filha senti uma onda de felicidade indescritível. No fundo eu sabia que só entenderia tudo aquilo quando fosse a minha vez. Falta pouco, mas não vejo a hora de eu também ser beijado na alma.

 

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