Provocação 15 – Valter Hugo MunizPara download: http://www.4shared.com/file/96354276/49d52171/Provocao_15.html
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Acordo na manhã do dia 25, após a farta ceia do Natal em família. Não lembro bem o quanto comi, talvez por não lembrar nem mesmo o tanto que bebi.
Natal em família é sempre aquela alegria em casa, a gente vai cedo pra missa, para participar daquele cerimonial interessante, que às vezes emociona e depois volta correndo para casa para a primeira “largada” da comilança.
À meia noite, lá vamos nós de novo para comer um pouco mais, beber, nos deliciarmos com as sobremesas. Natal em família me lembra mais comida, do que qualquer outra coisa.
Mas hoje, sei lá, acordei com um sentimento de vazio. Claro, foi boa toda a festa, as risadas, mas faltou alguma coisa que venho identificando já há alguns anos.
Antes, éramos mais unidos, almoçávamos juntos aos domingos e quando chegava o período das festas de final de ano, até sabíamos o que o outro queria de presente, sem nos acomodarmos com vales caros, mas enfim, eram outros tempos.
Só que nesse Natal, senti falta daquela família de antes, mesmo quando a gente não tinha grana pra comprar presentes, existia uma alegria diferente, difícil de descrever…
Agora, não é que temos muito o que fazer, o Natal já chegou… talvez podemos tentar recuperar a alegria de estarmos juntos, dia após dia, assim tudo pode servir de preparação para o próximo dia 24, pra próxima ceia de natal.
Passaram-se 2008 anos depois daquele Natal especial, que chamarão de o Natal afegão.
O mundo estava esperando o nascimento do tal salvador e tudo aconteceu de forma tão simples, que ninguém acreditava que aquilo seria o início de um novo mundo.
Os profetas anunciavam há anos que o aniversariante mais famoso da historia viria para dar um jeito nas incompreensões que até hoje não foram resolvidas entre os homens que aqui habitam.
Mas ele nasceu, viveu, passou sua mensagem, mas poucos deram ouvidos ao tal Salvador.
Os anos, as décadas e os séculos foram passando e a mensagem natalina continuava viva, mesmo diante da indiferença da maioria, da incapacidade de compreendê-la.
Até que, naquela noite, algo estranho aconteceu com o menino afegão.
Alguns sinais voltaram a se tornarem visíveis durante o ano… a eleição de um negro no país “dono do mundo” era o mais forte deles e tudo aumentava a esperança daquele garoto que já não conseguia ver um mundo melhor, principalmente porque seus companheiros de “sonho” já estavam à sete palmos do chão.
Começou a intensificar suas orações, procurando seguir os preceitos do Alcorão de maneira radical, até que tudo ficou escuro…
(…)
_ Ei! Menino! Você está bem?
_ Quê? Onde estou? O que aconteceu?
_ Uma grande explosão na mesquita, mas você sobreviveu!
_ Nossa… que estranho, pensava que estava sonhando… via um lindo jardim, cheio de pessoas sorridentes e um homem alto, barbudo, sorrindo… me disse que o mundo melhor depende principalmente de mim…que não posso esperar ele voltar..
_ Era um sonho querido… você estava inconsciente…
_ Aqui é o hospital?
_ Sim….
(…)
Algumas semanas passaram e a hostilidade aumentou entre os afegãos.
O menino não conseguia esquecer aquele sonho e por isso não deixava de carregar os corpos, curar os feridos e consolar órfãos, viúvas. Afinal de contas, era este o significado da mensagem do aniversariante mais famoso do mundo, mas ela precisava ser revivida, mesmo diante das situações mais atrozes.
_ Você acredita em Papai Noel? – perguntou o menino que se sentou ao meu lado no ônibus.
_ Acredito sim… tem gente que mente falando que ele não existe…
_ Como assim?
_ Nunca te falaram?
_ Não…
_ Pois é… adulto quando cresce, insiste em desacreditar no Papai Noel… mas também… esse pessoal mais velho não acredita em nada mesmo!! Passa tanto tempo preocupado com números que não sabe que as vezes recebemos presentes misteriosos.
_ Isso é bem verdade. Ano passado estava dormindo e acordei com um barulho de sininhos.. quando fui ver, tinha um monte de presente embaixo da árvore que montamos pro Natal.
_ Ta vendo? Quem você acha que comprou tudo aquilo?
_ Bom, na verdade eu sei que foi o meu pai. Vi ele chegando escondido ontem, com um saco de presentes na mão.
_ (hunf!)
_ Mas não estamos falando de quem é o Papai Noel, mas no fato dele existir né?
_ Sim meu garoto. Você é experto ein!
_ Pois é, aprendi tudo isso na TV Cultura.
_ (risos)… Então seu pai é o o Papai Noel?
_ Claro que não né… Meu pai é o meu Papai Noel. O certo seria cada criança ter o seu Papai Noel, mas não é sempre assim não.
_ Pois é…
…
_ Filho vamos! Chegou!
_ Tchau!
…
_ Obrigado pela conversa menino. Feliz Natal!
‘Mãe, Papai Noel existe?’
O Natal está aí e muitos pais enfrentam seus filhos, que lhes fazem perguntas ou comentários incômodos: “Papai Noel existe de verdade ou é de mentirinha?” “O Mateus ainda acredita no Papai Noel, coitado. Ele não existe, não é, mãe?” “O Papai Noel é o papai, não é, mãe?”.
Alguns pais não têm dúvida alguma quanto à resposta a dar a seus filhos. Dizem que ele não existe, e ponto final. Alguns até avançam fazendo comentários sobre o consumo exagerado nessa época etc. Mas o problema é que os filhos persistem nos comentários e, mesmo obtendo as mesmas respostas dos pais, voltam ao assunto com frequência.
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Chega dezembro e muitos começam a fazer o balanço do ano.
Juntam-se as moedas para os presentes de Natal,
prepara-se para as férias do período de Festas
ou se pensa em procurar um emprego novo, porque a época é boa.
Quem estuda se descabela com os exames e trabalhos finais.
Quem trabalha precisa levantar os números, resultados,
esperançosos de que a perda em “tempos de crise” não seja tão arrasadora quanto eram as previsões.
Porém, final de ano é época de olhar para quem está ao nosso lado de maneira diferente.
Não se está mais só CO-VIVENDO,
agora essa vida partilhada deve ser celebrada,
na tal “festa da família” que deveria ser o Natal.
Mas, é justamente nessas horas que a gente se dá conta que lembrou de tudo,
menos de investir nos relacionamentos.
Sobrou dinheiro,
mas faltou perceber que o tempo vai devorando a saúde dos nossos pais, dos avós,
e a gente nem se deu conta,
preocupados com as prestações do cartão de crédito
ou com a elaboração exaustiva do TCC.
E assim, a vida vai passando…
Se a gente pára pra pensar não foi assim só este ano…
é já uma conclusão que nem lembramos onde e quando começou.
Aí chega o Natal e é automático:
Vamos pra casa da vó? do tio? Vamos jantar todos juntos em casa?
Só que ninguém mais encontra sentido, se reconhece família.
Pois é, então cadê o Natal?
Ás vezes bate aquela impressão de que tanto o Festejado,
quanto o motivo se misturam com os gorduchos vestidos de vermelho e a montanhas de presentes.
Se for assim, sei lá. Talvez seja melhor mudar o Natal de nome.
Sugiro: Festa dos encontros e aparências.
Mas acho que ainda dá tempo de viver e construir com os mais próximos.
De olhar no olho, perguntar como está
e de ser justamente essa família
que se costuma celebrar na virada do dia 24 pro 25.
Ou vamos esperar que além de presente,
o Papai Noel nos dê a força e a coragem
que não temos de sermos fraternos com quem está ao nosso lado?
Eu vou, pelo menos, tentar.