Estou à caminho da minha quarta Conferência do Clima das Nações Unidas, mais conhecida como #COP27. Desde a minha primeira participação na COP21 em Paris já se passaram seis anos.
De lá para cá, o otimismo e a euforia do Acordo de Paris acabou freado por governantes de extrema direita que se recusaram a implementar as medidas políticas ambiciosas acordadas na capital francesa. Somado a isso, o mundo teve de lidar com uma pandemia que tirou qualquer chance de que os países direcionassem seus recursos para a implementação das metas acordadas. Mas o pior é que não para por aí! A invasão russa na Ucrânia e a insegurança energética criada pelo conflito fez com que alguns países desenvolvidos voltassem ao uso do carvão para amenizar o impacto interno do aumento no preço do gás natural.
Mas e eu? O que eu tenho a ver com isso?
Já em 2015, fui cobrir a participação de organizações ancoradas em comunidades religiosas que levam para a conferência uma dimensão que vai além das questões técnicas.
Em diversas partes do mundo, inclusive no meu Brasil, quando as instituições políticas falham, muitas vezes são as instituições religiosas que dão suporte aos mais atingidos por secas, inundações e outras catástrofes naturais provocadas pela degradação dos recursos naturais.
São principalmente as igrejas que reforçam a narrativa de que existe um dever moral de cuidar da natureza, que precisa ser protegida porque é um dom de Deus e para que nossos filhos e netos possam habitar em um planeta como o que conhecemos hoje.
A narrativa espiritual também engloba comunidades indígenas, muitas delas em áreas do Pacífico, em que os oceanos estão engolindo suas terras devido ao aquecimento global. Para eles, não é uma simples questão logística, ou de perdas e danos, mas uma violência que fere a sua própria identidade, profundamente conectada à terra onde vivem.
Poder estar fisicamente presente nessas conferências globais dá uma noção do esforço coletivo de encontrar soluções conjuntas para um problema que afeta à todos.
O meu trabalho será dar visibilidade ás vozes dos mais afetados, na esperança de que os governantes tenham a coragem de ir além dos desafios técnicos e dos interesses políticos.
Sem uma abertura holística que permita olhar a crise climática na sua dimensão humana, existencial e até mesmo espiritual, parece difícil crer que os líderes globais darão ouvidos aos gritos desesperados e urgentes daqueles que anseiam por uma implementação robusta que já deveria ter começado seis anos atrás.