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A alegria de estar insatisfeito

insatisfeitos

Há muito tempo tenho procurado reencontrar meu lugar dentro das estruturas religiosas que sempre tiveram um espaço importante na minha vida. A angústia pela falta de respostas foi criando um crescente sentimento de frustração interior. Insatisfeito era certamente a melhor palavra para exprimir como me sentia. Na verdade, acredito que sou um insatisfeito crônico –, mas quando me deparei com “Espiritualidade para insatisfeitos”, do teólogo cristão José Maria Castillo, entendi que isso não é necessariamente algo ruim.

O livro de Castillo é uma interessante reflexão sobre a espiritualidade como movimento interior e exterior. É um livro que, acima de tudo, propõe uma espiritualidade baseada na ação, pois como o autor mesmo afirma, “aquele surpreendente judeu que foi Jesus de Nazaré, antes de ser um mestre de espiritualidade, foi um mestre de vida, um mestre para a vida”.

Entres muitas coisas, o autor ressalta a importância da busca pela felicidade que não se limita a realização das necessidades individuais. Ele convida a viver a “Utopia do reino”, que nada mais é do que a crítica ao mundo e os valores de hoje e, ao mesmo tempo, o caminho para a construção de uma sociedade “onde os seres humanos, todos os seres humanos, encontram um sentido para suas vidas, paz, dignidade, felicidade e esperança”.

Com o livro, pude redescobrir que o meu papel como cristão é o de corajosamente renunciar a ser o centro e testemunhar a Utopia do reino. Isto é, viver conscientemente uma vida “disponível para dar vida, defender a vida e a dignidade da vida que temos de conviver. E, por isso, uma vida que comunica felicidade, paz, calma, alegria e esperança”.

Sim, é fundamental encontrar o próprio espaço de atuação, um ambiente propício para o crescimento interior e que também seja combustível para a ação social. Porém, o mais importante é entender que o centro da espiritualidade cristã é a vida.

« Espiritualidade para insatisfeitos » foi um presente nessa etapa cheia de mudanças pessoais. O livro, além de me libertar de muitas amarras interiores, ajudou a “calibrar a direção” para continuar seguindo o caminho que escolhi percorrer na minha jornada nesse mundo.

Candongueiro: cruzando a África por blogs e livros – Rodrigo Delfim

Candongueiro

Ler um bom livro te faz viajar sem sair do lugar e ajuda tanto a virar esquinas da vizinhança como a cruzar continentes e oceanos inteiros. E durante minhas férias, seja sentado em uma praça, no salão de embarque do aeroporto ou dentro de um ônibus ou avião, pude viajar um pouco à África de duas formas: com as atualizações dos amigos Valter e Flavia na internet (direto da Costa do Marfim) e com o livro “Candongueiro: viver e viajar pela África”, escrito pelo jornalista João Fellet.

Viver e viajar pela África

CandongueiroA sugestão de leitura veio da minha amiga Bruna, que é prima do autor e me emprestou o livro (ótima dica, muito obrigado!). Com uma leitura leve, a obra descreve a vivência que Fellett durante um ano e meio morando na África. A primeira parte se passa em Angola, onde ajudou a montar um jornal de economia, em um país que pouco a pouco se reestrutura após anos de guerra civil – mas não fica livre de contrastes e enormes contradições sociais, políticas e econômicas.

Depois da experiência em Angola, o jornalista decidiu fazer uma viagem de sul a norte, iniciada em Johanesburgo (África do Sul) e terminada no Cairo (Egito), passando por Moçambique, Tanzânia, Quênia, Uganda, Sudão do Sul (na época ainda parte do Sudão), Etiópia e o Sudão atual. Há também um blog sobre a experiência, chamado Candongueiro, que têm trechos presentes no livro e outros “causos” e fotos.

Cruzando a África  de candongueiro

A opção de viagem a bordo de candongueiros (como as vans de passageiros são chamadas em Angola), como diz Fellet, “não tinha nenhuma tendência masoquista”, mas sim vivenciar o meio de transporte utilizado diariamente pela maior parte dos povos que vivem na África.

Durante a jornada pela África, Fellett topou com diversos personagens marcantes, alguns deles com capítulos inteiros dedicados a eles. Só para citar alguns: a moçambicana e descendente de indianos Sakina, mãe e motorista de van; o etíope que fugiu de casa para não se casar e poder concluir os estudos; dois irmãos egípcios que imigraram para o Sudão e acompanharam o jornalista no caminho para o Egito; e o Mr. Brown, britânico de 78 anos que se diz apaixonado pela África e trocou a Europa e o Canadá por projetos sociais e educacionais em Uganda.

“Perrengues”, é claro, não faltaram, como o golpe do qual escapou no Quênia, pessoas que viram no jornalista uma forma de obter dinheiro ou alguma outra vantagem material, e o momento no qual o autor quase perdeu celular, documentos e sua câmera fotográfica em uma latrina. Para saber mais detalhes dos “causos” descritos no livro, é melhor ler o livro e o blog com os próprios olhos para não perder a graça.

Independente do destino ou trajeto, sem dúvida qualquer viagem tem potencial para virar uma vida do avesso. E a África, com toda sua história, riqueza e preconceitos a serem desfeitos, é um terreno dos mais férteis para essa experiência. E enquanto não chega minha vez de ir, viajo por ela com blogs e livros.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

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