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Mudando os paradigmas da guerra

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Enquanto as atenções da comunidade internacional estavam no Egito, diante do conflito entre aqueles que são pró e os contra o presidente deposto, Mohamed Morsi, um acontecimento escandaloso e sem precedentes atingiu o subúrbio de Damasco, na Síria. Ainda sem saber o autor e, muito menos, o motivo, os sírios estão chorando pelos milhares de mortos vítimas de um suposto ataque com armas químicas, na periferia da capital do país.

A tragédia do dia 21 de agosto passado me recorda outro triste acontecimento, no mesmo mês de agosto, mas há 68 anos. No dia 6, após seis meses de intenso bombardeio em 67 outras cidades japonesas, a bomba atômica “Little Boy” caiu sobre Hiroshima.

As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil apontam para um número total de 140 mil mortos só em Hiroshima, porque, alguns dias depois, outra bomba foi jogada na cidade de Nagasaki. Além das muitas vidas perdidas, o que se viu, na verdade, foi uma mudança de paradigmas em relação aos conflitos mundiais. A ação do exercito dos Estados Unidos criou uma tensão e insegurança que se estendeu até os dias de hoje, principalmente se pensarmos que líderes políticos, como o jovem ditador norte coreano Kim Jong-um, poderiam possuir armas de destruição em massa.

Contudo, não foi nem Kim Jong-um, nem o polêmico governo iraniano, que chocou o mundo cometendo um grave crime contra a humanidade. O uso de armas químicas aconteceu em solo Sírio, nação que, há anos, enterra os corpos de seus cidadãos, mortos na guerra civil que assola o país e agora vive uma experiência horrenda.

As fotos dos corpos, sobretudo de crianças, são um sinal visível da gravidade do acontecimento, mesmo sem apontar as consequências trágicas que podem vir em decorrência. Os membros do Conselho de Segurança da ONU estão se movendo e uma intervenção militar parece iminente. O governo Sírio já avisou que uma intervenção externa no país poderia “criar uma bola de fogo que inflamaria o Oriente Médio”.

O meu questionamento, talvez com certa ignorância, é sobre a maneira como a Organização das Nações Unidas age em relação a um conflito. Já é sabido que o Conselho de Segurança é ineficaz e não representa a visão e os interesses comuns da Comunidade Internacional. Enquanto morrem centenas no Egito, milhares na Síria e milhões no continente africano, a ONU se perde em interesses políticos e econômicos do Norte. As vidas dos Sul parecem ter um peso menor.

Difícil imaginar um desfecho pacífico, impossível prever qual a melhor saída diante da incapacidade de um governo estabelecido dar segurança aos seus cidadãos. Do lado de cá é fácil falar. Do lado de lá parece existir uma omissão proposital “no fazer”.

Futebol que une o País da Guerra

iraqi-kids-playing-soccer.jpgNos próximos dias, bolas de futebol irão chegar à Zona Internacional, região controlada pelas forças de coalizão em Bagdá, capital do Iraque. Não se sabe ao certo até quando o país contará com a presença do exército americano, mas alguns soldados afirmam ver ‘milagres’ operados pela bola.

“Um dia, conta Justin Porto, tenente-coronel reformado que está há seis meses no Iraque trabalhando na área de tecnologia de informação, estava driblando até que passei a bola para um menino. Na hora, a atitude dele mudou. O rosto mudou. Passou a me ver como amigo”, disse ele. O acaso fez surgir uma campanha para arrecadar bolas para os iraquianos. E, assim, melhorar a convivência.

“Até agora, já conseguimos 14 bolas no período de uma semana. Nas próximas semanas, espero centenas”, falou Porto. “Meu irmão é diretor de uma escola em Nova Jersey e organizou uma campanha para que os alunos doassem bolas. Elas ainda vão chegar.”

Desde 2004, alguns grupos isolados do Exército norte-americano arrecadam bolas de futebol nos EUA para enviar a crianças iraquianas. Entre os projetos mais conhecidos adotados com sucesso estão ‘Operation Soccer Ball’ (Operação Bola de Futebol) e ‘Operation KickStart’ (Operação Chute Inicial).

O tenente-coronel reformado diz ter apoio oficial. “O Exército me autorizou a enviar e-mails a amigos e família para pedir bolas. E também me ajudou no transporte das bolas.”

“O iraquiano adora o futebol. É comum ver aqui meninos com camisas de times europeus ou mesmo de jogadores brasileiros”, afirmou Porto. O americano relatou a transformação provocada pelos dribles e gols desde que passou a distribuir bolas de futebol.

“Quando cheguei ao Iraque, eles [os iraquianos] não confiavam muito na gente. Mas fomos ganhando os corações dos iraquianos aos poucos. Eles demoram a perceber que você é uma pessoa boa. Até a hora que eles o vêem como um deles, como um ser humano como eles, o vêem fazendo as mesmas coisas que eles.”

A mudança, disse, refletiu-se até no dia-a-dia. “Todo dia, faço ronda de uma hora pelas ruas. Hoje, já me cumprimentam, acenam para mim, sorriem quando eu passo. É minha recompensa.”

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