A falta de ídolos no presente faz resgatar os velhos. No futebol não é diferente.
Quanto estou cansado de ouvir comentários nostálgicos a respeito do tal futebol arte, de Pelé, Tostão, Garrincha, Ademir da Guia…
Parece que as pessoas não entendem que não foi só o desempenho dos jogadores que mudou, mas todo o mundo. No futebol, tanto as regras como dinheiro envolvido transformaram a dinâmica do jogo.
Não dá para pensar futebol sem contextualizá-lo… sem entender que ele é reflexo dessa nova sociedade, excluindo quaisquer juízos de valores…
Esses amantes do futebol precisam “perder” o conceito ultrapassado, para poder ver a beleza do futebol contemporâneo. Hoje o esporte é muito competitivo, os jogadores estão mais preparados, existe um mundo “por trás das câmeras”, mais pessoas envolvidas.
Um ícone desse futebol moderno é o nosso maior jogador dos últimos 10 anos: Ronaldo Nazário de Lima.
Ronaldo começou cedo… mas isso não o difere dos craques do passado, pois também Pelé brilhou com 17 anos. Porém, ao contrário do Rei, Ronaldo foi embora do Brasil cedo. O menino franzino que saía do Cruzeiro foi para a Holanda e em poucos anos estava repleto de músculos, que até hoje ele admite que não foram fruto de anabolizantes ou suplementos.
Ronaldo brilhou da Europa, conquistou todos os títulos, transformou-se em ídolo nos países em que jogou. Mas Pelé também brilhou fora do país, nos EUA, sobretudo. Porém Ronaldo virou um símbolo do marketing esportivo. Ao lado de Michael Jordan e Tiger Woods é um dos atletas que possuem contrato vitalício (durante toda a vida) com a Nike.
Ronaldo e Pelé foram embaixadores da Paz. Ronaldo pela ONU e Pelé pela própria figura. Quem não conhece a história da guerra civil na África, suspensa para ver o Santos do Rei jogar?
Mas, Ronaldo pode jogar bola até hoje, somente pelo desenvolvimento da medicina esportiva. Acredito que, se ele tivesse todas essas contusões na “época de Pelé” certamente teria encerrado a carreira mais cedo.
Acredito que também é possível comparar a genialidade de Pelé e Ronaldo de forma bem objetiva. Pelé brilhou no seu tempo, mas não sei isso seria possível se nascesse no futebol do marketing.
Ronaldo é o gênio do futebol moderno… o Pelé do Novo Milênio. Porque brilhou, porque foi obrigado a parar, porque recomeçou, parou de novo, recomeçou, parou e agora, surpreendentemente voltou.
Critico quem endeusa o jogador do Corinthians, dando-lhe capacidades que é evidente que ele não tem mais. Mas, nas proximidades da área, ele é incomparável.
O domínio, a visão, o chute certeiro! GOL!
A corrida, agora desajeitada, o arremate! GOL
O carregar a bola, o drible desconcertante, o toque por cima! QUE GOOOL!
Rendo-me não só aos gols do Ronaldo, mas a sua perseverança que parece “se fundir” com o “bando de loucos”. Nunca havia entendido a sintonia que um jogador pode haver com um time, uma torcida.
Ronaldo Nazário de Lima é tão corinthiano como qualquer um dos seus (verdadeiros) torcedores. Gente simples, pobre, batalhadora, marginalizada, menosprezada, mas que sabe ser feliz, sabe lutar e se dá conta de que superar-se depende mais da vontade, do trabalho, do sacrifício e menos das lamentações.
Fico feliz de testemunhar esse momento e principalmente em ver que tudo está acontecendo aqui, no meu estado, na minha cidade, no meu tempo. Assim, como os saudosistas do futebol arte, poderei contar aos meus filhos que vi um jogador, driblar suas fraquezas físicas e psicológicas, o bombardeamento midiático, para se tornar o maior jogador de futebol do Novo Milênio.