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Levantar o olhar e observar ao seu redor │Rodrigo Delfim

Levantar o olhar

Recentemente um vídeo fez grande sucesso na internet ao prometer que você, após assisti-lo, “teria vontade de jogar seu celular no lixo”. Até parece exagero a princípio, mas de fato o vídeo mostra situações corriqueiras e repetidas em todo o mundo, nas quais o telefone celular ou outro dispositivo eletrônico roubam tanto a atenção das pessoas que elas ficam praticamente como seres isolados, cada qual em um mundo virtual, desprezando ou ignorando situações de convívio social.

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Não há dúvidas de que o avanço das tecnologias abriu possibilidades que sequer podiam ser imaginadas para a vida real em um passado não muito distante. Se nossos pais mandavam cartas que podiam às vezes demorar semanas para chegar ao destino, hoje os e-mails e redes sociais permitem comunicação instantânea não apenas com uma pessoa, mas com grupos inteiros, em qualquer parte do mundo.

Sem dúvida é um tanto quanto sedutora a impressão de que o mundo todo está ao alcance de seus olhos e dedos por meio de computadores, tablets e telefones celulares com acesso à internet – os chamados smartphones.

Negar os benefícios que esses avanços tecnológicos e de comunicação permitiram é uma grande besteira. Mas ainda pior é se tornar um dependente completo dessa interação virtual, desprezando ou ignorando as interações humana mais antigas: o toque, as expressões faciais, a fala, o olhar, os aromas. Em suma, tais pessoas praticamente abdicam de viver a própria vida. E infelizmente essa situação tem se tornado comum, como bem mostram o vídeo e os exemplos contemporâneos.

Levantar o olhar e para enxergare o outro

Quem nunca viu a curiosa cena onde amigos estão juntos, em uma mesa ou sentados lado a lado, mas cada um com seu telefone celular interagindo ou jogando sabe-se lá com que jogo ou rede social? Até mesmo locais conhecidos por permitir interação direta com pessoas de todo o mundo, como a sala de convivência de um hostel, perderam em grande parte essa característica com a chegada das redes sociais aos dispositivos móveis.

De certa forma todos são atingidos, direta ou indiretamente por essa realidade – seja quando alguém deixa de interagir com você ou quando abrimos mão da possibilidade de falar com o outro por preferir dar atenção ao celular. No entanto, uma tela de computador, celular ou tablet não pode substituir o olhar de cada um.

Sim, é possível fazer diferente

Levantar o olhar

Pouco depois que assisti a esse vídeo, procurei controlar o tempo que passava ao celular, seja na rua ou em casa. E dias depois tive uma prova bem clara de como podemos perder oportunidades e experiências se restringirmos nosso círculo de atenção ao celular.

Estava em pé dentro do metrô de São Paulo, a caminho do trabalho, quando desliguei o celular por conta da superlotação. Vi uma moça que estava com dificuldade de se mexer dentro do vagão por conta da grande mochila que carregava. Ao notar isso, ofereci o canto do vagão onde estava para ela acomodar a mochila. Ela prontamente aceitou e começou a conversar comigo: era uma turista belga, que estava no Brasil para visitar seu namorado; apesar do pouco tempo em terras brasileiras, mostrou bom domínio do português e uma disposição para conversar que eu não esperava.

Sem dúvida essa companhia inesperada tornou a viagem bem mais agradável e foi um exemplo claro de como é possível “virar a esquina” quanto à “ditadura do celular” à qual tantos de nós se submetem.

Ou seja, para começar a virar a esquina e viver sua vida, basta começar por uma atitude bem simples: apenas levante o seu olhar e observe o seu redor.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

Candongueiro: cruzando a África por blogs e livros – Rodrigo Delfim

Candongueiro

Ler um bom livro te faz viajar sem sair do lugar e ajuda tanto a virar esquinas da vizinhança como a cruzar continentes e oceanos inteiros. E durante minhas férias, seja sentado em uma praça, no salão de embarque do aeroporto ou dentro de um ônibus ou avião, pude viajar um pouco à África de duas formas: com as atualizações dos amigos Valter e Flavia na internet (direto da Costa do Marfim) e com o livro “Candongueiro: viver e viajar pela África”, escrito pelo jornalista João Fellet.

Viver e viajar pela África

CandongueiroA sugestão de leitura veio da minha amiga Bruna, que é prima do autor e me emprestou o livro (ótima dica, muito obrigado!). Com uma leitura leve, a obra descreve a vivência que Fellett durante um ano e meio morando na África. A primeira parte se passa em Angola, onde ajudou a montar um jornal de economia, em um país que pouco a pouco se reestrutura após anos de guerra civil – mas não fica livre de contrastes e enormes contradições sociais, políticas e econômicas.

Depois da experiência em Angola, o jornalista decidiu fazer uma viagem de sul a norte, iniciada em Johanesburgo (África do Sul) e terminada no Cairo (Egito), passando por Moçambique, Tanzânia, Quênia, Uganda, Sudão do Sul (na época ainda parte do Sudão), Etiópia e o Sudão atual. Há também um blog sobre a experiência, chamado Candongueiro, que têm trechos presentes no livro e outros “causos” e fotos.

Cruzando a África  de candongueiro

A opção de viagem a bordo de candongueiros (como as vans de passageiros são chamadas em Angola), como diz Fellet, “não tinha nenhuma tendência masoquista”, mas sim vivenciar o meio de transporte utilizado diariamente pela maior parte dos povos que vivem na África.

Durante a jornada pela África, Fellett topou com diversos personagens marcantes, alguns deles com capítulos inteiros dedicados a eles. Só para citar alguns: a moçambicana e descendente de indianos Sakina, mãe e motorista de van; o etíope que fugiu de casa para não se casar e poder concluir os estudos; dois irmãos egípcios que imigraram para o Sudão e acompanharam o jornalista no caminho para o Egito; e o Mr. Brown, britânico de 78 anos que se diz apaixonado pela África e trocou a Europa e o Canadá por projetos sociais e educacionais em Uganda.

“Perrengues”, é claro, não faltaram, como o golpe do qual escapou no Quênia, pessoas que viram no jornalista uma forma de obter dinheiro ou alguma outra vantagem material, e o momento no qual o autor quase perdeu celular, documentos e sua câmera fotográfica em uma latrina. Para saber mais detalhes dos “causos” descritos no livro, é melhor ler o livro e o blog com os próprios olhos para não perder a graça.

Independente do destino ou trajeto, sem dúvida qualquer viagem tem potencial para virar uma vida do avesso. E a África, com toda sua história, riqueza e preconceitos a serem desfeitos, é um terreno dos mais férteis para essa experiência. E enquanto não chega minha vez de ir, viajo por ela com blogs e livros.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

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