Encostei a cabeça no travesseiro e quando me dei conta estava correndo… A poeira se levantava por detrás dos meus passos largos, que iam marcando o caminho tortuoso.
Corria indiscriminadamente, sem olhar para trás, numa fuga desesperada de tudo aquilo que possuía. Estava me abstendo de amigos, amores, sonhos, idéias, buscando um novo nascer, novas certezas, escapando das dúvidas, medos. Por isso não parava de correr.
Porém, obviamente fui me cansando… Correr e não chegar a lugar algum me dava a impressão de estar percorrendo um caminho circular, mas as diferentes paisagens, nascentes e poentes, o movimento das estrelas, o colorido do arco-íris, me mostravam que não estava sempre no mesmo lugar, não obstante a minha incapacidade de definir por onde passava. Horas, dias se foram e aquela corrida frenética já me havia consumido todas as forças.
Fui pensando eu um motivo por ter começado a correr para justificar o meu cansaço e as pressões sociais que viriam quando mostrasse, finalmente, que não teria valido a pena fugir. Assim, vi que não eram de situações, pessoas, que estava fugindo, correndo.
Queria escapar, driblar, algo intangível.
Levantei assustado, um pouco febril. Mas o meu discernimento pobre me mostrou (in) felizmente com aquela experiência, que só não posso fugir de mim mesmo, da minha consciência.