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Prevenir a droga com a educação – Revista Cidade Nova – março 2010

Participantes do Seminário

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SOCIEDADE Durante quatro dias, profissionais de diferentes campos de atuação na área da educação e do direito puderam apresentar experiências, dificuldades e alternativas em vista da elaboração de um projeto pedagógico de resgate de valores e de uma formação integral de crianças, adolescentes e jovens

A região montanhosa de Guaratinguetá, onde está localizada a primeira das 68 Fazendas da Esperança querecuperammaisdeZmiljovensno Brasil e em diversos países do mundo, acolheu 30 profissionais ligados à educação de crianças e adolescentes para o Seminário Internacional: “Educação e prevenção ao uso de drogas e à violência”. Promovido pela Fazenda da Esperança em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Editora Cidade Nova, o evento que foi realizado dos dias 28 a 31 de janeiro enfrentou o tema da crise da escola como espaço de formação e consolidação dos valores humanos em vista de uma educação mais integral da pessoa e deu início à elaboração de um projeto pedagógico que vise a prevenção da droga e da violência.

“Faz 27 anos que eu trabalho na recuperação de drogados e vejo o sofrimento que acompanha cada história, cada família. Então, nasceu dentro de nós o desejo de fazer algo para que a juventude não entrasse na droga, prevenir o mais cedo possível” – explica frei Hans Stapel, presidente da Fazenda da Esperança, sobre a ideia de realizar o Seminário.

Diversidade que enriquece

Um dos primeiros desafios do Se­minário foi lidar com a diversidade de campos de atuação entre os par­ticipantes. Profissionais de todas as regiões do Brasil, coordenadores de ensino, professores de escolas públi­cas e universidades, representantes do poder público e profissionais vindos de outros países apresenta­ram seus trabalhos e experiências no campo educacional por meio de painéis, mesas-redondas, debates, mostrando uma diversidade de pro-jetos e ações realizadas no campo da educação.

“A troca de experiências é im­portantíssima porque quando nós começamos uma atividade, a nossa impressão é de que estamos sempre certos, mas só quando ouvimos a experiência do outro e as suas crí­ticas é que começamos a ver se re­almente estamos no caminho cor-reto”, afirmou Rui Paiva, servidor público municipal na área jurídica, em Belém (PA).

“No início, eu não entendia a proposta do Seminário, mas depois comecei a observar que, antes de tudo, era uma troca de experiên­cias, de conhecimentos, de capa­cidades, para que todos, a partir daquela comunhão, mesmo aque­les que não participam diretamen-te da área da educação, pudessem contribuir”, disse Richardson Ra­mos Cardoso Borges, integrante do programa Educação para a Paz, em Igarassu (PE).

Um projeto em comum

Além de discutir a educação e seu papel na prevenção ao uso de dro­gas e à violência, um dos principais objetivos do Seminário foi traçar linhas para um projeto pedagógico comum a ser oferecido à sociedade.

Diversas alternativas pontuais apresentadas já são realizadas pe­los participantes nos seus ambien­tes de trabalho: projetos concretos como o “Viver de Cara Limpa”, que foi assumido pelo governo do Es­tado de Tocantins e que envolveu muitas crianças e adolescentes da região e também ações pontuais em escolas de Jundiaí, Vargem Grande Paulista, São Paulo ou mesmo na Fazenda da Esperança.

Essas atividades de promoção do ser humano e da cultura de paz têm tido desdobramentos muito impor­tantes no campo da educação e da formação das novas gerações. Nesse sentido, a pergunta fundamental do Seminário levantada pela educado­ra, ex-secretária estadual da Educa­ção do Tocantins e ex-presidente do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), Dorinha Seabra Rezende, foi “como passar de um projeto muito pontu­al e particular para uma dimensão maior, de grande escala”.

“Mais do que trabalharmos jun­tos é preciso aprender a sistemati­zar tudo isso em prol de um pro­jeto maior. Não devo ver apenas o meu projeto ligado à minha escola, à minha universidade ou à minha dificuldade”, acrescentou Samuel de Souza Neto, professor adjunto do Departamento de Educação da Unesp, explicitando ainda mais o objetivo daqueles dias de discussão e trabalho.

Questão de valor

Um dos temas apresentados nas diversas mesas-redondas do Semi­nário apresentou a escola e a so­ciedade como “comunidades edu­cadoras”, que têm um papel muito importante na prevenção ao uso de drogas e à violência. Esse novo mo­delo engloba um conceito de edu­cação que “trabalha também com valores, com postura, formação hu­mana”, explica Dorinha.

“É justamente o descaso em rela­ção aos valores um dos motivos que acabam gerando consequências so­ciais graves no desenvolvimento da juventude”, afirma Édina Maria de Paula, promotora da Vara da Infân­cia e Juventude de Londrina (PR). “A educação significa essa transmissão de valores. Você não tem como falar em educação sem que a transmissão desses valores seja colocada em prá­tica. Dentro do meu dia a dia, eu vejo que muito disso foi perdido pe­las famílias que acabaram terceiri-zando, delegando a educação dos fi­lhos às escolas. Assim, essas crianças não recebem valores nem em casa e nem nas escolas e quando chegam na adolescência estão despreparados para a vida. Daí para a delinquência e para a ‘drogadição’ é só um passo”, conclui Édina.

Dos fatos às palavras

Os quatro dias vividos intensa­mente pelos participantes do Se­minário serviram também como oportunidade de conhecer a reali­dade vivida na Fazenda e ver como a recuperação realizada ali pode ser apresentada como um novo modelo de pedagogia. “Eu vejo a escola como um cen­tro de formação humana, mas aqui também é um centro de formação humana. Não é uma escola nos moldes formais, mas é uma escola de vida e para a vida”, disse Samuel de Souza.

“Sempre ouço as experiências desses adolescentes no Fórum e não são muito diferentes da expe­riência que eles contaram aqui, só que há um diferencial básico: aqui elas encontraram luz, fizeram a experiência do amor de Deus e do amor do próximo, o que os ado­lescentes que eu atendo ainda não encontraram e isso faz toda a dife­rença”, contou Édina.

O Seminário contou também com participantes de outros países que apresentaram as próprias ex­periências. Alguns responsáveis de Fazendas da Esperança de diversas partes do mundo: Alemanha, Rús­sia, México e Moçambique e o peda­gogo alemão Mathias Kaps, respon­sável pelo projeto “Ser forte sem ser violento”, que desenvolve a cultura da paz em muitos países da Europa e já envolveu mais de 150 mil pesso­as – alunos, professores e espectado­res – desde o seu início, em 2006.

“Para mim foi muito importan­te participar do Seminário. Aprendi muitas coisas, principalmente com o modo com o qual as pessoas enfren­tam esses problemas aqui no Brasil. Violência e droga não são só expres­sões de falta de boas condições de vida, mas também da falta de senti­do para essa vida, seja na Europa ou na América Latina. Fiquei feliz por contribuir com a minha experiên­cia”, declarou o pedagogo alemão.

Crianças e adolescentes

“Vimos aqui na Fazenda o que é a experiência de vida, o que é o direito de viver. Cada um que sai daqui hoje sai com consciência de que deve agir diretamente na so­ciedade. Não adianta fazer só diag­nóstico, o que adianta é transfor­mar tudo isso. Os diagnósticos já são muitos, agora precisa sair dis­so para a prática”. Essa percepção de Meireivaldo Paiva, educador de Belém, exprimia outro desafio para o Seminário: definir projetos de ação concreta e conjunta no campo pedagógico.

Nos momentos conclusivos do Seminário, surgiu a necessidade de dividir o grupo em duas diferentes abordagens, uma que levasse em conta as realidades das crianças, até os 11 anos, e outra para os adoles­centes até os 17 anos. Desses grupos nasceram duas propostas concretas: o Projeto Semente e a atualização do Projeto Viver de Cara Limpa, que deverão ser aprofundadas em encontros posteriores.

O Projeto Semente está voltado ao público infantil, dos 3 aos 11 anos, e visa prevenir o uso de dro­gas e a violência, mediante o traba­lho com valores de convivência e cidadania e da fraternidade como novo paradigma para a pedagogia. A proposta inclui atividades para-didáticas e lúdicas e envolve toda a comunidade local: escola, bairro e município, entidades civis e insti­tuições públicas.

A segunda proposta, o Projeto Viver de Cara Limpa, visa trabalhar com os públicos adolescente e juve­nil na prevenção ao uso de drogas e à violência. É um conjunto de propostas e iniciativas que se articulam no tripé “testemunhos, rela­cionamentos e atividades”. As estra­tégias para a realização do projeto são a “sensibilização” (pelos teste­munhos e relacionamentos com os jovens da Fazenda e por meio de oficinas artísticas e a “conscientiza-ção” (pelo livro-texto e atividades propostas). O projeto propõe o en­volvimento da família e de toda a comunidade local.

Desafios

Realizar projetos pedagógicos no Brasil, sobretudo com a chancela do poder público é um grande desafio já no momento de sua aprovação, mas as dificuldades em relação à continuidade dos trabalhos pare­cem ser os principais obstáculos para a construção de mudanças efe-tivas do campo da educação.

Segundo a coordenadora peda­gógica de uma escola municipal de Jundiaí (SP), Lúcia Helena Parazzi, “esse Seminário vem ao encontro das demandas sociais, mas os atores dessa pedagogia precisam antes de tudo acreditar”. “É uma proposta ousada, mas é uma proposta urgen­te, porque a sociedade tem neces­sidade de uma educação diferen­ciada, que as propostas estejam de acordo com as demandas sociais”, acrescentou ela.

Depois dos dias de trabalho do Seminário ficaram evidentes os mui­tos desafios que os educadores preci­sam enfrentar. Um desses desafios é a continuidade dos próprios projetos.

“O importante é deixar esse fogo aceso, ficarmos unidos e comunicar entre nós os passos dados, porque a grande tentação é que o individualis­mo tome conta da gente e que até fa­çamos coisas bonitas, mas sozinhos perdemos a força”, explica frei Hans sobre outro aspecto importante para o sucesso do Seminário que é o tra­balho em rede, em comunhão. •

BOX: Uma experiência marcante

“Foi uma coisa extraordinária, dias de luz, dias em que todos sentíamos que nasceu algo. Parece o início de uma pedagogia especial, algo novo.” (Frei Hans Stapel)

“Espero que nasça agora uma parceria entre a Europa e o Brasil, para nos ajudarmos e enfrentar esses problemas juntos.” (Matias Kaps)

“Uma experiência muito interessante porque abriu mais a minha cabeça no sentido da prevenção, pois trabalhamos muito com a recuperação. Ajudou-me a não me limitar e entender mais o trabalho de prevenção.” (Luciano Santos da Silva, responsável pela Fazenda da Esperança no México)

“Para mim foi possível fazer essa experiência porque todas as pessoas aqui procu­raram viver aquilo que buscávamos juntos, particularmente, na vida delas. Isso me fez lembrar uma frase de Chiara Lubich que diz: ‘Com homens novos, você pode fazer coi­sas novas’. E eu sinto que aqui saiu uma coisa nova por causa disso.” (Nelson Rosendo, presidente da Fazenda da Esperança)

“Eu saio daqui muito diferente de como cheguei. Seria difícil explicar, mas eu saio com o meu coração diferente no sentido que, às vezes, a gente acredita nas nossas po-tencialidades, isso é bom, mas a gente deixa de acreditar que por trás de tudo isso tem Deus e é Ele quem faz as coisas, basta a gente fazer a nossa parte. Eu saio daqui com muita esperança.” (Lúcia Helena Parazzi)

“Existe um autor, Mário Sérgio Cortella, que diz que nós somos a primeira geração que não cuida das próximas gerações e nesse Seminário houve um esforço dessa gera­ção para cuidar da próxima geração.” (Samuel de Souza Neto)

Uma semana para mudar o mundo – Revista Cidade Nova – outubro 2006

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Por Valter Hugo Muniz

Do dia 16 ao dia 22 deste mês se realizará a Semana Mundo Unido. Jovens de todo o mundo estão programando diversas iniciativas com o objetivo de mostrar que a paz, a solidariedade, a fraternidade podem ser construídos e cultivados a partir de nossas cidades

Explode a guerra no Lí­bano. A morte de civis, a intolerância e os atos terroristas parecem di-recionar o país a rumos catastróficos. Os números oficiais di­zem que os ataques já mataram qua­se duzentas crianças até o início de setembro e elas já contabilizam um terço dos feridos no conflito.

Enquanto o mundo dirige suas atenções para o Oriente Médio, na África as mulheres ainda lutam por uma vida melhor, quase sempre utó­pica, pois a falta de credibilidade nos governantes é evidente. Em uma pesquisa feita pela BBC, televisão inglesa, percebe-se que a situação da mulher africana é mascarada. Elas ainda sofrem muito com a violência, sobretudo a doméstica.

Na Europa, o descontentamento de jovens que habitam nas perife­rias das cidades francesas tem gera­do fortes conflitos com a sociedade. E poderíamos continuar a relação de fatos que demonstram a situação atual do mundo segundo a leitura da mídia.

Contudo, não é preciso ir muito longe para se dar conta da violência, da intolerância e da guerra que pa­recem infindáveis em todo o planeta. Os ataques de grupos criminosos em São Paulo, os conflitos nas favelas do Rio de Janeiro, sequestros, vandalis­mo e manifestações de intolerância de todo tipo, são problemas que têm feito cada vez mais parte do cotidia-no de todos.

Em meio a toda esta balbúrdia é possível acreditar em um mundo melhor? É utópico demais pensar na paz?

Um desafio aos jovens

Em 1995, Chiara Lubich, funda­dora do Movimento dos Focolares, falando para milhares de jovens de todo o mundo que se reuniam em Roma, convidou-os a não se deixa­rem intimidar pelos sinais de ódio e de violência que marcam o nosso tempo e lançou uma proposta ori­ginal: a realização de uma “Semana Mundo Unido”. Com essa proposta, Chiara confiava aos jovens a difusão de uma cultura de paz e de fraterni­dade baseada em relacionamentos de convivência pacífica e de enriqueci­mento recíproco entre os povos e as culturas, no respeito à dignidade de cada ser humano e à identidade de cada povo ou comunidade.

“Uma proposta para todos nós, para os jovens do mundo inteiro, para as instituições nacionais e internacio­nais, públicas e privadas, para todos; uma proposta, ou melhor, um com­promisso: um encontro marcado com a Semana Mundo Unido. O objetivo? Evidenciar e valorizar as iniciativas que promovem a unidade, em todos os níveis”, explicou Chiara.

A proposta de Chiara teve a ade­são imediata de jovens de todo o mundo pertencentes ao Movimen­to Jovens por um Mundo Unido (MJMU, expressão do Movimento dos Focolares) que engloba jovens de diversas raças e nacionalidades, pertencentes às principais Igrejas, mas também de outras religiões e culturas que não professam um cre­do religioso. E já em 1996 despon­taram iniciativas em todo o mundo — cinefóruns, manifestações públicas pela paz, divulgação na mídia, inicia­tivas sociais — que tinham o objetivo de chamar a atenção da opinião pú­blica para os ideais de paz e de fra­ternidade.

Um momento fundamental da SMU – no seu início ou na sua conclusão – é a conexão telefó­nica que coloca em comunicação simultânea os jovens do MJMU de diversos países para uma troca de experiências sobre as iniciativas empreendidas por eles ou para uma comunicação direta com jovens de países em guerra ou que sofreram alguma catástrofe natural. Também Chiara Lubich participa da conexão com uma mensagem que, em geral, leva os jovens a olharem o mundo e os acontecimentos sob o prisma da fraternidade e da unidade entre os homens.

Trabalhando pelo mundo unido

A primeira edição da Semana Mundo Unido já contou com a participação de 80 cidades nos cinco continentes. Do Peru à Coreia do Sul, da Finlândia à África do Sul, os jovens se mobilizaram em iniciativas originais e muito concretas.

Na SMU de 1998, representan­tes do Movimento Jovens por um Mundo Unido dos Estados Unidos levaram ao secretário-geral da ONU um documento elaborado com a ajuda dos jovens do Iraque em favor da unidade entre os povos.

Em 2002, os jovens do Oriente Médio desenvolveram diversas ini­ciativas para renovar na população a esperança e a fé no mundo uni­do e na fraternidade universal. No Líbano, por exemplo, eles anuncia­ram a proposta do mundo unido nas praças, com concertos e outras manifestações artísticas. Além disso, eles recolheram uma grande quanti­dade de alimentos em frente aos seis maiores supermercados de Beirute, que depois foram distribuídos para 100 famílias carentes.

No ano passado, quando a SMU completou seus 10 anos, as atividades se alastraram por todo o mundo. Na Tanzânia, país da Áfri­ca subsaariana, 42 Jovens por um Mundo Unido construíram duas cabanas com barro e palha, para dois refugiados idosos que não ti­nham um lugar para ficar. Foram também às duas escolas de ensino médio do campo de refugiados para partilhar as experiências feitas pelos Jovens por um Mundo Uni­do de seu país.

A Semana Mundo Unido des­te ano se realizará do dia 16 ao dia 22 de Outubro e terá como lema: “Mundo Unido: comece pela sua cidade”. Diversas ações estão sendo programadas em muitos países, pro­curando agora, mais do que tudo, mostrar que a paz, a solidariedade, a fraternidade, todos os valores que parecem estar perdidos, devem ser construídos e cultivados nos nossos ambientes, em família, na escola, no trabalho, com os amigos, a partir de nossas cidades.

Agenda Mundo Unido

Uma pequena agenda com pensa­mentos para serem concretizados a cada dia durante a SMU foi uma das ideias que os jovens tiveram para dis­seminar a proposta de fraternidade as­sumida por eles.

Seguem abaixo os textos da Agenda para serem refletidos e vividos a cada dia da Semana Mundo Unido.

SEGUNDA-FEIRA

Uma cidade… SOLIDÁRIA “A diferença entre o que fazemos e o que somos capazes de fazer seria sufi­ciente para resolver a maioria dos pro­blemas do mundo.” (Mahatma Gandhi)

Relato de uma cidade

“Sou artista plástica e sempre me incomodou a diferença social que existe na minha cidade. Decidi me aproximar de uma comunidade carente onde as pessoas moravam em casas de tábuas e papelão. Depois de 25 anos de trabalho ali, junto com os moradores, foi possível substituir e reformar 84 casas em regi­me de mutirão. Hoje também já existem muitos outros trabalhos em prol dessa comunidade.” (A.R. – São Paulo)

TERÇA-FEIRA

Uma cidade… FRATERNA

“Épreciso amar a todos, simpáticos e antipáticos, pobres e ricos, da nossa pá­tria ou de outra, amigos ou inimigos.” (Chiara Lubich)

Relato de uma cidade

“Sou libanesa e trabalho na recep­ção de um hospital em Beirute. Um dia chegou um palestino com um parente doente em estado grave. Sua origem palestina seria suficiente para que eu me recusasse a atendê-lo, porque venho de um vilarejo que foi totalmente quei­mado por eles. Procurei superar o ódio e o rancor que tinha dentro de mim e ajudá-lo. Críamos uma amizade que foi muito além do período de convalescen­ça de seu parente e envolveu também nossas famílias”. (H.N. – Líbano)

QUARTA-FEIRA

Uma cidade… DE PAZ “O amor é a única força capaz de transformar um inimigo em amigo.”

(Martin Luther King)

Relato de uma cidade

“Dois meninos estavam brigando na escola. Eu os separei e sugeri que fizes­sem as pazes, mas eles não quiseram. Mais tarde, um deles estava no pátio e foi procurar o outro. Chamei-o para dar uma volta, fazendo com que nos encon­trássemos ‘por acaso’. Eles se deram as mãos e voltaram a ser amigos.”

(R., sete anos – Venezuela)

QUINTA-FEIRA

Uma cidade… QUE ACOLHE “Podemos nos contentar com o bem de um só indivíduo, mas é muito me­lhor e mais divino o bem da inteira co­munidade. ” (Aristóteles)

Relato de uma cidade

“Na esquina, perto de casa, tem um cruzamento movimentado que não tinha sinalização adequada. Por isso aconteciam muitos acidentes. Como cidadã, deveria fazer alguma coisa e resolvi buscar ajuda dos órgãos compe­tentes. Depois de muita insistência foi colocada nessa esquina uma rotatória e os acidentes diminuíram bastante.”

(C.P. – Ribeirão Preto, SP)

SEXTA-FEIRA

Uma cidade… DE ESPERANÇA “Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo se for para ajudá-lo a levantar-se.” (Gabriel Garcia Marques)

Relato de uma cidade

“Sempre fiquei inquieto ao ver jo­vens entregues às drogas pelas ruas de minha cidade. Então, tive uma ideia: ajudá-los a ter uma esperança e desen­volver alguma atividade que os ajudasse a deixar o vício. Comecei a ensiná-los a fazer pulseirínhas. Hoje sou um dos res­ponsáveis pela Fazenda da Esperança, um lugar de recuperação de dependentes químicos que tem como base de tratamento o exercido de sair de si, amando quem está ao redor.”

(N. – Guaratinguetá, SP)

SÁBADO

Uma cidade… TRANSFORMADORA “…Olhe bem, veja: o mais im­portante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas -mas que elas vão sempre mudando.” (João Guimarães Rosa)

Relato de uma cidade

“Há seis anos mudei de cidade e quando cheguei ao terminal rodoviá­rio percebi que não havia uma escada rolante que ajudasse os passageiros idosos e deficientes. Exercendo meu direito de cidadão em favor do bem comum, fiz várias solicitações à admi­nistração do terminal, pedindo provi­dências. Depois de mais de um ano, foi instalada uma escada rolante que, por muitos meses, ficou sem funcio­nar. Voltei a solicitar providências e a escada logo começou a operar e contí­nua funcionando até hoje.”

(E. – Rio de Janeiro)

DOMINGO

Uma cidade… JUSTA

“(…) a liberdade e a responsabi­lidade caminham juntas. A verdadeira liberdade demonstra-se na responsa­bilidade, num modo de agir que assu­me sobre si a co-responsabilidade pelo mundo, por si mesmo e pelos outros.” , (Bento XVI)

Relato de uma cidade

“Um dia perdi meu celular, e meus amigos, sabendo que eu tinha seguro, tentaram me convencer afazer um bole­tim de ocorrendo informando que tinha sido roubado, de modo a conseguir um novo aparelho gratuitamente. Minha consciência me mandava ser coerente e não fiz o boletim. Alguns dias depois uma senhora me telefonou dizendo que havia encontrado meu celular.”

(A.M. – São Paulo)

Para além da Copa – Revista Cidade Nova – maio 2010

Por Valter Hugo Muniz

AFRICA DO SUL:  Uma festa popular recheada de alegria, música e dança junto a um grande espetáculo esportivo são os ingredientes que a primeira Copa do Mundo de futebol na África tem a oferecer para todo o planeta. Mas será que é só isso?

O que a África faz você lem­brar? O que além de animais selvagens, savana, fome, des­nutrição, milícias e pobreza?

As respostas a estas perguntas es­tão, muitas vezes, ligadas ao que vemos em filmes e pela TV. Contudo, mesmo diante da visão caricaturada que se construiu sobre o continente africano, teremos, durante um mês, a oportuni­dade de ver, como explica a jovem an­golana Ivete Maria, que a “África não se resume a coisas negativas, se você se interessa em conhecer a beleza que existe no nosso continente”.

A primeira Copa do Mundo FIFA em solo africano, que acontecerá do dia 11 de junho a 11 de julho próxi­mos, será, principalmente, um con­vite ao planeta para ver o continen­te de maneira diferente.

Do sonho à realidade

Durante mais de 80 anos, a África do Sul passou por uma terrível es­tratificação social. No regime co­nhecido como Apartheid, a minoria branca (cerca de 10% da população) submetia o restante da população a um governo de leis segregacionistas que, entre outras coisas, impedia o casamento “entre raças”, estipulava locais onde alguns grupos negros poderiam habitar, além de formalizar a discriminação racial no em­prego e reduzir o nível de educação da população negra.

A Copa do Mundo de futebol existe desde 1930. Durante as 18 edi­ções já realizadas, o continente afri­cano nunca pôde sediar o evento. A África também jamais organizou uma edição dos Jogos Olímpicos, que acontecem há mais de cem anos.

Guardadas as devidas propor­ções, o anúncio de que a África do Sul seria o país-sede da Copa do Mundo de 2010, feito no dia 15 de maio de 2004, gerou a mesma ex­plosão de alegria daquele dia 10, do mesmo mês, mas dez anos antes, quando Nelson Mandela fez o jura mento como presidente da África do Sul diante de uma eufórica multidão, decretando o fim do Apartheid. Nos dois momentos fo­ram derrubados os “muros da se­gregação”.

“A Copa do Mundo é um mo­mento único para a África do Sul, mas também para os outros países africanos. Nosso povo sempre trouxe um ‘sabor especial’ a esse evento e é a hora de também nós termos esse privilégio de sediar uma Copa. Afi­nal não vai ser uma ‘Copa do Mun­do’ se a África estiver excluída, certo?”, comenta o técnico de in­formática, João Ladeira, morador de Johanesburgo, cidade mais popu­losa da África do Sul.

Para a alta comissária dos Direi­tos Humanos da Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, “o simbolismo da Copa do Mundo de 2010, que se realiza pela primeira vez em um país africano e, especialmente, em um país que foi, durante muitos anos, sinônimo de racismo institu­cionalizado, é importante”.

Um novo olhar

O primeiro impacto da Copa na África do Sul será na maneira como o resto do planeta olhará para o con­tinente africano durante os jogos.

As grandes multinacionais têm usado artistas e jogadores africanos em seus comerciais televisivos, além de explorar visualmente a imensa riqueza da fauna, da flora e a alegria do povo para apresentar o conti­nente. Também a indústria cinema­tográfica lançou neste ano, o filme “Invictus” (que indicamos na re­vista do mês de abril), história que mostra como o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela, fez uso do rúgbi, esporte que é uma paixão nacional, para construir a unidade em um país que estava di­vidido há muitos anos.

Contudo, muitos cidadãos afri­canos estão preocupados com o fato de que, às vezes, as estratégias comerciais acabam por caricaturar ainda mais a vida no continente. Mesmo assim, o fotógrafo brasileiro Cristiano Burmester, que trabalhou por muitos anos na África, acredita que a Copa será “uma ótima oportu­nidade para o mundo ter um olhar diferente e menos formatado sobre o continente”.

Diversidade cultural

“Com a Copa, o mundo vai co­nhecer o outro lado da África que nunca quis conhecer, vai entender que a África não é um país, mas sim um continente, rico em cultura e em diversidade”. Esse comentário da angolana Ivete aponta para as­pectos importantes como: a cultura, a história e a tradição africana. O povo zulu é uma expressão signifi­cativa da diversidade que constitui o continente.

Entre essas riquezas, destaca-se o papel que os jovens exercem na sociedade sul-africana e o senso de solidariedade presente no país. A juventude sempre desempenhou um papel fundamental na vida po­lítica e cultural da África do Sul. Os sul-africanos de 14 a 35 anos, das diversas etnias que compõem o país, exercem uma influência con­siderável na sociedade e no cotidiano da nação.

A expressão “ubuntu”, usada no país da Copa, resume a ideia de que “um ser humano se faz humano através dos outros seres humanos”. Este termo, que está intimamente relacionado à ideia de solidariedade coletiva, assumiu grande importân­cia durante o processo de constru­ção nacional da África do Sul.

Mas, afinal de contas, qual é a África que queremos ver? E qual é a África que os africanos querem mostrar?

“Eu não diria que essa Copa tem algo de missionário. Apenas que­remos devolver algo ao continente africano por tudo o que ele já fez e ainda faz pelo futebol mundial, sobretudo o europeu”, disse o presi­dente da FIFA, Sepp Blatter, quando questionado sobre o evento. Mas se olharmos para trás, para a histó­ria das nações, talvez seja todo o mundo que deve devolver à África a dignidade e o respeito por tudo o que o povo africano fez e ainda faz para o restante da humanidade. E o mundo não pode perder a excelente oportunidade que a Copa oferece. •

O mascote da Copa

A escolha de um mascote oficial da Copa do Mundo é uma tradição que existe há mais de 40 anos. O escolhido para homenagear a primeira copa em solo africano é o leopardo “Zakumi”. “ZA” significa África do Sul e “kumi”, em vários idiomas africanos, quer dizer “10”, relacionado ao ano da Copa: 2010. Criado por artistas africanos, Zakumi representa o povo, a

geografia e o espírito da África do Sul. “Ele nasceu em 1994, no mesmo ano em que também nasceu a democracia do país. Ele é jovem, cheio de energia, esperto e am­bicioso. Uma verdadeira inspiração para pessoas de todas as idades, não apenas no nosso país”, explicou Danny Jordaan, principal executivo do Comitê Organizador da Copa da África.

Ser forte sem ser violento – Revista Cidade Nova – abril de 2010

Mathias Kaps

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Atualmente, a violência é um dos problemas que mais atingem as escolas. Todos nós conhecemos as imagens dos portões de escolas públicas com seguranças ou equipados com detector de metais para interceptar a entrada de armas. Não são raros também os casos de professores ameaçados de morte por alunos que, muitas vezes, não chegam a ter dez anos de idade. Entre os próprios estudantes, são muito comuns os casos de violência. Mas esse cenário não é corriqueiro só no Brasil. Nas escolas dos Estados Unidos e de muitos países da Europa, a violência tem se tornado um problema que está mobilizando o Poder Público e toda a sociedade. Cidade Nova conversou com o pedagogo alemão Mathias Kaps que iniciou o projeto “Stark ohne gewalt” (Ser forte sem ser violento) e que já envolveu mais de 150 mil jovens e adultos só na Alemanha.

Professor de matemática e religião, Mathias, de 44 anos, desenvolveu um trabalho audacioso que tem apresentado alternativas para a contenção da violência nas escolas. “Embora, tenha sido iniciado num contexto social e cultural completamente diferente do contexto brasileiro, o projeto tem uma dimensão universal porque quer, antes de tudo, atingir o coração dos jovens”, explica o seu idealizador, que acredita que a ideia principal do projeto é criar espaços para que os jovens aprendam a conviver e a construir algo juntos.
Cidade Nova entrevistou Mathias durante o Seminário Internacional “Educação e prevenção ao uso de drogas e à violência” para conhecer um pouco mais essa iniciativa que está suscitando o interesse de diversos educadores brasileiros.

Cidade NovaComo surgiu a ideia de fazer algo para diminuir a violência no ambiente escolar?
Mathias Kaps: Como professor eu sempre tive muito contato com os jovens.  No mundo da escola é comum os professores pensarem ter a solução para o problema dos estudantes. Eu vejo nos estudantes muitas capacidades e muitos talentos, mas nós adultos corremos o risco de não ajudá-los a enxergar tudo isso; não damos o espaço para que eles se desenvolvam. Na Alemanha, por exemplo, nós temos um currículo muito cheio de disciplinas, que, normalmente, não leva em consideração os talentos desses jovens. Na pedagogia se fala de Quociente de Inteligência (QI) e de Quociente Emocional (QE) que é um conceito para descrever a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles. Esse QE não vem em relevo nas nossas escolas. No trabalho com meus alunos, eu vi que deveria criar o espaço que eles precisam para encontrarem dentro de si a capacidade de distinguir aquilo que é certo ou errado.

E como isso se dá concretamente?
Na prática, a primeira coisa importante é perceber que está crescendo, cada vez mais, a dificuldade de construir relacionamentos entre professores e alunos e mesmo entre os estudantes. A falta de diálogo gera violência. E isso é óbvio. Na Alemanha, tivemos casos graves de violência entre estudantes. Diante desse quadro, percebi que era preciso tentar oferecer uma alternativa pedagógica a esses jovens. Havia necessidade de dar a eles um palco, um lugar onde pudessem desenvolver os próprios talentos. Desse modo, eles podiam elevar a autoestima e sentirem-se fortes sem precisa-rem recorrer à violência. Isso porque se você é forte interiormente, não precisa de violência. Foi assim que nasceu o “Stark ohne Gewalt”.

De onde veio a inspiração para o “Ser forte sem ser violento”?
Em 2004, no cinema alemão, foi lançado o filme “Rhythm is it” sobre um projeto da Filarmônica de Berlim que reuniu seus profissionais e meninos de rua para produzirem um espetáculo. Ver aquilo me fez tão bem que pensei: “Por que também nós não fazemos algo do gênero?” Pensei logo numa parceria com o Gen Rosso – banda musical multicultural que se propõe a disseminar a fraternidade por meio da música e da dança.

Eu fiz essa proposta para os artistas do Gen Rosso e eles gostaram da ideia. Em 2005, a banda estava na Alemanha para participar da Jornada Mundial da Juventude e eu, por acaso, durante o show, fiquei ao lado do diretor da Caritas diocesana da região de Colônia. Então, lhe disse: “Gostaria de fazer um projeto social com esse grupo”. E ele respondeu: “Seria uma coisa muito interessante”. Conversamos muito sobre o projeto e a Caritas se tornou nossa parceira e nos ajudou. Um ano depois, em 2006, o nosso projeto já estava sendo realizado em prisões e escolas de mais três cidades alemãs. Mais tarde, conseguimos um grande patrocínio da União Europeia com o qual pudemos levar o projeto a outros países.

Qual é a metodologia do projeto?
O núcleo central é a semana de atividades com o Gen Rosso. Durante uma semana os estudantes trabalham com os artistas, para depois  apresentarem um musical para toda a cidade. Essa semana está inserida num projeto pedagógico mais amplo que começa antes com os professores. Com estes, realizamos cursos de aprofundamento da cultura do diálogo e da fraternidade. Depois, eles são envolvidos na preparação das atividades.

Como os jovens acolhem a ideia?
Nas primeiras horas, eles têm dificuldade em entender a proposta. Principalmente porque não é uma atividade opcional; faz parte do programa da escola. Mas depois tudo muda. No primeiro dia de atividade, eles são distribuídos nos grupos de dança, teatro, instrumental e vocal e não têm ideia de onde tudo aquilo vai chegar. Mas, no segundo dia, eles começam a trabalhar todos juntos na montagem do palco e na definição do objetivo do projeto. A esse ponto, eles se dão conta de que estão construindo algo de grande. Depois, eles começam a perceber que existe uma intensa mobilização na cidade, e isso é um grande estímulo para todos.

Qual tem sido o resultado do projeto?
Esse projeto tem um autodinamismo. É uma iniciativa que marca a vida dos jovens. Um psicólogo disse que essa experiência gera um “trauma positivo” de modo que os jovens que a fazem ficam tão marcados que não conseguem esquecê-la. Assim, em momentos difíceis da vida deles, podem se lembrar dessa experiência e pensar: “Daquela vez, eu consegui me superar; aquela vez, eu consegui fazer algo grande, por que eu não posso fazer agora com os problemas que tenho?”

Na Alemanha, existe um sistema que divide as escolas pela capacidade intelectual dos alunos. É feito um teste e os mais inteligentes vão para o “Liceu”, enquanto os menos inteligentes vão para a “Escola baixa”. Já fizemos a experiência de trabalhar com as duas escolas juntas. Assim, tanto na dança quanto no canto não se via essa diferença de inteligência. Eles se tornam amigos. Vimos que o nosso projeto pode acabar com essa divisão produzida pelo Estado, e até mesmo acabar com a falta de relacionamento existente entre os professores que lecionam nesses dois tipos de escola.

Como é o envolvimento dos professores no projeto?
Um dos nossos objetivos, já no início, é envolver e entusiasmar a equipe de profissionais da escola, pois nem sempre todos entendem bem o objetivo do projeto. Mas quase sempre, no final, eles nos agradecem muito, dizendo que não imaginavam algo daquela dimensão. Uma vez, um professor perguntou a um dos seus alunos qual a diferença da equipe do nos-so projeto com a equipe da escola, e o aluno respondeu: “A diferença é que eles ainda sabem o meu nome, mesmo um dia depois de termos nos encontrado”. Acho que isso mostra que o projeto ajuda a construir relacionamentos verdadeiros.

É possível fazer um projeto dessa dimensão em um país como o Brasil, sem dinheiro e com tantas diferenças sociais?
A principal dimensão do projeto não está na sua forma, mas no estilo com o qual nós procuramos trabalhar. Eu vi que também aqui no Brasil, muitas vezes, o problema é que a pedagogia quer atingir o desenvolvimento do intelecto. A intenção é que os alunos se desenvolvam em sua inteligência. A pedagogia quer trabalhar a mente desses garotos, quer chegar ao coração desses estudantes e isso é possível fazer em qualquer lugar. Não realizamos esse projeto só na Alemanha, fazemos em toda a Europa, mesmo nos países do Leste Europeu onde não existem muitos patrocínios.

Cuba, um país muito pobre, há dois anos vem desenvolvendo um trabalho com jovens artistas, com a mesma metodologia do nosso projeto, com um sucesso enorme e que atinge bairros muito pobres, envolvendo inclusive meninos de rua. O meu desejo é também chegar com esse projeto no Brasil. Os jovens são iguais em todo lugar: gostam da música, da dança, do canto e têm dificuldade de se relacionar, de dialogar. Eu acho que essa falta de diálogo já é uma violência. Então, por meio dessas manifestações artísticas, por meio do projeto, eles podem dialogar e esse diálogo já é a paz.

O que você diria aos educadores que se sentiram motivados a desenvolver projetos como esse?
É importante antes de tudo ter um sonho e, depois, empenhar-se profundamente para a realização dele. Sem parar nos problemas. Manter o coração em paz, sem perder a esperança de que é possível. Se também no Brasil surge um projeto desse tipo e um professor é motivado a levá-lo para frente, ele deve começar! Aos poucos, a ideia vai se desenvolvendo. Essa foi a minha experiência pessoal. Eu sou um simples professor que tinha uma ideia e procurei amigos que tinham vontade de concretizá-la comigo. Agora, essa ideia já está se difundindo pelo mundo afora.

E você, como se sente pessoalmente com o sucesso do “Ser forte sem ser violento”?
Eu me sinto muito orgulhoso porque é bom ver realizada uma ideia que temos. Eu sou muito grato a Deus por me possibilitar viver uma experiência assim. Se não fosse esse projeto eu não estaria aqui no Brasil, nem teria conhecido todo o mundo. Nós fomos feitos para coisas grandes e se temos um sonho, devemos fazer de tudo para que esse sonho se realize e que vire, depois, algo grande. Precisamos ajudar as pessoas que estão ao nosso lado a querer fazer coisas grandes e a não se contentarem com coisas medíocres.

É a vez de Pequim – Revista Cidade Nova – agosto de 2008

É a vez de Pequim – PDF DA MATÉRIA – CLIQUE AQUI

Por Valter Hugo M.T. Silva

Olimpíadas Os Jogos Olímpicos deste mês são uma importante oportunidade de aproximação com o povo chinês que, de certa forma, foi preparada pela solidariedade internacional após as recentes catástrofes naturais

As dificuldades para acolher os Jogos Olímpicos diante dos momentos trágicos que a China viveu nos últimos meses não são os únicos obstáculos que colocam em discussão a primeira Olimpíada realizada em solo chinês.

As críticas ao regime político autoritário, à falta de liberdades individuais e às péssimas condições ecológico-ambientais são outros aspectos polêmicos que questionam a realização das olimpíadas. Potência emergente no mercado consumidor internacional, a China será o terceiro país asiático a sediar as Olimpíadas. Antes, o Japão (Tóquio), em 1964, e a Coréia do Sul (Seul), em 1988, conquistaram esse direito.

Os gastos com a organização do evento foram proporcionais à eficiência e à beleza das construções que, a dois meses dos jogos, já estavam praticamente concluídas. Mas os Jogos Olímpicos não se resumem a um evento esportivo de grande porte. É também uma grande oportunidade de a comunidade internacional conhecer mais o país-sede e a sua cultura.

A China, um dos poucos remanescentes do regime socialista (mas já com relevantes aberturas para o mercado internacional), tem-se tornado assunto diário dos principais jornais mundiais pelo seu grande crescimento econômico. No entanto, a riqueza e a variedade da cultura chinesa são quase desconhecidas pelo Ocidente. O que sabemos limita-se praticamente à produção industrial, a alguns monumentos e a um pouco de sua original culinária.

A Muralha da China é uma das edificações mais conhecidas e valorizadas do mundo. Os astronautas que puderam admirar a Terra do espaço perceberam a grandeza da construção chinesa que se tornou um dos principais cartões postais do país e uma das mais relevantes “portas de entrada” para que o Ocidente conhecesse e admirasse essa nação oriental.

Em 2006, buscando melhorar o sistema de transporte para a organização das Olimpíadas, foi descoberto um sítio arqueológico milenar no caminho por onde passará o metrô. Esse fato chamou, mais uma vez a atenção do governo chinês e da comunidade internacional para as riquezas históricas do país, e fez crescer o interesse por sua cultura milenar e por seu povo.
Preocupações internacionais

Mas outros fatos menos positivos também desviaram o olhar do mundo para a China. No ano passado, por exemplo, o desmoronamento de parte de um túnel, com a morte de quatro operários, revelou as péssimas condições de trabalho e de segurança para os milhares de operários que trabalham nas obras do governo e na construção civil.

A escolha de Pequim como sede das Olimpíadas foi questionada por muitos países justamente pela exploração do trabalhador na China, assim como pela política de repressão a qualquer manifestação contra o governo chinês.

A questão do Tibet também foi apontada como motivo para as Olimpíadas não serem na China. Os recentes protestos pacíficos de monges contra a ocupação da China foram violentamente reprimidos pelo exército.

Em 1950, o país invadiu a região do Tibet, de tradição budista, que considera o Dalai Lama como a verdadeira autoridade nacional. Desde então, as relações mantêm-se tensas, mas devido às pressões internacionais, as Olimpíadas poderão ser uma importante ocasião para o início de um diálogo entre tibetanos e chineses.

Rumores de que o trabalho da imprensa seria controlado geraram protestos, mas o Comitê Organizador de Pequim garantiu que não haverá repressão. E a abertura dada à mídia local e internacional para a cobertura dos desastres naturais ocorridos no país foram uma demonstração de que o governo está decidido a não impedir o trabalho da imprensa.

As catástrofes naturais serviram também como um grande impulso para que o governo chinês mudasse a sua política de controle da natalidade. O governo flexibilizou a lei que obrigava os casais chineses a terem apenas um filho para que os pais que perderam seus filhos nas últimas tragédias naturais pudessem reconstruir suas famílias.

Mudanças em ato

O governo chinês está muito empenhado em mostrar uma boa imagem de seu país para todo o mundo. Por isso, as Olimpíadas estão forçando a China a fazer concessões de direitos humanos impensáveis até pouco tempo.

A proibição do uso e comercialização de artigos religiosos, as restrições ao uso de bandeiras e faixas com mensagens religiosas deram lugar a um espaço ecumênico para celebrações na Vila Olímpica. Medidas relevantes em prol da diminuição de poluentes nas cidades chinesas têm sido adotadas pelo governo.

Considerado um grande poluidor mundial pelo Programa Ambiental das Nações Unidas, com índices de poluição que ultrapassam os limites estipulados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a China está sendo obrigada a repensar o seu modelo de crescimento econômico.

Entre as iniciativas do governo para melhorar a qualidade do ar, está um sistema de rodízio de quatro dias para tirar 1,3 milhão de veículos das ruas (em fase de testes). Fábricas instaladas nas imediações das cidades foram desativadas e produtos químicos poderão ser utilizados para provocar chuva, colaborando na dispersão dos poluentes. A expectativa governamental é reduzir em 40% as emissões de gás carbônico e outros componentes tóxicos para a atmosfera.

China e Igreja Católica

Devido às Olimpíadas, a China está manifestando uma abertura maior também para o diálogo com o Vaticano, com quem não possui relações diplomáticas desde 1951. Durante um concerto da Orquestra Filarmônica chinesa em homenagem ao papa, no Vaticano, Bento XVI ratificou a importância de que as Olimpíadas sejam uma manifestação que ultrapasse o esporte. Dirigindo-se “a todos os habitantes da China”, o papa disse que os chineses “preparam-se para viver um momento de grande valor para toda a humanidade”, referindo-se à importância dos Jogos Olímpicos para a integração do mundo.

Segundo informou o “South China Morning Post”, jornal chinês, as relações entre Vaticano e China estão cada vez mais favoráveis por conta dos Jogos Olímpicos. As autoridades chinesas convidaram o bispo auxiliar de Hong Kong, John Tong Honn, para participar da cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim. “Faz pouco tempo, o papa enviou para Pequim sua bênção para o êxito das Olimpíadas”, comentou o bispo. “Darei continuação às saudações, participando como testemunha deste alegre evento nacional”, complementou.

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