A fundadora e presidente do movimento dos Focolares, Chiara Lubich, que faleceu na madrugada do dia 14/3, aos 88 anos, em sua casa de Rocca di Papa, nos arredores de Roma, será enterrada nesta terça-feira, dia 18/03.
A cerimônia das exéquias será precedida por uma hora de cantos e meditações de Chiara Lubich que começará às 9h45 (hora de Brasília). O féretro entrará na Basílica de São Paulo às 10h20. Antes da cerimônia litúrgica, que iniciará às 11h, intervirão brevemente alguns dos representantes de outras Igrejas e religiões.
Numa atmosfera de grande serenidade, emoção e oração, milhares de pessoas de todas as idades, num fluxo contínuo, prestam sua homenagem a ela. No Centro Internacional do Movimento dos Focolares, em Rocca di Papa, onde ela está sendo velada, Chiara foi colocada no centro da sala, circundada por muitas flores. Atrás dela há um ícone de Nossa Senhora de Czestochowa, um presente do Papa João Paulo II.
Entre as personalidades que prestaram homenagem a Chiara estão o cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, e alguns responsáveis de movimentos e comunidades eclesiais. Além disso, chegaram mensagens do Presidente da República da Itália, Giorgio Napolitano, e do presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Bagnasco.
Italiana nascida em Trento no ano de 1920, Chiara Lubich fundou os Focolares durante a Segunda Guerra Mundial, em 1943. O objetivo do Movimento é contribuir para a fraternidade universal e para a unidade, sempre respeitando e valorizando a diversidade religiosa e cultural. O Movimento, presente em mais de 180 países, tem cerca de 5 milhões de participantes cristãos, hebreus, muçulmanos, budistas e hindus, entre outros, inclusive pessoas de convicções não-religiosas.
Em princípio o Movimento surgiu na Igreja Católica. Devido à sua regra de ouro, comum em todas as religiões, cada vez mais pessoas de outras denominações cristãs e de outras religiões e até mesmo sem convicções religiosas aderem a esse modo de viver, visando o bem comum. Existem, inclusive, vários reconhecimentos da Igreja Ortodoxa, Anglicana, Luterana, do Budismo, Judaísmo, Islamismo e Hinduísmo.
O Movimento, com seus mais de 60 anos, conta com diversas ramificações, pela variedade das pessoas que o compõem – jovens e adultos, crianças e adolescentes, famílias e sacerdotes, religiosos e religiosas de várias congregações e até bispos – embora sendo um só. Além disso, diversos aspectos da vida social estão recebendo a contribuição dessa espiritualidade da unidade, como por exemplo, a economia com o projeto Economia de Comunhão, a política com o Movimento Político pela Unidade (MPPU), a filosofia, a comunicação, a arte, o esporte, a matemática, a psicologia, entre outros.
Em 1977, Chiara recebeu em Londres o prêmio Templeton para o desenvolvimento das religiões. Em 1991, projetando uma nova teoria e prática econômica, fez nascer o projeto Economia de Comunhão. De 1997 a 1998 se dedicou a abrir novas perspectivas de diálogos interreligioso: foi convidada a falar da sua experiência interior na Tailândia a 800 monges budistas; em Nova York a 3000 muçulmanos negros na mesquita de Harlem, e na Argentina à comunidade Hebraica de Buenos Aires. Em setembro de 1998, em Strasburgo, recebeu do Conselho Europeu o Prêmio Direitos Humanos, além do Prêmio Unesco Educação para a Paz 1996.
Repercussão
“Chiara é uma das personalidades mais representativas do diálogo inter-religioso e intercultural, uma voz rigorosa e límpida no debate contemporâneo. Soube fundar um Movimento que é um dos mais difundidos do mundo, capaz de deparar-se, com espírito aberto, com o mundo leigo, tendo por base a supremacia dos ideais humanos da solidariedade, da justiça, da paz entre povos e nações”. (Giorgio Napoletano, presidente da República Italiana)
“Tomei conhecimento, com profunda emoção, da notícia da morte de Chiara, que chegou ao final de uma vida longa e fecunda, marcada incansavelmente pelo seu amor por Jesus Abandonado. Nesta hora de dolorosa separação asseguro a minha proximidade espiritual com afeto aos familiares e a toda a Obra de Maria – Movimento dos Focolares – que teve origem com Chiara, bem como a todos aqueles que apreciaram o seu constante empenho em favor da comunhão na Igreja, do diálogo ecumênico e da fraternidade entre todos os povos. Agradeço a Deus pelo testemunho da sua existência na escuta das necessidades do homem contemporâneo, em plena fidelidade à Igreja e ao Papa. Que os que a conheceram e encontraram, admirando as maravilhas que Deus realizou por meio do seu ardor missionário, sigam os seus passos, mantendo vivo o seu carisma”. (Papa Bento XVI)
“Lamentamos e muito ao recebermos a noticia do falecimento da Nobre Irmã Chiara Lubich, que Allah tenha misericórdia dela. Presto a todos e a todos os membros do movimento dos Focolares as minhas sinceras condolências, e para a nobre finada desejamos a Ela o descanso divino e a estabeleça nas dimensões do Paraíso.” (Xeique Armando Hussein Saleh)
“A Segunda Guerra Mundial deixou um saldo de 60 milhões de mortos, o que equivale dizer, todas as populações da Espanha, Bélgica, Áustria e Irlanda do Sul, juntas. Ceifou inocentes, civis, crianças e idosos. Ninguém foi poupado. Destruiu países inteiros, reduziu a pó suas economias, demoliu sua infra-estrutura construída com sacrifícios imensos; hospitais, casas, ruas foram devastadas impiedosamente. Armas novas foram testadas, campos de concentração foram criados. Toda essa tragédia encontrou seu ápice na bomba atômica explodida sobre o Japão, com todas as conseqüências brutais que se abateram sobre os povos até os dias de hoje.
Em meio a essa funesta realidade uma jovem italiana se levanta e propõe novos sonhos. Chiara Lubich se recusa a aceitar que o destino humano seja tão mesquinho e tão infeliz. Tal como Francisco de Assis e Gandhi, mesmo na sua inteira fragilidade, aparentemente derrotada e abatida, indignada também, se ergue como uma fortaleza, ao propor um desígnio mais humanista, generoso e libertador para a humanidade: O caminho da unidade e da solidariedade.
Se a guerra divide e segrega, a unidade junta e rompe ódios e fronteiras. Se a guerra mata e destrói, a busca da unidade entre os seres humanos, planta vida e paz. Somente as pessoas marcadas para um grande protagonismo na história, são capazes de sair de uma tragédia, sem rancores, sem mágoas, sem ódios, sem ressentimentos. Ao contrário, parecem tocar o sentido último da vida, buscar forças naquilo que não se vê, e propor a construção de um caminho que expressa o oposto do que se defrontam. Essas pessoas são poucas e Chiara Lubich é uma delas. Sua mensagem nos recorda, nos interpela e nos provoca a viver em unidade, mesmo respeitando a diversidade de nossas experiências, nossas diferenças culturais e históricas”. (Deputado Nilson Mourão – PT (AC) – Brasil)
“Chiara fundou o Movimento dos Focolares em 1943, quando tinha 23 anos, após os horrores da 2ª Guerra Mundial, com a finalidade de lutar por um mundo novo de paz e harmonia que só é possível pela vivência do amor ao próximo. Ela estudava filosofia e iniciou a experiência de vivenciar o evangelho radicalmente, com um grupo de universitárias da mesma faculdade. Deste grupo, nasceu e se desenvolveu extraordinariamente o Movimento hoje presente em mais de 180 países, com milhões de pessoas adeptas. Com o objetivo de viver as palavras de Jesus em todas as circunstâncias e em todos os momentos, o Movimento incentiva as pessoas a basearem todas as suas atividades no mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” e no princípio da unidade, pedida por Ele: “Que todos sejam um, para que o mundo creia”, experimentando um relacionamento próximo e amoroso com Ele através da espiritualidade de “Jesus em meio”. Marca ainda o movimento a mística de “Jesus Abandonado”, no qual se encontram todas as experiências dolorosas das pessoas e dos grupos humanos. O Movimento, cujo nome é Obra de Maria, tem simpático acolhimento não só entre católicos, mas também em várias outras igrejas cristãs e ainda em outras religiões, num expressivo clima de ecumenismo e diálogo inter-religioso. Chiara, ao lado de Tereza de Calcutá e Edite Stain, é classificada como uma das três mulheres mais importantes para a humanidade, nascidas no século 20.” (Dom Gil Antônio Moreira – Bispo de Jundiaí (SP))
“Nós, parlamentares brasileiros que integramos o Movimento Político pela Unidade – MPPU, queremos nos associar às sentidas homenagens que ora se prestam à nossa querida Chiara Lubich que partiu para o Paraíso, deixando como herança para a humanidade uma extraordinária obra de amor. Ela nos ensinou com sua própria vida como viver plenamente o testamento de Jesus: ‘Que todos sejam UM’. Agradecemos a Deus pelo dom precioso da sua vida, solidarizando-nos com a família Focolarina de todo o mundo”. (Deputada Luiza Erundina de Sousa – PSB (SP) – Brasil)
“Tive vários encontros com Chiara. O último foi por ocasião das festas natalícias. Mas cada encontro com ela foi, na minha vida, um acontecimento que deixou marcas profundas. Era uma pessoa que contagiava cada interlocutor com o seu entusiasmo pelas coisas de Deus. Levem em frente esta chama do carisma com grande coragem. É uma história, na Igreja, que não se encerra: se abre”. (Cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos)
“Chiara me ensinou a dignidade do carisma, o seu valor, que é o que de mais precioso temos. Chiara é de todos: é da Igreja, é também das pessoas de outras religiões, Chiara é do mundo, porque foi de Jesus. Agora que está em silêncio devemos aprender a escutá-la melhor e poderemos escutá-la se estivermos em unidade entre nós”. (André Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio)
“A herança de Chiara é de amor, marcada por uma maternidade espiritual pela qual todos nós, leigos, lhe somos grato. O seu testemunho não se rende diante dos desafios da secularização e das contraposições culturais, ideológicas e religiosas>>. (Salvatore Martinez, coordenador italiano da Renovação Carismática)
“Nós, em Taizé rendemos graças a Deus pela vida de Chiara. É uma luz para nós. E esta luz permanece entre nós”. (Frei Alois, prior da Comunidade de Taizé, sucessor de Frei Roger)
Mais informações: www.focolare.org
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