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Partilhar nos preserva – 15 anos de eLe.com

Uma das lembranças curiosas que tenho da minha adolescência era o meu estranho saborear das crises típicas daquele período. Estar em crise, era sinônimo de busca, de insatisfação. Muitos daqueles conflitos existenciais serviam como combustível para inúmeras reflexões sobre o mundo, as pessoas, os sentimentos.

Fases da intensa juventude paulistana, de mergulho profundo nas minhas crenças e valores, do amor binacional e das andanças pelo mundo, até experimentar um amor incomensurável com a paternidade. Tudo para me trazer de novo aqui, em um novo ciclo de reconstrução da minha própria identidade.

O escrevo logo existo.com é o fruto concreto dos últimos 15 anos de caminho. Como escrevi na apresentação do blog ” O eLe existe graças aos inúmeros encontros e desencontros de mais de uma década. Amigos, amores, dúvidas, certezas, e mais dúvidas. Momentos de Luz, de sombras e vazios. Histórias divertidas, poesias profundas e banais. O resultado nunca realmente importou. Este blog sempre foi caminho, processo.”

Hoje festejo não somente os 15 anos de história desse companheiro de viagem, mas a certeza de que o partilhar preservou meus sonhos e sobretudo meus ideais.

Gratidão imensa por todos aqueles que inspiraram os textos do blog. Alguns que não estão mais por aqui, mas que me acompanharam nas diferentes fases. Um carinho especial aos leitores, sobretudo aqueles que com coragem criticaram e com lindas mensagens agradeceram.

Continuemos a caminhar, juntos. Até quando a vida permitir.

Amor

Três anos de um amor sublime

Erick Fromm, em seu fantástico livro A arte de amar, ressalta que, por seu caráter altruísta, o amor de mãe é considerado a forma mais alta de amor e o vínculo afetivo mais sagrado.

E quem sou eu para questionar o amor de mãe? Nem ouso me comparar! Porém, desde o dia 22 de maio de 2017 tenho me esforçado para elevar o meu amor paterno ao patamar de doação e empenho que vejo e admiro em tantas mães, sobretudo a que convivo diariamente.

A paternidade me fez deslumbrar um amor novo, avassalador. Daqueles que dói o coração com a distância e que aquece a alma na convivência. A vida tem sido esse festival de emoções desde a chegada da Tainá, nossa primogênita, que hoje completa seu terceiro ano de vida.

Tainá é um tsunami de energia, alegria e sapequice. Habilidosa bilíngue, exímia desenhista e sensível como só uma criança é capaz de ser. Tainá me faz experimentar um amor sublime. Que ama por eu estar aqui, ser seu pai. A única moeda de troca é o meu tempo, quantitativo e qualitativo.

Hoje a festejo com a gratidão de filho de Deus e o orgulho de ser seu pai. Faz três anos que a Tainá tem sido a estrela que ilumina nossas manhãs, nos ajudando a ser pessoas melhores, aceitando nossos inúmeros limites. É uma caminhada incrível que temos o privilégio de poder percorrer juntos.

A chegada da Tainá – Parte um: Preparação

Quando minha esposa gritou: “Hugo! Vem aqui! Rápido” e juntos percebemos que o tampão tinha caído, senti uma serenidade gostosa fruto da minha preparação e a alegria de que logo (mesmo não sabendo quão logo) conheceríamos a nossa filha.

Se tem algo que considero um valor e que procuro colocar em prática na minha vida, desde menino, é estar preparado. Estudo, carreira profissional, relacionamentos… em todos os aspectos e momentos da minha história sempre tentei fazer bem o que me cabe, acreditando que Alguém irá cuidar daquilo que não tenho controle.

Não vou esconder que, de certa forma, preparar-me sempre me proporcionou o controle das minhas emoções, diminuiu meu medo e criou o espaço necessário para viver plenamente cada momento.

Na tarde que antecedeu aquele grito, estávamos caminhando em Zurique, passeando para aproveitar o dia bonito e a presença da minha mãe, que veio para viver junto com a gente essa nova experiência. Foi um dia gostoso e tranquilo. À noite, fomos visitar a família da madrinha da Flavia que logo ao ver o barrigão disse que ela ainda deveria esperar alguns dias pois a barriga ainda estava “alta”. Passamos uma noite super agradável até que aquele “Hugo! Vem Aqui!”, acelerou o coração dos presentes.

É realmente reconfortante sentir-se preparado. Aqui na Suíça frequentamos um curso para “grávidos” que nos fez percorrer, junto com outros três casais, a jornada do nascimento e dos primeiros cuidados. Foram horas repletas de informações úteis e descobertas extraordinárias, ao menos para mim que sou o pai.

Li quatro livros sobre paternidade, parto, gravidez para entender bem os sentimentos da minha esposa, os meus e da nossa filha. Assistimos também o documentário “O Renascimento do Parto”, que me ajudou a desmistificar os perigos do parto natural, que é o mais comum na Europa (mesmo se descobri que a Suíça é o país campeão de cesarianas do continente).

Lá da casa da madrinha da minha esposa ligamos para a casa de parto e eles recomendaram que voltássemos para casa da minha sogra o quanto antes para relaxar e ver como as coisas se desenvolveriam.

Eram umas 21:00. As próximas horas seriam bem mais intensas do que eu poderia imaginar. E assim outro valor passou a ser fundamental: a cumplicidade.

14 de setembro de 2016

Amanhã de manhã pego o avião rumo a Toronto, no Canadá, para mais uma viagem de trabalho. Tenho consciência do privilégio que é poder fazer uma viagem dessas, tanto pelo valor cultural quanto pela oportunidade profissional. Contudo, não vou mentir que ter de me despedir da minha família continua sendo doloroso. Ainda mais depois daquele 14 de setembro de 2016, o dia mais feliz da minha vida.

Na metade de 2016, logo após as maravilhosas férias na Califórnia, senti o coração turbado. A conclusão do mestrado da Flavia representava o fim de uma etapa importante da vida da nossa família. Esse foi o principal motivo que nos trouxe de volta ao Velho Continente. Mas e depois? Qual seria o próximo passo?

Acredito que um dos maiores presentes da insegurança é a necessidade que ela provoca de buscarmos mais intensamente a “Luz” que ilumina as perspectivas. E foi o desejo de me sentir novamente seguro que me levou para uma capelinha, algumas quadras distante do escritório onde trabalho, para falar com Deus. No escuro e no silêncio recuperava a paz para entregar meu coração e assim amenizar ansiedade por não saber qual caminho seguir.

Isso foi terça-feira. Na quarta, dia 14, fui surpreendido com uma ligação da Flavia se “auto convidando” para almoçar comigo. Fiquei feliz com a surpresa e pensei em levá-la para comer no refeitório de uma outra organização que tem mais opções de comida. Mas fomos barrados na porta. Voltando em direção ao meu trabalho decidi partilhar o que tinha dentro. Falei sobre a minha alegria pela conclusão do mestrado, a reflexão sobre o começo de um novo ciclo… até que…

“É verdade. Realmente um novo ciclo vai começar agora”,  disse Flavia me entregando um pequeno envelope e um sorriso.

Abri e tirei o cartão. O coração explodiu e depois eram só lágrimas, abraços, sorrisos.

Uma alegria transbordante que nunca mais vou esquecer. E como iria? Dia 14 de setembro de 2016 não foi só o começo de um novo ciclo. Aquela quarta-feira foi, sobretudo, o dia mais feliz da minha vida.

Prólogo  – 7 anos de Amor Binacional

Doar-me plenamente – corpo e espírito –  para fazer valer todos os projetos com os quais me envolvo é um dos princípios que norteiam a minha vida. O trabalho que desenvolvo precisa fazer sentido, as conversas devem ser construtivas, os relacionamentos têm de proporcionar crescimento mútuo. Afinal de contas, a passagem por esse mundo é única.

Por outro lado, também me esforço para deixar ou « fazer » espaço ao « Motor Imóvel ». As experiências que fiz até aqui me mostraram que Deus está sempre iluminando o melhor caminho. Difícil mesmo é deixar olhos e ouvidos abertos, além da força interior para percorrê-lo.

O equilíbrio entre a escolha e o comprometimento pessoal junto à Fé de que “Alguém” tinha providenciado aquele misterioso encontro foram talvez os principais fatores que levaram eu e a Flavia a começar a aventura juntos no dia 8 de fevereiro de 2010. Pessoalmente, eu não estava entrando naquele relacionamento com o temor de um possível fracasso. Sabia que, da mesma forma que faríamos de tudo para fazer valer cada momento, aquele Deus que nos uniu alguns anos antes iria nos acompanhar naquela empresa.

E deu no que deu.

Hoje, sete anos depois, me vi novamente maravilhado com tudo aquilo que temos vivido em família; me vi também perguntando se, nesse ponto da nossa aventura, amo mais ou menos a Flavia. O interessante é que me dei conta, quase de imediato, que o Amor não pode ser quantificado. O único parâmetro de sucesso é se ele continua gerando frutos.

Dessa forma, difícil não me emocionar e sentir uma gratidão de tirar o fôlego quando penso que aquele primeiro “vamos?”, sete anos atrás, nos conduziria até aqui, agora não só dois e sim três. Não imaginava que aquele primeiro sim seria o prólogo do dia mais feliz da minha vida. E foi.

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