amigo invisível

Estava o menino com seu amigo invisível a vaguear pelas estradas. Há tempos tentava construir um diálogo profundo, um relacionamento verdadeiro com o amigo invisível, mas este estava sempre se escondendo, ocultando suas idéias, sonhos, mergulhando em uma introspecção que beirava o superficial.

O cansaço nos olhos do menino mostrava realmente que ele já havia tentado de tudo: falar para que o amigo estivesse à vontade, escutar para ajudar o amigo a falar e simplesmente perder, pra ver se assim despertava a vontade de compartilhar sua vida com ele. Porém, os anos se passavam, os dois iam crescendo juntos, mas o relacionamento entre eles continuava sempre o mesmo.O menino havia descoberto muitas coisas, vivido muitas experiências e em tudo despertava uma vontade imensurável de comunicar, co-viver, enquanto o amigo invisível continuava se fechando, construindo-se só.

Em uma tarde ensolarada em que o amigo invisível saiu para dar voltas no jardim, o menino encontrou uma garota pulando cordas embaixo da macieira. Ela estava bem contente, pulava, sorria e isso impressionava o menino, que logo perguntou:

_ Quem é vc?

Parando de pular e com um sotaque engraçado disse: _Paula! E vc?

Procurando responder rapidamente o menino disse: _ Estou procurando há meses essa resposta, não sou quem era, nem quem serei. Simplesmente sou, mas não sei o que!

A garota, impressionada e particularmente confusa com a resposta, sentou, encostando-se no tronco da macieira e começou a conversar com o menino. Falaram sobre as estrelas, sobre o céu, o Sol e enfim, sobre si mesmos. Passaram horas descobrindo-se e logo estavam rindo e contando piadas, pareciam amigos há anos.

Já no fim da tarde, o amigo invisível, voltando do jardim, observou distante a conversa e ouviu as risadas do menino e da garota. Sentiu logo uma tristeza por não poder se lembrar de um momento tão alegre vivido com o menino. Via-o agora tão contente com a garota que sentia um ligeiro arrependimento, mas era tarde.

Quando as estrelas começavam já a brilhar no céu, o menino se despediu da Paula e voltou contente para casa. Sentia-se presenteado por encontrar alguém como ela, com vontades e exigências convergentes. Desde então ele nunca mais encontrou o amigo invisível, que havia simplesmente desaparecido, para sempre.