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Pela primeira vez no século XXI, o número de pessoas forçadas a deixarem suas terras para sobreviver se igualou ao período pós Segunda Guerra Mundial. O Pew Research Center apresentou um dado extremamente assustador: atualmente, um em cada 122 cidadãos do mundo foi expulso de sua terra. Ontem, dia 20 de junho, foi o Dia Mundial dos Refugiados. Mas o que isso significa para a maioria das pessoas do planeta?
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Imigrantes econômicos e refugiados
Eu sempre fiquei incomodado com o uso do conhecimento como instrumento de poder e opressão. Infelizmente, é esse o mundo em que a população mundial vive. Não importa a teoria, se você consegue provar com instrumentos lógicos que o seu argumento faz mais sentido, a Verdade lhe pertence. Contudo, muitas vezes as soluções passam por comportamentos humanos particulares e, de certa forma, impossíveis de quantificar. A manipulação dos conceitos relacionados aos imigrantes econômicos e refugiados, seguida da falta de uma solução “racional” eficaz se encaixa perfeitamente como exemplo.
Na prática, imigrantes econômicos e refugiados viajam frequentemente da mesma forma. Porém, enquanto os primeiros optam por deixar seu país para melhorar as perspectivas econômicas de si e suas famílias, os refugiados têm de se deslocar para salvar suas vidas ou preservar sua liberdade. Os imigrantes econômicos, se não estão legalizados, não têm o direito a permanecer em outro país, podendo muitas vezes serem extraditados (expulsos). Já os refugiados estão sob proteção de leis e convenções internacionais, além de contarem com o apoio da ACNUR (Agência da ONU para refugiados) com comida, abrigo e segurança. Dessa forma, dá para entender porque é a mídia europeia, quando relata os naufrágios no Mediterrâneo, quase sempre toma o cuidado de não usar o termo “refugiado”, pois isso garantiria a esses migrantes tanto o direito de acolhida como de ajuda humanitária.
O conceito de refugiado
O conceito de refugiado, mesmo se mais antigo, tornou-se lei internacional – como os europeus costumam dizer – no final da Segunda Guerra Mundial, em julho de 1951, com a Convenção Relacionada ao Status do Refugiado. Pensada e promovida no contexto europeu, a Convenção tinha como base proteger a população do continente de uma possível perseguição pelo próprio governo do país, por razões de raça, religião, nacionalidade, participação de um grupo particular ou de opinião política. O terror da perseguição nazista é uma justificativa suficientemente para a necessidade da Convenção.
Entretanto, com o passar do tempo o termo tem sido remodelado, com o acréscimo de novas dinâmicas, novos contextos, mas a lógica parece continuar a mesma: leis feitas por intelectuais europeus, para defender os modelos, princípios e o bem-estar europeu, que todos chamamos internacionais.
Claro que é importante valorizar a base do direito internacional desenvolvida no Velho Continente, mas como enfrentar uma questão global com o uso de instrumentos tão limitados culturalmente, com atores políticos tão tendenciosos e interesses particulares maiores do que os comunitários?
Questão da acolhida
Quando os inúmeros navios de europeus desembarcaram na América do Sul durante as Guerras Mundiais, cheios de cidadãos fugindo de um conflito armado, a grande maioria foi acolhida, mesmo sem uma proteção legal. Estima-se que entre julho de 1947 e dezembro de 1951 a América do Sul recebeu 96.118 refugiados e através da mediação da Organização Internacional para os Refugiados, o Brasil recebeu nesse período 28.848 pessoas[1]. Aqueles refugiados se tornaram cidadãos, foram integrados à sociedade, conseguiram trabalho mesmo em países que talvez não tinham condições econômicas para acolher essa quantidade de pessoas.
Historicamente, tanto o continente africano, quanto a América Latina enfrentam a questão dos refugiados sem excluir uma da dimensão humana que, muitas vezes, pode ser a mais eficiente: a acolhida. Sem a disposição coletiva de acolher quem precisa e, sobretudo, sem assumir pessoal e coletivamente a responsabilidade diante desse drama global, partilhando experiências, recursos e boas práticas, estaremos contribuindo para um dos fenômenos sociais com consequências futuras ainda mais dramáticas.
[1] Statistisches Jahrbuch für die Bundesrepublik Deutschland 1960, p. 75.
Tarde ensolarada na bela – mas ainda fria – Genebra. Decido praticar um pouco de esporte, pego a minha bicicleta e pedalo rumo ao Lac Léman. Quem já esteve em Genebra sabe bem o que é vislumbrar a maravilha que é essa cidade, como o Rio de Janeiro, bonita “por natureza”.
Durante a minha atividade esportiva, recebo a mensagem de uma amiga brasileira me saudando. Paro e envio pelo celular uma foto do panorama que estou apreciando. Em resposta, ela me pergunta se é difícil, em um mês estar no Brasil, em outro, na Costa do Marfim e, no seguinte, em Genebra.
Montanha russa cultural
A resposta que dei à minha amiga eu tenho repetido, quase sempre, a todos aqueles que me perguntam como está sendo a adaptação aqui no Velho Continente: “bem difícil”. Claro que estou reclamando “de barriga cheia”! Eu não sou um imigrado sozinho ou um refugiado. Estar casado com uma cidadã suíça ajuda muito a viver com tranquilidade as situações normais de instabilidade, diante da nova vida que começamos aqui em Genebra.
Porém, mesmo assim, não é fácil vivenciar, em tão pouco tempo, uma “montanha russa” de concepções culturais. Descobrimos – eu e minha esposa – três culturas completamente diferentes, repletas de pessoas maravilhosas, mas ainda temos dificuldades de chegar às sínteses.
Mudanças: a saudade e os novos desafios
Ultimamente temos tido muitas saudades da África. A vida simples, com menos preocupações materiais e mais relacionamentos nos encantou e deixou uma marca forte em nossa família. Agora, desse lado do Mediterrâneo, precisamos enfrentar os novos desafios e continuar vivendo de forma equilibrada as diferentes dinâmicas culturais que a vida nos propõe.
O primeiro desafio é em relação ao impulso consumista que emerge como “pseudo-alternativa” ao vazio comum em sociedades individualistas. O desejo de “comprar para se satisfazer” parece maior quando não se experimenta constantemente a felicidade que o encontro com “o outro” oferece. Nos últimos dias, me vi agradecendo a Deus pela minha esposa, que tem sido uma ajuda fundamental para que eu não perca meus valores essenciais.
O segundo desafio é superar o imediatismo e o ativismo. Estar em uma situação de transição (em relação aos documentos de imigrante, aprendizado da língua, entre outros) cria uma certa frustração e a ansiedade de querer “fazer algo”, “ganhar dinheiro”, com urgência. Porém, muitas vezes, diante das mudanças, cabe a nós simplesmente esperar e transformar os momentos de “ócio” em oportunidade de repensar escolhas, projetos, com tranquilidade, antes de iniciar uma nova etapa da vida.
Mudar vale a pena?
As mudanças exigem grande paz de espírito e coragem para acreditar (novamente) que muitas coisas demandam tempo que, consequentemente, exige espera que, por fim, requer paciência.
Acredito que vale a pena mudar, simplesmente pelo fato de que as mudanças exigem de nós flexibilidade. Ao longo do tempo, muitas vezes, perdemos essa capacidade, principalmente quando mantemos uma vida acomodada e sem “grandes emoções”.
Peço licença à colabora do escrevoLogoexisto Mariana Assis, que escreveu nas últimas sextas-feiras, para hoje, homenagear um dos homens mais importantes da história da humanidade moderna. Ontem, 5 de dezembro de 2013, um dos maiores promotores da paz e da reconciliação do século XX, concluiu sua longa jornada de 95 anos: Nelson Mandela.
Madiba e Tata Mandela
Madiba, o nome usado como sinal de carinho e respeito, em referencia ao clã Thembu a que Mandela pertencia, foi um universo de testemunhos pacíficos, valorização do ser humano e, o que sempre me impressionou: exaltação da alegria. A história de Mandela é marcada pela dor, pela guerra mas, independentemente de tudo isso, ele jamais deixou de sorrir.
Encontrei um site interessante que conta um pouco da rica história de “Tata”, que significa «pai» em Xhosa, e é atribuído a Nelson Mandela porque ele é considerado o pai da democracia na África do Sul.
Mandela para o mundo
A luta de Mandela emergiu para extinguir um mal produzido pela colonização europeia que, ainda hoje, causa sérios danos à cultura tradicional africana. Os valores e os métodos impostos pelos países do “norte” deixaram sequelas profundas, incontáveis cadáveres e inúmeros mártires que sofreram as consequências da exploração ambiciosa .
A partir dessa perspectiva, Madiba já teria inúmeros motivos para promover a divisão, o ódio, a vingança dos negros do extremo sul subsaariano, segregados, em sua própria terra, pelos brancos europeus e seus filhos.
Mas não, Mandela não ressaltou nenhum tipo de lamento vitimista. Ele soube olhar além e, na alvorada de uma nova situação politica, conseguiu evidenciar valores comuns, aspectos que uniam brancos e negros, todos africanos, em uma mesma nação. Fez isso com o esporte, com a música, na organização política, na promoção da educação e deixou como herança para seu povo, o país mais desenvolvido do continente africano.
O sorriso cativante de um líder
A beleza de tudo isso é que Mandela foi um líder que transformou a África sorrindo. Tata foi um “pai” afetuoso para a nação sul-africana, que mantinha, particularmente, uma proximidade com as crianças e os jovens de seu país. Para ele, cuidar de ambos era garantir um futuro promissor para a nação.
Nelson Mandela simbolizava aquilo que se pode esperar de MELHOR da África. Um continente feito de gente que luta, sofre, mas não perde JAMAIS o sorriso estampado no rosto, a alegria de viver e desfrutar dos aprendizados que a vida dá.
Madiba é para mim um dos seres humanos mais maravilhosos que a humanidade recebeu. Ele não ficou “sentado” esperando que as feridas da guerra cicatrizassem, mas foi o protagonista, chamou a responsabilidade para si e com inteligência e criatividade sanou uma das maiores e mais trágicas doenças que a humanidade vivenciou: o Apartheid.
Agradeço a Deus pela vida de Mandela, Tata, Madiba. Pelo seu testemunho fiel e alegre, mostrando ao mundo que a divisão, até mesmo a mais dramática delas, não é capaz de suprimir o amor, a alegria e o perdão.
Trailer do filme biográfico que chegará logo aos cinemas do mundo. Imperdível
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Por Valter Hugo Muniz
AFRICA DO SUL: Uma festa popular recheada de alegria, música e dança junto a um grande espetáculo esportivo são os ingredientes que a primeira Copa do Mundo de futebol na África tem a oferecer para todo o planeta. Mas será que é só isso?
O que a África faz você lembrar? O que além de animais selvagens, savana, fome, desnutrição, milícias e pobreza?
As respostas a estas perguntas estão, muitas vezes, ligadas ao que vemos em filmes e pela TV. Contudo, mesmo diante da visão caricaturada que se construiu sobre o continente africano, teremos, durante um mês, a oportunidade de ver, como explica a jovem angolana Ivete Maria, que a “África não se resume a coisas negativas, se você se interessa em conhecer a beleza que existe no nosso continente”.
A primeira Copa do Mundo FIFA em solo africano, que acontecerá do dia 11 de junho a 11 de julho próximos, será, principalmente, um convite ao planeta para ver o continente de maneira diferente.
Do sonho à realidade
Durante mais de 80 anos, a África do Sul passou por uma terrível estratificação social. No regime conhecido como Apartheid, a minoria branca (cerca de 10% da população) submetia o restante da população a um governo de leis segregacionistas que, entre outras coisas, impedia o casamento “entre raças”, estipulava locais onde alguns grupos negros poderiam habitar, além de formalizar a discriminação racial no emprego e reduzir o nível de educação da população negra.
A Copa do Mundo de futebol existe desde 1930. Durante as 18 edições já realizadas, o continente africano nunca pôde sediar o evento. A África também jamais organizou uma edição dos Jogos Olímpicos, que acontecem há mais de cem anos.
Guardadas as devidas proporções, o anúncio de que a África do Sul seria o país-sede da Copa do Mundo de 2010, feito no dia 15 de maio de 2004, gerou a mesma explosão de alegria daquele dia 10, do mesmo mês, mas dez anos antes, quando Nelson Mandela fez o jura mento como presidente da África do Sul diante de uma eufórica multidão, decretando o fim do Apartheid. Nos dois momentos foram derrubados os “muros da segregação”.
“A Copa do Mundo é um momento único para a África do Sul, mas também para os outros países africanos. Nosso povo sempre trouxe um ‘sabor especial’ a esse evento e é a hora de também nós termos esse privilégio de sediar uma Copa. Afinal não vai ser uma ‘Copa do Mundo’ se a África estiver excluída, certo?”, comenta o técnico de informática, João Ladeira, morador de Johanesburgo, cidade mais populosa da África do Sul.
Para a alta comissária dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, “o simbolismo da Copa do Mundo de 2010, que se realiza pela primeira vez em um país africano e, especialmente, em um país que foi, durante muitos anos, sinônimo de racismo institucionalizado, é importante”.
Um novo olhar
O primeiro impacto da Copa na África do Sul será na maneira como o resto do planeta olhará para o continente africano durante os jogos.
As grandes multinacionais têm usado artistas e jogadores africanos em seus comerciais televisivos, além de explorar visualmente a imensa riqueza da fauna, da flora e a alegria do povo para apresentar o continente. Também a indústria cinematográfica lançou neste ano, o filme “Invictus” (que indicamos na revista do mês de abril), história que mostra como o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela, fez uso do rúgbi, esporte que é uma paixão nacional, para construir a unidade em um país que estava dividido há muitos anos.
Contudo, muitos cidadãos africanos estão preocupados com o fato de que, às vezes, as estratégias comerciais acabam por caricaturar ainda mais a vida no continente. Mesmo assim, o fotógrafo brasileiro Cristiano Burmester, que trabalhou por muitos anos na África, acredita que a Copa será “uma ótima oportunidade para o mundo ter um olhar diferente e menos formatado sobre o continente”.
Diversidade cultural
“Com a Copa, o mundo vai conhecer o outro lado da África que nunca quis conhecer, vai entender que a África não é um país, mas sim um continente, rico em cultura e em diversidade”. Esse comentário da angolana Ivete aponta para aspectos importantes como: a cultura, a história e a tradição africana. O povo zulu é uma expressão significativa da diversidade que constitui o continente.
Entre essas riquezas, destaca-se o papel que os jovens exercem na sociedade sul-africana e o senso de solidariedade presente no país. A juventude sempre desempenhou um papel fundamental na vida política e cultural da África do Sul. Os sul-africanos de 14 a 35 anos, das diversas etnias que compõem o país, exercem uma influência considerável na sociedade e no cotidiano da nação.
A expressão “ubuntu”, usada no país da Copa, resume a ideia de que “um ser humano se faz humano através dos outros seres humanos”. Este termo, que está intimamente relacionado à ideia de solidariedade coletiva, assumiu grande importância durante o processo de construção nacional da África do Sul.
Mas, afinal de contas, qual é a África que queremos ver? E qual é a África que os africanos querem mostrar?
“Eu não diria que essa Copa tem algo de missionário. Apenas queremos devolver algo ao continente africano por tudo o que ele já fez e ainda faz pelo futebol mundial, sobretudo o europeu”, disse o presidente da FIFA, Sepp Blatter, quando questionado sobre o evento. Mas se olharmos para trás, para a história das nações, talvez seja todo o mundo que deve devolver à África a dignidade e o respeito por tudo o que o povo africano fez e ainda faz para o restante da humanidade. E o mundo não pode perder a excelente oportunidade que a Copa oferece. •
O mascote da Copa
A escolha de um mascote oficial da Copa do Mundo é uma tradição que existe há mais de 40 anos. O escolhido para homenagear a primeira copa em solo africano é o leopardo “Zakumi”. “ZA” significa África do Sul e “kumi”, em vários idiomas africanos, quer dizer “10”, relacionado ao ano da Copa: 2010. Criado por artistas africanos, Zakumi representa o povo, a
geografia e o espírito da África do Sul. “Ele nasceu em 1994, no mesmo ano em que também nasceu a democracia do país. Ele é jovem, cheio de energia, esperto e ambicioso. Uma verdadeira inspiração para pessoas de todas as idades, não apenas no nosso país”, explicou Danny Jordaan, principal executivo do Comitê Organizador da Copa da África.