Juventude

O drama do fim da juventude

Juventude é pensar, sentir e fazer, generosamente. Sem economizar energia ou tempo. Sem cálculos mesquinhos. Ao menos é assim que eu costumava me autodefinir “jovem”.

O problema é que no processo de nos tornarmos adulto, acumulamos experiências e conquistas que aumentam a indisposição à perda. Além dela, começa-se a notar uma diminuição drástica dos níveis de energia. Assim, despedir-se da juventude é estar mais condicionado ao estado psicofísico da própria existência. É sentir (mais) na pele o impacto das nossas inconsequências, inconsistências.

Nas últimas semanas percebi, na dor, que não sou mais jovem. Dei-me conta de que as frustrações da vida ressoam bem mais forte no meu físico e no meu emocional, comparado ao que acontecia nas últimas duas décadas. Enquanto os valores e as verdades se solidificam internamente, lidar com a dor, fruto da injustiça, da incoerência e do medo, agora sugam minha energia de maneira assustadora.

Atualmente, o grande desafio tem sido encontrar um lugar para posicionar a minha existência nesse nova etapa da vida. É melhor ter uma passagem breve, significativa e transformadora ou viver bastante, aceitando cinicamente a própria e inevitável mediocridade? Existir é simplesmente permanecer ou, mais do que tudo, buscar realizar intensamente o nosso propósito, independente da dimensão temporal?

Enquanto essas perguntas ecoam internamente, experimento a dificuldade de encontrar caminhos sustentáveis, em um contexto em que a vida está profundamente entrelaçada a outros seres humanos, tornando os cálculos inevitáveis.

O drama do fim da juventude é ter de lidar, sem fugas ou vitimismo, com o impacto das nossas próprias respostas, ciente de que elas irão afetar outras vidas, inevitavelmente.

Ainda bem que sou ruim de Matemática!

Natal

Natal 2021 – O maior presente

Tainá e Yara eram duas irmãs muito amigas. Elas cresceram no país da neve mas tinham no coração o calor do país do samba.

Tainá gostava muito da natureza. Colhia flores nas primavera, folhas no outono e sabia aproveitar cada céu colorido que um anoitecer pode dar. Yara gostava mais de bonecas. Passava horas brincando com a Lisa e o Daví, mas ficava ainda mais feliz quando a sua irmã Tainá emprestava a Nenê para ela brincar.

No dia de Natal, papai e mami estavam preparando a comida, embrulhando os presentes e a Tainá e a Yara ficaram brincando no quarto. De repente, apareceu um lindo unicórnio mágico e um anjo bem brilhante.

Elas ficaram um pouco assustadas, mas o anjo disse:

_ Não tenham medo! Eu vim aqui para contar que existe um tesouro que só vocês podem descobrir, disse o anjo.

_Tesouro? Nós já fizemos caça ao tesouro esse ano! Foi quando a gente descobriu que o bebê tá na barriga da mamãe! Disse a Tainá para o anjo, sem tirar o olho do unicórnio com a juba de arco-íris. 

_Não é esse tesouro! Explicou o anjo. O que você terão que encontrar é algo ainda mais importante e que todas as pessoas precisam saber.

_Ok! Então o que a gente precisa fazer? Perguntou Tainá.

_Subam no unicórnio e ele vai levar vocês para os três reinos encantados, onde poderão descobrir as pistas para o grande tesouro.

Ao subirem no unicórnio, Tainá e Yara foram levadas para um grande jardim de flores.  Tinham tantas flores, que parecia impossível andar sem pisar nelas. As flores eram bem vermelhas e abaixado, cuidando delas, tinha um menino bem sorridente.

_Ei! Você! Onde nós estamos? Perguntou Tainá.

_Olá, vocês estão no jardim encantado! Respondeu o menino.

_Wow! Que divertido! Estamos à procura de um grande tesouro e o anjo nos disse que podemos encontrar uma pista aqui!.

_Sim! Vão falar com aquela flor amarela, lá no meio do Jardim. Talvez ela pode ajudar vocês. Falou o menino.

O jardim estava escuro. Não dava para ver direito o caminho até que o menino subiu em uma graaaaande escada e fez o sol iluminar o Jardim, para que es pudessem encontrar a flor amarela. 

Chegando lá, Tainá e Yara encontraram a flor amarela chorando. Sozinha. E a Yara perguntou?

_O que aconteceu flor amarela? Porquê você tá chorando?

_Eu estou aqui, sozinha. Sou a única flor amarela nesse grande jardim de flores. Isso me deixa triste, pois gostaria de ter perto de mim outras flores amarelas.

Tainá então lembrou dos girassóis que o papai tinha plantado na primavera. Eram só três no começo, mas depois apareceram vários e a flores juntas eram lindas.

Ela lembrou que elas precisavam sempre de muito sol, água e, com o tempo e muito cuidado conseguiram crescer. Então ela teve uma ideia e falou para Yara:

_Yara! Vamos falar para o menino plantar mais flores amarelas no jardim. Ao poucos elas vão crescer e a flor amarela não vai mais ficar sozinha. 

_Eu acho que essa é uma boa idea, disse a Yara.

Foram então correndo e conversaram com o menino que disse que ia plantar mais flores amarelas. Afinal de contas ninguém deveria se sentir sozinho!

Sorridentes as meninas perceberam que o unicórnio estava abaixado, esperando que as duas subissem. Assim que se sentaram, ele começou a correr até chegarem em um túnel bem escuro.

Elas desceram do unicórnio mágico e ficaram com muito medo. Nenhuma das duas gostava de escuro e não tinham a luzinha delas para iluminar o túnel.

Quando elas já estavam quase começando a chorar apareceu novamente o menino do Jardim, agora com uma lanterna em mãos, para iluminar o túnel.

Tainá e Yara sentiram uma alegria muito grande no coração pela ajuda do menino. Ele estava lá, novamente, bem na hora que elas precisavam de ajuda.

Eles foram caminhando até o final do túnel.

Lá do outro lado, perceberam que tinha um linda igreja. Yara correu na frente e entrou. Tainá foi logo atrás e as duas quando estavam lá dentro, viram que a igreja estava vazia, com excessão de uma menina que estava nos bancos, bem na frente.

Ao chegar perto dela, perceberam que estava chorando. E a Yara perguntou?

_O que aconteceu?

_ Hoje é Natal e, já faz tempo que eu pedi mas o meu papai Noel não vem, explicou a menina.

_Eu queria pelo menos um presente, como as outras crianças, mas eu não vou ganhar nada!

Nessa hora a Yara foi lá e deu um abraço na menina, e a Tainá falou: mas a minha Mami disse que o Natal é a festa para Jesus? É por isso que nós recebemos presentes!

_ Mas então Jesus não gosta de mim? Porque só eu nunca ganho presente! Gritou a menina.

Nesse momento entrou aquele mesmo menino que ajudou as duas irmãs no jardim e no túnel com uma vela na mão e disse:

_ Ei meninas! Venham aqui que eu preciso te mostrar algo.

_ Ta vendo aquele bebê ali no presépio? Perguntou o menino apontando para as figuras no canto da igreja.  Aquele ali sou eu. Eu cheguei nesse mundo como vocês, com sonhos, desejos. Mas eu nasci em um lugar bem frio, junto com os animais. Mesmo assim, saindo da barriga da minha mãe, percebi que a vida é já um grande presente. Depois vi os animais, as flores, a natureza, e também entendi que eles são lindos presentes. E até mesmo o escuro, quando a gente não consegue ver nada, pode ser um presente quando aparece alguém com a lanterna para iluminar o nosso caminho. Explicou o menino.

_ O grande presente do Natal é o tesouro que vocês estão procurando! Falou menino. E que todo mundo precisa saber. O amor é capaz de transformar tudo! E ele nasce no coração de cada um de nós e cresce sempre quando a gente faz companhia para alguém não ficar sozinho (como a flor do jardim encantado), quando a gente cuida e ajuda quem precisa (como eu ajudei vocês no túnel escuro) e principalmente, quando a gente consola quem está triste (como vocês fizeram agora com a menina). O amor é o grande presente do Natal.

Assim que ele terminou de falar a Tainá e a Yara se abraçaram e choraram de felicidade. Porque elas sentiam o amor no coração e lembraram que esse amor não sentiram só hoje, mas todos os dias do ano. Elas já tinham encontrado o grande tesouro.

Nesse momento, o unicórnio mágico abaixou. Elas subiram. E as duas voltaram voando para casa. Chegando lá, perceberam que o papai e a mami ainda estavam preparando a ceia de Natal. Despediram-se do unicórnio que voo pela janela e correram para abraçar os pais. Afinal de contas, todos na família se amavam e esse amor era o maior presente que eles poderiam receber. 

FIM   

COP27 representatividade

COP27 – Revolucionando o meu conceito de diversidade 

Na viagem rumo à COP27 em Sharm El Sheikh, no portão de embarque da conexão em Istambul, conheci o Ananda Lee Tan, senhor canadense com origens indígenas na Índia. A conversa com ele me ajudou a redescobrir o quão importante é olhar com profundidade para o contexto em que estamos inseridos para poder identificar as verdadeiras causas dos problemas aparentemente insolúveis. 

O bate papo informal na fila do embarque me fez lembrar de um momento de partilha com Giuseppe Maria Zanghì quando eu vivia no Centro internacional dos jovens do Movimento dos Focolares, na região dos Castelos Romanos. Ele dizia: “É preciso olhar a nossa existência com profundidade senão acabamos reproduzindo o que está na superfície”.

Aqui no COP27, mas talvez em grande parte das reflexões de como frear o aquecimento global, existe uma fixação com a diminuição das emissões de CO2. Sim, ela é importante. Só que ao focar exclusivamente nela, desviamos a nossa atenção para as verdadeiras raízes do problema que têm impacto muito mais devastador para o clima do planeta.

São as questões da ocupação e degradação da terra, o desprezo das culturas nativas, a extração colonial dos recursos naturais nos países em desenvolvimento, na maioria das vezes impulsionadas por multinacionais com sede em países desenvolvidos. E, por fim, um sistema que carece de representatividade nos organismos internacionais, incapaz de criar impedimentos formais às praticas devastadoras do ambiente, combinadas com a negligência em proteger os direitos humanos.

E aqui inclusão não é só ligada à nação dos negociadores que importa. Mas se eles realmente espelham suas comunidades. Explico. Muitos dos negociadores de países em desenvolvimento aqui no COP27 já estão completamente desconectados da realidade daqueles que eles representam. O colonialismo cultural faz com grande parte da sabedoria local fosse perdida em detrimento de uma concepção de saber “de elite” que em vez de libertar conforma na sua uniformidade.

Toda vez que encontro um indígena, me dou conta da existência de um saber milenar que não dou a devida importância. É nesse sentido que precisamos facilitar encontros, entre diversos. É aqui a essência do que acredito ser representatividade. A busca de pessoas que trazem de suas diferentes vivências, educação, culturas, uma riqueza capaz de contribuir para soluções cadê vez mais difíceis de alcançar.

Olhar a crise climática como um processo de abertura e reconexão com o mundo, mas também entre nós, talvez ajude a encontrar um caminho de colaboração nessa nossa sociedade fragmentada e isolada no seu individualismo.

COP impementação

COP27 e as esperanças de uma implementação urgente

Estou à caminho da minha quarta Conferência do Clima das Nações Unidas, mais conhecida como  #COP27. Desde a minha primeira participação na COP21 em Paris já se passaram seis anos. 

De lá para cá, o otimismo e a euforia do Acordo de Paris acabou freado por governantes de extrema direita que se recusaram a implementar as medidas políticas ambiciosas acordadas na capital francesa. Somado a isso, o mundo teve de lidar com uma pandemia que tirou qualquer chance de que os países direcionassem seus recursos para a implementação das metas acordadas. Mas o pior é que não para por aí! A invasão russa na Ucrânia e a insegurança energética criada pelo conflito fez com que alguns países desenvolvidos voltassem ao uso do carvão para amenizar o impacto interno do aumento no preço do gás natural.

Mas e eu? O que eu tenho a ver com isso?

Já em 2015, fui cobrir a participação de organizações ancoradas em comunidades religiosas que levam para a conferência uma dimensão que vai além das questões técnicas.

Em diversas partes do mundo, inclusive no meu Brasil, quando as instituições políticas falham, muitas vezes são as instituições religiosas que dão suporte aos mais atingidos por secas, inundações e outras catástrofes naturais provocadas pela degradação dos recursos naturais.

São principalmente as igrejas que reforçam a narrativa de que existe um dever moral de cuidar da natureza, que precisa ser protegida porque é um dom de Deus e para que nossos filhos e netos possam habitar em um planeta como o que conhecemos hoje.

A narrativa espiritual também engloba comunidades indígenas, muitas delas em áreas do Pacífico, em que os oceanos estão engolindo suas terras devido ao aquecimento global. Para eles, não é uma simples questão logística, ou de perdas e danos, mas uma violência que fere a sua própria identidade, profundamente conectada à terra onde vivem.

Poder estar fisicamente presente nessas conferências globais dá uma noção do esforço coletivo de encontrar soluções conjuntas para um problema que afeta à todos. 

O meu trabalho será dar visibilidade ás vozes dos mais afetados, na esperança de que os governantes tenham a coragem de ir além dos desafios técnicos e dos interesses políticos.

Sem uma abertura holística que permita olhar a crise climática na sua dimensão humana, existencial e até mesmo espiritual, parece difícil crer que os líderes globais darão ouvidos aos gritos desesperados e urgentes daqueles que anseiam por uma implementação robusta que já deveria ter começado seis anos atrás.

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