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Pensando os modelos de Ensino e de Comunicação

humanistaHoje, por meio de uma rede social, debati com caros colegas de estudo algumas questões a respeito do cenário educacional brasileiro.

Mesmo tendo abordagens e leituras diferentes, mais por conta das nossas histórias pessoais, do que  por qualquer outro motivo, pudemos pensar juntos sobre a importância da distinção da escola com os outros “espaços” da sociedade, para que ela recupere algumas dimensões de caráter filosófico e, porque não, religiosos, que o modelo de ensino funcional perdeu. Essa distinção não é, contudo, um rompimento de relações, mas a redescoberta da identidade específica da escola, no favorecimento de um processo de ensino global.

Dominique Wolton, ao analisar o ambiente pedagógico, essencialmente “transmissor de conhecimentos”,  com o universo comunicacional, por ele analisado, é categórico:

“No campo da educação é preciso transmitir os conhecimentos… mas, hoje, os professores estão muito mais atentos às condições de recepção. Ensinar sempre foi comunicar, isto é, pensar nas modalidades que permitem ao receptor, o aluno, compreender aquilo que lhe é dito, e ao professor, por sua vez, levar em conta as reações de seu aluno”.

Conhecer as dificuldades e, principalmente, os ruídos, em prol de uma comunicação autêntica necessita, essencialmente, do encontro fundamental com o Outro (e seus limites). Essa metodologia relacional e, por que não, pedagógica, permite que a “partilha” seja “aceita” pelo receptor de uma informação/conhecimento.

Assim, tanto o comunicar, como o ensinar, em uma dinâmica relacional, promove modelos mais eficazes, no que diz respeito aos resultados funcionais e, principalmente, redescobrem a riqueza de uma metodologia que nasce da fadiga do “Encontro entre “Outros”.

“O indivíduo que aprendeu a melhor se conhecer e a se expressar  (e eu acrescentaria aqui, na metodologia que se fundamenta no Encontro entre Outros) é também mais critico”, afirma Wolton.

O silêncio e a palavra: uma relação com potencial de iluminar a sociedade

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Uma das lições mais ricas que aprendi nos meus estudos teológicos é que a Verdade se revela (Alétheia) de maneira ternária: no silêncio interior (kenosis), nas manifestações exteriores (fenômenos naturais ou sociais) e na relação com Outro. Essa descoberta fundamental  me ajudou a entender melhor o meu papel como jornalista profissional e comunicólogo pois, no universo da comunicação de massa, a relatividade da Verdade é defendida como pilar pragmático.

É a partir dessa leitura pessoal que me debrucei na obra do “massmidiólogo” italiano, diretor da editora Città Nuova e professor do Instituto Universitário Sophia, Michele Zanzucchi. “Il silenzio e la parola. La luce. Ascolto, comunicazione e mass media” é um ensaio sobre essa relação ternária como lógica da comunicação.

A obra de Zanzucchi apresenta o silêncio e a palavra como “sujeitos” do ato comunicativo. Sem um verdadeiro silêncio “kenótico” e uma palavra que se relaciona com ele, a comunicação não é capaz de gerar/transmitir/revelar a Luz que nasce (ou pode nascer) dessa relação.  Na linguagem “comunicativa”, escutar e comunicar são dois pilares que constroem a identidade da communicatio.

Algumas críticas do autor ao fazer comunicativo (de massas), na minha opinião, não procedem. Muitas vezes ele também se mantém na análise demasiada dos “meios”. O grande buraco teórico está nos capítulos conclusivos da obra, que sofrem para sustentar, com argumentos sólidos, a teoria principal. Mesmo assim, o livro tem leituras transdisciplinares essenciais para entender profundamente a comunicação de massas na lógica ternária.

Muitas das intuições de Michelle eu não tenho agora presente, algumas delas geniais, mas irei explorá-las depois de concluir a primeira parte do estudo aplicado de Dominique Wolton, a partir da análise da obra “É preciso salvar a comunicação”.

Contudo, este é um livro que vale a pena ler e meditar.

A Liberdade de Expressão não é um valor absoluto

Apress

A liberdade de expressão é sempre um assunto polêmico no mundo dos comunicadores. A afirmação que intitula esse comentário vem de um PODCAST da CBN, em que o escritor e jornalista, Carlos Heitor Cony, explana a respeito da crise política nos EUA.

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi acusado de autorizar escutas telefônicas de mais de vinte linhas usadas por repórteres e editores da agência de notícias The Associated Press. Enquanto o governo se defende afirmando investigar o vazamento de informações oficiais sigilosas, priorizando a Segurança Nacional, a Associated Press  acusa governo dos EUA de violar sigilo de jornalistas, uma conquista histórica importantíssima.

Essas discussões a respeito da liberdade de imprensa só são possíveis quando falamos de comunicação dentro de um regime democrático, pois ela não é um valor fundamental em sociedades hierarquizadas e desiguais. Segundo Dominique Wolton, “A comunicação assume seu lugar normativo, (ou seja de troca, partilha) ao passar de uma sociedade fechada a uma sociedade aberta. Para o pensador francês “comunicar é ser livre, mas é, sobretudo, reconhecer o outro como seu igual”.

A comunicação, como “ação” de partilha envolve, na sua essência, os valores promovidos pela Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), pilares da democracia moderna.  Contudo, e aqui voltamos para o inicio deste comentário, a liberdade (de expressão) é um principio importante que atua juntamente com a igualdade e, principalmente, a fraternidade. A Liberdade de Expressão, afirmou Cony na CBN, “não é um valor absoluto que passa por todos os valores. É preciso que exista equilíbrio”.

Wolton afirma que “a comunicação é inseparável da dupla aspiração que caracteriza a nossa sociedade: a liberdade e a igualdade”. Ambas, eu acrescentaria, existem dentro de uma dinâmica relacional fraterna, para que qualquer informação (noticiosa ou não) seja um bem, sobretudo, para a sociedade como um todo.

A “alma” da informação

E o lado positivo

Há alguns meses, tive um pequeno desentendimento com a pessoa responsável por um veículo de comunicação onde colaboro. Coisa que acontece, mas que além de distanciar duas pessoas pode, sem dúvidas, afetar o produto final.

Pois bem, uma das grandes descobertas profissionais que tive nos últimos tempos é que qualquer produto de comunicação tem uma “alma”. Não no sentido platônico, uma essência perfeita que se configure no “Além”, mas uma dimensão que “transcende” o emaranhado de palavras e frases e que, fundamentalmente, “toca” o receptor da informação.

Desta forma, o conflito com um colega de profissão, partícipe direto de um projeto comunicativo em comum, se não resolvido, pode sim influenciar negativamente essa “alma” do material produzido. Nas dinâmicas de elaboração do conteúdo, mesmo que este seja perfeito na “forma”, se “plasmado” em um ambiente negativo, ele se torna incapaz de “mover” positivamente o receptor.

Pode-se então afirmar que o contexto em que uma informação é produzida condiciona a expressão ou anulação dessa “alma”. Assim as “leituras”, as “intuições” e mesmo o método devem levar em consideração esse fator, difícil de mensurar, mas não impossíveis de perceber.

A “alma da informação” transforma a simples transmissão em verdadeira comunicação, no que diz respeito a “actio communio”, ação de colocar em comum, partilhar, em vez de querer impor, “pautar. Os “fins” tem sim relação de reciprocidade com os “meios”.

Superando a cacofonia da Babel

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Nos estudos que fiz durante a produção da minha tese de laurea magistrale, um dos aspectos que mais refleti foi a respeito da “incomunicação” existente no contexto atual. Mesmo em um mundo que, segundo Wolton, “todo mundo vê tudo, ou quase tudo”, não se compreende melhor aquilo que acontece. “A visibilidade do mundo não basta para torná-lo mais compreensível”, afirma o comunicólogo francês.

Wolton explica que o fim das distâncias físicas proporcionadas pela globalização revela, na verdade, “a incrível extensão das distâncias culturais”. Mesmo que as técnicas sejam homogêneas, o mundo preserva sua essência heterogênea.

A sonhada “Aldeia Global” apresentada pelo pensador canadense Marshall McLuhan é, na verdade, “cacofonia de Babel”.  Para Wolton “hoje a facilidade de comunicar dá o falso sentimento de que seja mais fácil compreender-se”. Contudo, nas pontas dos canais e redes de comunicação, encontramos frequentemente a incompreensão, para não dizer a “incomunicação”.

Neste contexto emerge também a questão da identidade. Historicamente lutada, sofrida e conquistada com o sangue de muitos, é difícil a sociedade abrir mão dela. Assim, de maneira natural, quanto mais os homens entram na globalização, mais eles querem afirmar suas raízes. Para o comunicólogo francês, tudo isso evidencia a necessidade de, “quanto mais comunicação e trocas houver, mais será preciso respeitar as identidades”.

Na prática, o desafio da comunicação contemporânea é marcado por constantes insucessos. Um exemplo simbólico é a da manipulação da informação feita pela rede de televisão americana CNN.  Além de suscitar oposições crescentes, desde a primeira guerra do Iraque (1991) e no pós 11 de setembro de 2001, a CNN, em vez de aproximar os pontos de vista, aumentou as distâncias culturais, exacerbando os maus entendidos.

O fato é que, como evidencia Wolton, “a globalização da informação cria um processo que foge a todo o mundo”, do qual é difícil controlar. Por isso, afirma o comunicólogo francês, “é preciso pensar a comunicação considerando a diversidade cultural”, em que os diferentes povos e culturas sejam respeitados. “Não há informação nem comunicação, sem o respeito do outro, do receptor”, afirma Wolton.

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