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A herança de Francisco para o Brasil

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Desculpo-me com os leitores pelo post “católico” demais, obrigando-lhes a colher este aspecto “privado” da minha existência. Porém, eu acredito, sem dúvidas, que esta dimensão “comunicada” seja capaz, como qualquer outra expressão religiosa, de iluminar a vida de todos. Por isso achei pertinente, hoje, escrever sobre o livro que acabei de concluir: “Palavras do Papa Francisco no Brasil”, editado pelas Paulinas.

Falar sobre a presença “profética” de Francisco no Brasil seria “chover no molhado”. Sempre que o Papa visita o Brasil, especialmente quando encontra os jovens, renova-se a alegria e a coragem de testemunhar o tal Cristo, exemplo de um amor nada ideológico, porque aberto ao outro; um amor  livre e acolhedor.

As inúmeras mensagens, algumas, doces como o abraço materno, outras duras como conselhos paternos, transformaram as vidas não só daqueles que foram encontrar o Papa no Rio. Graças aos meios de comunicação, televisivos ou não, a Luz de Francisco ressoou pelo Brasil, chegando também a todos os cantos do planeta.

Mas por que o que o Papa diz é importante? Porque suas palavras estão carregadas com a força do seu testemunho e, por isso, transformam. Da comunidade na favela, ao hospital, à basílica, em cada discurso uma mensagem de encorajamento humilde, sem sermões clericais, mas como conselhos de um Amigo, um companheiro na Viagem da vida, que caminha com os pés no chão e os olhos no Céu.

Para entender o que eu digo é fundamental ler, conhecer, o que Francisco disse, mesmo um não católico, pois a linguagem deste “sucessor do apóstolo Pedro” é capaz de tocar o coração de todos, é universal, como era a mensagem do Cristo. O Papa Francisco não veio ao Brasil promover o catolicismo, mas deixar uma mensagem de Amor, Esperança, que pode ser vivida por todos, com simplicidade e, especialmente, no serviço aos marginalizados da sociedade.

O Papa viu nos brasileiros um povo “tão grande e de grande coração; um povo tão amoroso” e, quando deixou o nosso país, sentiu saudade “do sorriso aberto e sincero, do entusiasmo”, convidando todos a mostrar, COM A VIDA, “que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizando a dignidade de cada ser humano”.

Francisco se foi, mas deixou seu testemunho e palavras, que podem ser meditadas, dia após dia, graças à publicação de seus discursos. Altamente recomendado.

Quem quiser comprar o livro, ele custa R$6,00 e pode ser adquirido online, clicando aqui.

O genocídio de professores no Brasil

professores doentes

Talvez eu vá me cansar (e cansar os leitores), mas não consigo deixar de protestar contra a truculência da Polícia Militar que, sistematicamente, tem agredido os cidadãos do país. A minha revolta não é (toda) contra o elemento singular, o policial mal pago que está na linha de frente dos protestos, mesmo ele tendo o “dever moral da desobediência”. O que mais me entristece é aceitação social de uma corporação corrupta, assassina e centrípeta como a Polícia Militar, que não existe para servir o povo, mas para a manutenção dos próprios interesses corporativos.

É uma vergonha, ainda maior, ver alguns policiais militares baterem, descaradamente, na cara dos (poucos) professores que ainda restam nesse país e que lutam por essa classe tão marginalizada. O que foi feito com os profissionais da educação na Câmara Municipal carioca é mais um episódio que nós, brasileiros, deveríamos nos envergonhar.

Como um país vai se desenvolver sem educação? Sem valorizar seus professores? Como tem sido até agora, na malandragem, no jeitinho.

O mais triste é que há anos vem diminuindo potencialmente o número de jovens interessados na profissão de professor.  De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a educação básica brasileira (que inclui a educação infantil, a especial, o ensino fundamental, o médio e a educação de jovens e adultos – o EJA), em 2007 havia 2.500.554 profissionais atuando em sala de aula. No ano de 2009, esse valor baixou para 1.977.978.

Esse verdadeiro “genocídio” de profissionais da educação, fruto das políticas públicas que parecem concorrer para a ignorância coletiva, pode ter consequências ainda mais drásticas do que aquelas que estamos vendo crescer na sociedade brasileira.

Aceitar a violência histórica contra os professores do Brasil é ser cúmplice da falta de consciência cidadã e da desvalorização dos valores morais que estão na base de qualquer Estado-Nação.

Para superar a superficialidade das “News

antropocentrismo

Para descobrir que grande parte das informações que recebemos hoje dos meios de comunicação de massa é “essencialmente superficial” não é necessário ser um especialista no assunto. A fábrica de noticias “fast food” que rodeia a sociedade contemporânea não tem vergonha de criar, constantemente, a ilusão de que, estando “conectados” ao mundo, sabemos o que está acontecendo nele.

Contudo, como explica repetidas vezes Dominique Wolton, produzir informação não é o mesmo que comunicar-se, pois, o quanto no primeiro basta um cérebro e a capacidade técnica, o outro exige “kenosis” (esvaziamento) para colher a Verdade (Alethèia) ou os fragmentos dela, que se manifesta no encontro verdadeiro entre pessoas e/ou acontecimentos.

Para Wolton “os jornalistas devem sair das News” para “buscar as chaves de compreensão dos acontecimentos, ou seja, encontrar a densidade da história por trás da força dos acontecimentos”. As dificuldades metodológicas dessa operação, em um contexto de produção que privilegia a velocidade, o “furo de reportagem”, são inúmeras.

A batalha por uma informação que comunique exige vencer inúmeras batalhas, por quem faz e quem recebe a notícia. No caso dos jornalistas, afirma Wolton, eles “têm a temível responsabilidade de informar, sem retomar sistematicamente o discurso dos atores políticos, mas também nem sempre tendo os meios para suas investigações”. Existe também o desafio de superar estereótipos, cliques e representações em que os intermediários do conhecimento “deformam muitas vezes a apreensão da realidade, e o trabalho do jornalista consiste, sobretudo, em desconstruí-los”.

No que diz respeito à sociedade, caberia, talvez, a ela exigir uma convenção internacional sobre a informação e a imagem que garantisse os direitos e deveres dos jornalistas, valorizando possivelmente a existência de códigos deontológicos comuns. “Tal convenção permitiria também definir as responsabilidade de cada um: jornalistas, editores, empresários, poder publico, políticos e etc. em um mercado da informação cada vez mais contraditório”, afirma Wolton.

Em ambos os casos é fundamental um retorno ao ser humano, na sua alteridade e ontológica “relacionalidade”. Quando se coloca o bem, individual e coletivo, dos sujeitos envolvidos no processo comunicacional, considerando-o elemento-chave da comunicação de massa, redimensionam-se todas as metodologias e as consequências em relação ao valor da informação são profundas.

A santidade pelos olhos agnósticos

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Santidade. Para mim, que sou católico, é já difícil entendê-la conceitualmente, mas imagine para alguém que se nega a aceitar a existência de um Ser transcendente? Claro que, quando consideramos “figurinhas carimbadas” como Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Francisco de Assis e, nos tempos de hoje, Madre Teresa de Calcutá e Karol Wojtyła, parece ficar um pouco mais fácil “acreditar” que existem pessoas especiais que, com seu testemunho de vida, transformaram a sociedade/comunidade em que estavam inseridos.

Infelizmente, hoje a santidade é ignorada por ser um conceito essencialmente religioso; por ser interpretada como um tipo de fanatismo idealista em relação a uma determinada pessoa; por ser vista como crença ingênua, irracional, de que, pedindo (rezando) para “intercessores” as situações – principalmente ruins – podem mudar.

Essa visão – ou essas visões – limitada do significado de santidade acaba ocultando aquilo de mais “gritante” que os santos carregam para todos, independentemente do credo ou mesmo na ausência dele: a radicalidade e coerência de vida, baseadas naquilo que se acredita ser bom, não só para si ou para um grupo restrito, fechado, mas para toda a sociedade. Viver dessa forma é tão difícil quanto possível e a história da jovem italiana Chiara Badano, contada pelo agnóstico Franz Coriasco, é um exemplo incontestável de “modernização” da santidade.

Francisco de Assis, Madre Teresa e Chiara Badano “se encontram” na mesma radicalidade e coerência; na mesma simplicidade e existência direcionada aos outros; sendo, contudo, cada um deles, “senhores do próprio tempo”.  Chiara, por exemplo, usava calça jeans, gostava de esportes, não era dotada de inteligência ou beleza notável, não era alguém “especial” que se destacava pelo que se poderia observar “com os olhos”, encontrando-a pela rua, mas, como diria Antoine de Saint-Exupéry: “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. Isso fez o seu testemunho silencioso, até quando milhares de pessoas de todo o mundo tiveram a possibilidade de conhecer a sua história.

A “incapacidade” de colher a “mensagem” que a vida de Chiara Badano comunicava (e ainda comunica) está nas entrelinhas do livro “25 minutos” de Coriasco. Racionalmente o biógrafo de Chiara reconhece e acredita na grandeza da sua conterrânea de Sassello, norte da Itália, mas, interiormente, não consegue assimilar a essência dela. Será?

Tenho me debruçado em inúmeras biografias. Steve Jobs, Einstein…, mas a história de Chiara, “Luce” para os católicos, exala uma beleza instigante e faz perceber que a vida é muito curta para ser desperdiçada com projetos medíocres. Isso sim é exemplo de vida, testemunho cristão, ou melhor, santidade.

PS: A SARAIVA está vendendo o livro por R$17,00.

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