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Somos se aparecemos: a responsabilidade comunitária do comunicador

Somos se aparecemos

Uma das reflexões mais importantes que um comunicador, ao meu ver, deve SEMPRE fazer diz respeito a sua responsabilidade perante a comunidade em que ele está inserido. Em uma sociedade em que o espaço público é totalmente midiatizado “tudo o que é importante está na mídia, então aqueles que estão na mídia são importantes”, explica o comunicólogo francês, Dominique Wolton. Essa dinâmica social promove uma legião de narcisistas, que parecem viver para “aparecer”, pois isso (infelizmente) define a sua relevância perante os outros. Enfim, somos se aparecemos.

Nesse contexto, não é necessário explicar muito sobre o poder que está nas mãos, tanto de quem comunica, como daqueles que gerenciam as empresas de comunicação.

Contudo, deve ser impedida, a todo custo, a subversão vergonhosa dos meios de comunicação de massa, em que a forma suplanta o conteúdo. A responsabilidade dessas empresas e seus operadores precisa ser socialmente regulamentada, para que, em vez de servir como pedestal funcional para que os detentores do poder (politico e econômico) “apareceram”, as mesmas busquem valorizar aquilo que impulsiona à consciência coletiva, o bem comum.

Segundo Wolton, a “estrelização” da sociedade, que iniciara com o cinema e a imprensa de grande público, vem explodindo a mais de meio século, ilustrando a crise de valores que atravessou nossas sociedades. “Ontem, haviam outros valores: a política, a ciência, a religião etc., enfim, uma diversidade de legitimidades concorrentes. Hoje, tudo se alinhou à logica midiática que se torna a principal legitimidade”.

Racismo no futebol: a banalização das conquistas sociais em prol da inclusão | Valter Hugo Muniz

Racismo no futebolÀs vezes me deparo com situações em que sinto estar vivendo na Idade da Pedra, onde os atos animalescos, pouco racionais, definiam os privilégios sociais. Diante desses “escândalos” eu não consigo deixar de lembrar que as grandes conquistas da humanidade caminharam, decisivamente, para uma maior inclusão e não para exclusão de seres humanos. Por isso em muitos países não existe mais escravidão, a comunicação pode ser considerada “de massa”, a educação é um bem “para todos”, existe um estatuto da criança, a declaração universal dos direitos dos homens e etc. Porém, e isso espanta, ainda existem pessoas que promovem a segregação.

A pior das exclusões, para mim, é o racismo. Não por ser afrodescendente e, por isso, potencialmente vítima, mas porque ela “coisifica” brutalmente o ser humano pela cor da sua pele, pela sua etnia, as raízes. Infelizmente o futebol vem sofrendo “desse mal” há muitos anos e, nos últimos dias, os casos de racismo ganharam proporções que exigiram a mediação institucional da FIFA.

O relato no blog de Cosme Rimoli explica a situação: “Na partida entre CSKA e Manchester City, o alvo dos torcedores foi Yaya Touré, jogador negro que nasceu na Costa do Marfim. Era só a bola cair no seu pé e lá vinha a imitação de macacos na arquibancada. A partida era válida pela Champions League, a mais importante competição de clubes de futebol do mundo. O marfinense ficou revoltado. Mas não seguiu o caminho fácil de apenas reclamar na imprensa. Parou o jogo, mostrou ao árbitro e pediu que a partida fosse encerrada. Não foi.”

O que parecia mais um dos muitos casos de racismo no futebol no Velho Continente, se transformou no estopim que levou a FIFA a, finalmente, agir.  Yaya Touré disse, em alto e bom som: “esse tipo de situação tem de acabar até o Mundial de 2018”. Caso não acabe, o jogador prometeu organizar um boicote dos negros, podendo se estender à Copa do Mundo.

Bastou que uma vítima desse racismo animalesco desse uma declaração radical, ainda mais sendo um ídolo do futebol inglês, para que o presidente da maior entidade do futebol mundial, o suíço Joseph Blatter, percebesse o quanto a postura da Fifa é branda, quase conivente. Imagine uma Copa do Mundo sem negros? Sem Balotelli, Touré, sem Neymar, Paulinho… Sem as Seleções Africanas. Impossível! Os exemplos de casos de racismo na Europa são vergonhosos e “não adianta apenas multar e obrigar os clubes a jogar com portões fechados. Aqueles que possuem racistas entre seus torcedores precisam pagar caro”, afirma Rimoli.

As ameaças de Touré parecem ter surtido efeito e Blatter começou a se mobilizar para mudanças efetivas nas regras. Dessa forma, os racistas devem ser proibidos de assistir aos jogos; as polícias passarão a identificar e indiciar, vetando o acesso deles aos estádios nos dias em que seus times estiverem jogando. Aos clubes, as punições serão muito mais severas. Em vez de multas, perda de pontos. E, em caso de reincidência, até mesmo eliminação de campeonatos.

É fundamental criar regras severas contra qualquer manifestação de racismo. Seja de cor, raça ou até mesmo opção sexual. O futebol é conhecido como o esporte mais democrático do mundo, mas não pode seguir a demagogia “terminológica” existente no contexto político.

Espero que o caso sirva de exemplo para o mundo inteiro, inclusive ao Brasil, onde o racismo no futebol existe, mas que, como na sociedade, é travestido de uma hipocrisia cultural. Mas, pelo menos no futebol, o preconceito deve custar caro.

Alguns vídeos sobre o assunto:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=ogz2wqRCQZI]

Especial do Esporte Espetacular sobre o racismo

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LUCONduhYCk]

Fratemídia sai da rede para partilhar experiências e projetos

Fratemídia
No dia 19 de outubro, sete “frat&comunicadores” se reuniram na Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, para retomar a série de encontros presenciais, uma exigência que tem crescido entre os membros do grupo Fratemídia.

Participaram do evento: Aline Muniz (Rádio e TV), Mariana Assis (TI), Mariele Prévidi (Jornalismo), Tatiana Yoshizumi (Tradução), Carla Cotignoli (Jornalismo), Vagner Cordeschi (Relações Públicas) e Valter Hugo Muniz (Jornalismo).

A partilha enriquecedora de experiências, elemento fundamental dos encontros realizados pelo grupo, “abriu os trabalhos” dos participantes. Destaque importante para a apresentação feita pela Aline Muniz do projeto “Os inconformados”, iniciado pelos frat&comunicadores de Rádio e TV, e que, por meio de breves vídeos, assumiu o desafio de promover a ideia de fraternidade aonde ela ainda é ausente.

Além de “Os incorfomados”, o jornalista Valter Hugo Muniz apresentou o novo projeto do seu site/blog colaborativo escrevologoexisto.com, que agora conta com novos colaboradores, de diversas áreas, mas que juntos têm em comum o desejo de propor a centralidade e relacionalidade do ser humano, por meio de reflexões propostas a partir de múltiplas perspectivas.

A também jornalista Mariele Prévidi contou experiências de promoção do jornalismo colaborativo, feitas por meio da sua assessoria de imprensa, Attuale Comunicação, especializada em assuntos ligados à agropecuária.

Em um segundo momento do encontro, foi feita uma profunda reflexão a respeito dos desafios que o Fratemídia vive atualmente.

  • Carla Cotignoli, remetendo-se à atual presidente do Movimento dos Focolares, que está na origem do grupo, ressaltou a importância de antes de pensar o que se tem para dar, é fundamental buscar descobrir o que o mundo anseia, as demandas do presente.
  • Vagner Cordeschi acenou a respeito da dificuldade de “vender” a fraternidade para o mercado da comunicação. Segundo ele, “Ser um verdadeiro comunicador é transformar, criar espaços atuais, usando os meios de comunicação”.
  • A tradutora Tatiana Yoshizumi acrescentou a importância de que todos os membros do grupo precisam sentir que são parte deste grande e audacioso projeto.

Interessantissima a explanação conclusiva da analista de sistemas, Mariana Assis, que partilhou suas descobertas a respeito do papel dos membros da área da tecnologia no grupo. Para ela, a essência da tecnologia é ser uma ferramenta a serviço das necessidades do ser humano. No Fratemidia este serviço, aparentemente tecnicista, pode ser feito de maneira diferente, procurando humanizar as metodologias de produção e combater o individualismo dos operadores.

Na conclusão do encontro dois aspectos principais, concretos, ficaram em evidência: A importância de SEMPRE comunicar as atividades e projetos feitos, mesmo que de forma “setorizada”, por áreas, ou individual, pelos membros do grupo e a necessidade de elaborar um manifesto em que todas as dimensões profissionais do grupo se encontrem essencialmente.

Mais informações sobre o grupo CLIQUE AQUI ou entre em http://netonebr.wordpress.com/

Algumas consequências da sociedade do espetáculo

sociedade do espetáculo

Não existe, espero, um estudante de jornalismo do mundo que nunca ouviu o termo Sociedade do Espetáculo (para ler o livro clique aqui), que intitulou o livro do escritor francês Guy Debord em 1967. Com um pessimismo envolvente, emerso no contexto da Guerra Fria, o escritor critica tanto o espetáculo de mercado “ocidental capitalista” (o espetacular difuso) quanto o espetáculo de estado do bloco socialista (o espetacular concentrado).

A importância desta obra é inquestionável, sobretudo pelo seu valor histórico. Além disso, é importante mencionar que os textos de Debord serviram de base teórica para as manifestações do Maio de 68 na França. Mas, considerando o contexto atual em que a sociedade e a crítica da comunicação de massa se encontram, arrisco a dizer que a sua grande obra exprime um anarquismo retrógrado que vai “na contramão” do estimulo em prol de uma reflexão “construtivista”.

Bom. Pensando em uma leitura que “aceita” a “vitória” do modelo econômico capitalista e aplicando este modelo ao universo da comunicação, como afirma Wolton, “é compreensível que a informação e a comunicação tenham se tornado mercadorias”. Contudo, o que precisa ser pensado, urgentemente e de maneira profunda, é “até que ponto o ideal, o normativo (da comunicação como partilha entre diferentes) é respeitado e a partir de quando, inversamente, é instrumentalizado ou mesmo pervertido”.

Seguindo o raciocínio, é fundamental pensar na difusão das diferentes ideologias pela comunicação e, frequentemente, sustentadas por aqueles que as “fazem”: jornalistas, publicitários, as personalidades midiáticas. Para que a comunicação (de massa) preserve a sua essência como “troca entre alteridades” ela, comenta Wolton, “deve atingir todos os públicos e tornar-lhes compreensíveis aos grandes desafios da sociedade e do mundo”, superando a espetacularização e a escolha editorial que expresse unicamente seus interesses ideológicos.

Isso não quer dizer que ela não pode ser simples, para ganhar clareza para um grande número de receptores! Certamente não se pode correr o risco de entediar o espectador, mas do simples ao simplista existem propósitos distintos. Deve-se, porém, exercer um grande zelo para não criar caricaturas em que a forma suplanta o conteúdo.  “Ganha (audiência) quem é mais rápido na invenção de frases curtas e das formulas”, como podemos observar diariamente na televisão. É questionável, porém, se esse modelo tem promovido “encontros”, consciência, desenvolvimento.

Quando as escolhas convêm… tudo bem | Valter Hugo Muniz

escolhas convêm

Escolha. Uma palavra carregada de consequências, às vezes boas para nós e ruim para os outros; ou o contrário; ou boas pra ambos, ou ruins para os dois. Enfim, escolher é vivenciar, ao mesmo tempo, o maior drama e a maior graça da existência humana: a liberdade. Pensei nisso enquanto lia a matéria sobre o jogador hispano-brasileiro, de 25 anos, Diego da Silva Costa.

A polêmica, em resumo, é a seguinte: Em busca do sonho de ser jogador de futebol, Diego deixou o Brasil ainda muito jovem para seguir carreira no futebol da Europa. Depois de jogar em vários clubes de Portugal e da Espanha, ele chegou, com 19 anos, ao Atlético de Madri, time que joga até hoje. Ali, conquistou respeito profissional, fama e dinheiro.

Com gols e jogadas brilhantes, o futebol de Diego começou a despertar interesse da seleção espanhola, que precisa urgentemente de um jogador com as suas características em seu plantel. Não se sabe se por coincidência ou temor, Felipão convocou Diego para os amistosos do Brasil, este ano, contra a Itália e Rússia, mas ele quase não jogou. Essa evidente falta de espaço no grupo brasileiro fez com que a Espanha fizesse uma proposta profissional irrecusável a Diego: sendo naturalizado espanhol ele poderia, em vez de jogar pelo Brasil – algo improvável – optar por atuar pela atual campeã mundial, onde teria espaço praticamente garantido.

E o sergipano Diego Costa escolheu jogar pela Espanha, explicando: “Foi uma decisão bastante complicada porque estive entre o país no qual nasci e o país que me deu tudo, que é a Espanha. Pensei e decidi jogar pela Espanha. Foi aqui que alcancei os meus objetivos e tive um crescimento em minha vida pessoal. Então eu tenho um carinho especial pela Espanha e sinto o carinho das pessoas diariamente”.

Assustei-me com a decisão, pois como disse o Felipão, “ele virou às costas para um sonho de milhões de jovens jogadores brasileiros”. Isso é fato. Só que a afirmação do técnico brasileiro soou ridícula, porque ressaltou o dilema, sem que se fosse pensado no Diego que existe ALÉM do profissional do futebol.

Não existe causalidade direta no fato do jogador ter optado em representar outra seleção (que não tem valor diplomático qualquer), com a renúncia de sua cidadania ou negação/menosprezo de seu país. Seguindo esse raciocínio, devemos incluir nesse “bando de renegados” todos os profissionais das mais diferentes áreas que trabalham em multinacionais estrangeiras (dentro e fora do Brasil), que vão morar em outro país por motivos vários, como fez também o próprio Felipão.

Diego é e nunca deixará de ser brasileiro. Mas o jogador, Diego Costa, pode jogar por qualquer time, qualquer seleção, pois é um profissional e o futebol é um esporte, nada mais. Ele não define quem somos ou a nossa nacionalidade. Como também não é “traidor da nação” quem decide imigrar por trabalho, estudo ou até mesmo por condições melhores de vida.

Na verdade, o que deveria ser discutido, é se a Espanha trata bem ou valoriza, como está fazendo com Diego Costa, os outros jogadores e profissionais brasileiros que atuam no país. O que acho mais triste, e isso acontece em quase TODOS os países europeus, é a instrumentalização desses jovens jogadores. Se são bons, são suíços, alemães, franceses, holandeses, espanhóis… se não, são senegaleses, argelianos, brasileiros, argentinos, kosovares e etc.

A decisão e a liberdade de decidir é toda do Diego e deve ser respeitada. O que deve ser discutido é o tratamento que os profissionais estrangeiros, do futebol ou não, tem sido praticado pelas instituições e povos que os recebem. Para refletir ainda mais, fundamental a entrevista deita pela UOL esporte com o comediante e ex jogador na Espanha, Marco Luque e o caso dos médicos cubanos no Brasil que escrevi neste post.

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