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A desnecessidade de boas notícias

Nas últimas semanas, uma colega de profissão mostrou-me o portal “Só notícia boa” (www.sonoticiaboa.com.br) que tem como o objetivo “Divulgar notícias boas, positivas, que reanimem as pessoas e mostrem que o mundo tem saída sim”

O portal é uma resposta, no mínimo criativa, ao sentimento negativo que o “receptor” das notícias jornalísticas nutre em decorrência da onda negativa que invade cotidianamente os nossos noticiários.

Participando de um fórum de discussão sobre o portal perguntei a mim mesmo: Eu preciso de boas notícias para viver melhor? Sentir-me melhor? Ser uma pessoa melhor?

A resposta negativa imediata a todos esses questionamentos me fez refletir sobre a utilidade do portal, que mesmo cheio de boas intenções, pode descambar para o outro extremo do “dilema ideológico” que quer ver o mundo só de uma perspectiva positiva, esquecendo, porém, que a realidade não pode ser “formatada”, manipulada.

É evidente que o Jornalismo, na sua prática, chegou a um ponto dramático de instrumentalização negativa, aonde grande parte de seus “operadores” aparenta sequer se questionar sobre o seu significado ontológico.

O Jornalismo surgiu historicamente com objetivos libertários, como possibilidade de contraponto do poder político, mesmo que usado especialmente com esses fins. Porém, no seu próprio desenvolvimento, em modo especial na transição do século XIX para o XX, emergiu a necessidade de não deixar que ele se deixasse levar por objetivos ideológicos e comerciais, enfatizando a essência ética que orienta o jornalismo.

Desta forma nasceram os primeiros códigos de éticas, as universidades, para que o jornalismo e os jornalistas assumissem a responsabilidade de fazer com que esse “instrumento” (uma conquista da sociedade já massificada) fosse direcionado para o bem comum, o bem estar social.

Contudo, sendo essencialmente instrumento, o jornalismo poderá sempre ser usado de maneira ideológica, com fins comerciais, em vez de libertar, integrar. Não é preciso um olhar muito apurado para perceber o ponto em que ele se encontra na nossa sociedade hoje. É realmente difícil encontrar uma empresa jornalística que tenha um projeto que seja, ao menos parcialmente, voltado a priori para a sociedade.

As notícias não devem, no meu entendimento, serem boas, mas sim, BEM FEITAS, isto é, contextualizadas, aprofundadas, retomando os valores humanísticos e religiosos de uma comunidade. Notícias que nos permitem entender que os acontecimentos, por mais afastados geograficamente que sejam de nós, têm influência direta no nosso modo de viver, ver e ler a realidade, porque exprimem a essência antropológico-filosófica dos seres humanos.

Em vez de um portal com “só notícias boas” eu queria ver um movimento de profissionais e da sociedade como um todo que exigisse mais jornais de notícias bem feitas. Isto é, contextualizadas, aprofundadas, bem apuradas. Aí começaremos encontrar os problemas estruturais que permitem que jornalismo hoje seja, cada vez mais uma antítese do que é verdadeiramente comunicação.

6 anos de escrevo Logo existo. Auto-Entrevista com Valter Hugo Muniz

Valter Hugo Muniz, 28, jornalista “filho da PUC-SP”, com passagem por diferentes experiências no mundo do jornalismo, com destaque para a produção do documentário “JORNALEIROS” (para assistir na íntegra clique aqui) que mostra as angústias e incertezas dos neo-jornalistas .

Concluída a graduação no Brasil, dois anos de Laurea Magistrale no Instituto Universitário Sophia, projeto acadêmico interdisciplinar de vanguarda, localizado na região do Val d’Arno toscano, aonde ele pôde aprofundar as teses levantadas em “Jornaleiros” e se concentrar em entender a comunicação de massas (e nela o jornalismo) a partir do ser humano, na sua integridade.

Hoje, há quase duas semanas vivendo novamente na sua amada São Paulo, Valter festeja o sexto aniversário do seu blog pessoal escrevo Logo existo, que totaliza mais de 160.000 acessos, 95 seguidores da página do blog no facebook, 100 assinantes diretos do blog e visitas com origem em mais de 70 países, números que podem ser considerados exorbitantes para um blog pessoal sem interesses econômicos  e estratégias de publicidade.

Por quê escrevo logo existo?

Porque escrevendo vejo que as barreiras espaço-temporais são rompidas, transformando a minha existência não só um fato pontual, mais um dom “sem medidas” para quem lê.

Em que sentido as “barreiras espaço-temporais” são rompidas?

Bom, uma coisa que acabo sempre redescobrindo é que alguns textos que escrevi no início do blog, em fases diferentes da minha vida, ainda fazem efeito nos leitores. Muitas vezes sou surpreendido com comentários e críticas de coisas que eu considero “passadas”, mas que têm significado para pessoas que agora vivem coisas que eu vivi antes.

Como surgiu a ideia de fazer um blog pessoal?

Foi no meu primeiro ano de faculdade de jornalismo na PUC-SP, em 2006, durante uma disciplina de produção de texto com a professora Raquel Balsalobre. Ela nos pediu para criar um blog para postar os trabalhos escritos e experimentar essa plataforma de produção de informação.

Mas o seu blog não é jornalístico, verdade?

Não. Tenho muitos escritos, poesias, crônicas, reflexões de muito antes da faculdade. Sempre gostei muito de expressar em palavras – e agora em fotos e vídeos – experiências vividas e meu olhar em relação ao mundo, do presente e do futuro.  Como, na sua maioria, os textos são “literários” e não “informativos” achei que não valeria a pena ter um blog jornalístico.

Então o escrevo Logo existo é pessoal e fala, sobretudo, sobre você?

Sim e não. Poderia dizer que o blog é sobre relacionamentos… comigo mesmo, com os outros e com mistério. Muitas vezes o que eu escrevo  exprime uma experiência feita diretamente por mim como no [VIDALOKA] ou [28 dias no país do Tsunami], mas nem sempre é assim. Uma história, reflexão ou poesia pode “surgir” por conta de algo que vi na rua, um sentimento depois de um filme, uma conversa… estímulos das mais variadas origens que geram comunicação.

Comunicação e não informação?

Isso… no modelo atual o significado de informação se baseia em uma transmissão linear e unidirecional. A Comunicação nasce também de uma transmissão, mas é dom de um emissor para um receptor da mensagem. Dessa forma a comunicação não se realiza somente no ato de escrever, doar-se… mas DEPENDE do leitor, do receptor da mensagem.

Em que sentido depende?

Não adianta escrever as coisas mais bonitas, mais profundas… se ninguém ler. Não basta que a informação seja transmitida. Se o que é escrito não toca e nem transforma as pessoas, não gera o desejo de reciprocidade, a comunicação é incompleta, é só informação.

Hoje o escrevo Logo existo completa 6 anos. É difícil encontrar projetos que sobrevivam tanto tempo e também com uma produção constante. O que te trouxe até aqui?

É verdade… se me lembro que quase todos os meus colegas de jornalismo haviam um blog pessoal em 2006 e hoje praticamente nenhum deles levou para frente a ideia, sinto que esse blog tem sim algo de especial. Mesmo sabendo que o escrevo Logo existo é cada vez mais parte de mim, como eu disse anteriormente, um modo de existir e me doar, tenho certeza que cheguei até aqui graças aos meus leitores, que não são muitos… tenho uma média de 100 acessos por dia… mas que em tantos momentos, quando eu estava desistindo, desanimando, escreviam um comentário, um e-mail, agradecendo por um texto escrito, uma poesia, me ajudando a perceber que os meus talentos foram feitos para serem desenvolvidos em prol dos outros, da humanidade e, por isso, devia continuar.

Como você vê o blog nesse sexto ano que começa hoje?

Igual…  sendo um suporte para as minhas reflexões e experiências. Tenho um sonho de, quem sabe um dia, encontrar pessoas dispostas a colaborar semanalmente com o escrevo Logo existo… alguém que gosta de cinema, música, fotografia, poesia… gente com o mesmo espírito e a mesma consciência de “comunicação” como troca. Seria também ótimo que mais gente conhecesse o blog, mas de maneira espontânea, não por meio de estratégias publicitárias.

Uma última pergunta… pensando no grande dramaturgo, apresentador do programa Provocações da TV Cultura, Antônio Abujamra… O que é a vida?

Para mim a vida é e sempre será os relacionamentos que podemos construir. E a beleza do relacionamento advém sobretudo do OUTRO… que é diferente… um abismo que quanto mais nos aproximamos, mais profundo se apresenta. São os relacionamentos que produzem vida… que nos movem ao novo, ao bonito, à felicidade. Viver é poder descobrir a beleza e os limites no relacionamento com o outro, superar medos, traumas e se deliciar com ele.

 

 

 

Só mais um GENFEST?

Há um pouco mais de uma semana da décima edição do GENFEST, que prevê a participação de 12.500 jovens de mais de 100 países, parece necessário refletir sobre o significado deste evento, nas nossas vidas e no contexto social em que nos encontramos.

Em um mundo que clama por novos projetos e ideais capazes de sobreviver às crises financeira e de valores éticos, participar de um Genfest é com certeza a possibilidade de encontrar respostas coletivas e de vislumbrar “de corpo e alma” a grandeza de um Ideal aderido por milhares de jovens, de diferentes culturas, que acreditam que um mundo fraterno é possível.

Porém não basta festejar o mundo unido, é preciso construí-lo com as próprias vidas.

Genocídio na Síria, epidemia de Ebola na Etiópia, chacina do narcotráfico mexicano, desemprego de 50% dos jovens na Espanha, corrupção crônica no Brasil são alguns exemplos alarmantes de um cenário social que afeta a vida de milhares de jovens de diferentes contextos.

Mas o que eu tenho a ver com isso? Muito.

Gozar de um bem estar social e espiritual pode servir de desculpa para a passividade, o comodismo. Fazer do ideal do Mundo Unido instrumemto de conforto psicologico, alimento de um romantismo utópico, não ajuda a difundir, tranformar em cultura, uma alternativa tão fundamental às questões contemporâneas.

A tal “Gen Revolution” precisa virar uma realidade cada vez mais “encarnada” na vida dos jovens presentes em Budapeste. O encanto com o evento precisa servir de combustivel para uma escolha radical, vitalícia, VOCACIONAL de viver a vida e usar os próprios talentos não só para realizar a própria felicidade, mas lutar por uma felicidade compartilhada.

O privilegio de viver essa experiência maravilhosa é grande, menor, porém, que a responsabilidade de transformá-la em algo que não se desfaça depois dos três dias de FESTA.

É importante ressaltar que na edição anterior do Genfest, no ano 2000, os jovens presentes eram 25.000, o dobro do previsto para este ano, mostrando também o quanto a adesão a um Ideal tão exigente é cada vez mais desafiadora.

Este será o primeiro Genfest sem a presença física de Chiara Lubich o que parece evidenciar um “sinal dos tempos” onde a responsabilidade em construir um mundo mais unido está fundamentalmente nas mãos daqueles que acreditam.

Se cada participante do Genfest conseguir pensar no como, pessoalmente, poderia trabalhar para fazer do Mundo Unido uma pequena realidade local, as pequenas pontes de fraternidade serão (continuarão sendo) construídas e poderão, talvez, chegarem à uma dimensão cada vez mais universal.

“Não se acontentem com migalhas, vocês têm apenas uma vida, sonhem grande. Não se acontentem com as pequenas alegrias, busquem a plenitude da alegria.” (Chiara Lubich, GENFEST, 2000)

O “gaúchismo” de Rafinha Bastos

Assistindo ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que esta semana entrevistou o humorista gaúcho Rafinha Bastos, eu pude perceber o porquê nutria uma certa dificuldade em aceitar alguns tipos de comportamento advindo da cultura gaúcha.

Tenho muitos amigos gaúchos, pessoas que sinto um carinho e uma grande admiração, tanto pelo caráter, quanto pelo orgulho que exprimem por fazerem parte de uma região tão rica em natureza e cultura.

Contudo sempre acreditei que o orgulho do povo do Rio Grande do Sul, traduzido em um bairrismo tantas vezes desmedido, era quase sempre sinônimo de arrogância e de um comportamento separatista, que não quer partilhar o bom que tem e tenta diminuir aqueles que são diferentes.

Assistindo ao gaúcho Rafinha Bastos, excelente humorista que ficou conhecido nacionalmente pelo trabalho no CQC e também por ter feito uma piada “sem graça” sobre uma cantora brasileira, eu pude perceber as grandes distâncias culturais que ainda existem no Brasil.

O caráter, o jeito de ser e, principalmente, o humor feito no extremo sul do país é completamente diferente do escárnio nordestino, como por exemplo o de Renato Aragão aonde o conteúdo do humor é amenizado pelo caráter brincalhão do povo nordestino e, por isso, raramente levado ao pé da letra.

Rafinha Bastos não é nordestino, mas 100% gaúcho. Tem um humor menos “infantil”, mais irônico, escrachado, pouco refinado, extremamente direto. Características que encontrei em praticamente todo cidadão gaúcho que conheci.

Apesar da admiração pelo Roda Viva, fiquei um pouco decepcionado com o programa pelo pouco interesse dos entrevistados em relação à pessoa Rafinha, com sua família, cultura. Dessa forma a discussão permaneceu nos generalismos comuns nas entrevistas de pessoas ditas públicas.

Quando perguntado se ele se acha arrogante, o humorista gaúcho negou e acrescentou “não… eu gosto de discussões. Eu sou gaúcho. De onde eu vim o meu povo é assim. Um povo que combate, briga e não aceita”. Mas a pergunta seguinte não aprofundou o assunto, ao meu ver, extremamente necessário para entender o humorista.

Assistindo ao programa me dei conta da necessidade de conhecer melhor as diferentes culturas que enriquecem o Brasil para que elas não sejam motivos de divisão e preconceito (internos ou externos).

Por outro lado, não concordo com a postura “independente” defendida por Rafinha Bastos, justificada pelo fato de ele ser humorista. Como comunicador (de massas, porque trabalha na televisão) ele precisa também assumir a responsabilidade pelo que diz e, sobretudo, aceitar o fato de não sendo compreendido (muitas vezes por culpa dele). É importante que ele conduza o público no entendimento e apreço ao seu gaúchismo, que nada tem a ver com arrogância ou separatismo, mas é um jeito diferente de fazer rir.

 

 

 

Casamento: a mais bonita aventura de todos os tempos!?

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=SalKd_khizg]

Assisti à bonita matéria do Fantástico acima em comemoração aos Dia dos namorados, onde um jovem quer repetir o hit “o melhor pedido de casamento de todos os tempos” para “pedir a mão” da sua namorada.

Admito que é de arrepiar, pois quem vive esse momento decisivo na vida sente fácil o coração bater mais rápido quando vê uma manifestação de amor tão bonita e comunitária.

O que mais gostei do vídeo não é o romantismo do pedido, mas a participação dos amigos, parentes neste momento tão importante na vida dos dois jovens. Porém logo que acabou a reportagem me perguntei se eles estarão próximos durante toda a vida da nova família que está iniciando.

Hoje, socialmente, o casamente está literalmente “fora de moda”, pois é mais fácil “juntar”, deixando as portas abertas para caso um enjoe do outro.

O que a matéria do Fantástico, ao meu ver, recupera (sem querer) é a dimensão comunitária de um casamento. Casar não é só unir-se à outra pessoa pra “ser feliz pra sempre”, é também contribuir para o crescimento e a felicidade da família de origem e da sociedade como um todo.

Espero que as famílias e os amigos que colaboraram neste bonito pedido de casamento percebam que a participação deles durante toda a vida do casal é essencial para o “que dure para sempre”.

Desejo que a Rede Globo continue fazendo matérias que divulguem o bonito e o social do casamento, mas que também dedique as suas pautas para mostrar que existem tantos outros casais e suas famílias que souberam superar heroicamente as inúmeras adversidades da vida para manterem-se unidos por 20, 30, 40 anos.

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