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Além de um Movimento

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Ontem, uma experiência interessante, simbólica, fruto do erro banal de quem publicou uma mensagem inadequada em um grupo que participo no facebook, me fez pensar no quão relativo pode ser pertencer a uma “instituição” religiosa.

No mês passado escrevi um texto sobre ser ateu, que exprimia bem qual tipo de religiosidade considero adequada, levando em conta, principalmente, a importância de ela promover o bem pessoal e comunitário.

A foto e a mensagem de ontem me mostrou, novamente, que nem sempre o pertencimento a um grupo religioso nos faz pessoas melhores, sérias e, principalmente, coerentes.

Nada contra as escolhas do “publicador” e a sua intenção, a principio bonita, de partilhar uma alegria pessoal com a “multidão” virtual que, acredita-se, tem o mesmo Ideal que ele. Foi na verdade a forma e o conteúdo da exposição pública que gerou um certo desconforto generalizado e me fez refletir sobre o  significado do acontecimento.

Na história da humanidade, muitos Movimentos religiosos vieram, transformaram a sociedade vigente e depois passaram. Interessante é perceber que dois fatores principais: a difusão e a morte do fundador, influenciaram no gradativo declínio dos ideais originais e na fragmentação da vida comunitária que girava em torno dessas ideias. Esse é um risco que qualquer Movimento, religioso (ou não), pode correr.

(Vimos nos recentes protestos políticos – para sair do universo religioso – que, quanto mais “a luta” se difundia, mais ela perdia sua unidade, se despedaçando em infinitas causas e, de certo modo, perdendo as demandas centrais que motivaram o movimento).

Na verdade, o que mais tenho me perguntado nos últimos dias é: como fazer com que a “luta” plasme a nossa cultura cidadã, transformando a maneira de fazer políticas, de sermos agentes políticos? E, no caso de um grupo religioso: o que fazer para que o Ideal seja estilo de vida e não se transforme em uma simples estrutura moralista que nos faz ser, publicamente, de um jeito e “por trás”, de outro?

Mais do que seguir ou não um Movimento, é preciso buscar a harmonia da coerência no nosso estilo de vida. Cada escolha exige, na sua essência, o sacrifício pessoal e o compromisso comunitário. Por isso ela deve ser verdadeira, antes de tudo, para quem a fez.

São questionamentos pessoais que cada um deve buscar refletir, para não viver uma vida esquizofrênica.

Comunicação: a chance de encontro e o risco do fracasso

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“Se o homem moderno é livre, ele se encontra frequentemente sozinho, numa sociedade em que os laços familiares, corporativistas, socioculturais são menos fortes do que outrora”. Essa afirmação de Wolton introduz o seus conceito sobre as duas dimensões, segundo ele, contraditórias da comunicação e da liberdade, que evidencia a dificuldade da relação autêntica com o outro, “que se esquiva” e “impõe sua lógica”.

A liberdade – conquista histórica fundamental – como valor sociocultural, encontra, na comunicação autentica, um grande desafio em relação ao outro. Segundo o teórico francês, a dinâmica da comunicação segue uma “dupla hélice” normativa e funcional, que promove a chance do encontro e o risco do fracasso, pois mesmo que queiramos nos comunicar (porque somos livres), dependemos “do outro”, que (também) é livre para responder ou se abster.

É importante ter a consciência deste limite ontológico imposto pela relação comunicativa livre. Mesmo que a modernidade tenha facilitado as nossa possibilidades comunicativas, ela “não impede a incomunicação, nem o fracasso, nem a solidão”. Eu ser livre não garante necessariamente “encontrar o outro”.

Dessa forma, afirma Wolton, “informar, expressar-se e transmitir não são mais suficientes para criar uma comunicação”, que se manifesta hoje (em um ambiente democrático) como “espaço de coabitação”, onde se negociam as individualidades e os valores comuns.

Desdobramentos da Revolta do Vinagre

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A Revolta do Vinagre me deu uma lição: jamais duvide da força do povo! Os desdobramentos e as vitórias visíveis, fruto de uma expressão coletiva de descontentamento, me fizeram perceber que, em muitos casos, é preciso GRITAR!

Talvez tenha sido o casamento e as possibilidades de ser pai que me fizeram considerar desnecessário uma reinvindicação na base do “gogó”. Não quero gritar com meus filhos para educá-los, pois considero importante usar a nossa “racionalidade” e capacidade de diálogo (e entendimento) como metodologia de orientação, reinvindicação para o crescimento “das partes envolvidas. Contudo, a racionalidade se desenvolve de maneira diferente com os representantes do Estado, principalmente no que diz respeito as reinvindicações.

Políticos e partidos existem unicamente para prestar um serviço à população. Essa grande responsabilidade precisa ser exercida com respeito e compromisso, não só àqueles que elegem, mas para com todo o povo. Quando esse compromisso não é assumido, um dos modos dos cidadãos se manifestarem, visual e coletivamente, é ocupando às ruas.

A redução da tarifa do transporte em diversas cidades do Brasil e, ontem, a “queda” da PEC37 e o direcionamento dos Royalties do petróleo (compensação financeira que as empresas devem pagar ao país pelo uso de áreas para extração ou mineração de petróleo ou gás natural) para educação (75%) e saúde (25%) são resultados concretos das manifestações populares que me fizeram perceber que eu estava enganado em relação a elas e me levaram à acreditar, talvez com certo romantismo, que acordei em um país renovado.

Porém… mesmo diante das vitórias evidentes descritas acima, ainda tenho grandes desconfianças (conservadoras) a respeito das soluções “rápidas” que têm sido noticiadas, pelo temor de que exista uma instrumentalização do povo em prol dos interesses da politicagem.

Diante isso, mais do que nunca, acredito ser necessária uma Reforma Política urgente. Muitas propostas interessantes estão sendo apresentadas, como o Voto Distrital. Gostei também das opiniões do sr. Joaquim Barbosa que pareceu conseguir sintetizar o sentimento popular, de descrença partidária e  do desejo de participação, de maneira mais direta, das decisões políticas.

A “pergunta de um milhão de reais”, desta vez, é: o Congresso estaria realmente disposto a abrir mão da sua “supremacia” e da distância segura do povo, para aprovar uma Reforma que transformaria profundamente a politica (principalmente, eleitoral) do país?

Duvido muito… como duvidei que as passeatas promovessem mudanças concretas. Ainda bem que tenho, constantemente, me enganado.

O caos que compromete as conquistas

Os desolados contemporâneos

Os desolados contemporâneos

Sinceramente, raras vezes me envolvi em “movimentos” que, de alguma forma, a minha intuição parecia prever um final duvidoso. Foi assim também diante das últimas manifestações populares do Brasil. Quando, porém, decidi participar delas para ter uma opinião “interna” acabei não me envolvendo, por motivos familiares importantes.

Contudo, sinceramente, fiquei feliz pelos resultados concretos e “invisíveis” das passeatas. Achei pedagogicamente fundamental para a minha geração, estereotipada como acomodada e individualista. Os jovens se uniram e venceram! Desconstruíram a imagem que a sociedade tinha deles, mas, por outro lado, agora, está nascendo outra, um pouco preocupante.

A finalidade que motivou a passeata, principalmente em São Paulo, se perdeu em bordões… dos militantes aproveitadores, dos anti partidários, dos ignorantes e hipócritas, dos violentos e também daqueles “de boa vontade”.  E, como ensina a história, quando não existe coesão, emerge o caos.

Esses milhões de brasileiros espalhados pelo país estão lutando contra o sistema, o governo, a PM, a Tropa de Choque, a Fifa, o Feliciano e, agora, também lutam entre si. Militantes de esquerda contra os de direita; militantes políticos contra anti partidários.  Mas, a pergunta de um milhão continua: para onde vamos? A anarquia é a solução? Quais as mudanças concretas que queremos? Sim… mudar esse país, acredito que seja consenso, mas as mudanças podem ser  positivas ou negativas, se não houver um método eficaz.

Olhando para fora do Brasil, podemos tirar muitas lições do que está acontecendo no Oriente Médio. A Primavera Árabe foi também um basta ao sistema vigente. Um basta necessário, como o nosso; importante, como o nosso; mas melhorou a vida dos cidadãos? Não. Ainda não. Isso sem falar das incontáveis vidas que foram tiradas para justificar A CAUSA!

A democracia é, sem dúvidas, o melhor e mais justo sistema político. Mas, para que sobreviva, precisa de um suporte, um esqueleto. É nessa estrutura  em que se colocam os partidos, movimentos sociais e qualquer tipo de organização popular. A política “partidária” é a “Àgora” dos tempos modernos, onde se discutem ideias, propostas, visando o bem comum.

Na prática, a democracia brasileira é, em geral, um fracasso. Os projetos e dinâmicas do nosso país não têm construído um projeto que represente o povo, principalmente os mais necessitados. Contudo, é por meio da política que devemos participar, transformar a nossa sociedade, propondo mudanças, projetos e fiscalizando o que está (ou não) sendo feito.

Diante do caos instalado, vejo que uma reforma política é necessária. Precisamos aproximar nossos líderes do povo. Fazê-los justificar seus atos, suas decisões, votos, perante os eleitores. Uma proposta interessante que emergiu nos últimos dias é o VOTO DISTRITAL.

Enfim, se não aproveitamos essa oportunidade para transformar o país, usando a energia coletiva para elaborar propostas coesas, principalmente respeitando às diferenças,  perderemos a chance de mudar a história do Brasil.  Assim, em vez de nos orgulharmos da Revolta do Vinagre, iremos nos envergonhar de ter participado do ato que inaugurou mais uma enorme tragédia na história do país, como foi à Ditadura.

Desculpe a sinceridade, mas é só o primeiro passo!

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Eu sempre achei que o casamento era sinônimo de família. A maior “revolução” na vida de uma pessoa é unir-se a uma “outra”, igual em dignidade, mas profundamente diferente. Talvez, por isso, o casamento seja algo tão grande; por isso que muitas pessoas têm medo ou, por outro lado, romantizam, se iludem, achando que ele, por si só, já basta para ter/ser uma família.

Contudo, na prática, é tudo “outra coisa”. Descobrir que a família não se limita à simples união física entre duas pessoas foi, para mim, perceber que o casamento é só o primeiro passo.

Família, se constrói no dia a dia, na harmonização de sonhos, exigências, manias, projetos… no respeito mútuo, no investimento contínuo de caminhar em direção ao outro. Tudo isso gera muito desgaste, exige muito mais investimento de energia, mas sem viver essas dinâmicas “difíceis” não se constrói uma família “de verdade”.

Bom! É essa também a minha leitura sobre a incrível “Revolução do vinagre”.

Hoje eu acordei cedo, como tantas outras terças. Tomei café da manhã e saí de casa, rumo ao metrô.  Chegando lá, nenhuma surpresa: a passagem ainda custava R$3,20 e o metrô ainda estava lotado.

Imediatamente me veio a imagem da linda manifestação de ontem… milhares de pessoas em São Paulo, que “contaminaram” o país, mostrando visivelmente uma insatisfação com o “status quo” e exigindo mudanças.

Indo, hoje, para a 6ª manifestação em três semanas, qual o balanço positivo de tudo isso? A situação mudou? O governo voltou atrás? Não!

Contudo, neste caso, não valem só as questões materiais. O “movimento” instituiu uma nova cidadania entre os paulistanos. Renovou a consciência e a esperança de que “o povo unido” é a explicação para estarmos vivendo em uma democracia.

Mas, desculpa a sinceridade: esse é só o primeiro passo!

Como o casamento não é sinônimo de família, manifestação não é sinônimo de revolução. As mudanças que já acontecem na cidade, estão sendo feitas por grupos menos “visíveis”, que procuram, de maneira séria e organizada, dialogar com o poder público e exigir dele uma postura cidadã.

Um exemplo, que eu conheço e acompanho de perto, é o movimento dos ciclistas. Já no período das eleições ele fez os candidatos assinarem um termo de compromisso com as causas que ele defende. Atualmente, após alguns casos tristes de violência contra ciclistas na cidade, o movimento se organizou, elaborou propostas e se encontrou com o prefeito Haddad e a Secretaria de Transporte para exigir mudanças.

O sucesso desse diálogo são algumas garantias importantes, como a ciclovia no percurso da linha de monotrilho da zona leste de São Paulo e a campanha por respeito aos ciclistas que será lançada brevemente.

Isso é “grande coisa”? Não. Resolve o problema da mobilidade na cidade? Também não. Mas é uma mudança concreta, é nasceu do esforço de estabelecer a mesma harmonização de sonhos, exigências, projetos… e, principalmente, do respeito mútuo.

Estou torcendo para que, quem tem participado das passeatas, se dê conta da dificuldade que é ser um SUJEITO POLÍTICO ATIVO e os grandes desafios de transformar concretamente a cidade. Não é fácil trabalhar em conjunto, “politicamente”, em prol dos direitos coletivos, por meio do diálogo e não na gritaria.

Contudo, desta consciência, que nasceu das passeatas, eu acredito que podem surgir coisas maravilhosas para todos, mas é importante não “se bastar” e ter a coragem de dar o segundo passo.

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