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A derrocada final do vemprarua

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Roberto Jefferson elogiando o novo julgamento para os acusados do Mensalão disse que, desta forma, “o Supremo afirmou que a democracia não é o regime da passeata, é o regime da lei. É a vitória da lei sobre a passeata”.

A afirmação do ex-deputado, condenado a sete anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, cria um antagonismo esquizofrênico que, antes de tudo, fere a ontologia da democracia.

Demo+kratos” é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões politicas está com os cidadãos, direta ou indiretamente. Isto é, democracia não é o regime da lei, mas a expressão comunitária dos interesses individuais, negociados em prol de um bem comum.

Subjugar o “governo do povo” à lei é colocar o Direito acima da sua (única) função: garantir que os interesses privados não se sobreponham aos comunitários, punindo (possivelmente) aqueles que se beneficiam pessoalmente da concessão de poder que lhes é conferido.

Roberto Jefferson e os outros 11 acusados pelo crime político, de maior gravidade no Brasil pós Collor, menosprezaram o clamor popular, o desejo de justiça coletivo, que deveria estar na ponta de um ambiente democrático.

A adoção de um novo julgamento para os acusados do Mensalão, mesmo se prevista em lei, exprime um fracasso simbólico, mais um, em um país que clama por justiça. Esta derrota não é no âmbito político-partidário, mas na desvalorização do #vemprarua, que mobilizou massivamente o povo e, agora, mostra novamente que, para mudar o país, é preciso muito mais que palavras de ordem.

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Pedagogia futebolística

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Gosto de pensar a pedagogia da vida a partir do futebol, pois foi justamente por meio desse esporte que descobri a beleza de lutar, de superar os desafios, de ser criativo, de me doar, de ter espírito de equipe, generosidade e claro, foi onde aprendi a perder e recomeçar.

Esse “paralelismo” me fez perceber que a vida é, sobretudo, um grande jogo. Ás vezes nós nos preparamos bem e conseguimos superar desafios. Outras tantas, “treinamos pouco”, acreditamos que só o talento basta e somos surpreendidos com derrotas, fracassos. No jogo, como na vida, também podemos construir laços profundos, principalmente nos momentos de dificuldade. Assim, ficamos mais fortes, porque unidos.

Ontem, no amistoso entre Brasil e Portugal, o capitão brasileiro Thiago Silva mostrou, concretamente, como tudo isso é possível. Durante o primeiro tempo, após uma falha grave do lateral brasileiro Maicon, a seleção portuguesa abriu o placar.

Quantas vezes um “grupo” é prejudicado por uma falha individual? Contudo, a vida nos dá a oportunidade (se quisermos) de olhar pra frente, continuar “jogando” para nos recuperarmos. E foi isso que aconteceu no jogo de ontem. Após um escanteio batido por Neymar, Thiago Silva, o capitão, subiu mais alto que os zagueiros portugueses e cabeceou a bola para empatar a partida.

A comemoração de Thiago foi simbólica, comovente. O zagueiro brasileiro apontou para Maicon, ofereceu-lhe o gol, colocando em evidência o valor da união, da ajuda recíproca, o valor do grupo que cobre as falhas individuais.

Que lição bonita deu o futebol! Poderíamos estar lamentando hoje, como fazemos muitas vezes em nossas vidas, que perdemos porque fulano ou ciclano falhou e comprometeu o trabalho do grupo. Mas, Thiago Silva mostrou que, enquanto a bola rola, a vida continua, podemos sempre transformar a realidade e, digo mais, fazer com que uma dificuldade seja oportunidade de estreitar laços, fortalecer o grupo, para as muitas dificuldades que ainda virão.

A tridimensionalidade das referências

CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO

A comunicação, na sua origem, promove o encontro com o outro, a partilha que, se aproveitada, revela as diferenças que nos fazem seres autênticos. Descobrirmo-nos “iguais em direito”, mas diferentes na essência é fundamental também para a preservação das referências. Já em uma sociedade aberta, em que a comunicação de massa serve de ponto de encontro amplificado entre as “alteridades”, surge a necessidade de repensar a coabitação cultural, no que diz respeito, especialmente, ao reconhecimento e a importância das diferentes referências.

Partindo disso, Dominique Wolton propõe a distinção de três tipos “globais” de discurso ou visões de mundo. Como ele mesmo afirma, “o progresso da democracia é permitir a cada um, através da informação, o acesso a certa compreensão dos múltiplos pontos de vista sobre o mundo, desde que se tenha bem em mente tudo o que continua distinguindo as três grandes relações com o mundo que a informação, o conhecimento e a ação constituem”.

Saber que informar não é conhecer e conhecer não é agir é “admitir a existência de três grandes discursos e relações com o mundo que estruturam a sociedade; é reconhecer o papel complementar e indispensável dos três, pois cada um deles representa uma visão particular do mundo”, afirma massmidiólogo francês.  Dominique Wolton afirma que “o conflito de legitimidade é reconhecer a legitimidade e a irredutibilidade dos três discursos (informação, conhecimento e ação) na sociedade democrática. É também pedir que cada um desempenhe o seu papel e não o dos outros”.

Simplificando, com temor de não reduzir a complexidade do pensamento de Wolton, a diversidade de referências, quando pensada na perspectiva social e buscando a coabitação cultural, pode ser relacionada a três diferentes visões de mundo, baseadas na informação, no conhecimento e na ação. A relação entre essas três realidades promove a verdadeira comunicação, pois não simplesmente informa, ou gera conhecimento e ação, mas permite, ao mesmo tempo em que afirma a originalidade dessas três dimensões, que, relacionando-se, essa “tridimensionalidade” leve a coabitação.

“Coabitar é, em primeiro lugar, refletir sobre as condições simbólicas, portanto culturais, que permitem simultaneamente trocas e um mínimo de distancia”.

Mais um Francisco para entrar na história

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Entre os considerados “santos” pela Igreja Católica aquele que, provavelmente, mais arrebatou simpatizantes, dentro e fora da comunidade eclesial, é um tal de Francisco de Assis; testemunho avassalador de radicalidade, simplicidade, desapego e amor à natureza.

Francisco, nascido na belíssima Assis, região da Úmbria italiana, ficou também conhecido por ser pai dos pobres e dedicar sua vida no cuidado aos excluídos e doentes da sua cidade. Inspiradas nele nasceram inúmeras expressões religiosas que, também nos dias de hoje, testemunham a caridade, como pilar da fé cristã.

Mas, parece que não somente ás ordens e os movimentos religiosos decidiram seguir o rastro de Francisco de Assis. O cardeal Bergoglio, agora Papa Francisco, tem mostrado, através de suas atitudes “pastorais” que “um novo catolicismo” começa a emergir.

O carisma e a simplicidade do papa Francisco é assunto batido. No Brasil, foram incontáveis as demonstrações de que, antes de tudo, o sacerdócio é SERVIÇO para a comunidade eclesial e não privilegio de uma elite clerical que, historicamente, gozou de um prestígio que transgredia o significado original do termo.

Contudo, o Francisco do século XXI não para de revolucionar. Esta semana, após receber a carta de uma jovem romana, abandonada pelo marido, grávida e que dizia temer não poder batizar seu filho, o papa ligou para a jovem e disse que, ele mesmo, iria batizá-lo. O gesto inusitado e carregado de significados para a Igreja católica sacramenta a “pedagogia pastoral” do sumo pontífice: falando pessoalmente com um fiel, para acolher seu drama, ele fala a todos, promovendo um novo modo de ser igreja, ser católico, em que, antes de tudo, se olha o ser humano e, depois, a “lei”.

Além do seu xará italiano, parece que outro revolucionário que viveu neste mundo, há 2.000 anos, propunha a mesma coisa. Mas, sendo humana, a Igreja Católica acabou se tornado uma espécie de antro dos fariseus modernos, mais voltada para a lei, que para o amor, que acolhe todos.

O testemunho do papa Francisco parece ser a resposta “transcendente” aos sinais dos tempos, em que valem mais os relacionamentos, a convivência no amor fraterno, a acolhida de todos. Afinal de contas, Jesus e seus discípulos se preocuparam mais em SER/VIVER Igreja do que escrever regras para adesão exclusiva da mesma.

Pois bem, parece que o catolicismo está, finalmente, retrocedendo e, assim, progredindo.

Uma resposta violenta e hipócrita

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Sendo radicalmente a favor da vida e contra qualquer pessoa, governo ou instituição que se sinta no direito de controlá-la, nunca considerei a pena de morte uma possível solução diante de um crime cometido, independente da gravidade.

“Claro, você nunca passou por isso!”, diria alguém que vivenciou uma experiência traumática de violência. Contudo, acredito, cada vez mais, que existe um paralelismo nas mais diferentes experiências de vida, que tira a necessidade de alguém ter de viver tudo para entender os sentimentos por detrás delas. Assim, continuo contra a pena de morte.

Matar é eliminar um individuo que incomoda. A pena de morte denuncia tanto os limites intrínsecos de qualquer ser humano, como a nossa incapacidade de lidar com alguns problemas que, muitas vezes, nós, como sociedade, somos a causa. Matar é almejar o corte do mal pela raiz; é acreditar que, dessa forma, não só se elimina o problema, mas intimidam-se os possíveis futuros agressores.

Bem, se fosse realmente assim, veríamos os casos de violência diminuir, o que não acontece. A resposta violenta a um crime social não educa, não resolve o problema, não promove soluções verdadeiras.

O argumento acima serve também como reflexão, no advento de um possível bombardeio à Síria. Com o uso de armas químicas, o governo do país acabou cometendo um crime gravíssimo perante a Comunidade Internacional. Por isso, é inquestionável a importância de uma dura repreensão aos agressores, para que esse crime não abra precedentes difíceis de mensurar. Mas, pergunto: adianta soltar algumas bombas, mesmo que com alvo estratégico, em um país já castigado pela guerra interna? A resposta violenta irá “ensinar” algo aos agressores?

A resposta é não. Não adianta nada. Como não adianta executar alguém que teve sua existência roubada por problemas psicológicos, ou traumas sociais. Você só tira o problema da frente, não o resolve.

Não sou eu quem toma as decisões, que tem a responsabilidade dos líderes do Conselho de Segurança da ONU, ou dos chefes de estado das grandes potências do mundo. São eles que têm o dever de encontrar soluções “criativas” para uma punição eficaz contra o governo Sírio. Contudo, seria oportuno que eles tivessem a consciência de que uma iminente guerra: só tiraria ainda mais vidas, muitas delas inocentes; só continuaria promovendo o ódio dos países árabes contra o Ocidente; só aumentaria a ameaça terrorista.

Acredito que é preciso intervir a favor do povo Sírio, que está sendo eliminado por um governo irresponsável, inconsequente, genocida, mas é fundamental que essa intervenção seja pensada, articulada coletivamente e de maneira inteligente.  De nada adianta fornecer armamentos para os conflitos no Oriente Médio e depois condenar a violência descomedida. Isso se chama hipocrisia.

Diante de tudo, o mais importante é jamais se esquecer do imenso valor da PAZ. Ignorá-lo pode causar um grande arrependimento.

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