Category: Olhar cristão Page 6 of 8

Um beijo transformador

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Parecia mais um beijo como todos os outros.
Foram quarenta dias esperando encontrá-Lo, prostrado diante de mim, mas o momento tão aguardado chegou.

Passei a última semana pensando no que o beijá-Lo me traria de novo. O que estava pronto para assumir, mudar internamente por meio Dele.
Quantas culpas, quantas desavenças, incertezas e uma grande dúvida: é possível continuar caminhando da mesma forma?

Depois daquele beijo muitas compreensões e a consciência de que tudo mudara. Toda a vida edificada tomava novos rumos, era preciso reescolhê-Lo por caminhos inéditos, pois tudo o que servia antes, já não era aplicável às novas realidades.

A única certeza é que a essência não pode mudar. Preciso continuar acreditando que existe um mistério sem respostas racionais “entendíveis” somente pela Fé.

Ah! Se todos os beijos tivessem o mesmo poder e talvez não tenham, porque um gesto tão afetuoso nem sempre incorpora todas as dificuldades, dores e mortificações para que ele seja possível.

Dúvida Pascal – Luis Fernando Verísssimo

luis_f_verissimo6845– Papai, o que é Páscoa?
– Ora, Páscoa é… bem… é uma festa religiosa!
– Igual ao Natal?
– É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
– Ressurreição?
– É, ressurreição. Marta, vem cá!
– Sim?
– Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
– Bom meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
– Mais ou menos… Mamãe, Jesus era um coelho?
– Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
– Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
– É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
– O Espírito Santo também é Deus?
– É sim.
– E Minas Gerais?
– Sacrilégio!!!
– É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
– Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
– Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
– Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
– Coelho bota ovo?
– Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
– Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
– Era… era melhor, sim… ou então urubu.
– Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?
– É.
– Que dia que ele morreu?
– Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
– Que dia e que mês?
– (???) Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
– Um dia depois!
– Não, três dias depois.
– Então morreu na quarta-feira.
– Não, morreu na Sexta-feira Santa… ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
– Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
– É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
– O Judas traiu Jesus no sábado?
– Claro que não! Se Jesus morreu na sexta!!!
– Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
– Ui…
– Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
– Cristo. Jesus Cristo.
– Só?
– Que eu saiba sim, por quê?
– Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
– Ai Coitada!
– Coitada de quem?
– Da sua professora de catecismo!

A misericórdia, o bom senso e a Verdade

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O que tem de similar entre o episódio de estupro da menina de 9 anos pelo padrasto, este ano, e a revolta dos muçulmanos diante da declaração do Papa Bento XVI na universidade alemã em 2006? Ao meu ver a falta de bom senso dos membros da Igreja Católica.

A mídia, como sempre, continua polemizando as declarações e postura católicas que dizem exclusivamente respeito às comunidades ao interno da Igreja. Sim, concordo que não se pode desprezar a força política do “Vaticano” na sociedade (ainda mais a brasileira), mas é preciso pensar antes de sair criticando uma realidade em que as “regras” foram estabelecidas há mais de 2 mil anos.

Vejo meus colegas “pagãos” criticarem de maneira ofensiva as barbaridades que o arcebispo de Olinda e Recife, D.José Cardoso Sobrinho disse no desenrolar dos acontecimentos do caso de estupro que chocou o Brasil, mas fico me perguntando o por quê tudo isso incomoda tanto gente que não precisa incomodar?

Nasci e vivo dentro dos preceitos católicos. Claro, fui obrigado até o momento em que fiz a minha escolha com a Confirmação. Existe um código de leis dentro da Instituição Igreja que formaliza os preceitos deferidos e conservados na história do cristianismo. Não foi uma divagação de um nazista do século XX que a gerou, mas uma compreensão de dois milênios, que não pode ser simplesmente negada, porque a sociedade nos últimos 50 anos, mudou de forma drástica.

Claro… como diz um colega do Direito, todo conjunto de leis é falível e deve ser constantemente adaptado. Para isso ocorreram os Concílios Vaticanos, na tentativa de adaptar o código canônico à dinâmica atual da sociedade. Atualmente também estão sendo revistas diversas “respostas” que a verdade eclesial procura dar as novas realidades da sociedade, como em relação a bioética.

Sobre o aborto não existem 2 interpretações: é pecado grave passível de excomunhão! Pois, como se observa no quinto mandamento, não é permitido MATAR. Porém, o que a Igreja esqueceu de dar voz ou a mídia omitiu, é que a excomunhão não é uma penalidade sem volta, porque senão negaria a sabida misericórdia divina. O arrependimento absolve qualquer tipo de excomunhão, por meio da confissão.

O estupro não consta no direito canônico como pecado passível de excomunhão. Porém, não é por este motivo que a pessoa não pecou e não deve confessar e se arrepender do que fez. Segundo o presidente da CNBB D.Geraldo Lyrio Rocha quem comete o estupro “está fora da comunhão” e “em grave pecado mortal”.

Direito Canônico:

http://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendium-ccc_po.html
Artigo 308. A quem é reservada a absolvição de alguns pecados?1463
A absolvição de alguns pecados particularmente graves (como os punidos com a excomunhão) é reservada à Sé Apostólica ou ao Bispo do lugar ou aos presbíteros por ele autorizados, embora todo o sacerdote possa absolver de qualquer pecado e excomunhão a quem se encontra em perigo de morte.
Artigo 470. Que proíbe o quinto mandamento? 2268-2283/2321-2326
O quinto mandamento proíbe como gravemente contrários à lei moral:
O homicídio directo e voluntário e a cooperação nele;
O aborto directo, querido como fim ou como meio, e também a cooperação nele, crime que leva consigo a pena de excomunhão, porque o ser humano, desde a sua concepção, deve ser, em modo absoluto, respeitado e protegido totalmente;
A eutanásia directa, que consiste em pôr fim à vida de pessoas com deficiências, doentes ou moribundas, mediante um acto ou omissão duma acção devida;
O suicídio e a cooperação voluntária nele, enquanto ofensa grave ao justo amor de Deus, de si e do próximo: a responsabilidade pode ser ainda agravada por causa do escândalo ou atenuada por especiais perturbações psíquicas ou temores graves.

O assessor canônico da CNBB enrique Perez Pujol destacou o fato de que a excomunhão não deve ser aplicada em meio a uma polêmica. A falta de sensibilidade de D.José Cardoso Sobrinho no modo como dizer o que está “nas normas católicas”, aumentou a antipatia da sociedade com a Igreja Católica, da mesma forma que, quando o Papa Bento XVI, numa intervenção na Universidade de Regensburg, em 2006, explorando as diferenças históricas e filosóficas entre o Islã e o Cristianismo, citou o imperador bizantino do século XIV (Manuel II Paleólogo), dizendo que Maomé trouxe ao mundo coisas “más e desumanas, como o direito a defender pela espada a fé que ele persegue”. O Papa sublinhou, por duas vezes, que a expressão era uma citação, mas tudo soou mal e causou um terrível mal estar entre católicos e muçulmanos, amplificado pela mídia.

É evidente que a Igreja precisa de autoridades que saibam se comunicar com o mundo laico, para que seja sempre feita essa “tradução” da verdade Cristã de forma que os leigos também a respeitem, (e não se sintam ofendidos, no caso de outras religiões) mesmo sem compreendê-la profundamente.

O diálogo precisa ser respeitoso, mas não se pode negar que existe uma Verdade, um caminho, que para os fiéis foi traçado por um desígnio divido.

Tanto no caso do estupro como na gafe de Bento XVI a Igreja Católica fez questão de se desculpar pelo “mal entendido”, deixando evidente de que aqui não se tratam de pessoas perfeitas.

Como católico respeito os leigos e a importância que as leis do Estado têm sobre a sociedade, mas acredito que também o laicato pode ter a consciência de que o que a Igreja fala, diz respeito aos fiéis que nela buscam um caminho de orientação espiritual, segundo os ensinamentos de Jesus Cristo.

40 dias para dar um beijo verdadeiro

40 dias

Quarenta anos foi o tempo que o povo de Israel esperou até chegar a Terra Prometida, por 40 dias Cristo se retirou no deserto, enfrentando as mais temidas tentações“, foram as últimas palavras que ouvi antes de…

Quando vi estava caminhando ao lado de um barbudo que já tinha algum tipo de registro dentro do meu inconsciente. Levava um cajado e já aparentava ter uma certa idade. Olhando para trás percebi uma grande quantidade de pessoas, que me lembraram das passeatas que sempre acontecem na Avenida Paulista.

Olhei para o senhor e senti uma grande admiração, quarenta anos caminhando para chegar “sei lá onde”, nesse sol absurdo (quase indonésio) e com tanta gente acreditando nele? Isso sim que era coragem.

Continuei caminhando com ele e quando menos percebi, tropecei num grande livro que rapidamente retirei da areia e abri.

Quaresma é tempo de oração, penitência e esmola! É tempo de purificar a alma para assim poder escolher a cruz na sexta-feira da Paixão“, dizia o padre e acabava de me dar conta de que havia adormecido.

Comecei a refletir no como eu poderia viver bem esse momento especial, procurando ser um cristão verdadeiro e lembrei de tantas coisas que eu poderia me “abster”, coisas que gosto, para viver o tal jejum.

Decidi também viver melhor as práticas cotidianas de orações, de manhã e de noite, antes das refeições e procurar todos os dias ir à missa e rezar o terço. Durante esses 40 dias talvez seja também uma forma de me aproximar desse Deus que tanto posso contar.

De repente, olhei para o chão e percebi estar na beira de um penhasco, ao meu lado vi um homem, que demorei para entender quem era, admirando a paisagem. “Vá embora, Satanás, porque a Escritura diz: ‘Adore o Senhor seu Deus, e sirva somente a ele“, gritou e me dei conta de que alguém estava dizendo alguma coisa para ele esbravejar com tanta força.

As tentações acontecem no deserto. Por quê? Quando os hebreus saíram do Egito, lugar da injustiça, chamados por Deus para criar uma sociedade justa, eles entraram no deserto. É o lugar das dificuldades e necessidades, onde aparece a cada momento a tentação de voltar atrás, achando que nenhuma transformação é possível. Jesus retoma essa parte da história do seu povo, e os quarenta dias de jejum recordam os quarenta anos de Israel no deserto, antes de entrar na Terra Prometida, onde haveria justiça e vida para todos“, foi o que ouvi, acordando novamente e me dando conta do tamanho cansaço herdado do Carnaval.

Mas faltava a esmola. O que poderia dar? O que tenho? Pensei que concretamente não haveria mesmo muita coisa de valor, mas lembrei do capital intelectual que poderia também ser usado de maneira especial durante a Quaresma, mostrando que também nele Deus se faz presente.

Assim estava pronto para viver bem esse período, de coração aberto, certo que serão dias repletos de “tentações”, mas que fará mais verdadeiro o beijo na cruz que nos aguarda.

Deus é Truta

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Um dia desses me perguntaram quem é Deus…
Engraçado que as perguntas mais inocentes quase sempre nos levam a respostas complexas e pouco “entendíveis”.  Mas, enfim, tentei responder de forma laica…

Deus é aquele tal amigo invisível que sempre quer mostrar que é “o Cara”.
Usa do seu “poder” para nos fazer entender que a felicidade é algo muito mais simples do que aparenta, que não é preciso ter muito para se sentir completo.

Ele também deixa claro que existem “vilões” que vão estar sempre tentando nos seduzir e que até podemos segui-los, pois somos livres, mas no final vai ser sempre aquela sensação de vazio, difícil de descrever, mas que aposto que todo mundo já sentiu.

O “Truta” é tão presente, tão presente, que tento estar com ele alguns minutos do meu dia, conversando.

Ir na Igreja é fazer uma visita para esse amigo que gosto muito. Chego lá, sento e vou logo contando tudo aquilo que vivi, pensei ou senti… é engraçado porque quanto mais converso, mas desenvolvo a capacidade de ouvi-lo, percebê-lo, de maneira incrivelmente concreta.

Um ano atrás, lembro que briguei feio com a minha namorada. Não havia entendimento e certamente teríamos acabado o relacionamento se o “Truta” não interviesse.

Numa dessas conversas, na Igreja, dizia que era Ele quem parecia ter providenciado o nosso encontro e feito nós dois estarmos junto, mas que de alguma forma as coisas deram errado. Não queria culpá-lo, lógico, mas disse que se era pra gente mesmo ficar juntos, que ele resolvesse a situação, pois eu já não sabia mais o que fazer.

Quando levantei a cabeça depois do meu desabafo e olhei para lado, minha namorada estava ali, do meu lado, tinha vindo de uma distancia de 400kms, para conversar, sem que eu soubesse*.

Levei um susto enorme e ali entendi (mais uma vez, pois essas situações já se repetiram inúmeras vezes na minha vida) que o Truta realmente existe, que não era invenção da minha cabeça e muito menos uma “forma de dominação” como meus professores marxistas sempre insistiram em dizer.

O mais engraçado é que o Truta está sempre aqui, como os amigos verdadeiros, às vezes o relacionamento fica meio utilitarista porque eu acabo indo procurá-lo só quando preciso, mas aí nem sempre consigo ouvir direito seus conselhos, por conta do meu “afastamento”… mesmo ele sendo do tipo de “pessoa” que nunca guarda rancor.

Esse Deus é um grande companheiro, amigo para todas as horas, que nunca trai, nunca decepciona, mas às vezes “dá uns perdidos” para que também a gente aprenda a se virar, a tomar as próprias decisões e fazer nossas escolhas, como Ele fez.

Enfim… Deus.. é truta!

* Claro que eu e a minha namorada nos entendemos depois e ainda estamos juntos e felizes…rsrsrs

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