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Chiara Lubich pelos olhos de Armando Toro para o mundo inteiro

“Uma mensagem escandalosamente interessante”. Foi assim definida a vida de Chiara Lubich pelo escritor da primeira biografia “post mortem” da fundadora do Movimento dos Focolares, Armando Toro, em uma visita ao centro do Movimento em Grottaferratta, na região dos Castelos Romanos.

Antes do Concilio Vaticano II, que transformou a Igreja Católica, (mesmo que ainda não completamente encarnado pela igreja institucional) Chiara Lubich apresentou às suas companheiras, sob os bombardeios da Segunda Guerra Mundial, um Deus que, apesar das fatalidades e da dor tantas vezes incompreensível, é AMOR.

Porém, nem ela e nem ninguém imaginava que essa descoberta levaria milhares de pessoas em praticamente todo o mundo a conhecer esse “novo conceito” de Deus, com as suas posteriores consequências.

As origens, compreensões pessoais gradativas de Chiara Lubich e o desenvolvimento rápido dos Focolares são apresentados em “PortarTi il mondo fra le braccia” (em português, “levar-se o mundo entre os braços”) por um jornalista, editor do “Corriere della Sera”, um dos principais jornais italiano. Armando Toro não conheceu pessoalmente Chiara e se ateve aos incontáveis documentos e as entrevistas para construir sua biografia.

Momentos de maravilha e dor acompanharam a fase carismático-fundadora dos Focolares, período que se concluiu no dia 14 de março de 2008, quando a sua “mae” morreu aos 88 anos.“Chiara Lubich abraçou mais do que muitos (misticos) o vazio (de Deus), essa não presença, esse Cristo sofredor no abandono e entendia aqueles que não acreditavam, aqueles que experimentavam esse vazio constantemente”, afirmou Toro na sua visita ao centro dos Focolares.

Um livro importante para quem acredita no amor e que investe no dialogo como instrumento para a construção de um mundo melhor, seja ele no âmbito religioso, politico, cultural ou até mesmo econômico.

O livro foi recentemente publicado em português pela Editora Cidade Nova e custa R$29,00 no site, mas quem quiser adquiri-lo em língua original pode comprar online no site da editora Citta Nuova (clique aqui)

Crônica Sophiana

7:15h

O tilintar do despertador decreta aquilo que a luz no quarto já havia denunciado: é hora de levantar (mesmo se o colega de quarto não esboça um mínimo sinal de vida).

Fundamentos de Economia e Seminário de Política são aquilo que me espera hoje, depois de um final de semana de futebol, festa dos estudantes e, claro, estudo.

Desço pra tomar um cafezinho rápido porque as 8:15h vem a van que busca os estudantes de “Tracolle” e leva para a universidade (impossível não pensar no privilégio que as meninas têm de morar no mesmo prédio da faculdade).

As 8:30h estamos todos lá, sentados na aula 1, esperando as atrasadas para a “condivisão”, momento que se repete três vezes na semana e que tem como objetivo refletir como os conhecimentos gerais adquiridos – à luz do Ideal da Unidade – procuram ser colocados em prática na vida cotidiana de cada membro da comunidade sophiana.

Depois da leitura de um trecho do Evangelho alguns falam espontaneamente, em seguida os avisos e logo o intervalo, regido por um bom café italiano e o bate papo informal entre todos, professores e estudantes.

As 9:30h começam as aulas. Interessante descobrir que por trás de todas as áreas do conhecimento se encontra, centralizado ontologicamente, o “homem – relação”. A nossa existência é mesmo diretamente vinculada a de um “outro”, que tantas vezes nos machuca, porque diferente de nós.

Estudando “Ethos do Mercado” é possível descobrir as diferentes estratégias antropológicas para lidar com esse drama e que encontrou, por fim, no Mercado a principal fonte de “immunitas” (imunidade).

As aulas da manhã vão até as 13:15h e o cansaço físico não se compara com o mental, o espiritual, pois tudo que se aprende em Sophia, resvala no nosso interior.

Hoje o almoço é em casa e nisso agradecemos aos estudantes do segundo ano que, por terem um horário menos apertado, fazem a comida para os “coitados” calouros.

É o tempo de comer, dormir uma meia horinha e já estar pronto para, as 15h, voltar para a faculdade. Ainda bem que o Seminário de Política é bem dinâmico, impedindo a ação eficaz, inoportuna e previsível do sono.

Naquela pequena sala, só um terço da classe. Discutimos as raízes, o desenvolvimento e as estratégias do pensamento ideológico. Profunda ênfase em um particular, que permite ser afirmado como verdade, mas que é só um aspecto dentro da multiplicidade social, manipulado por interesses específicos.

“A leitura de obras e a análise dos casos nos conduz a pensar a sociedade levando em consideração a necessidade de conceber a verdade que engloba o todo” – vou pensando de forma pedante enquanto voltamos na van pra casa.

Deixo a mochila no quarto, vejo meus emails, as notícias e as 20:30h estamos todos sentados na sala para jantar, conversar sobre o dia e dar risadas. Oportunidade concreta de verificar e discutir a teoria aprendida durante o dia.

Depois da janta, quem preparou lava, quem deu sorte de não estar na dupla responsável pela refeição vai ver um filme, ler e, claro, se tiver mais coragem que preguiça: estudar.

Lá pelas 23h, após um banho relaxante, sou um dos poucos que vai pro quarto. Leio, vejo um seriado e apago a luz pensando em Aristóteles, nos franciscanos, em Hobbes, Smith, Guy Debord.

Difícil descansar com a mente acelerada, mas é só segunda-feira. A dinâmica de “vida e estudo” precisa ser gerida de maneira inteligente, para o bem do corpo, da mente e do espírito.

Ginetta Calliari: Modelo de mulher

Há 10 anos a italiana Ginetta Calliari partia do mundo imanente para alcançar “Aquele céu” que a impulsionou a deixar sua singela Trento… sua cultura, família, para levar ao Brasil o Ideal da unidade.

Como escrevi em um post antigo “Ginetta não é só a minha mãe espiritual, é também biológica”, porque o encontro entre os meus pais terrenos, ocorrido em um encontro do nascente Movimento dos Focolares, tem relação direta com o ato missionário dessa incrível mulher.

Lendo a biografia de Ginetta há pouco mais de um ano me deparei com uma radicalidade apaixonante, de uma fé e uma determinação que assusta e depois converte.

O “encontro literário” com essa grande mulher me ajudou a entender que realmente não dá para ignorar o “daimon” que fala dentro de nós, aquela voz interior que nos ajuda a buscar uma Felicidade que não passa.

Nesta perspectiva não se fala mais de sonho, mas vontade divina e por isso dar dimensões humanas pareceria estupidez.

Ginetta me trouxe aonde estou, me ajudou a entender que felicidade não é somente fim, mas caminho “festejável” cotidianamente.

Minha paixão pela feição divina “vislumbrável” por meio do sexo feminino é bem expressa nesse modelo de mulher que é Ginetta. Forte, verdadeira, inteira!

Hoje, Dia Internacional das Mulheres é a Festa de Ginetta, que para mim não é só mulher: é mãe e Santa!

Breve biografia:

Ginetta Calliari nasce em Trento (Itália), em 15 de outubro de 1918.

Em 1944, conhece Chiara Lubich. Ao ouvi-la falar de Jesus Crucificado e Abandonado, como expressão máxima do amor de Deus, decide deixar tudo para consagrar a sua vida a Ele. Seguindo os passos de Chiara, Ginetta viverá com ela a experiência da fundação e expansão do Movimento dos Focolares. A Unidade, testamento de Jesus (cf. Jo 17,21) torna-se o objetivo de sua vida e pautará sempre suas ações.

Em 26 de outubro de 1959, juntamente com outras três focolarinas e quatro focolarinos, Ginetta vem para o Brasil, o primeiro país além da Europa a acolher o Movimento dos Focolares, estabelecendo-se em Recife. Chiara faz uma entrega simbólica: “Não lhes dou um crucifixo de madeira ou de metal, mas o crucifixo vivo, Jesus Abandonado”. Essa entrega será como uma bússola na sua vida. Ginetta e os demais não poupam esforços para difundir o Ideal da Unidade.

Atualmente, o Movimento dos Focolares está presente em todos os Estados do Brasil e dele participam cerca de 300 mil pessoas.

Em 1969, transfere-se para Vargem Grande Paulista (SP). Dá início ao Centro Mariápolis, que se transformará na Mariápolis Araceli – uma cidadezinha de testemunho com 400 habitantes, cuja vocação é mostrar o amor evangélico como estilo de vida – onde Ginetta vive por 32 anos; passou a se chamar Mariápolis Ginetta, em sua homenagem.

Uma nova Luz para o mundo

Ano 2000, para os cristãos um momento especial, pois se comemorava o Jubileu, festa com referências bíblicas realizada a cada quarto de século e que, segundo a tradição hebraica, propõe um tempo de paz e reconciliação, um tempo de graça divina.

Mas, para os jovens cristãos, o Jubileu daquele ano tinha algo especial, único. Em Tor Vergata, na região romana, na Itália, se festejava a oitava Jornada Mundial da Juventude (JMG), uma grande comemoração em plena sintonia com a Igreja.

“Queridos jovens do século que começa, dizendo «sim» a Cristo, dizeis «sim» a cada um dos vossos mais nobres ideais. (…) Não tenhais medo de vos entregar a Ele: guiar-vos-á e dar-vos-á força para O seguirdes cada dia em todas as situações”, era o convite do então papa João Paulo II, à multidão de jovens que se reunia durante aquele momento especial.

Contemporâneamente, há poucos quilômetros dali, no Estádio Flaminio, os Jovens por um Mundo Unido, animados pelo Ideal da Unidade, estavam reunidos para uma valiosa troca de experiências, em um contexto multicultural, que se propunha a testemunhar a alegria e a coragem de um novo cristianismo vivido pela geração “do milênio que estava iniciando”.           Nesta ocasião, Chiara Lubich apresentava uma outra Chiara, de sobrenome Badano, que, por meio de uma experiência de adesão profunda e totalitária a vontade de Deus, tornou-se luz e exemplo concreto para os jovens que a conheceram.

Quatro anos depois, vivenciando uma experiência de formação em uma das cidades-modelos do Movimento dos Focolares na Suíça, durante uma missa domenical na grande catedral de Zurique, norte helvético, me deparei com uma igreja imensa mas vazia de fiéis. Olhando ao meu redor somente senhoras e senhores de idade, nenhum jovem além do nosso grupo. Aquela experiência foi para mim um encontro istantâneo com a dor em ver que a “minha comunidade” estava aparentemente condenada a morte. Que futuro teria aquela realidade sobrenatural, se não existem jovens dispostos a vivê-la concretamente, continuando a experiência de povo de Deus?

O que eu não esperava, e foi uma surpresa providencial, aconteceu um ano depois, diante de outra grande igreja, na Praça São Pedro, no Vaticano, durante uma vigília de orações pela saúde do mesmo João Paulo II que encontrara os jovens em Tor Vergata cinco anos antes.

Passando pelas colunas que sustentam a grande construção do Vaticano, uma visão inesquecível, de uma praça repleta de jovens, ajoealhados, clamando pela vida daquele Pai que tanto os amava e estava prestes a morrer.

Eu era um desses jovens, que com incontidas lágrimas chorava, consciente de que talvez não veria uma figura tão carismática em toda a minha vida, um testemunhou tão pleno do Evangelho que sempre acreditei ser o verdadeiro guia para uma Felicidade duradoura. Naquela noite me dei conta de que a Igreja estava vivíssima, que aqueles milhares de jovens acreditavam nela, na mensagem e no caminho proposto por ela.

Pensei que seria a última vez que vivenciaria aquela experiência, mas novamente fui positivamente surpreendido.

Nos últimos cinco anos, como grande maioria dos jovens católicos, procurei perseverar diante da intensa crise de valores que o mundo ocidental sucumbiu. Acolhi com grande dor a consciência de que essa crise também penetrou a “minha comunidade”. Como responder de maneira concreta, como jovem, a tudo isso? Como testemunhar a beleza de uma Igreja que, acima de tudo, quer levar uma Felicidade duradoura aos seus seguidores?

No dia 25 de setembro de 2010, um pouco mais de 5 anos daquela experiência na Praça São Pedro, volto a Roma, agora na praça do Santuário do Divino Amor, para festejar a beatificação daquela Chiara Badano, conhecida como Chiara Luce, que era reconhecida pela Igreja como testemunho perfeito de cristã no mundo moderno.

A noite, na Aula Paulo VI, no Vaticano, uma grande festa com jovens de mais 70 países procurava justamente apresentar ao mundo um novo tipo de santidade, que usa calça jeans, que joga tênis, que usa internet…

O testemunho de Chiara Badano vai além dos muros das concepções de que o cristianismo não atrai, não satisfaz, é antiquado. E justamente na Basílica de São Paulo “Fora dos Muros” que aconteceu a missa de agradecimento pela sua beatificação.

“Uma jovem de coração cristalino”, definiu Chiara Badano o mons. Angelo Amato, prefeito da congregação das causa dos santos durante a homilia da beatificação. “Uma jovem moderna, esportiva, positiva – continua – que em um mundo cheio de riquezas, mas quase sempre doente de tristeza, de infelicidade, nos trasmite uma mensagem de otimismo e de esperança”, conclui.

Voltei para casa feliz, ouvindo meu mp3, conversando com meus amigos, mas dentro de mim uma novidade: posso fazer tudo isso, e no amor, ser Luz para o mundo, como Chiara.

O privilégio de ser jornalista

Sempre fui tratado com uma certa depreciação por parte de amigos por ser jornalista. A ignorância faz acreditar que “qualquer um sabe escrever” e pior, permite que muita gente realmente pense que o trabalho jornalístico se resume exclusivamente a esse “escrever”.

Dessa forma a imprensa mundial é cheia de pseudo-comunicadores que simplesmente “escrevem”, mas pouco pensam, se preparam, refletem e em nada procuram desenvolver o próprio ofício de forma ética sabendo que, antes de tudo, o profissional da comunicação é um prestador de serviços, primeiramente, à própria comunidade e a conseqüentemente à sociedade como um todo.

Contudo, ser jornalista é se deparar com experiências novas, desafios inesperados e poder vivenciá-los é o que me faz ser tão apaixonado pela minha profissão.

Três dias atrás, em uma conversa informal, fui convidado para participar de uma jornada no castelo de Caux, maravilhosa construção da pequena cidade que está a sudoeste da Suíça e abriga o centro de conferências da organização “Iniciativa e mudança”, que desenvolve diversos trabalhos em prol de um mundo melhor em diversos países.

A ocasião especial era a participação da atual presidente do Movimento dos Focolares (www.focolare.org), Maria Voce. Convidada a apresentar um painel sobre a Economia de Comunhão (EdC) (www.edc-online.org), iniciativa no campo da Economia dos Focolares, Maria Voce foi uma das palestrantes da semana intitulada “Confiança e Integridade na economia global”.

O trabalho desenvolvido por “Iniciativa e mudança” é muito interessante e vale a pena conhecer (www.caux.iofc.org) e as semelhanças das iniciativas realizadas no campo econômico foram aquilo que motivou a organização a convidar Voce.

O que eu não esperava é que, após a conversa informal citada acima, estaria “pautado” a escrever um artigo sobre a conferência e já agendado uma entrevista com Martin Robra, teólogo e um dos diretores do “ World Council of Churches”, outra com o representante do movimento budista, Rissho Kosei-kai, Naoki Taketani, e a última com Maria Voce.

Durante a sua intervenção, a presidente dos Focolares falou sobre a experiência da Economia de Comunhão, enfatizando a necessidade de uma “Cultura do Dar” em que somente a partilha entre ricos e pobres pode levar a sociedade a um desenvolvimento justo. Citando a falecida fundadora, Chiara Lubich, Voce apontou que os homens foram criados “como dom uns para os outros” e que é preciso exercitar-se quotidianamente para olhar colegas de trabalho ou concorrentes a partir da perspectiva da fraternidade.

Terminada a palestra, logo atrás de mim estava o Sr. Taketani e imediatamente pude perguntar (in english) a sua opinião sobre o que Maria Voce havia apenas dito. “Nós da Rissho Kosei-kai nos sentimos estimulados e responsáveis por esse projeto” afirmou e recebi um “Absolutamente não” quando perguntei se o fato de ele ser budista o distanciava da proposta da EdC.

Logo em seguida algumas fotos do Sr. Robra e sua esposa que saudavam Maria Voce e quando eles se despediram pude perguntá-lo (also in english) sobre o que o World Council of Churches poderia ajudar nesse projeto. “Fazemos parte deles”, recebi como resposta.

Duas horas mais tarde, encontrei Maria Voce pelos corredores do castelo de Caux e fui saudado com um “Ah! É você que é o Valter!”. Contente me dirigi à sala em que outra jovem jornalista estava pronta para entrevistá-la.

Após esperar 15 minutos, me dirigi à Maria Voce para perguntar aquilo que havia colhido e preparado. “Como falar de Cultura do Dar, recuperar a confiança, com alguém que não faz ou não valoriza qualquer tipo de caminhada religiosa ou humanista, mas está imerso na cultura do sucesso, do lucro, como um diretor de uma multinacional, por exemplo?” pergunto, crente de que era uma excelente questão. “Quem disse que devemos falar de cultura do dar? Nada disso! Não devemos falar! Com essas pessoas, nessas ocasiões, é preciso testemunhar essa nova cultura, com a nossa vida, até que elas possam entender”, respondeu-me Maria Voce.

Depois de vivenciar meus 15 minutos com Voce percebi o quanto é maravilhoso ser jornalista. A oportunidade de encontrar e construir um pequeno relacionamento com essas “personalidades” me ajuda a colher a humanidade que existe nelas e entender o verdadeiro sentido da palavra “graça”.

Começo agora a escrever o artigo sobre o que foi falado na conferência e sobre a necessidade de “unir forças” para construir projetos, ações, juntos, para potencializá-los.

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