Category: Introspecções Page 13 of 36

Sou quando me dôo

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“Você está rindo de mim ou para mim?” – pergunta uma das voluntárias do Rango, uma senhora sorridente, linda, daquelas bem vovozinhas.

A vida passa e sempre redescubro o amor como uma bomba de fissão nuclear, infinito, impossível de controlar e, sobretudo, descrever.

Pode parecer insensato, mas passar uma singela hora do meu sábado ali, segurando uma bandeja com melancias cortadas, carregando outra com 39 copos de plástico com suco (acho que de groselha), me constrangia a sorrir.

Cada vez mais coisas óbvias (para mim) precisam ser revividas para que eu reencontre sentindo à minha existência. A principal delas é perder tempo pelas/com as pessoas.

Àquela hora “gasta” no Rango me deu uma felicidade que, de certa forma, banaliza a palavra e faz com que ela talvez mereça outro adjetivo: PROFUNDA… PROFUNDA FELICIDADE.

Antes de encontrar com aquela senhora que “encasquetou” com o meu sorriso, passei pelos portões da Igreja Bom Jesus dos Passos e saudei a Maria, o Marcelo, conheci o Vinícius, cumprimentei todos aqueles que, como disse um irmão de rua, estão há tempos dando uma “assistência” pro pessoal.

Enquanto olhava aqueles seres humanos recebendo as marmitas com comida quentinha, copos de suco e as melancias, dizia dentro de mim… é gente meu Deus… é gente…

Gente sofrida. Uma encruzilhada de histórias misteriosas, e eu me interesso por todas, mas admito ainda um certo receio deste mundo desconhecido e da minha incapacidade humana de acolhê-lo.

“Oh meu! Cê ta louco, ta mexendo com a minha mãe?” – acabei deixando de lado minhas divagações porque o Vinícius, filho da Maria, foi querer tirar satisfação com um dos irmãos de rua, que havia jogado o copo de suco nela, por motivos desconhecidos.

“Deixa ele meu filho… ele está com problemas!”

Passado aquele momento de tensão, um dos outros irmãos chamou o moço aos berros dizendo para ele se desculpar com a Maria. Meio sem jeito ele foi lá e a abraçou o principal pilar da atividade semanal que “dá de comer a quem tem fome”. E Maria, bom… acolheu as desculpas do moço com um sorriso marcante.

Enquanto distribuíamos as marmitas a pequena Maria, uma menina de uns seis anos, acho eu, passava entre as nossas pernas para ajudar. Colocava os garfos nas “quentinhas”, pedia melancias e servia seus amigos coetâneos.

Depois que entregamos todas as marmitas, me aventuro procurando conversar com os irmãos de rua.

“Pai nosso que está nos céus…..”

Percebo que um jovem, pelo que entendi da Aliança e Misericórdia, movimento religioso que tem um cuidado especial pelos moradores de rua, estava rezando com dois irmãos…

Algumas conversas… “Encheu o bucho?” pergunto para uma das crianças que estava perto de mim. Ela sorri e me responde que nem conseguiu comer tudo…

Decido ir embora… Entro para cumprimentar as voluntárias e vejo a senhora que me saudou quando cheguei. “Isso meu filho, continue com esse sorriso lindo”

“E você tenha sempre saúde” respondo… sorrindo, claro!

Saindo da igreja, passo pelo meio do pessoal e encontro a pequena Maria.

“Tchau Maria… Vem aqui me dar um abraço!”, e não consigo conter a emoção de receber um gesto de amor tão puro e sincero…

“Já acabou lá tio?”

“Sim, semana que vem tem mais”

Despeço-me e de novo penso que só existe sentido à minha existência quando me coloco a serviço das pessoas. Vejo que é nela que essa Felicidade Profunda se faz possível.

É fantástico também entender que no dia a dia, no trabalho, nos estudos, podemos encontrar esse sentido. Basta colocarmos cada coisa no seu “devido lugar”: primeiro servir e assim conseguimos fazer frutificar os nossos talentos, quem REALMENTE somos.

Com os olhos lacrimejando, o coração explodindo, sigo para o ponto de ônibus.

“é gente meu Deus… é gente…”

Baliza

Baliza pode ajudar ou pode nos constringir a pegar o rumo errado

As vezes a ignoro, sigo em frente, mas me confundo e me finjo inconformado

Dentre sinais, guardas de trânsito, acabo, com demência, indo pra onde quero

E no final estou tranqüilo, não vejo impossível ter aquilo que espero.

E a bendita baliza está lá, me mostrando a justa hora do desvio certeiro

Procuro sempre ser o último a passar e fico rindo do desvio do primeiro

Mas na verdade quem passa grande parte da estrada confuso, sou eu

Vou por um caminho incompleto, com a sensação perene de quem se perdeu

Toda vez que isso acontece, lembro daqueles postes bi-cromáticos, das balizas

E do rumo certo que já poderia ter dado pra minha vida

Em vez de acreditar que a felicidade se faz na micro-esfera

Quero pegar o primeiro vôo, sair pelo mundo, aqui ou em outras terras.

Crise de valores

capitalismoO frenesis da vida pós moderna gera um sentimento de insatisfação, principal vetor da transmissão da doença depressão. Em meio a crise econômica, inicia uma crise de valores que serve como estopim para conflitos bélicos, que começam do Sri Lanka às favelas do Rio.

O mundo vai acabar (?)

Enquanto isso perco tempo preocupando-me com o que comer no almoço e se vou de pólo ou com algo que cubra bem o pescoço. Já faz frio na cidade da garoa e enquanto o mundo padece, eu continuo curtindo a vida à toa.

E não fruto de uma possível demência, na verdade é por que em meio ao caos que aos poucos se instala, vou percebendo minha grande impotência.

Quem espera sempre alcança diz um outro devaneio de gente que não luta e se apóia na própria esperança. Eu, em vez disso, procuro viver, mesmo sem saber para onde ir, sem ter por que merecer.

Mas o que quer que eu faça, a crise das especulações vai afundando um mundo numa grande maré de desgraça. O que quer que eu faça, vou ter que suportar esse mar de ressaca.

As vezes acho que a crise só pode ser resolvida de dentro para fora e aí dá vontade de pedir para toda criança que conheço, sair da escola.

Afinal de contas a gente aprende sempre bem a lidar com o nosso egoísmo, nosso direito ao individualismo. Mas toda a falta de juízo, fraternidade, de valores, vai levando todo o povo a pagar as dívidas de um mundo que arca com um baita prejuízo.

Uma herança chamada preconceito

coexistmeaningPreconceito é uma daquelas heranças culturais, muitas vezes sem significado, que nos distancia uns dos outros e que quase sempre aceitamos sem nos questionarmos o porquê.

Árabes e Judeus brigando por Jerusalém pode parecer uma briga política, mas a falta de resoluções toca profundamente no desrespeito e o preconceito com a cultura religiosa do outro.

Paulistas e nordestinos seguem os mesmos escopos. A segregação social criou fluxos migratórios decorrentes do desenvolvimento exclusivamente sulista, num país em que uns foram mais “privilegiados” que os “outros” que vieram procurar seu espaço dentro do contexto que lhes permitia a sobrevivência.

Brancos levantam a bandeira da democracia, contra a política de cotas e de vantagens, lutam pela manutenção dos “direitos iguais”, mas esquecem que por 500 anos os negros não puderam desfrutar de sua civilidade com a escravidão e exploração da sua raça. É como competir numa prova de 100m com alguém que acabou de disputar a maratona.
Sim, tudo isso deve ser conhecido! Precisamos pensar historicamente, já dizia Sérgio Buarque, para lidarmos bem com essas diferenças, sem ingenuidade e buscando soluções pacificadoras.

Porém, no final, será sempre a necessidade de “abrir mão” de benefícios exclusivos, de vantagens sociais, para incluir desprivilegiados na partilha do “grande bolo”.

Enquanto tiver gente comendo mais que outras ou pessoas sem poder saborear as delicias de ser cidadão, entraremos em choque com esse preconceito herdado, que tantas vezes não encontram mais significado para a nossa geração, mas que a falta da consciência nos faz revivê-lo com nossos iguais, num fluxo infinito de descaso e omissão.

Quando chega o inverno

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Depois que o outono passou, chega o inverno e as crises inevitavelmente recomeçam. Tanto a rigidez das folhas, como a morte de muitas plantas, transformam a flora num cenário as vezes desolador

Porém é nesse momento que a natureza se “contrai” para sobreviver à drástica mudança climática. Tudo para a sua efetiva proteção.Enquanto os raios solares aquecem outras terras, aqui eles saem pela tangente e assim o frio desola.

Também nos relacionamentos vivemos muitos invernos. Momentos de “contração”, de “morte”, mas tudo em prol de um renascer, mais forte, mais intenso.

O inverno, como as outras estações, é uma fase passageira. Que serve para reflexão, para pensar na efetiva produtividade das relações, no quanto de felicidade e beleza elas trazem para as nossas vidas.

É nessa estação que precisamos estar mais em casa, que não temos como “fugir” de nós mesmos, que precisamos nos enfrentar.

Aproveito meus invernos para crescer interiormente e espiritualmente. Para entender que preciso estar sempre buscando o melhor, sem me acomodar com o pouco conquistado, construído.

Porque depois do inverno, preciso estar pronto para gozar do renascer da primavera.

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