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Juventude

O drama do fim da juventude

Juventude é pensar, sentir e fazer, generosamente. Sem economizar energia ou tempo. Sem cálculos mesquinhos. Ao menos é assim que eu costumava me autodefinir “jovem”.

O problema é que no processo de nos tornarmos adulto, acumulamos experiências e conquistas que aumentam a indisposição à perda. Além dela, começa-se a notar uma diminuição drástica dos níveis de energia. Assim, despedir-se da juventude é estar mais condicionado ao estado psicofísico da própria existência. É sentir (mais) na pele o impacto das nossas inconsequências, inconsistências.

Nas últimas semanas percebi, na dor, que não sou mais jovem. Dei-me conta de que as frustrações da vida ressoam bem mais forte no meu físico e no meu emocional, comparado ao que acontecia nas últimas duas décadas. Enquanto os valores e as verdades se solidificam internamente, lidar com a dor, fruto da injustiça, da incoerência e do medo, agora sugam minha energia de maneira assustadora.

Atualmente, o grande desafio tem sido encontrar um lugar para posicionar a minha existência nesse nova etapa da vida. É melhor ter uma passagem breve, significativa e transformadora ou viver bastante, aceitando cinicamente a própria e inevitável mediocridade? Existir é simplesmente permanecer ou, mais do que tudo, buscar realizar intensamente o nosso propósito, independente da dimensão temporal?

Enquanto essas perguntas ecoam internamente, experimento a dificuldade de encontrar caminhos sustentáveis, em um contexto em que a vida está profundamente entrelaçada a outros seres humanos, tornando os cálculos inevitáveis.

O drama do fim da juventude é ter de lidar, sem fugas ou vitimismo, com o impacto das nossas próprias respostas, ciente de que elas irão afetar outras vidas, inevitavelmente.

Ainda bem que sou ruim de Matemática!

Mudas

Mudas

Um relacionamento é como uma semente. Ele carrega em si o potencial de vida, mas que, para crescer e dar frutos, precisa ser cultivado em solo fértil.

O Semeador sabe bem onde cada planta precisa se desenvolver, mas Ele, propositalmente, não controla nem o estado do solo e nem a saúde da planta.

Quando o solo é fértil, sadio, a semente germina e aos poucos vai crescendo. Quando faltam nutrientes a semente pode até germinar, mas com o tempo ela carece dos elementos essenciais e, fatalmente, morre.

O curioso é que mesmo quando o solo é fértil o suficiente para que a semente germine são quase sempre os fatores externos que impactam no desenvolvimento da planta. É preciso água e sol na medida certa, ar circulando, para que ambos solo e planta continuem fortes o bastante para que almejados frutos apareçam.

Esse é um processo longo. Difícil. Motivo de alegria? Sim. Fonte de sofrimento? Também. Mas como saber se a semente plantada e o solo são compatíveis antes do plantio? A resposta está na paz/serenidade do processo.

Todo plantio exige perseverança e paciência. As vezes não dá certo por conta do solo, da semente ou pelos fatores externos. Mas o que fazer para facilitar o processo?

Mudas! Elas são uma forma de cultivo que nos revelam o estado do desenvolvimento da planta, antes do transplante para o solo. Enquanto a gente cuida do nosso solo, acolhemos a semente e, pouco a pouco, vamos nos cultivando reciprocamente para entender se o plantio tem potencial para dar frutos ou não.

Crescer

Crescer sendo amado

Às vezes eu me pergunto qual é o impacto de crescer sendo amado na vida de um ser humano.

Todos os dias eu me despeço da minha primogênita declarando meu amor por ela. É emocionante receber um sorriso como resposta e não questionamentos do porquê, ou dúvidas sobre a veracidade das minhas palavras. E porque ela duvidaria? Crianças são surpreendentemente hábeis no acolher, nos acolher, o que nos impulsiona naturalmente a amá-las ainda mais.

Adultos? Adultos são mesquinhos, contabilizam seus “atos o amor”, transformando-o em mercadoria. Esquecem que o valor do amor está na sua intrínseca gratuidade. Ao menos o àgape*.

Na relação com a criança o amor é puro, ama porque ama e não pode nada além de amar. E parece que quando esse amor é elemento constitutivo do crescimento de alguém, existe uma facilidade de gerá-lo proativamente, sendo capaz de transformar as relações.

Sem gratuidade e proatividade não existe amor. O que existe são indivíduos que almejam exclusivamente serem amados, simples consumidores.

* O amor ágape é aquele tipo de amor que não busca seus próprios interesses, é um amor desinteressado, puro e genuíno. O amor ágape não esmorece, mas é constante e permanece forte até às últimas consequências, é um tipo de amor invencível, capaz de amar o mais indigno dos homens.

O ser é no caminhar

Faz quase cinco anos que deixei o Brasil para me aventurar, com minha família, em outro continente, outra cultura. Nesses anos como estrangeiro, a mais incrível revelação que a vida me presenteou foi o entendimento de que deixar tudo é, primeiramente, aprender a deixar-se. É estar disposto a negociar a própria existência e a bagagem acumulada pelas experiências anteriores para crescer, dilatando o próprio coração.

Quando esse desafio de “perder-se” faz parte de um percurso gradual de abertura e descobertas, parece que sentimos menos o peso daquilo que se deixa. Não é ausência de sofrimento, porém. Mas com serenidade e discernimento a gente aprende a fazer do tempo um valioso companheiro no processo de ressignificação de quem somos em um ambiente novo.

Alguns dias atrás, conversando com uma amiga sobre a dificuldade dos jovens (europeus) de tomar decisões em um contexto repleto de alternativas, percebi que a ânsia pelas respostas acaba concentrada nas faculdades intelectuais. Durante aquele bate-papo, revisitei espontaneamente a minha história e me dei conta de muito pouco daquilo que forjou minha identidade até aqui foi fundado em sínteses intelectuais. Foram as experiências, os encontros e as relações que me fizeram descobrir o propósito da minha vida, que se traduz naquilo que eu sou. 

“Nossa cultura ocidental se configurou de modo em que muita gente se interessa e se preocupa mais com o ser do que o acontecer”. Essa frase do teólogo espanhol José M Castillo me fez pensar justamente na metodologia que me foi apresentada pela Fé cristã e que me impulsionou a sair de mim e ir ao encontro do outro. Dessa forma, edifiquei minha juventude no partilhar, no encontrar diferentes pessoas, de diversas culturas e com distintos ideais. E no acontecer desses encontros, fui forjando quem eu sou, amadurecendo valores fundamentais. 

Por meio das relações, encontrei a direção, o calçado apropriado para percorrer os longos caminhos, cheios de desafios, decisões, frustrações, alegrias, surpresas que dão sentido à minha vida. 

O que fica de mim, é você

Admito que nunca tive dificuldade de exprimir meus sentimentos em palavras. Claro que é preciso considerar os anos de treinamento diário e o fato de que, quando mais jovem, eram mais amenas as distrações e os instrumentos tecnológicos que encapsulam o manifestar dos sentimentos genuínos.

Escrever sempre foi transformar. Informar. Dar forma. Trazer parte de algo ou alguém, de dentro, e revelá-los para quem (me) lê. Mas somente a parte que o momento ilumina e ajuda a enxergar, não “o todo”, pois não é possível.

Comunicando, revivo as relações que construí.

O relacionamento construído comigo mesmo. O quanto (e o quando) me aceito limitado, preguiçoso ou incapaz de crescer. O reconhecer as conquistas sofridas e o me dar conta da minha unicidade.

Mas sobretudo o que construí com os meus iguais. O suportar dos limites alheios, da ignorância e da indiferença. O prazer de partilhar a vida com alguém, de gozar o “amar e ser amado”.

Nenhuma conclusão nova. Para que cultivar esse tipo de pretensão?

Este é só um lembrete em pixels de que o que fica em mim, é você.

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