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O beijo de Deus na alma

beijo de Deus

 

Alguns minutos após publicar a mensagem acima, tive meu perfil do Facebook invadido com centenas de curtidas e dezenas de mensagens de amigos de todas as partes do planeta. Fiquei espantado com as palavras de carinho até mesmo de gente que não vejo há muito tempo.

Viver pelos outros tem sido o projeto de vida da família que eu e minha esposa Flavia estamos construindo juntos. Foi esse o grande fundamento das nossas escolhas até aqui. Foi também o motivo que nos levou a casar e começar nossa vida em família no Brasil. Dois anos depois, fez com que deixássemos tudo para uma missão de três meses na Costa do Marfim e em seguida voltar para Suíça para estarmos próximos da “outra” família e para que a Flavia fizesse o mestrado dela e assim poder servir melhor a sociedade.

Através dos nossos trabalhos e em família optamos pelas pessoas. Porém, vivenciar o desenvolvimento de uma “pessoinha”, fruto do nosso amor, no ventre da minha esposa tem sido algo tão incrivelmente maluco que eu só consigo pensar em uma palavra quando tento traduzir essa experiência para as pessoas próximas: milagre.

Estou procurando me preparar para viver bem esse período. Sou do tipo de pessoa que gosta de ler, ouvir o testemunho de outros casais, para que tudo transcorra da melhor maneira possível. Contudo, a falta de certezas e também o fato de ainda não poder sentir fisicamente a presença da minha esperada filha obriga-me a confiar Naquele que sempre conduziu os nossos passos.

Uma lembrança marcante não tem saído do meu coração ultimamente. Há quase um ano, tivemos o privilégio de estar próximos de um casal de amigos-irmãos brasileiros no momento em que eles se tornaram pais. No dia seguinte ao nascimento, ainda no hospital, nos encontramos com o novo pai que, com lágrimas nos olhos, traduziu aquela experiência com a seguinte expressão: “um beijo de Deus na alma”.

Olhando para os rostos daqueles amigos tão amados e sua filha senti uma onda de felicidade indescritível. No fundo eu sabia que só entenderia tudo aquilo quando fosse a minha vez. Falta pouco, mas não vejo a hora de eu também ser beijado na alma.

 

De volta à Ásia

Mais uma viagem. Mais um país. Mais uma cultura.

No percurso em direção à Bangkok, onde eu e meus colegas de ACT Alliance de todo o mundo estávamos reunidos para o nosso encontro anual, foi difícil não sentir o coração apertar ao sobrevoarmos Iraque e Síria.

Desde que comecei a trabalhar nessa ONG que se ocupa, entre outras coisas, de responder ao clamor dos povos mais vulneráveis do nosso tempo, tenho relativizado novamente muitas coisas na minha vida. Não me basta mais a ingênua satisfação de ter uma vida equilibrada e estável, é preciso também fazer algo para aqueles quer tiveram a dignidade roubada pela guerra.

Poder doar meu tempo, energia e talentos para diminuir um pouco do sofrimento desses povos, me faz sentir – talvez egoisticamente – orgulho. Quero pertencer a um grupo de pessoas que procura fazer algo de bom para os outros, mesmo se, no fundo, quase irrelevante de tão pequeno.

11 anos depois visito novamente o continente asiático e, de novo, tragicamente, presencio meus irmão de Aceh (Indonésia) chorar mais vidas perdidas devido a uma catástrofe natural. Esse e outros acontecimentos de 2016 não têm me deixado esquecer que a vida é uma dádiva. Cabe a cada um vivê-la plenamente, não só para si mesmo, pois estamos todos de certa forma ligados uns aos outros.

Reflexões pós COP22

Daqui a pouco pego o avião de volta para casa após ter vivido minha segunda COP (conferência global onde governos discutem as estratégias para combater as mudanças climáticas). Diferentemente da primeira experiência, dessa vez estava mais por dentro das negociações e da importância em dar prosseguimento ao processo potencializado pelo Acordo de Paris, no ano passado. Porém, como grande parte dos jovens da minha geração, tive dificuldade de não projetar minhas expectativas de sucesso nos negociadores reunidos em Marrakesh.

As conferências organizadas pelas Nações Unidas são em si mesma uma excelente escola. Esses espaços políticos de diálogo permitem SIM decisões importantes, mas eles não passam do terraço de um edifício que precisa ser construído com as bases nas comunidades e no protagonismo individual de cada cidadão desse planeta.

Recentemente escrevi em um blog para organização em que trabalho onde enfatizei que, quando você entra em contato direto com as comunidades que já estão sendo afetadas pelo pelos efeitos da mudança climática, é bem mais fácil entender o senso de urgência, pois se tratam, acima de tudo, de seres humanos como todos nós. Consumir desenfreadamente, acumular, não partilhar, desperdiçar, são verbos que têm construído a preocupante narrativa que estamos escrevendo para o nosso planeta. Contudo, a natureza não perdoa e, cedo ou tarde, ela vai nos obrigar a mudar nosso estilo de vida.

Novos paradigmas precisam nascer do indivíduo, encontrar força na comunidade local/regional, até chegarem aos governantes como parte de um movimento crescente. Não dá para achar, burramente, que o mundo vai mudar graças a boa vontade de alguns engravatados reunidos por duas semanas em algum canto do mundo. Coexistência sustentável é um processo difícil e desafiador. É uma luta que exige o esforço conjunto de todos, onde ninguém pode ser deixado para trás.

Volto para casa mais consciente do meu papel individual, mas também da minha responsabilidade comunitária. Quero continuar trabalhando na sensibilização de pessoas e governos para alertá-los que a mudança climática ainda vai ter um impacto dramático em nossas vidas. Agora é uma questão de justiça para com as comunidades mais vulneráveis. Em alguns anos será uma questão de sobrevivência para todos nós.

Voto: direito fundamental ou habilitação?

voto
Ontem, durante o jantar, tive uma ideia um tanto quanto original a respeito de como podemos tentar recuperar o valor do voto como verdadeiro instrumento de participação política: em vez de considerá-lo um direito fundamental, porque não transformá-lo em “habilitação”, igual à que precisamos tirar para poder dirigir.

Em linhas gerais funcionaria assim. Com 16 anos, um jovem estaria apto a se inscrever , gratuitamente, para adquirir a sua habilitação de eleitor. A partir de então, ele seria obrigado a fazer um “CFC da política”, um curso de uma semana que explicaria os princípios que regem uma democracia; o funcionamento dos partidos políticos; as leis; o parlamento e quais são os instrumentos de participação. Após o curso, o candidato deveria se inscrever para a “Prova Teórica” onde seu conhecimento básico a respeito do que foi ensinado previamente seria avaliado.

Caso aprovado, o futuro eleitor receberia uma “habilitação provisória”, obrigando-o a participar das duas eleições seguintes (depois o voto não seria mais obrigatório). Nessas duas primeiras experiências, o eleitor deveria participar de grupos de debate e aprofundamento, para entender mais a respeito das questões ligadas à atualidade política do país. Após esse período provisório, o jovem finalmente receberia a habilitação definitiva.

Em caso de uso indevido dos direitos políticos, como crimes ligado à corrupção, que deveriam ser estipulados pela Justiça, ele poderia ter a habilitação suspensa ou em casos graves, retirada. Após os 70 anos, o eleitor também passaria a ter seus direitos de eleitor limitados à esfera local ou regional, para que não aconteça casos como o do Brexit, em que uma grande parte da população idosa acabou determinando o futuro – indesejado – da juventude da Grã-Bretanha.

Tenho dúvidas se tudo isso faz sentido. Você acha que seria uma boa ideia? Daria certo no Brasil?

Rir para não chorar: refletindo a crise brasileira

rir

Graças as maravilhas tecnológicas desse mundo globalizado eu, do outro lado do Atlântico, pude acompanhar a sessão na Câmara dos Deputados que sacramentou o primeiro – e importante – passo para o impeachment da senhora presidenta Dilma.

Não vou entrar muito em detalhes e nem quero discutir a metodologia extremamente questionável adotada pela Oposição, mas nesse momento turbulento, considero necessário que a Dilma e o partido que a sustenta sejam afastados do governo Federal. No entanto, a maneira ridícula e vergonhosa como a votação em prol do impeachment se desenvolveu no último domingo me fez rir. Rir para não chorar.

Rir porque, em nome de Deus, da família, do cachorro, do neto, do ditador, dos médicos, agricultores e etc, os nossos parlamentares perderam uma excelente oportunidade de explicar o porquê acreditam que a presidenta deve ser investigada; porque o impeachment não é golpe, pelo fato de estar previsto na Constituição, e de que forma o afastamento dela é, para eles, um avanço no que eles chamam de democracia. Eu juro que estava curioso e esperançoso para ouvir alguém com uma boa explicação, que clareasse esse momento sombrio em que o Brasil se encontra.

Ri também porque, na verdade, o problema maior está «no dia depois». Em quais mãos o meu amado país vai estar com a saída da Dilma? Do Temer? Do Cunha? Do Aécio? Do Maluf? Do Tiririca? Do Bolsonaro? As coisas podem sim piorar, por outro lado, isso não pode servir de desculpa para acharmos que do jeito que está, está ótimo.

Eu quero que a situação do país melhore. Ponto. Por mais que reconheça e, de certa forma, admire a coragem e o pioneirismo do olhar social promovido pelo velho PT, acho que uma mudança agora é fundamental para o bem do país. Não dá para garantir que quem vai vir será muito melhor do que quem está. Em certos aspectos sim, outros não. Mas a mudança sempre traz esses dois lados: o positivo e o negativo (Eu seria muita prepotente em achar que só um lado é capaz de ter bons projetos para o desenvolvimento do país).

Infelizmente, hoje, o argumento da idoneidade moral dos políticos brasileiros está fora da discussão. Se, ao mesmo tempo, tento acreditar que nem todo político é ladrão, por outro lado tenho a impressão de que grande parte dos corruptos estão, neste momento, se digladiando pelo poder em nossos governos. Por isso, creio que o foco agora é saber quem é capaz de administrar melhor o país na atual crise. Quem está disposto a encontrar formas de trabalhar com/para todos, ricos e pobres, maiorias e minorias, religiosos ou ateus. Sei que não é o Temer, ou o Cunha, o Aécio e os que são réus da Lava Jato. Sei que também não é a Dilma, pois ela teve a chance dela e, aparentemente, falhou feio.

Uma das grandes descobertas que tenho feito, vivendo em uma outra cultura, com uma democracia menos complexa e mais consolidada, é a importância do ambiente pluripartidário. Um governo que dá espaço para diferentes vozes é enriquecido pelas diferentes ideias, estratégias, mas, sobretudo, é obrigado a trabalhar constantemente pela busca do consenso, visando o bem de todos. É esse o meu maior desejo para o Brasil. Um país onde seus governantes busquem o melhor para todos, respeitando as diferentes ideias e estratégias. Acreditar nisso parece bem distante depois do show bizarro promovido pelos nossos deputados. Mas, tudo é caminho e precisamos ter coragem de, juntos, percorrê-lo.

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