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[vidaloka] Escolhas fundamentais

vidafraterna

Hoje comecei a refletir sobre as escolhas existenciais do ser humano partindo dos pressupostos científicos apresentados pelo modelo Galileiano de “sensíveis experiências” e “necessárias demonstrações”.

Fala-se de liberdade, de escolhas, de responsabilidade, protagonismo… mas onde começam as nossas escolhas fundamentais? Por onde posso me guiar para que os conhecimentos adquiridos por meio das “experiências”, permaneçam e sejam gradativamente enriquecidos.?

Foi aí que cheguei à primeira pergunta: Onde se encontra a gênese das minhas escolhas como ser humano? Nascer? Não! Isso já mostra que a minha vida é fruto de uma “comunhão”[comum união] entre os meus pais, condição primária de todo e qualquer ser humano.

Ok, não sou eu que escolho se entro ou não no “xadrez existencial”, então qual é a minha primeira decisão consciente? [não aquelas que fazem por mim até que eu esteja pronto].

VIVER, foi a resposta!!! Posso escolher entre viver ou não, mesmo que essa segunda opção também pode ser condicionada externamente.

Interessante para mim pensar que no desdobrar dessa vida “escolhida”, vejo no seu horizonte “finalístico” o almejado desejo de Felicidade. O difícil, contudo, é me dar conta de que a partir do momento em que ESCOLHO viver, surgem outras infinitas possibilidades de caminhos que levem a essa Felicidade.

Protagonismo sim, porém condicionado. Porque depois o “xadrez” não é jogado com uma única peça, depende de uma predisposição de outras “vidas” para garantir a vitória. Isso tudo me faz concluir que tanto como princípio ou finalidade, mas sobretudo metodologicamente, a Felicidade é viver em comunhão, fonte de verdade, de luz e segurança conquistada por com consciência, vontade, liberdade e responsabilidade.

Somos todos partes de um mesmo cosmo!

[vidaloka] É um só o amor – Encontro de Noivos em Castel-Gandolfo

É difícil resumir em poucas frases a intensa vida que tenho maravilhosamente o privilégio de “jogar”.

Pude saborear nos últimos dez dias uma experiência não só inédita mas simbolicamente decisiva para os passos que já sentia o desejo de dar, porém que exigia uma compreensão inteligível critica e não uma postura de confiança quase dogmática (sem querer banalizar a importância da fé no processo hermenêutico [de compreensão] pessoal).

Mas enfim, na semana passada participei com Flavia do encontro de namorados organizado pelo Movimento Famílias Novas, sub-estrutura do Movimento dos Focolares que se ocupa de formação no âmbito familiar.

Talvez, por curiosidade, alguém perguntaria a origem desse desejo tão grande de  viver algo desse tipo. Para quê um encontro de namorados! Porém, para explicar teria que expor todos os “impulsos” interiores e o sonho de não só ter alguém “pra conviver”, mas “pra construir uma vida junto”.

Esse desejo foi muitas vezes “bloqueado” por pessoas que acredito “bem intencionadas” pensavam que o melhor para mim era, ou me contentar com a inferioridade do matrimônio e por isso seguir uma vida de consagração ou não perder tempo com “beatices” e simplesmente aproveitar a vida “enquanto dure o amor”.

Claro que o fato de ser cristão, acreditar que as relações nascem de um “arqué” [princípio] transcendente e me sentir pronto para “dar a vida” para fazer com que outras pessoas experimentem o amor materno/paterno di Dio, talvez servissem de motivo para tais “incentivos”, mas internamente nenhum desses discursos conseguiu me satisfazer, sempre quis algo mais “humano”, “encarnado”, sempre quis construir uma Família (com F maiúsculo).

Durante esse encontro, pela primeira vez na minha (não tão) jovem vida, recebi uma resposta satisfatória aos meus anseios. Claro que sabia e sentia que ela existia, mas não havia ninguém até o momento capaz de mostrar a beleza, a radicalidade e o imenso desafio que nasce de uma vida “a dois”, baseada pela antecedente escolha totalitária de Deus.

Encontrar a minha vocação nas palavras de Chiara Lubich e sentir o coração “queimar” de alegria, experimentando uma enorme paz e também o temor da grandeza desse chamado, foi certamente o momento mais especial desde que cheguei na Europa.

A grande descoberta, depois, foi entender que a vocação do “casado” não nasce sozinha. Ninguém é simplesmente chamado a casar, mas casar COM ALGUÉM, o que implica não só uma anterior vontade individual, mas um passo posterior que nasce do amor recíproco, que depois se realiza plenamente “no Sim do altar”.

Porém, o “fantástico” do encontro de namorados foi perceber que aquele SIM é só o começo de uma aventura misteriosa, maravilhosa, feita de alegrias e também de dores, crises, desafios, crescimento, mas existe por acaso ressurreição sem morte? Alegria sem dor? Verdade sem contradição?

É interessante pensar que talvez grande parte dos meus amigos não relacionem felicidade com sofrimento e decisão com vocação. Nas escolhas simples, mas sobretudo nas complexas, profundas.

Depois desse encontro “bello” é preciso VIVER. Com Flavia decidimos continuar na busca e no crescimento recíproco da vida em comunhão, como preparação aos passos concretos que queremos dar no próximo ano. O interessante é que logo depois estivemos juntos por mais quatro dias para comemorar o meu aniversário juntos e ali pudemos já experimentar de maneira intensa tanto a alegria, como o desafio que é a vida construída juntos.

Felicidade, depois, é justamente ser fiel ao sentimento profundo que nos leva a busca da Verdade, as vezes quem está ao nosso lado é Luz, as vezes sombra, mas tudo concorre na “travessia do túnel”.

[vidaloka] Vida, estudo e introspecção

Passadas as duas primeiras semanas de aula do segundo semestre, do primeiro ano de mestrado na Itália, o cansaço já se transformou em companheiro, mas não ainda “incomodo”, pois as energias ainda estão “carregadas”.

Os dias na maravilhosa Soglio foram as minhas merecidas férias depois do período intensíssimo vidio desde o começo do mestrado.

O estudo se transformou no meu trabalho cotidiano… oito, nove horas por dia de mergulho no mundo da filosofia, economia, política, teologia, lógica… base sólida nas áreas da trilogia “T-F-C” (teologia, filosofia e ciência) que ajudam a ver o mundo com uma intensidade e profundidade novas.

A saudade do Brasil é bem pequena… talvez porque a convivência com outros brasileiros, muitos deles amigos “de longa data”, a língua, a comida, não me distanciam muito das minhas raízes.

Também a ligação e identificação cultural com a minha segunda pátria – Confederação Helvética – me faz sentir sempre “a casa”, além dos laços afetivos que já me transformaram definitivamente. Fechar os olhos e me dar conta do quão caras se transformaram as amizades, relacionamentos construídos no último ano, me confirmam as previsões do que penso a respeito do verdadeiro sentido de “casa”.

A Europa não é o meu continente natal, a cultura se aproxima, mas é essencialmente diferente pois não pressupõe dissonâncias sociais evidentes – como no Brasil (mas é uma experiência que os europeus estão sendo constrangidos a fazer com o fluxo de migração do leste europeu e do norte africano) – , porém já me sinto profundamente inculturado depois desses quase 10 meses.

O que me liga ao Brasil é substancialmente as pessoas, os relacionamentos construídos e insubstituíveis, mas sinto que é uma ligação que não é afetada com a distância mesmo que exija também o esforço do contato, das orações…

Daqui há 20 dias conclui-se o meu 26º ano de vida… talvez o mais intenso, mais feliz, mais determinado no sentido de “busca daquilo que considero FELICIDADE”.

Percebo que mesmo diante dos meus limites, do meu ser “desgraçado”, se me esforç, posso ajudar a transformar o ambiente que vivo. É só concentrar-me no exercício constante de viver “em relação”, não absolutizar meus problemas, “sair de mim”.

Talvez a grande descoberta desses últimos dias é a natureza “arquetípica” do princípio de relacionalidade. A verdade, a felicidade, realização verdadeira, nasce não só em conseqüência dela relação, mas no momento que essa se dá. No diálogo concentrado no amor recíproco, gratuito, puro. Algo pra aprofundar… certamente….

[vidaloka] Devaneios pseudo-intelectuais

Soglio – Sul da Confederação Helvética

O tempo vai passando e a experiência no Istituto Universitario Sophia vai ganhando sempre novos aspectos… não, talvez seja melhor dizer que “começa a afunilar uma compreensão mais sensata e sintética de “ciò che vale” (daquilo que importa)”.

Algumas experiências que vivi nos últimos cinco anos me ajudaram a clarear hermeneuticamente aquilo que sempre busquei, mas faltava um amadurecimento intelectual, cultural, que só Sophia poderia me dar. O maior desses processos de “intelectualizar”, por meio de um enfoque fenomenológico, é a respeito conceitual do amor.

Sophia me fez entender culturalmente que este é principio e não condição. É contemporâneamente sujeito e objeto das relações interiores e exteriores de cada individuo.

Não dá pra pensar em amor como um “SE”. Se quero, se sinto, se estou disposto. A lógica do amor (ágape) está no amar e isso não nos faz final e qualitativamente mais felizes, mas primeiramente nos permite SER! É principio.

O processo de busca filosófica que passou da concepção de uma Verdade que é fora, para algo que é dentro de nós, com Decartes, nos ajudou a descobrir justamente a objetividade e subjetividade do amor.

Não basta amar como mecanismo funcional, é necessária uma primária interiorização, uma busca interior da gênese e a conseqüência desse amor. Até aí a filosofia do sujeito acompanhou o mesmo desenvolvimento que a mensagem religiosa propunha, e que se realiza na figura do Cristo.

Mas a incapacidade de ver o aspecto relacional (subjetivo), imprescindível para que seja possível encontrar o sentido da vida, transformou a interiorização em movimento uniforme.

Existem duas vias para viver concretamente o amor, come principio individual e relacional: a via da verdade e da felicidade. (Bendito Aristóteles que mais de dois mil anos atrás já tinha entendido tudo isso!)

O amor, principio profundo de cada coisa, nasce no coração de cada ser humano, mas leva à verdade – “revelação”, quando está em dialogo recíproco. O intelecto, como vimos com o desenvolvimento da ciência moderna, nos permite sim buscar em nós e na natureza, nos fenômenos, a origem da verdade, mas somente em contínua simbiose entre a Criatura é que essa verdade se personaliza, objetivamente e não relativamente como descreve o pensamento filosófico contemporâneo.

Chegando na Verdade, aonde se busca a felicidade? Em nós! Que se materializa na rica multiplicidade que nos faz mais ou menos propensos a desejar-la na presença física ou espiritual “de alguém”. (diminutamente descrevo como: amor mediado «casamento» ou finalizado «consagração», ciente de que existem outras complexidades no que diz respeito ao caminho vocacional)

È possível encontrar a felicidade sozinho, em uma “solidão” física (a monástica, por exemplo), mas é impossível ser feliz espiritualmente sozinho. Fomos feito uns para os outros, para estar em relação, ligados ao menos espiritualmente, pois essa é a única possibilidade de viver imerso naquela Verdade (sentido da vida) almejada por todos.

O amor é sujeito pois essa relação com “o outro” existe enquanto relação de amor, e é objeto porque, não existe amor, sem o ser amado. Amor é relação.

Interessante e difícil explicar uma realidade interior, mas é um exercício cultural que cada estudante de Sophia é convidado à fazer, até que esse princípio “possa ser «matematicalizado»” e finalmente se transformar em cultura, trasnformando a sociedade.

Ocidente 2.0

“No nosso mundo ocidental”. “Nós, ocidentais”. “O ocidente”.

Há algum tempo sinto o estômago embrulhar quando vejo já “substantivado” esse adjetivo que cada vez mais identifico como preciosismo* intelectual.

Deixando de lado a classificação com relação as origens substancialmente culturais, observo pessoalmente que a Europa e os Estados Unidos debatem as questões mundiais auto denominando-se “ocidentais”, com um aparente desprezo pelos outros percursos sócio-culturais.

O aspecto demagógico e paradoxal dessa postura “superior” se desenha  quando, analisando esse “ocidente”, si constata que a sua racionalidade científica, que quantificou as relações do homem com o mundo, foi tão “absolutizada” ao ponto de extinguir-se, de não ser capaz de colocar respostas que emancipam qualitativamente, no sentido profundo do ser “pessoa”, a vida do homem contemporâneo.

Mas o que considero o mau maior dos auto-determinados “ocidentais” é a crença de que as respostas para o mundo, no âmbito sócio – econômico – político, não teriam outra gênese, outro berço seguro que proporcionasse o desenvolvimento do bem estar social.

Bem estar ok… talvez americanos e europeus são aqueles que economicamente desfrutam do bem estar que o capitalismo produz. Não é uma constatação marxista, é um dado objetivo. Segundo as Nações Unidas quase 90% da riqueza do mundo está sob o controle de moradores da América do Norte, Europa e dos países de renda elevada na região Ásia-Pacífico, como o Japão e a Austrália. Mas se o argumento trata de “bem comum” tanto a economia, quanto a política desses países têm aplicações “subdesenvolvidas”. Toda a riqueza concentrada, o bem estar desses países, não levam ao bem social almejado. O mapa das taxas de suicídio da Organização Mundial de Saúde mostra que esse é mais praticado justamente nos locais onde está a riqueza mundial.

A objetividade desses dados me faz justamente refletir sobre essa postura “ocidental” [para continuar jogando com o termine] de querer dar todas as respostas às questões mundiais. Esse paternalismo colonizador ainda hoje é presente nas reflexões e na relação com as “colônias de pensamento”.

Criticar a democracia latino-americana, a falta de escrúpulos (e a demência – opinião minha) de Hugo Chavez não parece ter os mesmos “pesos e medidas” no confronto com o approach ocidental da política de Berlusconi. Incapaz é a mentalidade latino-americana, extra comunitária. Capaz é o percurso ocidental, originário, que culmina no grande e invejável político italiano Silvio Berlusconi.

Pensar política, economia… pensar a sociedade hoje exige sim respeito as origens e aos avanços que vieram do Ocidente 1.0, e também do oriente e das culturas tribais africanas e indígenas que estão na raiz da sociedade latino-americana. Mas disso, a acreditar que é exclusivamente a sociedade dita “ocidental” a poder dar todos os caminhos para o desenvolvimento do bem comum do planeta é minimizar a problemática.

Tenho pensado muito nisso e mesmo sem terminar essa reflexão já fui chamado de marxista. Mas não sou. Acredito que uma premissa necessária seja o respeito e principalmente a “escuta” das compreensões e impostações particulares que o mundo “fora do ocidente” faz do pensamento político – econômico – social contemporâneo e também ao seu amadurecimento com problemáticas específicas, que muitas vezes nos distanciam da realidade “ocidental”. (O pensamento democrático latino-americano, por exemplo, há uma experiência histórica quase irrisória em relação àquela secular européia).

Vejo que grande parte dos intelectuais e pensadores que se confrontam sobre esse tema nem sempre esperam que seus interlocutores terminem a frase de indagação e já aparecem com respostas prontas, analiticamente perfeitas, mas pouco construtivas. (não vejo muita iniciativa de produção de reflexões. Meus colegas de profissão estão mais acostumados a criticar – o que é relativamente mais fácil).

Mas voltando ao tema… Não penso que seja desprezível estudar Feudalismo, Revolução Industrial, Francesa ou Hobbes, Locke. Claro que é importante. Mas sinto um pouco de falta de compreensão de como a influência ocidental ajudou a construir a nossa sociedade, brasileira, latino-americana: o nosso ocidente.

Decidi escrevi tudo isso porque, no final das contas, me sinto responsável na busca de caminhos que levem a nossa sociedade – local e globalmente a, não exclusivamente ao bem estar econômico, político, mas ao bem comum, ao princípio filosófico da Felicidade.

*s.m. Requinte no falar ou no escrever.

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