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De bike ao trabalho!

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Todos os dias eu me levanto às 7h, me troco, tomo meu cafezinho e saio pedalando com a minha bike.

Mesmo tentando, é difícil explicar a sensação de liberdade que existe em ser ciclista em uma cidade como São Paulo. Buscar a difícil interação entre as pedaladas, buzinadas, “fechadas” e freadas é um desafio que exige respeito com a dinâmica do trânsito.

Como ciclista, eu não busco ser “senhor das ruas”, mas procuro me adaptar ao contexto existente para ser instrumento de melhoria e não mais um estorvo no caos do trânsito.

Depois de pedalar meus 7,5km, passando por lugares históricos da cidade, observando meu povo, chego ao trabalho feliz, bem disposto.

Tomo um banho quente e, assim, começa mais um dia de trabalho.

Todo dia é assim, felizmente.

Quando o ódio sobrevive!

Tamerlan Tsarnaev recebe troféu em universidade do Massachusetts, em 2007 Julia Malakie / AP

Tamerlan Tsarnaev recebe troféu em universidade do Massachusetts, em 2007 Julia Malakie / AP

Depois do triste acontecimento em Boston onde, supostamente, dois jovens de origem chechena armaram duas bombas durante a maratona da cidade, parece que o mesmo ódio que impulsionou o ato terrorista, ainda vive entre os cidadãos afetados pelo episódio dramático.

Passado quase um mês do terrível ataque, algumas cidades do estado de Massachusetts (nordeste dos EUA) se recusam a enterrar o corpo de um dos acusados, Tamerlan Tsarnaev, de 26 anos. Esse comportamento adotado por alguns cidadãos americanos evidencia alguns aspectos importantes e ilustra tamanha capacidade de desumanização, ao ponto de suscitar o desejo de vingança até mesmo de um corpo inerte.

O homo sapiens é o único animal que enterra seus iguais. O enterro é sinal antropológico dessa humanização. Até mesmo em conflitos bélicos enterram-se os inimigos como, talvez, uma maneira de encerrar a disputa. Negar-se enterrar o corpo de Tsarnaev é também uma demonstração de ignorância, de ódio cruel, mas é, sobretudo, um comportamento que dá continuidade a um acontecimento triste, que já devia ter sido enterrado.

Além dos aspectos mencionados, existe outro, mais sério. Não é a primeira vez que um crime dessas proporções surge internamente nos Estados Unidos. O massacre de Columbine, em abril de 1999, no estado do Colorado, Estados Unidos, é talvez o caso mais chocante. Na ocasião, os estudantes Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta, atiraram em vários colegas e professores do Instituto Columbine, matando 13 deles.

Ambos eram americanos. Não existia aqui a “desculpa” de serem de origem chechena, árabe, norte coreana, iraniana e assim, mesmo tendo cometido um crime horrendo, os jovens tiveram seus corpos sepultados no país. A renúncia do sepultamento do corpo de Tamerlan Tsarnaev, que vivia há mais de 10 anos nos Estados Unidos e tinha visto permanente é também uma omissão, como sociedade, da própria parcela de culpa neste acontecimento triste.

Um ato terrorista é, sobretudo, um ataque institucional, movido pelo ódio ou ideologias políticas que, ao meu ver, podem ser superados com a igualdade de direitos, a tolerância, o respeito e a consciência de que, independente de onde estamos, somos parte do corpo social. Algo faltou aos jovens de origem chechena que, claro, não torna menos injustificável o ato terrorista, mas que deve servir de alerta à sociedade, como um todo, de que o ódio fundamentalista precisa ser combatido com a fraternidade.

O perigo do Jaborismo

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Todas as manhãs, quando saio de casa, escuto os comentários do sr. Arnaldo Jabor na rádio CBN.

O fato de que o seu discurso, muitas vezes, me tira do sério, me provoca, mostra que Jabor comunica, pois a mensagem chega, chacoalha, independente do teor político dela. Contudo, o que a analise do conteúdo tem me feito pensar, é a respeito da periculosidade do método adotado pelo interlocutor.

A nossa “democracia adolescente” tem buscando, ao longo dos anos, desenvolver-se, ampliar seus protagonistas, para que o Brasil, tão maravilhoso e rico de recursos, possa superar traumas passados, que ainda o faz acreditar ser “escravo da colonização”.

Aquilo que o sr. Arnaldo Jabor faz, como comunicador, deferindo comentários agressivos, na forma e conteúdo,  é sacrificar os avanços de um debate fraterno entre “as partes”, fazendo subsistir o dilema dialético, defensor de um conflito destrutivo para se chegar a síntese.

Parece-me, contudo, que a condição de um saudável processo de tomada de consciência é o entendimento responsável entre as formas particulares de vislumbrar um sistema politico.

O perigo do “Jaborismo” é justamente impossibilitar o diálogo, estabelecendo uma distância conflituosa que não permite o crescimento, ou melhor, o consenso. Esse fenômeno se vê ilustrado nas muitas páginas de facebooks, em que “amigos” virtuais usam imagens ofensivas, vídeos ridicularizantes e comentários esdrúxulos, para atacar os representantes políticos eleitos.

Ninguém deve concordar com tudo o que o governo faz, fala! Eu mesmo não concordo! Mas a democracia exige o respeito à diferença e não só liberdade de expressão.

Um professor meu da “laurea magistrale” na Itália, Antonio Maria Baggio, defende a tese da fraternidade como “princípio esquecido” da politica. Assim, exalta-se a igualdade de direitos, a liberdade de direitos, mas não se pensa que ambos precisam ser lidos na ótica de um comportamento fraterno, capaz de respeitar, com maturidade “adulta” a ontológica diferença do “outro”.

Todas as manhãs, quando escuto Arnaldo Jabor, percebo com tristeza, que nossas manifestações democráticas, como a nossa democracia, ainda são profundamente adolescentes.

Eliane Brum no Provocações

Programa 553 com a repórter Eliane Brum – 19/03/2013

eliane e abujamra

Antes de ir conferir no wikipedia, poderia jurar que a jornalista Eliane Brum é gaúcha, pelo sotaque e pelos “tiques regionalistas” que eu só encontrei nos meus amigos do extremo sul do Brasil.

E eu acertei.

Natural de Ijuí, pequeno município gaúcho de quase 80 mil habitantes, Eliane Brum é hoje colunista da revista Época. Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), em 1988, Eliane ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem.

Já havia visto que muitos dos meus colegas jornalistas “partilhavam” alguns dos seus textos na rede social, mas nunca tive o desejo de parar para lê-los. Contudo, quando vi que o grande Abujamra tinha entrevistado Eliane, fui correndo assistir, almejando descobrir os motivos de tanto prestígio.

Diante de Abujamra, Eliane Brum falou de jornalismo e humildade, escuta, silêncio, lembrando-me do livro que estou lendo atualmente, do “mass-midiologista” italiano Michele Zanzucchi: “Il silenzio e la parola. La luce”, que apresenta justamente o silêncio como “principio esquecido” na profissão do jornalista.

“Eu não falo daquilo que eu não vou ver”. “A periferia e a Amazônia são abstrações”. Duas frases, que no discurso de Eliane não estavam diretamente ligadas, mas que têm quase uma relação causa-consequência ao inverso. Hoje, grande parte da população rica do país e também os “pobres ignorantes” exclui o contexto periférico das cidades, da sua concepção de espaço publico. E mesmo os intelectuais que defendem os direitos dos marginalizados, tiram conclusões por meio de livros, notícias de jornais… transformando a ignorância em cultura.

Sinceramente, não achei a Eliane uma boa entrevistada. Mais pelo jeito um pouco irritante, o tom de voz e uma certa antipatia. Provavelmente ela se dá melhor entrevistando. Contudo, é inegável a importância do seu discurso, sendo assim um programa que vale a pena ver.

Bloco1:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=_TVkVc8MoVQ]

Bloco2:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=uyyVy052LgA]

Bloco3:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0T3VqVYpQkQ]

Morar fora? Pra que?

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Eu passei quase metade dos últimos 10 anos vivendo no estrangeiro. O “glamour” desse fato, porém, se desfaz no que acredito serem as principais riquezas dessa experiência: o árduo exercício de “inculturação” e a valorização da própria cultura.

Quando nos limitamos a viver em um espaço físico reduzido, muitas vezes temos uma visão proporcional às coisas e o mundo. Ampliando os limites adquirem-se outras perspectivas, que nos transformam na essência e nos fazem ver que muitas experiências podem ser vividas de maneira completamente diferente e, mesmo assim, darem certo. É neste aspecto que se traduz a “inculturação”, completamente diferente de conhecer “o diferente” em passeios turísticos.

Adaptar-se a uma nova cultura é um exercício doloroso. Nesse processo de “perda” existe muita fadiga, revolta, sacrifício, mas que, quando superados, nos ajudam a crescer.

As maiores dificuldades são em relação ao clima, à comida e o idioma. Esse “triplo obstáculo” fundamenta qualquer processo de adaptação e se não for vencido, acaba transformando qualquer aventura em uma experiência traumática.

Depois dessa primeira fase, a vida no estrangeiro melhora bastante. Começamos a nos sentir bem, nos comunicar com os outros e, com isso, surgem outros dois novos desafios, menores, mas potencialmente destrutivos, se não forem lidados de maneira positiva: a não aceitação da diferença (ou a constante comparação) e a saudade.

Viver com “o diferente” nos leva constantemente a confrontar seus hábitos com os nossos esquemas psicológicos, construídos no processo de crescimento. A afetividade, abertura, seriedade, justiça, pontualidade… modos e valores… se plasmaram de maneira diferente em todo o mundo. A consciência (ou inconsciência) em relação a isso pode nos aproximar ou nos afastar da cultura alheia. Impedir-nos de entrar em profundidade, nos deixando simplesmente “fora” da vivência cultural.

As experiências que fiz me ensinaram a estar sempre aberto. Saber que “inculturação” exige, sempre, renúncia, mas que, por outro lado, promove benefícios profundos no nosso desenvolvimento.

Porém, mesmo o mais “inculturado” dos “estrangeiros” vai ter que aprender a lidar também com a saudade. Estar em outra cultura é sempre “estar em outra casa”. Nós temos raízes, origens, que nada é capaz de apagar. Basta ouvir alguém falando a nossa língua, usar a camiseta do nosso país, ouvir uma música ou encontrar alguém que conhece a nossa “casa” que a saudade “bate”.

E ter saudade é sinal de reconhecimento! É ter certeza de que somos de um determinado lugar, fruto de uma determinada cultura. Contudo, como qualquer sentimento, a saudade também pode ser controlada. Aprender a lidar com ela pode nos ajudar a redimensionar o significado de família, nação, casa.

Essa foi uma das experiências mais bonitas que fiz vivendo fora do país. Depois de tanto tempo longe, entendi que minha família, meu país, amigos, podem ser também aqueles com quem eu partilho cada momento, independente de onde esteja.

Superados estes desafios, descobre-se o quanto é bom morar fora. Uma experiência que todos deveriam fazer.

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