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[vidaloka] Vida, estudo e introspecção

Passadas as duas primeiras semanas de aula do segundo semestre, do primeiro ano de mestrado na Itália, o cansaço já se transformou em companheiro, mas não ainda “incomodo”, pois as energias ainda estão “carregadas”.

Os dias na maravilhosa Soglio foram as minhas merecidas férias depois do período intensíssimo vidio desde o começo do mestrado.

O estudo se transformou no meu trabalho cotidiano… oito, nove horas por dia de mergulho no mundo da filosofia, economia, política, teologia, lógica… base sólida nas áreas da trilogia “T-F-C” (teologia, filosofia e ciência) que ajudam a ver o mundo com uma intensidade e profundidade novas.

A saudade do Brasil é bem pequena… talvez porque a convivência com outros brasileiros, muitos deles amigos “de longa data”, a língua, a comida, não me distanciam muito das minhas raízes.

Também a ligação e identificação cultural com a minha segunda pátria – Confederação Helvética – me faz sentir sempre “a casa”, além dos laços afetivos que já me transformaram definitivamente. Fechar os olhos e me dar conta do quão caras se transformaram as amizades, relacionamentos construídos no último ano, me confirmam as previsões do que penso a respeito do verdadeiro sentido de “casa”.

A Europa não é o meu continente natal, a cultura se aproxima, mas é essencialmente diferente pois não pressupõe dissonâncias sociais evidentes – como no Brasil (mas é uma experiência que os europeus estão sendo constrangidos a fazer com o fluxo de migração do leste europeu e do norte africano) – , porém já me sinto profundamente inculturado depois desses quase 10 meses.

O que me liga ao Brasil é substancialmente as pessoas, os relacionamentos construídos e insubstituíveis, mas sinto que é uma ligação que não é afetada com a distância mesmo que exija também o esforço do contato, das orações…

Daqui há 20 dias conclui-se o meu 26º ano de vida… talvez o mais intenso, mais feliz, mais determinado no sentido de “busca daquilo que considero FELICIDADE”.

Percebo que mesmo diante dos meus limites, do meu ser “desgraçado”, se me esforç, posso ajudar a transformar o ambiente que vivo. É só concentrar-me no exercício constante de viver “em relação”, não absolutizar meus problemas, “sair de mim”.

Talvez a grande descoberta desses últimos dias é a natureza “arquetípica” do princípio de relacionalidade. A verdade, a felicidade, realização verdadeira, nasce não só em conseqüência dela relação, mas no momento que essa se dá. No diálogo concentrado no amor recíproco, gratuito, puro. Algo pra aprofundar… certamente….

[vidaloka] Devaneios pseudo-intelectuais

Soglio – Sul da Confederação Helvética

O tempo vai passando e a experiência no Istituto Universitario Sophia vai ganhando sempre novos aspectos… não, talvez seja melhor dizer que “começa a afunilar uma compreensão mais sensata e sintética de “ciò che vale” (daquilo que importa)”.

Algumas experiências que vivi nos últimos cinco anos me ajudaram a clarear hermeneuticamente aquilo que sempre busquei, mas faltava um amadurecimento intelectual, cultural, que só Sophia poderia me dar. O maior desses processos de “intelectualizar”, por meio de um enfoque fenomenológico, é a respeito conceitual do amor.

Sophia me fez entender culturalmente que este é principio e não condição. É contemporâneamente sujeito e objeto das relações interiores e exteriores de cada individuo.

Não dá pra pensar em amor como um “SE”. Se quero, se sinto, se estou disposto. A lógica do amor (ágape) está no amar e isso não nos faz final e qualitativamente mais felizes, mas primeiramente nos permite SER! É principio.

O processo de busca filosófica que passou da concepção de uma Verdade que é fora, para algo que é dentro de nós, com Decartes, nos ajudou a descobrir justamente a objetividade e subjetividade do amor.

Não basta amar como mecanismo funcional, é necessária uma primária interiorização, uma busca interior da gênese e a conseqüência desse amor. Até aí a filosofia do sujeito acompanhou o mesmo desenvolvimento que a mensagem religiosa propunha, e que se realiza na figura do Cristo.

Mas a incapacidade de ver o aspecto relacional (subjetivo), imprescindível para que seja possível encontrar o sentido da vida, transformou a interiorização em movimento uniforme.

Existem duas vias para viver concretamente o amor, come principio individual e relacional: a via da verdade e da felicidade. (Bendito Aristóteles que mais de dois mil anos atrás já tinha entendido tudo isso!)

O amor, principio profundo de cada coisa, nasce no coração de cada ser humano, mas leva à verdade – “revelação”, quando está em dialogo recíproco. O intelecto, como vimos com o desenvolvimento da ciência moderna, nos permite sim buscar em nós e na natureza, nos fenômenos, a origem da verdade, mas somente em contínua simbiose entre a Criatura é que essa verdade se personaliza, objetivamente e não relativamente como descreve o pensamento filosófico contemporâneo.

Chegando na Verdade, aonde se busca a felicidade? Em nós! Que se materializa na rica multiplicidade que nos faz mais ou menos propensos a desejar-la na presença física ou espiritual “de alguém”. (diminutamente descrevo como: amor mediado «casamento» ou finalizado «consagração», ciente de que existem outras complexidades no que diz respeito ao caminho vocacional)

È possível encontrar a felicidade sozinho, em uma “solidão” física (a monástica, por exemplo), mas é impossível ser feliz espiritualmente sozinho. Fomos feito uns para os outros, para estar em relação, ligados ao menos espiritualmente, pois essa é a única possibilidade de viver imerso naquela Verdade (sentido da vida) almejada por todos.

O amor é sujeito pois essa relação com “o outro” existe enquanto relação de amor, e é objeto porque, não existe amor, sem o ser amado. Amor é relação.

Interessante e difícil explicar uma realidade interior, mas é um exercício cultural que cada estudante de Sophia é convidado à fazer, até que esse princípio “possa ser «matematicalizado»” e finalmente se transformar em cultura, trasnformando a sociedade.

[vidaloka] Sophia e a obrigação de olhar para dentro de si

Ouvindo “Próxima Atração” do filho de Elis, Pedro Mariano, sinto o “swing” que me leva de volta às raízes de uma cultura que é minha, que me faz brasileiro, paulistano e não europeu.

Contudo, nesses meses – “quase ano” –  no Velho Continente vejo que as diferenças vão se dissolvendo em cada momento que busco “aniquilar-me” para vislumbrar a beleza (e os limites ) do outro, que finalmente me faz, cada vez mais, sentir cidadão do mundo ou “cristianamente” filho de Deus.

A vida intelecto-pragmatica de Sophia causa danos sérios a saúde psíquica e espiritual. Aqui ninguém é convidado amigavelmente a entrar em uma realidade de que não se faz parte. Não existe, definitivamente, a liberdade para escolher mergulhar em nós mesmos ou viver de forma banal, superficial. Não! Esse “respeito humano” não está no estatuto da universidade, é uma imposição ousada e admiti-la exige coragem, segurança ou finalmente FÉ!

O fato de ser extremamente “cabeça-dura” me impossibilitou de mergulhar imediatamente nessa realidade e colher, fenomenologicamente, aquilo que ela [ e só ela ] pode me dar. Esses meses de resistência valeram muito, pois cada vez mais vejo [e valorizo] que cheguei aqui porque “dei o passo”* pessoal.

Toda a riqueza que Sophia me dá eu posso levar para outros ambientes. No meu namoro, no exercício da minha profissão e nos trabalhos artísticos que procuro desenvolver. Mas o tempo parece sempre soprar forte, carregar e exigir caminhos e passos posteriores àquilo que já compreendi.

Semana que vem começam as provas do primeiro semestre. Uma bateria de seis mundo diversos que precisam ser interiorizados como possibilidade real de ser dom recíproco aos nosso professores que, gratuitamente [ e maravilhosamente ], deram TUDO!

Entre estudos, reflexões e vida procuro sempre re-significar as experiências e doá-las, porque senão a Verdade escondida nelas se esvai. Por isso decidi retomar a constância do escrevo, Logo existo. Assim, livremente, quem quiser pode viver essa experiência comigo.

[continua … ]

*aceitar e mergulhar em uma realidade que primeiramente não se aceita

28 dias no país do Tsunami – Parte 34: o inacreditável em Aceh

Hoje foi um dia inesquecível.

Depois de acordar e tomar café fomos ver como tinha ficado a cidade de Banda Aceh, capital da região e lugar mais próximo das ondas gigantes que engoliram o sudoeste asiático.

Toda a beleza que tinha visto nos dias precedentes tinha desaparecido.

Ver aquilo que o Tsunami havia destruído me transformou profundamente, ma um acontecimento em especial é difícil de esquecer.

Enquanto percorríamos com o carro os poucos quilômetros de distância que nos separavam do centro da cidade, a vegetação cobria como um véu tudo aquilo que nem em sonho imaginávamos ver.

Assim que passamos a fileira de palmeiras uma visão curiosa. Um barco enorme, em meios as casas, no centro da cidade. “Cadê o mar?”, pensei, temeroso de não transformar em palavra meus pensamentos por não saber o que poderia receber como resposta.

Nos aproximamos e aquilo que parecia ilusão se materializava diante dos nossos olhos. Um enorme navio,  de dimensões desconhecidas para mim, no meio da cidade, sobre 4 casas e 7 quilômetros de distância do mar.

Aquela cena de filme se transformou em Thriller quando soubemos que em cada uma dessas casas havia uma família, que não pôde ser salva à tempo.  Aquele grande navio que, disseram, se transformaria em memorial ao Tsunami, era a tomba daqueles indonésios.

Contar essa experiência parece banalizar aquilo que meu coração sentiu. Vemos esporadicamente em filmes e nas “pseudo-ficções” dos telejornais em todo mundo catástrofes naturais e o sentimento é quase de indiferença. Olhar com os próprios olhos, sentir o choro desesperado das pessoas, o cheiro da putrefez dos corpos, transforma essa visão e o valor que damos a cada coisa de nossas vidas.

Paro por aqui, pois em vez de escrever, explicar, tanto, prefiro meditar sobre tudo aquilo que vi.

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[vidaloka] Primeira sessão de provas superada!!

Geralmente faço o exercício metodológico de me manter focado naquilo que me proponho a fazer.

Foi nesse espírito que mergulhei (desculpe a expressão banal) “de corpo e alma” na minha primeira sessão de provas do mestrado na Itália.

Aristóteles, a história e a encarnação contemporânea da experiência do Povo de Israel ditaram um pouco a dinâmica, inicialmente cadenciada, depois escatologicamente desesperadora, mas resumidamente vencedora.

Que alegria perceber, hermeneuticamente, que uma nota pode resumir, junto, tanto a dedicação pessoal, quanto um comportamento fraterno que procuramos viver com os nossos colegas de classe.

Desde pequeno, aprendi com meus pais, sobretudo com minha mãe, que para alcançar sonhos, realizar objetivos, é preciso lutar. No final da minha primeira sessão de provas uma sensação inédita de profunda satisfação diante do meu esforço, mesmo diante das tantas dificuldades, interiores e exteriores. Mais um objetivo realizado! (Kabod a YHWH!)

Contudo, a experiência que ficou “dentro” foi que, pela primeira vez, me dei conta de que não serve mais ficar feliz com o meu próprio êxito. Não! Realmente nessa experiência/fase que vivo isso conta tão pouco, é uma felicidade tão superficial. A beleza agora é perceber que, com meus “talentos” posso ajudar as pessoas que estão a minha volta a realizarem, também elas, aquilo que desejam.

E aqui “talento” não faz ninguém “melhor”, é importante dizer, mas simplesmente nos transforma em “peça” no “Grande Mosaico” em que cada um precisa assumir aquilo que é, (em essência) para poder se doar, construir coletivamente.

Essa primeira fase passou rapidamente. Quando percebi que poderia voltar a respirar de forma cadenciada, me surpreendi, hoje, estudando de novo, para a próxima sessão de provas, em fevereiro.

Ah! Outra grande descoberta foi encontrar DEUS nos estudos. A primeira vez que ouvi sobre essa possibilidade senti-me Tomé. “Só acredito vendo””. Mas sentir que mergulhar, não só intelectualmente, mas procurar viver aquilo que se estuda, iluminou a minha experiência e me fez descobrir o significado de “Sabedoria”!

Quanta alegria em Sophia… “Casa per tutti”, “Luogo di Vita e Studio”.

“O show tem que continuar”….

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