Category: Homem mundo Page 6 of 20

[vidaloka] No mudar, conservar nós mesmos

E a vida em Sophia vai pra frente.

O frio do inverno começa a baixar as temperaturas para uma faixa que vai de 0 aos máximos 10 graus. Sentimento bom de continuidade na mudança “cambiare conservando se stesso”.

O que também passou foi a última sessão de provas do mestrado. Período difícil e intenso de doação plena aos estudos e sacrifícios grandes. Mas valeu a pena.

A vida na bela Toscana vem acompanhada não só do calar progressivo das temperaturas, mas também na diminuição do entusiasmo em viver em lugar que já “a priori” não era o mais desejável e que aprendi a me acostumar.

Em uma casa com agora, 16 jovens de diferentes culturas, exigências, concepções do mundo, relacionamentos, prioridades, estudos… a vida as vezes atravessa uma exaustão e um desejo de pegar o primeiro avião e voltar “pra casa”.

Interessante perceber que nesses “baixos” encontram-se escondidos os “autos”. O sucesso expressivo nas provas certamente foi o maior deles, seguido da alegria de poder compartilhar, no grupo de jovens que participo, as dificuldades e alegrias que fazem à vida adquirir outro sentido porque vivida na relação.

Essa espécie de “amizade nousiológica” (roubando o conceito platônico para criar meu neologismo) tem me impulsionado constantemente a dilatar essas relações para que envolvam não somente “queridos”, mas procure “construir pontes” com aqueles que eu considero antipáticos.

Contudo, em exatas três semanas eu viajarei de novo, de volta para a minha segunda nação, para passar o período de festas na Suíça com a Flavia, família e amigos.

Mas, por enquanto, terei tempo para fazer um planejamento para 2012: trabalhos, casamento, tese! E ler muito! Claro!

Espero que o tempo passe depressa.

[vidaloka] Utopia cristã

“Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso servo” (Mc 10,43-44).

Essa frase do evangelho de Marcos, o mais antigo da Bíblia, nunca ressoou tão forte dentro de mim.

Hoje pude viver claramente o quanto a mensagem evangélica é difícil de ser realizada em uma dinâmica de relações hierárquicas.

Parece impossível uma “condescendência” daqueles que de alguma forma exercem um tipo de “poder” ou função que os colocam em um status de autoridade, mas que acaba sendo vivido de forma paternalista, quase sacral.

O filho de Deus veio ao mundo e mostrou que a Sua autoridade (exsousia) é servidão, dom de si. Ele, exercendo o papel de “educador”, lavou os pés dos apóstolos, testemunhando aquilo que dizia ser o Caminho, a Verdade e a Vida.

Pois bem… na universidade em que estudo vivenciei algo que há tempos não experimentava: a humilhação de ser usado de maneira proposital com uma posterior justificativa de “autoridade que está acima da relação”.

A mágoa, claro, procura desesperadamente um sentido para a dor, causa revolta, mas depois do desabafo (e da ajuda do próximo) brota o desejo se ser fiel ao “meu Deus”, que “é” justamente quando “não é”.

Entender que “ontologicamente” o homem que se doa (é servo) é a expressão mais pura desse Deus ainda exige um grande passo cultural, principalmente dentro das instituições, senão corremos o risco de continuar fabricando mentes brilhantes de caráter hipócrita.

[vidaloka] Estar aonde se deve estar!

Denominei [vidaloka] todos os textos que de certa forma transformam minha realidade exterior (pessoal e geograficamente). E já faz 15 meses que deixei as “terras de palmeiras onde cantam os sabiás”, para descobrir cada vez mais profundamente minhas origens antropológicas, teológicas e cientificas, no continente que transformou história do meu povo, do meu país… e a minha vida.

Neste período transformei-me, não só intelectualmente, mas dei passos definitivos em direção a minha felicidade, que paradoxalmente redescubro no dar mais de mim àqueles que estão ao meu redor, a uma “donna” em especial.

Concluído o primeiro ano do mestrado começou um caminho novo de descobertas únicas, maravilhosas, que parecem concluir uma etapa da minha vida. A viagem ao Brasil, os reencontros, conversas nos trouxeram hoje, aqui, onde deveríamos e eu queria demais estar.

Difícil não olhar para trás emocionado com tantos relacionamentos edificados pelo amor. Ação mais construtiva do ser humano. Impossível não pensar em todas as pessoas queridas que participaram intensamente da minha vida… com sorrisos, abraços e reprovações… sem elas não estaria aqui.

E depois… parece lógica a felicidade. No acreditar, no viver o “impossível”, jogando-me nos braços do Truta e saber que, no final das contas, estamos/vivemos em constante co-criação.

[vidaloka] essa minha… e putz… melhor ainda porque é sempre mais nossa.

[vidaloka] Reflexões pessoais e cristãs

Foto feita em junho no Santuário de Fátima, Portugal

Eis-nos finalmente a Genebra…

Depois da longa viagem, dos dias de “Jet lag” e da tentativa de adaptação ao calor absurdo que tem feito na Suíça, encontramo-nos sentados grande parte dos nossos dias. Eu fazendo contatos, procurando trabalho e a Flavia estudando.

Interessante, depois, como algumas respostas da nossa vida aparecem de maneira inesperada. Como cristão muitas vezes as encontro na “Ceia domenical” em que, nos momentos “custosos” de introspecção ou ouvindo as palavras do Evangelho, percebo-me quase pensando e acreditando que encontrarei o “bom caminho” sozinho.

Hoje foi um dia desses… Há algumas semanas tenho sofrido um pouco com a impossibilidade de encontrar algo, um bico, alguma coisa simples pra fazer e ganhar uma grana pra pagar meus estudos do próximo ano.

Ciente que na Europa tanto a cultura como a realidade econômica são outras,  sofria mesmo assim pensando que no Brasil as coisas seriam mais fáceis, pelos contatos, pela generosidade e prontidão em ajudar da minha cultura, que coloca as regras, a lei, em segundo lugar.

Mas aqui não. A seriedade e a legalidade são culturais, mesmo se, nesses momentos, penso na ética do sistema financeiro suíço e sinto-me em uma baita contradição. Acredito que a aceitação desse cenário é cultural, mas não penso que se esse sistema existisse no Brasil as coisas seriam muito diferentes.

Enfim… voltando à missa, com todas essas angustias, me deparei com o episódio de Jesus e seus apóstolos em Cesárea de Felipe, onde Ele pergunta a eles Quem é e Pedro, tomando palavra, afirma que é o Filho de Deus, o Messias tanto esperado.

Interessante que, lembrando dos meus estudos teológicos, percebi que desse “reconhecimento” começa também o “martírio”… as dificuldades… que levam à morte e depois a ressurreição de Jesus.

Imediatamente pensei na minha vida, no meu momento atual e pude reconhecer que graças a Deus que cheguei até aqui… Foi sempre Ele quem me ajudou (duramente) a caminhar e superar cada obstáculo. Agora, o que me cabe é continuar acreditando no Amor Dele, vivendo e me doando às pessoas, pois sempre foi nisso que encontrei minha profunda realização pessoal.

O “martírio”, as dificuldades, são parte da “morte” para que depois venha a “ressureição”, a realização plena.

Sempre foi assim, mas tantas vezes eu ainda me esqueço.

29 dias no país do Tsunami – Parte 36: Em Banda Aceh

Acordar cedo faz parte da rotina, mas hoje realmente acordamos MUITO CEDO para participar de uma cerimônia em uma pequena vila destruída pelo Tsunami, onde a AMU (Azione Mondo Unito) – Ong que nos trouxe à Indonésia para trabalhar -, ajudou a construir barcos para pesca.

Ali, depois da celebração, comemos arros doce e cocada no café da manhã e logo em seguida uma parte do grupo voltou pra Medan, capital da grande ilha de Sumatra, enquanto eu e o Leonardo ficamos com o Nicolas, Jean Paul, Lambok e um outro indonésio, além de Evy, uma jovem muçulmana de Banda Aceh. Junto deles fomos visitar outras vilas onde eles haviam prometido, quando fosse possível, prover algum tipo de ajuda.

Durante a viagem pude ver lugares realmente destruídos. É muito difícil descrever aquilo que o Tsunami fez… o mar engoliu as praias, dividiu montanhas… Inesquecível.

Almoçamos no caminho e como sobremesa comemos uma “jack fruit” (Jaca) fedida mas muito boa.

Passeamos mais um pouco, fomos à missa e a noite com Evy fomos jantar. Comida deliciosa e depois outra experiência nova: café com um moído de marijuana… estranho e delicioso.

Fiquei feliz de poder conhecer melhor Evy. Uma jovem simpática, divertida… Interessante que, mesmo sendo uma dezena de anos mais velha, não colou obstáculos para que pudéssemos construir um bom relacionamento com ela.

Forte a sua experiência pessoal quando o Tsunami arrasou com a sua cidade, destruiu a universidade e matou grande parte dos seus amigos.

Evy nos contou que passou semanas jogando pessoas mortas no riacho, pois o governo se viu impossibilitado em reconhecer todos os corpos. O cheiro “azedo” de cadáver que ainda se sentia 6 meses depois do Tsunami, me fez imaginar como seria a situação nos dias posteriores às ondas gigantes.

_ Como vocês conseguiam comer com esse fedor insuportável de cadáver? – perguntei inocentemente à minha amiga muçulmana.

_ Não sei explicar. Nesses momentos vivemos quase de maneira inconsciente. Eu só pensava que já haviam muitas pessoas mortas e se eu não comesse algo, me juntaria a elas, o que não ajudaria muito. – respondeu-me com uma simplicidade assustadora, decretando logo em seguida o fim da janta.

Voltando para casa depois desse dia maravilhoso fui dormir imediatamente, procurando me preparar físico-psicologicamente para a longa viagem que faremos amanhã.

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