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Incendies – 2010 – Denis Villeneuve: Pensando sobre a origem do mal

Incendies

Raros filmes que eu pude assistir tiveram a capacidade de tocar os meus questionamentos mais profundos a respeito da vida, e no como podemos fazer dela uma experiência de Amor, no sentido agápico. E bem, ontem fui surpreendido pelo maravilhoso e premiadíssimo Incendies.

A história é simples. Começa no Canadá, com um casal de gêmeos encontrando o escrivão do testamento da sua falecida mãe, que ao dar-lhes duas cartas, anuncia dois novos membros desconhecidos da família: um irmão e um pai. Assim, procurando descobrir o que teria acontecido no passado misterioso de sua mãe, os dois partem para o Líbano, iniciando uma aventura que irá mudar completamente a história daquela que eles consideravam uma família “comum”.

Incendies, como nenhum outro filme, me fez pensar a respeito da origem do mal. Fez-me lembrar do livro de Hans Jonas “O conceito de Deus depois de Auschwitz” e o mal que existe na divisão promovida pela guerra.

Durante meus estudos teológicos, entendi que o bem é uma força que promove a união entre seres, enquanto o mal é uma força que divide. Consequentemente, tudo aquilo que nos afasta uns dos outros é essencialmente mal, e vice versa. Esse conceito é bem presente no filme. As divisões levam a escalada de um mal de proporções inimagináveis, e o bem, silencioso, singelo e, sobretudo, raro, se renova no desejo dos personagens permanecerem juntos, unidos.

O que pensei, contudo, após o filme, foi sobre a possibilidade de uma dessas forças, sobretudo a benéfica, ser potencializada. O filme, com uma sensibilidade formidável, mostra que a “origem” de uma nova vida nasce do perdão. É por meio dele que o Amor se renova e pode novamente unir, curar feridas.

Obra de arte. É o termo que define melhor Incendies. Um dos filmes mais bonitos que pude ver nos últimos anos.

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Quando as escolhas convêm… tudo bem | Valter Hugo Muniz

escolhas convêm

Escolha. Uma palavra carregada de consequências, às vezes boas para nós e ruim para os outros; ou o contrário; ou boas pra ambos, ou ruins para os dois. Enfim, escolher é vivenciar, ao mesmo tempo, o maior drama e a maior graça da existência humana: a liberdade. Pensei nisso enquanto lia a matéria sobre o jogador hispano-brasileiro, de 25 anos, Diego da Silva Costa.

A polêmica, em resumo, é a seguinte: Em busca do sonho de ser jogador de futebol, Diego deixou o Brasil ainda muito jovem para seguir carreira no futebol da Europa. Depois de jogar em vários clubes de Portugal e da Espanha, ele chegou, com 19 anos, ao Atlético de Madri, time que joga até hoje. Ali, conquistou respeito profissional, fama e dinheiro.

Com gols e jogadas brilhantes, o futebol de Diego começou a despertar interesse da seleção espanhola, que precisa urgentemente de um jogador com as suas características em seu plantel. Não se sabe se por coincidência ou temor, Felipão convocou Diego para os amistosos do Brasil, este ano, contra a Itália e Rússia, mas ele quase não jogou. Essa evidente falta de espaço no grupo brasileiro fez com que a Espanha fizesse uma proposta profissional irrecusável a Diego: sendo naturalizado espanhol ele poderia, em vez de jogar pelo Brasil – algo improvável – optar por atuar pela atual campeã mundial, onde teria espaço praticamente garantido.

E o sergipano Diego Costa escolheu jogar pela Espanha, explicando: “Foi uma decisão bastante complicada porque estive entre o país no qual nasci e o país que me deu tudo, que é a Espanha. Pensei e decidi jogar pela Espanha. Foi aqui que alcancei os meus objetivos e tive um crescimento em minha vida pessoal. Então eu tenho um carinho especial pela Espanha e sinto o carinho das pessoas diariamente”.

Assustei-me com a decisão, pois como disse o Felipão, “ele virou às costas para um sonho de milhões de jovens jogadores brasileiros”. Isso é fato. Só que a afirmação do técnico brasileiro soou ridícula, porque ressaltou o dilema, sem que se fosse pensado no Diego que existe ALÉM do profissional do futebol.

Não existe causalidade direta no fato do jogador ter optado em representar outra seleção (que não tem valor diplomático qualquer), com a renúncia de sua cidadania ou negação/menosprezo de seu país. Seguindo esse raciocínio, devemos incluir nesse “bando de renegados” todos os profissionais das mais diferentes áreas que trabalham em multinacionais estrangeiras (dentro e fora do Brasil), que vão morar em outro país por motivos vários, como fez também o próprio Felipão.

Diego é e nunca deixará de ser brasileiro. Mas o jogador, Diego Costa, pode jogar por qualquer time, qualquer seleção, pois é um profissional e o futebol é um esporte, nada mais. Ele não define quem somos ou a nossa nacionalidade. Como também não é “traidor da nação” quem decide imigrar por trabalho, estudo ou até mesmo por condições melhores de vida.

Na verdade, o que deveria ser discutido, é se a Espanha trata bem ou valoriza, como está fazendo com Diego Costa, os outros jogadores e profissionais brasileiros que atuam no país. O que acho mais triste, e isso acontece em quase TODOS os países europeus, é a instrumentalização desses jovens jogadores. Se são bons, são suíços, alemães, franceses, holandeses, espanhóis… se não, são senegaleses, argelianos, brasileiros, argentinos, kosovares e etc.

A decisão e a liberdade de decidir é toda do Diego e deve ser respeitada. O que deve ser discutido é o tratamento que os profissionais estrangeiros, do futebol ou não, tem sido praticado pelas instituições e povos que os recebem. Para refletir ainda mais, fundamental a entrevista deita pela UOL esporte com o comediante e ex jogador na Espanha, Marco Luque e o caso dos médicos cubanos no Brasil que escrevi neste post.

O valor supremo daquilo que vem “de dentro”

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Talvez um dos vídeos mais bonitos do youtube é o discurso do falecido fundador da “super tecnológica” Apple aos formandos de Stanford, em 2005. (assista o vídeo ou leia a transcrição clicando aqui )

“O tempo de que vocês dispõem é limitado, e por isso não deveriam desperdiçá-lo vivendo a vida de outra pessoa” disse Jobs, acrescentando “tenham a coragem de seguir seu coração e suas intuições”.

Essa pequena parte de uma das mais valiosas lições públicas ressoam forte porque feita por uma grande personalidade, que não é um político ou um líder religioso. As palavras de Steve Jobs apontam para uma “questão ontológica” que mostra a importância fundamental de valorizar nossos sonhos, anseios mais profundos que, mesmo tendo que se desenvolverem, estiveram sempre lá, no profundo dos nossos corações.

Os mesmos questionamentos a respeito da importância de seguir o nossos sonhos eu pude fazer lendo “Manual para Jovens Sonhadores” da guatemalteca, casada com brasileiro, Nathalie Trutmann.  O livro não é uma obra de arte da literatura, na forma e muito menos no conteúdo, mas conta, com sinceridade, a experiência de uma (então) jovem que aprendeu a valorizar os erros, a percorrer seus próprios caminhos, sem se preocupar demasiadamente com o que “os outros” diziam.

Tendo a concordar com muitos dos raciocínios e sínteses de Nathalie. É realmente fundamental buscar as respostas “dentro”, mas isso não quer dizer, de forma alguma, fechar-se aos murmúrios comunitários. Pessoalmente, se tivesse escutado “demais” os meus pais, estaria hoje, na melhor das hipóteses, ocupando um cargo de gerência em uma multinacional, fazendo carreira corporativa, financeiramente estável, mas, provavelmente, amargurado em frustrações. Não que eu ache que a carreira corporativa não possa prover a realização de um ser humano, mas essa não é e nunca foi a vida que planejei para mim.

Por isso resolvi seguir meus sonhos! Enquanto estudante, eu fiz estágios em revistas, agências, multinacionais e até no meu programa favorito da televisão brasileira. Conheci muitas pessoas fantásticas (outras nem tanto), viajei bastante pelo Brasil e fora dele. Concluí uma pós na Europa e, em nenhum dos casos, apoiados em seguranças econômicas ou “paitrocínios”. Para pagar meus estudos, por exemplo, cheguei a madrugar para vender artigos usados, junto com minha então namorada (e hoje esposa), em uma feira de imigrantes em Genebra.

Como Nathalie Trutmann e Steve Jobs convidam… eu segui (e tenho seguido) os meus sonhos. Com simplicidade, humildade e com o anseio, profundo, de ser feliz fazendo a diferença na vida das pessoas que estão ao meu redor e aquelas em que a tecnologia me permite “encontrar”.

Recomendo o livro (e o vídeo de Jobs) para aqueles que precisam de um “empurrãozinho” para acreditarem nos próprios sonhos … esse é, necessariamente, o primeiro passo para que eles se realizem.

Para baixar o livro, CLIQUE AQUI

TEDx com Nathalie Trutmann

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O individualismo dos protestantes

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O título desse comentário não quer, de forma alguma, relacionar os seguidores das religiões consideradas Protestantes, com a temática que será abordada. A escolha é, na verdade, uma crítica à onda de protestos que se instalou no Brasil e que, de uma expressão legitima de atenção pública aos direitos de determinados grupos, têm se tornado banais, beirando a ridicularizarão.

Pois bem. Como o professor Sakamoto escreveu em seu blog, eu também sou contra os maus tratos com qualquer tipo de animal, principalmente filhotes. Sobre os testes de medicamentos em animais, acredito que chegaremos a um ponto em que a tecnologia conseguirá simulações eficazes, mas, também creio que o uso de cobaias AINDA seja necessário (mas um especialista poderia certamente calibrar os “chutes” da opinião pública).

Contudo, a verdadeira reflexão proposta por Sakamoto, a respeito do descaso com o ser humano, precisa MESMO ser levada a sério. Aqui, não quero dissertar a respeito dos inúmeros casos de escravidão que ainda existem no Brasil e no Mundo, porque esse grave problema, mesmo constantemente silenciado, conta com um movimento de pessoas que já trabalham em prol da sua extinção.

Na verdade,  quando penso nos adeptos da “causa animal”, o que me causa mais revolta, é a capacidade de eles igualarem os direitos dos animais com ao dos seres humanos, ao ponto de humanizá-los, sem se dar conta de que a tal igualdade se limita à dignidade comum partilhada como “filhos da natureza”. Não nego a importância de salvaguardar a vida dos animais. Nesse mundo doente, talvez seja realmente necessário institucionalizar essa proteção. Mas, como também acenou Sakamoto, é necessário, antes de tudo, comover-nos com a exclusão dos direitos dos seres humanos. Sem que uma coisa, anule à outra.

Basta caminhar pelas ruas do centro de uma metrópole como São Paulo, para ver crianças (indefesas como os filhotes de Beagles) fumando pedra, limpando vidro de carro, jogadas pela calçada como lixos humanos e lembradas só quando cometem crimes. Diante da miséria dessas pessoas (parece que) pouca gente se move, se escandaliza, vai para rua protestar. Em vez disso, os “protestantes” gritam exigindo direitos individuais, para si mesmo, com pautas desarticuladas.

Continuemos a nos escandalizarmos com todas as injustiças existentes? Claro. Mas que ela suscite uma indignação que não se limite aos bichinhos de quatro patas, pois, enquanto isso, muitos de nossos irmãos “homo sapiens” continuarão marginalizados pelas ruas do país.

Continuamos inseguros

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Depois dos casos de espionagem contra políticos e empresas brasileiras, tenho lido bastante sobre o assunto e refletido muito sobre a segurança (ou a ausência dela) dentro do espaço público virtual.

As verdades aprendidas na escola que acenavam aos benefícios da, ainda recente, globalização, na medida em que o tempo passa, se transformam em receios, geram desconfiança. Mas será que é possível dar um passo para trás em relação a ela? Acredito que não.

O fato é que a nossa atuação no universo “ONLINE” está cada vez mais sujeita à observação. Aquilo que compramos, baixamos, visitamos e  escrevemos; tudo pode ser controlado, espionado.

Os motivos são, majoritariamente, econômicos e políticos. A internet tornou-se, não só, um espaço de troca, que redimensiona os limites geográficos, mas ela é também um “ambiente” passível de manipulação de informações que, talvez, pareciam sigilosas. Tudo é controlado também em prol da “personalização” das ofertas de consumo.

Até aí, nada de novo. Mas e eu? Eu sempre me pergunto se existe realmente um interesse “especial” em saber aquilo que faço (ou deixo de fazer) na internet.

Acredito que, enquanto eu for alguém politica e economicamente “insignificante”, pouca coisa me espera. Claro que os e-mails ou “posts” nas redes sociais podem ser interceptados e manipulados por hackers. Também meu cartão pode ser clonado e as transações bancárias interceptadas. Mas isso é, fundamentalmente, sinal de segurança diminuída? Sim, mas sem exageros.

Todo cuidado é pouco para aquilo que se faz na internet, mas é o mesmo cuidado que temos que ter circulando pelas ruas de uma grande metrópole, onde o risco de perder a vida é mais literal.

No final, continuamos inseguros.

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