Category: Co-agir com o mundo Page 5 of 38

Ferguson

Ferguson: um sinal de alerta à promoção negativa das diferenças

Ferguson

Nos últimos dias, fui com a minha esposa na parte alemã da Suíça festejar o aniversário de uma das minhas cunhadas. Mesmo se sou residente há 8 meses na Confederação, sempre que vou àquela região, me dou conta do quanto multicultural é esse pais que me acolhe.

Este período como imigrante também tem me ajudado muito a entender a importância de:

  • jamais fazer comparações qualitativas do país em que vivo com meu país natal e, muito menos,
  • transformar as diferenças existentes em algum tipo de preconceito.

Comparações nos levam a julgamentos, muitas vezes, perigosos. Não que eu ache importante ignorar as diferenças, relevá-las, mas é fundamental não deixar que elas se tornem “muros” que me separam da cultura em que estou inserido.

Bom, melhor exemplificar. Os suíços são pessoas discretas. Eles não perguntam naturalmente sobre a vida de ninguém e nem mesmo falam de si mesmos. Por aqui, o tempo é fundamental para a confiança e a abertura, mas, quando elas existem, “são para toda vida”. Desde que cheguei, percebi que muita gente me trata de modo “estranho” (a mim desconhecido) não porque sou isso ou aquilo (imigrante, brasileiro, etc…), mas porque acabei de chegar e ninguém ainda me conhece plenamente. Ponto.

Entender esse fato me deu paz e me ajudou a não desenvolver comportamentos preconceituosos em relação à cultura local.

 O caso Ferguson

FergusonNos últimos dias tenho acompanhado com apreensão o caso do jovem negro estadunidense, assassinado por um policial branco. Fiquei espantado com a abordagem dos meios de comunicação, que parecem promover uma atmosfera racista aparentemente superada nos Estados Unidos.

Não estou querendo ignorar um problema importante e que preocupa: no mundo inteiro tem acontecido uma escalada da violência policial. O Brasil é um exemplo vergonhoso dela.

Entre as mais violentas do mundo, a polícia brasileira é também uma das menos preparadas. A violência urbana no país, de forma geral, é consequência disso. Quando somos inteligentes e temos os meios (formação e tecnologia) para lidar com possíveis delitos, não precisamos (sistematicamente) fazer uso da violência. A razão nos ajuda a entender problemas e solucioná-los de maneira eficiente e respeitosa.

Contudo, não é o que acontece aqui e nem o que aconteceu nos Estados Unidos. As consequências? Vidas perdidas.

 A fragilidade do equilíbrio social

FergusonTenho aprendido aqui na Suíça, de quando se trata de uma sociedade multicultural, é importante tomar cuidado com a fragilidade dos “equilíbrios” sociais. Certamente os Estados Unidos tem uma história crescente e significativa de luta contra o racismo. Obama é um símbolo. Mas isso não quer dizer que as décadas de exploração contra os negros foram completamente superadas.

Mesmo tendo pouco conhecimento de causa no contexto estadunidense, devo dizer, como afrodescendente, que acho difícil falar de uma sociedade racista. Claro que o racismo pontual ainda existe e talvez sempre existirá, pois é uma forma de o ser humano “extravasar” seu medo em relação a um “outro”, desconhecido ou, até mesmo, mais “forte”.

O que vi nas manchetes dos jornais, contudo, é a volta ao discurso de um racismo social de maneira, ao meu ver, preocupante.

Devemos entender com sabedoria quais são os problemas existentes, tomando cuidado com julgamentos. Um fato é a policia ser violenta e despreparada, outro fato é ela ser “ideologicamente” racista.

O respeito às diferenças sociais como um valor e um direito é uma conquista que custou o sangue de muitos seres humanos. Não deixemos que os discursos destruam tudo aquilo que, a duras penas, construímos (e procuramos melhorar).

existência negociada

Convivência negociada: eu e o outro no mundo

convivência negociada

Hoje decidi começar um novo projeto de reflexão existencial: ocupar-me da descoberta de quais seriam as dimensões fundamentais da essência humana que me permitiriam responder a seguinte pergunta: quem eu realmente conheço? Talvez eu não encontre uma resposta satisfatória nessa vida. Entretanto, não estou obcecado pelo resultado e sim pelo caminho. Sonho que, em cada encontro, exista o interesse real e recíproco de uma convivência negociada, em que aceitam-se os dramas e privilégios de toda condição humana.

O método: conhecer

 Sempre fui um apaixonado pelo “outro”. Os motivos, para mim, são dois: curiosidade jornalística e inquietação existencial.

convivência negociadaO jornalismo, para mim, é importante, pois me faz ir de encontro com “outro”, redimensionando a minha presença no mundo e permitindo-me descobrir as potencialidades de uma convivência global.

Já a inquietação existencial é, para mim, o motivo mais intrigante.

  • Por que o “outro” me instiga tanto?
  • Por que tenho tanto interesse em histórias de vida?
  • Por que me emociono com testemunhos de superação, especialmente quando eles convergem para a realização da vontade de sentido da própria vida?

 A minha resposta pessoal para essas perguntas é a seguinte: o “outro” é quem confirma a minha existência. Confirma, não determina. Assim, talvez, o meu interesse pelo “outro” se dá, também pelo desejo indireto de me conhecer mais e melhor (e ser aceito). O interessante é que, quando mais busco conhecer o tal “outro”, mais conheço a mim mesmo e quanto mais conheço a mim mesmo, mais sou tolerante em relação ao “outro”.

Enfim. Como disse no início, quero tentar descobrir quais os aspectos mínimos necessários para poder dizer que me conheço e conheço o “outro”. O ponto de partida vou emprestar de Viktor Frankl, autor de um dos livros mais interessantes que li neste ano: Em Busca de Sentido. Nele, o autor explica que “há três caminhos principais através dos quais se pode chegar ao sentido da vida”:

  • o trabalho (não o fato de estar empregado, mas a forma como concretamente materializamos a nossa existência),
  • a experiência (encontrar alguém ou experimentar algo),
  • “o motor” (a vontade de encontrar o sentido da própria vida).

Quero desmembrar esses três aspectos e relacioná-los ao processo de autoconhecimento e conhecimento do outro. Mas para que?

 Objetivo: Convivência negociada

convivência negociadaNão quero refletir a minha existência com a pretensão ingênua de “possuí-la” e muito menos a existência do “outro”. Somos seres autodeterminantes e a vida nos dá, a cada momento, a possibilidade de mudar, de escolher um novo caminho, que não desfaz as escolhas precedentes, mas permite redimensiona-las.

Como “comunicólogo”, eu vivo me questionando se, como comunidade global, temos trabalhado, dialogado, em prol do aprofundamento da nossa convivência, que não é tolerância passiva, mas “enfrentamento construtivo”.

Gosto muito quando Dominique Wolton, um dos meus “mestres” preferidos, usa o termo negociação, para explicar a convivência com o outro.

Negociar é buscar o equilíbrio entre as perdas e os ganhos intrínsecos de um confronto existencial, é harmonizar conquistas e renúncias. Para isso, são fundamentais valores humanos como: o respeito, a paciência e etc.

As vezes, a negociação é interior. É aceitar nossas raízes. Entender que algumas escolhas foram feitas por outros seres humanos, quando a nossa autodeterminação era menos consciente, e que elas podem ter causado traumas.

Bom… nem tudo está claro, sobretudo na materialização de pensamentos, mas entender é, acima de tudo, um processo.

Quem quiser se aventurar comigo, seja bem vindo! Não deixe de compartilhar os textos nas redes sociais, por email, para que a experiência e a reflexão não se limite ao particular, mas seja “comunitária”.

Até a próxima

#convivencianegociada

Ebola

Ebola: ainda são só os africanos que estão morrendo

Ebola

Tenho conversado muito com a minha esposa, que está escrevendo um breve artigo sobre a resposta internacional (ou a falta dela), diante do “genocídio” provocado pelo vírus Ebola.

Não quero falar de causas do Ebola, nem do desenvolvimento da doença, pois qualquer artigo de um dos grandes jornais do mundo explica bem a situação, os perigos e principalmente a disseminação da mais aterrorizante epidemia depois da AIDS. O que quero questionar aqui é, acima de tudo, a omissão, o descaso, típico de uma sociedade essencialmente preocupada com o seu “back yard” (os próprios interesses) e não com os problemas alheios.

Ebola? São só africanos que estão morrendo

EbolaUma observação espantosa e interessante da minha esposa, me deixou intrigado. Como é possível que um enorme grupo de cidadãos espanhóis, revoltados com a necessidade de sacrificar o cachorro de uma enfermeira contaminada pelo vírus Ebola no país, protestam pelo direito à vida do animal e parecem não dar a mínima para as mais de 4000, repito, 4 mil vidas africanas, perdidas por conta do Ebola??? Como podemos ser tão desumanos ao ponto de não nos sensibilizarmos com a morte de nossos “irmãos”, incapazes de enfrentarem sozinhos esse vírus tão mortal?

Hoje de manhã, li uma entrevista interessante sobre a situação atual do oeste africano. Alguns números apontam para uma realidade dura e ausente de perspectivas de melhora. Para dar um exemplo, na Libéria, um dos países com mais vítimas fatais do Ebola, existe um médico para cada 100.000 pessoas.

Se pegarmos o Brasil como exemplo, que é um país que investe muito pouco em Saúde, se comparado aos países do hemisfério norte, segundo o Conselho Federal de Medicina, temos a proporção de 1 médico para 622 habitantes. A diferença é assustadora e explica um pouco da impossibilidade de combater internamente um vírus tão poderoso.

A incapacidade dos países do oeste africano de enfrentar o Ebola é um fato. Por isso, exige, fundamentalmente, uma “força-tarefa” global que, agora, parece ser consenso. Porém, como fazer com que os Estados manifestem uma ajuda solidária, em uma região irrelevante aos interesses políticos mundiais?

OMS e a fragilidade das estruturas

EbolaInfelizmente, vivemos em uma sociedade em que as instituições, da mais primitiva à mais badalada, estão em colapso estrutural. A ONU e suas agências subsidiárias como a Organização Mundial de Saúde parecem extremamente fragilizadas pelos interesses individuais, principalmente no pós-11 de setembro. O que eram para ser instâncias “supranacionais”, no que diz respeito aos interesses políticos, acabam ineficazes, pois não têm nem apoio coletivo e nem recursos econômicos para responderem rápida e eficazmente aos problemas emergentes.

A ONU, na sua estrutura, deveria agir “a priori” em função dos direitos humanos, não somente dos brancos, ocidentais, mas também dos negros do Sul do mundo. As organizações internacionais precisam encontrar uma forma de representar, acima de tudo, os seres humanos mais fragilizados, lutando pela sua dignidade e direitos.

E eu? O que eu faço?

Acho que, acima de tudo, precisamos encontrar tempo para discutir e pensar sobre o assunto. Fazer da dor e da falta de dignidade de outros seres humanos, a nossa dor. Oferecer, rezar (para quem for religioso) e, para aqueles com recursos (humanos ou econômicos), buscar formas concretas de ajudar.

Os Médicos Sem Fronteiras têm feito um trabalho de campo sério e pode ser uma organização onde, quem quiser/puder, depositar algum tipo de ajuda econômica.

O que não podemos fazer é ignorar, banalizar e continuar respondendo de modo desumano aos clamores de um povo sofrido, marginalizado, esquecido pela comunidade internacional.

O que o Estado Islâmico tem a ver com o Brasil?

 Estado Islâmico

Nas últimas semanas, tenho acompanhado aqui da Europa a mobilização de alguns países “do Norte” com o objetivo de impedir a expansão do grupo terrorista autoproclamado Estado Islâmico. Diferentemente de outras ocasiões, desta vez existe a mundialização dos jihadistas recrutados, além de uma presença territorial centralizada. Ambos os aspectos aumentam a complexidade do fenômeno, exigindo diferentes reflexões e medidas concretas para impedir que o grupo continue crescendo.

Um aspecto em particular do Estado Islâmico me chamou a atenção: a sua ideologia fundamentalista, levada ao extremo da violência, que instrumentaliza o Islã para justificar a limpeza étnica daqueles considerados infiéis. Deixando de questionar a consistência dessa ideologia, fica muito difícil desvendar as motivações que justificam as ações do grupo terrorista.

Em vez disso, mais uma vez, o “Norte” proclamou a Guerra contra o Terror. Coibir a violência com mais violência – a história recente tem nos mostrado – não elimina de forma alguma o terrorismo. Por outro lado, é possível combater um mal como esse, sem fazer uso, ao menos inicial, da violência?

O Estado Islâmico e a violência como consequência

Estado IslâmicoDe forma alguma eu defenderia o terrorismo. Da mesma forma que condeno a política exploratória dos Estados “do Norte”. Contudo, acreditando no bem intrínseco a todo ser humano, considero a violência muito mais consequência do que causa.

Gabriel Galice, presidente do Instituto Internacional de pesquisas para a paz, afirmou em entrevista que, nas últimas décadas, os governos ocidentais muitas vezes fizeram escolhas e adotaram medidas que favoreceram o terrorismo. “Todos conhecemos a história de Bin Laden que foi formado e treinado pelos próprios americanos”.

Além de medidas estratégicas erradas em determinados conflitos do passado, por décadas, cidadãos de origem árabe (e também africana) têm sido vítimas da exploração sistemática, de ditadores ou colonizadores, que ignoram a miséria do povo. Enquanto é sufocada, a exploração permanece silenciosa mas, a partir do momento em que existe a possibilidade de expressão, ela pode ser muitas vezes violenta. “Pode”, porque, ao meu ver, a violência é sempre uma escolha. Gandhi e Mandela são dois exemplos de transformadores da sociedade que se organizaram pacificamente para exigir direitos e a dignidade roubada.

Questão de valores

As condições socioeconômicas nunca podem ser ignoradas quando analisamos a violência organizada. Não se deve seguir leitura momentânea do problema, mas uma reflexão histórica, que aponta uma série de aspectos que ajudam no entendimento e, possivelmente, na escolha de um caminho virtuoso que aponte para a possível solução de um conflito como esse.

A desumanização sistemática, a privação da cidadania, tanto nos aspectos materiais, como no desenvolvimento humano, pode causar uma série de traumas que dão suporte à propaganda fundamentalista. É importante sublinhar: quando se caminha nos extremos do que deveria ser uma dignidade humana admissível e sobram poucos laços pelo qual vale a pena cultivar uma “Vontade de Sentido” para a própria vida, optar pelo caminho de uma revolução pacífica exige uma grandeza que nem todos conseguem exprimir.

Pessoalmente, gostaria muito de encontrar uma leitura paralela entre a origem do Estado Islâmico e do narcotráfico no Brasil. Acredito que encontraríamos muitos paralelismos, principalmente ligados ao contexto socioeconômico escarço, a exclusão social e a falta de valores centrais, aspectos que impulsionam à adesão ao radicalismo violento e, muitas vezes, irracional.

Também ligado aos valores, está a instrumentalização religiosa, que emerge como fator comum de adesão planetária de jihadistas. Apelando para uma conversão ao “Islã” e a consequente adesão à “Guerra Santa”, jovens americanos, europeus e até chineses têm sido recrutados com a promessa de uma recompensa divina generosa. Não existem valores humanos fortes o bastante que deem sentido à vida dos jovens Ocidentais? Parece que não.

Finalmente, nos encontramos, de novo, em uma nova guerra. Uma resposta violenta, a um movimento violento, consequência de um modelo político de exploração, também esse, violento. Uma ideologia irracional, combatida por outra, igualmente irracional.

Contudo, ainda existe a possibilidade de repensar os direitos das minorias desfavorecidas, procurando construir, com elas, um futuro onde os tais “Direitos Humanos” sejam respeitados e cultivados. Essa é uma lição para a coalização anti-Jihad e também para as lideranças políticas brasileiras.

1º de agosto: A festa nacional de uma verdadeira Confederação

Confederação

Mix & Remix

Hoje, 1º de agosto, os Suíços celebram a sua Festa Nacional, uma interessante recordação do pacto que, em 1291, uniu os estados (cantões) de  UriSchwyz e Unterwalden e inaugurou o processo de formação da Confederação Suíça.

Chamados em alemão de Waldstätten (que designa um lugar forasteiro, em meio a natureza), os três estados, localizados no coração daquela que seria a Confœderatio Helvetica, uniram-se para enfrentarem juntos os seus inimigos comuns. O principal deles eram os Habsbourg, uma importante família real conhecida por ter fornecido todos os imperadores do chamado Sacro Império Romano Germânico, união de territórios da Europa Central sob a autoridade do Sacro Imperador Romano.

Entretanto, para unirem-se, foi preciso encontrar um fator comum entre aqueles três estados. Acredito que a renúncia de uma parcela da própria autonomia política só foi possível, devido à vontade recíproca de não se submeterem a um rei que não era “um deles”. A exigência do respeito e do reconhecimento de quem eram, fez com que eles lutassem juntos pela própria liberdade.

O Estado de vontade

Olhando o ser humano e a maneira como ele se desenvolve em diferentes culturas, pude notar muitas particularidades, mas também inúmeras semelhanças. A similaridade que considero mais curiosa e que pude presenciar em quase todas as culturas em que estive imerso, é o desejo de unidade comunitária.

Contudo, mesmo exprimindo uma vontade comum, a unidade de uma cultura ou de uma nação torna-se um patrimônio coletivo, proporcionalmente à quantidade de pessoas que “dão voz” a esse desejo. Ou seja, quanto mais membros legitimam a sua unidade, mais ela se plasma no “DNA” dessa comunidade.

Os interesses que fundam a unidade comunitária podem ser os mais variados, mas tudo parte do raciocínio lógico que leva à uma evidente conclusão: unidos somos mais fortes e mais ricos de recursos econômicos, culturais e militares.

A República Federativa do Brasil

ConfederaçãoInfelizmente, a história da formação do Brasil, como nação, diverge muito da Suíça. Enquanto na Confœderatio Helvetica as vontades populares foram envolvendo, pouco a pouco, os diferentes (e autônomos) reinos, que se uniram para, sobretudo, garantir a segurança e a prosperidade recíproca, nas terras de onde venho a liberdade de escolha foi sufocada pelos colonizadores europeus.

No Brasil, as doze capitanias hereditárias – primeiras “unidades federativas” – não eram espaços políticos constituídos a partir de uma vivência comunitária livre, mas ambientes de repulsa dos nativos, de exploração escravocrata e, sobretudo, de empossamento de recursos naturais que eram, posteriormente, transportados para a metrópole. O principal objetivo dos conquistadores não era habitar, partilhar conhecimentos e riquezas, mas simplesmente roubar.

Por isso, para mim o Brasil nunca foi uma Federação. Faltou-lhe justamente a vontade popular (ou o sentimento comum de nação) para legitimá-la. A República Federativa do Brasil foi uma invenção imposta, como a dos estados africanos no neocolonialismo.

A Confederação Suíça pelos olhos de um brasileiro

Confederação

A Suíça abre a porta (Mix & Remix)

Justamente pelo fato de ter crescido em um país onde as vontades populares não foram (e ainda não são) respeitadas, percebo a riqueza existente na Confederação Suíça. A soberania do desejo coletivo de estar unido, respeitando as identidades originais de cada estado, contribuiu (e ainda contribui) decisivamente para que o país se desenvolvesse preservando seus valores. Hoje a Confœderatio Helvetica não tem só três, mas 26 estados, 4 línguas nacionais e uma crescente quantidade de estrangeiros de todo o mundo, que chegam diariamente no país em busca de melhores condições de vida.

O contexto atual em que o país europeu está inserido – de crise econômica, social e política no Velho Continente – tem levado a Suíça a desenvolver um sentimento perigoso de “medo do outro (ou do diferente)”, que impulsiona muito mais ao fechamento, que à abertura.

Na história da formação do Estado Suíço, a negociação das individualidades, comprometidas não só com os bônus, mas também os ônus da união, fundou um modelo de democracia que o torna hoje uma das poucas nações democraticamente sólidas. É fundamental pensar mecanismos de responsabilização socioeconômica, sociopolítica e sociocultural, para que os valores genuinamente suíços sejam preservados. Contudo, fechar-se contra os crescentes movimentos de troca cultural, econômica, intelectual e social é renegar a grande descoberta dos “pais da Confederação”: que a união, na diversidade, faz a força.

Page 5 of 38

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén