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Todos contra o Império Chinês

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Faltam menos de 100 dias para o início dos 26ª edição dos Jogos Olímpicos. O evento que abarca toda a elite do esporte mundial será realizado na capital chinesa, Pequim. Contudo, diversos protestos e tentativas de boicote têm prejudicado o destaque positivo que uma olimpíada gera na sociedade, promovendo um questionamento sobre a intencionalidade desses protestos.

O que tem sido passível de percepção, por meio da mídia, é que existem diversos “frontes” que legitimam os protestos. O primeiro deles é a repreensão dos cidadãos do Tibet, diante das manifestações em prol da sua independência. Nos últimos meses foram feitos diversos protestos, todos reprimidos verazmente pela polícia chinesa, causando revolta mundial.

Essas manifestações se ampliaram quando a tocha olímpica passou a percorrer as cidades do mundo. Em quase todos os lugares do ocidente houveram manifestações, tentativas de apagar a tocha, tudo para descaracterizar a China como promotora do evento.

Essa repreensão por parte dos chineses é questionada enfaticamente pelo ocidente, o que tem causado certo desconforto para os organizadores da olimpíada, que não conseguem dissociar a questão política, do evento esportivo.

O crescimento chinês, contracorrente da crise global que afeta principalmente os Estados Unidos, é outro motivo que impulsiona o boicote aos jogos olímpicos.

Pela primeira vez, toda a infra-estrutura dos jogos está pronta com grande antecedência, mostrando a eficiência e o alto grau de investimento feito pelo país para receber os jogos.

Um outro motivo advém dos ambientalistas que alertam o mundo sobre a quantidade exacerbada de poluentes emitidas pela China. Uma grande camada de poluentes na capital Pequim torna o ar da cidade quase “irrespirável” e que pode ser prejudicial aos atletas e ao público durante as olimpíadas.

Mas, não há mais muito que fazer. Os jogos estão prestes a começar e essas bandeiras levantadas em prol do boicote parecem fracas, diante do império chinês que está sendo erguido nos últimos anos.

Saudável sentimento de Alegria

Enquanto todos se acomodavam na platéia, comendo seus baldes de pipoca, algodões doce, até maçã do amor, e tomando seus refrigerantes, um som de banda, crescente, surgiu no canto do picadeiro.

Aqueles que ainda não tinham se dado conta, logo perceberam que o espetáculo estava começando. Um personagem corcunda, carrancudo, surgiu diante de todos, seguido pela banda que tocava uma música alegre, um dos tantos motivos que justificam o nome do espetáculo do Cirque du Soleil: “Alegria”.

Alegremente, todos os espectadores foram também sendo envolvidos pelos artistas do circo. Pulando sobre lonas, dançando, fazendo malabarismos com fogo, contorcendo-se elasticamente, saltando. Os números tantas vezes surreais do Cirque du Soleil fizeram valer às duas horas de espetáculo.

Destaca-se também a presença dos engraçadíssimos palhaços (um deles é brasileiro) que foi o elo principal de interatividade com o público. Por meio de brincadeiras infantis conseguiram tirar muitas gargalhadas de quem estava assistindo, fazendo do espetáculo, além de bonito, muito divertido.

Deve ser também parabenizada a produção magnífica, a música, tocada ao vivo e a trilha sonora envolvente, a organização, todo o conjunto que faz valer o “preço do ingresso”.

Um espetáculo e tanto, de muita alegria. Paradoxo saudável que possibilita aos paulistanos, vivenciar uma experiência relaxante para o corpo e para o espírito. ALEGRIA!

(Na noite do dia 22 de abril, o Grupo Votorantim realizou uma sessão fechada do espetáculo Cirque du Soleil – patrocinado por ele – para os seus colaboradores, em comemoração pelos 90 anos completados pelo Grupo).

Jogaram a Família pelo sexto andar

isabellaNaquele dia 29 de março culminou mais uma das grandes estratégias do mundo pós moderno, para emancipar o poderio capitalista sobre as pessoas que, quanto mais estão sozinhas, mais podem ser dominadas.

Das instituições detentoras da Verdade, em que o bem comum ainda parecia visível, a família era a única remanescente, ainda mais a burguesa, que foi atacada outrora quando o menino João Hélio foi arrastado pelas ruas cariocas ainda sem dengue.

Porém, o que se vê na mídia é uma transformação da vida real em “reality show”, onde se colocam no “paredão” o pai, a mãe, a madrasta, o pedreiro ou qualquer outra personagem passível de ibope.

Nas mesas de bar, nas rodinhas da faculdade, no trabalho, especulam-se culpados sem qualquer pudor, da mesma forma que se discutiam as eliminações do reality show televisivo.

Mas os dias foram passando e o desenrolar da história foi levando à mesma insatisfação que o Big Brother gerou em seus espectadores. A demora para definição de uma resposta final, de um desfeche para esse “romance real” perturbou a sociedade.

Quem foi que matou a linda menininha de cinco anos? Enquanto as autoridades procuram desvendar esse mistério, toda a sociedade esquece de que uma família já foi destruída, arremessada junto com Isabella daquele sexto andar.

Mas, pensando bem, o que parece mesmo é que por trás dessa terrível tragédia, a desmoralização da família, último baluarte social, foi empurrada com uma certa dose de oportunismo do tal selvagem capitalismo. Meus pêsames a nós.

Sustentados pela Fé em Deus

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São 17:30hs na quente tarde de outono da capital econômica brasileira. As ruas centrais de São Paulo acolhem centenas de pessoas, que se tornam milhares quando se aproxima o fim do expediente. Subindo pela Rua Direita, camelôs se espalham em diálogos vagamente audíveis e ofertas “dois por um real” aparecem a cada metro superado. Os paulistanos, sempre apressados, não se cumprimentam, nem se olham, num frenesi de quem não tem tempo para perder.

Chegando a Praça da Sé, um grupo de pessoas se reúne a certa distância. Difícil distinguir do que se trata, diante daquele “mar de gente” que cotidianamente trafega pelo marco central da cidade. Aproximando-se não é difícil perceber mais uma daquelas rodinhas famosas, que contam com alguma espécie de atração bizarra, muito popularizada por programas de auditório que preenchem a programação dominical há anos.

Um senhor, de estatura baixa, trajando roupas sociais finas e uma bíblia na mão, esperneia pregações complexas e eufóricas que contagiam todos os que se aproximam para observar a cena. Os aparentes cinqüenta anos se contradizem com a energia e a força de suas palavras professadas, enquanto um companheiro, que está dois ou três metros do pregador, lê um trecho do “Novo Testamento”, de forma simples, tímida, mas confiante, intercalando a seção de berros do pregador.

Assistindo ao evento estão cerca de quarenta pessoas. Possíveis trabalhadores, pessoas de aparência simples, talvez boys, motoboys, secretárias, desempregados, que buscam conforto naquelas palavras professadas com tanto ardor.

No grupo de discussões online da Yahoo uma pergunta: quem sustenta os pregadores? O usuário que abre o fórum de discussões, denominado Chaka, faz seu relato: “Trabalho no centro de São Paulo. Aqui no Viaduto do Chá tem um pregador que fica lá o tempo todo, batendo numa Bíblia surrada e gritando coisas incompreensíveis. Já tive vontade de perguntar pra ele quem paga pra ele ficar ali, ou se ele é aposentado ou tem algum rendimento, se tem casa, família, mas fico com medo dele armar algum escândalo ou não me deixar mais em paz depois, então resolvi perguntar aqui, que é mais seguro (hehehe): quem sustenta eles?”

Perguntas desse tipo provavelmente intrigam grande parte dos transeuntes do centro da cidade. A primeira consideração a respeito da pergunta de Chaka no fórum diz: “Geralmente os “pregadores” têm o objetivo de ganhar fiéis para as igrejas. A grande maioria não pensa diretamente no dinheiro, pois estão tão cegos pela sua fé que acreditam fazer aquilo em nome de Jesus e quem acaba metendo o dízimo no bolso é a igreja. Os bispos ou pastores que pregam dentro das igrejas, se não me engano, recebem um salário (equivalente à sua importância, claro), mas os pregadores de ruas não passam de fiéis rabugentos que no máximo levam um vale alimentação… Talvez um vale-paraíso também (mas esse não sustenta por aqui). Obs: não adianta discutir com eles pois é pedir pra ouvir meia hora de “encheção de saco”.

Todos trajam roupas simples e acompanham com palmas e gritos de “glória a Deus” e “viva a Jesus”, cada oração exaltada do pregador.

As controvérsias a respeito da atuação dos “pregadores de rua” geram muita discussão. Opiniões contrárias ao laicato pós moderno são também apresentadas no fórum on-line. “O Senhor sustenta, é bíblico.” diz o usuário Shalon, deixando evidente que muitos dos trabalhadores que freqüentam esse tipo de pregação acreditam na “graça” do pregador. Bruna, outra usuária, acrescenta em seguida: “Alguns dos pregadores trabalham, outros são sustentados pela igreja. Mas viver da Obra é complicado, por exemplo, o meu pastor, esses tempos atrás, passou fome, mas graças a Deus essa fase passou”. A usuária Adrika, também procura responder a pergunta: “Existem pessoas que são separadas por Deus para um determinado trabalho. Alguns conseguem conciliar a obra de Deus com o trabalho secular (que é o meu caso), outros, porém, dedicam-se 24h ao trabalho missionário. Estas pessoas (quando verdadeiramente separadas por Deus) recebem o auxílio da igreja onde congregam”.

A passagem do pregador da Sé fala da vitória de Deus sobre o Mal. “Deus é grande” pregava o homem. “Temos que aprender a não ser, para ser!”. “Temos que juntar tesouros no Céu, pois de nada valem os tesouros terrenos. Aí me dizem: Irmão, eu não posso ir para o Céu agora, como vou ajuntar tesouros celestes? E eu digo: Tive fome e me destes de comer, tive cede e me destes de beber, estava preso e fostes me visitar. Aquilo que fizeres aos menores dos meus é a mim que o fazem!”

O pregador se aproxima dos espectadores intimando-lhes, apontando o dedo em suas faces, perguntando se eles acreditam em suas palavras. Timidamente as pessoas continuam a dizer “glória a Deus”.

Jaqueline é contrária à ação dos pregadores “Eu não os agüento. Acho que a pessoa tem todo o direito de seguir uma religião, desde que as outras não sejam incomodadas. Mas essas pessoas são tão teimosas. Ainda têm aquelas que tocam a campainha da sua casa. Eu nem atendo”.

Passados trinta minutos, Marlene, senhora que mora no Cambuci, Zona Sul de São Paulo, se aproxima e diz: “Ta vendo moço, se vê que ele não pede nada pra nóis” e alguns minutos depois “é Deus que pede através dele”.

Um pastor, denominado Irmão Cébio, da Igreja Pentecostal, também responde a pergunta: “A maioria dos (pregadores) que eu conheço se sustentam, como é o meu caso. Bom… como ele passa o dia todo lá, deve ser aposentado por algum motivo, já que a ajuda de custo dado pela igreja geralmente não dá tanta comodidade a um pai de família”.

Os fiéis tantas vezes incentivam os outros espectadores a dar sua “contribuição” para o pastor que, segundo eles, pede em nome de Deus. “Aquele homem simples que prega o evangelho batendo numa bíblia surrada, talvez seja aposentado, não há quem o sustente, a menos que seja um missionário ligado a alguma igreja com o fim de evangelizar, mas tais missionários geralmente são pagos para, além do evangelho, fazerem obras sociais em regiões carentes. Logo o tal pregador é uma testemunha voluntária que deseja que os ouvintes não sofram o juízo de Deus, que escapem à condenação. Ouça-o mais atentamente e, decerto também há de ouvir em sua voz, a voz de Deus.” – diz Euclides, no comentário que fecha a discussão.

As pregações no Centro continuam e Marlene insiste “hoje eu dei R$50,00 para ele. Vai me fazer falta, mas foi Deus que pediu através dele e por isso eu do”.

Os nossos alunos não estão sendo formados

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Li em uma reportagem da Folha do dia 14 do mês de Março que 80% dos alunos de SP não sabem matemática. Os resultados do Saresp 2007 (exame do governo do estado) divulgados apontam uma situação “trágica” no ensino de matemática nas escolas públicas do estado, pois “mais de 80% dos alunos não atingiram os conhecimentos esperados pela própria Secretaria da Educação”.

Ao terminar de ler essa reportagem e refletindo sobre a situação do ensino brasileiro, fiquei procurando possíveis rumos que a educação no Brasil deveria tomar. Observei minha mãe lendo a manchete da Folha em voz alta, questionando os métodos da pesquisa do Saresp. Ela, professora de primeiro ano do Ensino Fundamental em uma das sobreviventes escolas estaduais, que foram gradativamente sucateadas e jogadas na “valeta da indiferença” pelos últimos governantes “Psdebistas”.

Porém, a correria da vida metropolitana não me permitiu pensar muito sobre a situação alarmante da educação no Brasil. O dia passou e após uma árdua jornada de trabalho, corri para a universidade almejando não chegar atrasado, mesmo com o tráfego caótico que tornou meu objetivo praticamente inatingível.

A aula na universidade começa e, seguindo métodos tradicionais ultrapassados, o professor faz cara feia para quem chega atrasado, sem nem sequer pensar nas adversidades que cada aluno vivenciou para estar ali presente. Falando extremamente baixo, com uma lógica pouco compreensível, lembrei-me quase que instantaneamente da reportagem que eu e minha mãe lemos naquela manhã.

Um salto de uma semana me trouxe a hoje cedo, novamente lendo uma reportagem, agora no Estado, sobre o ensino no Brasil, dizendo que 23% dos docentes da área ensinam sem curso superior, sendo que muitos deles dão aula com os conhecimentos adquiridos somente no Ensino Médio.

Refletindo sobre isso achei quase impossível não relacionar o baixo desempenho dos alunos, evidenciado pela reportagem da Folha, com a fraca capacidade desenvolvida pelos professores, até mesmo os profissionais formados pelo Ensino Superior (que não têm o mínimo de didática pedagógica), dentro do atual sistema de ensino das nossas escolas e universidades.

As pesquisas transformam em números a incapacidade dos estudantes de aprender, mas falta uma espécie de “auditoria” com os professores das escolas, os mestres e doutores das universidades, que tantas vezes adotam posturas conservadoras no que se diz respeito à transmissão de conhecimento e não desenvolvem a capacidade de adaptação dos próprios conhecimentos com a demanda dos estudantes.

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