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[Eleições 2010] Quanto vale um voto? – por Luigino Bruni

Porquê as pessoas vão votar?

A ciência econômica ainda não pode nos dar respostas a esta questão de forma convincente. Se seguirmos somente o critério de racionalidade puramente econômica, isto é, aquele que nos leva a fazer escolhas em termos de custos e benefícios para o indivíduo, nenhum cidadão racional deveria ir às urnas. De fato, o impacto que um único voto tem sobre o resultado final de uma votação política está muito perto de zero, enquanto que o custo (em tempo, especialmente) está todo sobre o indivíduo. Se, em outras palavras, cada pessoa se perguntasse “o que o meu voto acrescenta na política nacional?” e agisse de conseqüência, deveríamos nos encontrar com as sessões eleitorais desertas.

Mas porque então, não obstante a teoria econômica e os economistas, ainda muitas pessoas vão votar? Talvez porque quando participamos da vida civil e política não olhamos somente aos benefícios e aos custos individuais e materiais, mas atribuímos também um valor intrínseco ou ético à participação política em si. Quando Franca deve se decidir se ir ou não votar, se o custo material do voto é 2 (tempo, gasolina…) e o benefício é 0,1 (isto é, quanto vai influenciar o seu voto no êxito eleitoral), se ela não considerasse outros tipos de benefícios, ficaria tranquilamente em casa ou iria passear. Se, ao invés, a participação política lhe traz por si mesma bem estar ou felicidade, é como se àquele 0,1 se acrescentasse um valor material que, se bastante elevado, a faz ir às urnas ao invés de gozar de um repouso dominical. O que podemos dizer então, a partir desta prospectiva, sobre o declínio da afluência? Antes de tudo, deduzir que este declínio é também resultado de um número crescente de pessoas que pensam em termos puramente individualistas e “econômicos”.

Mas podemos dizer ainda algo mais. Quando a qualidade do debate político e a moralidade dos políticos decaem, aquele valor intrínseco e simbólico da participação se reduz nas pessoas. E quando decaem abaixo do limiar crítico (para Franca é de 1,9 e cada um tem o seu “limiar crítico”) pode-se não ir mais votar: “não vale mais a pena”, é uma expressão que diz em extrema síntese tudo isso. E mesmo se Franca ignora qual seja o seu “limiar crítico”, se este ano não foi votar, com esta sua escolha nos revelou que o seu valor intrínseco da participação política decaiu. Neste caso até mesmo um ‘não voto’ é um sinal de mal-estar e talvez um pedido por uma melhor qualidade da vida política. É claro, existem cidadãos para os quais o valor ético da participação política é muito alto, mas muitos outros gravitam ao redor daquele valor “limiar” e a crise moral da política pode ter induzido muitos destes a renunciar ao voto.

O que concluir então? Se quisermos que as pessoas continuem a votar, a exercitar este direito-dever príncipe em uma democracia, é preciso preencher de ideais e de moralidade a política e fazer com que aquele valor simbólico, mas muito real, seja sempre alto e que “valha a pena”.

Nem só de futebol é feita a Copa – Revista Cidade Nova – Junho 2010

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ÁFRICA DO SUL A Copa do Mundo não tem apenas o desafio de mostrar ao mundo a riqueza cultural e humana do continente africano, mas deve também levar benefícios econômicos e sociais à população do país que a sediará

A Copa do Mundo não é só mais um campeonato de futebol como costumamos acompanhar pela televisão. O evento esportivo mais popular do planeta se apresenta, sobretudo, como uma importante oportunidade de captação de investimentos para o desenvolvimento da infraestrutura, aumento na oferta de trabalho e, consequentemente, crescimento econômico para o país-sede.

Todos esses benefícios socioeconômicos se apresentam como solução paliativa, principalmente, para a África do Sul, a maior economia do continente africano, que sofreu uma retração de 6,4% no ano passado por conta da crise mundial.

Mas a pergunta que também interessa a nós brasileiros por conta da Copa do Mundo de 2014 no Brasil é: como fazer com que toda a riqueza depositada no país, durante essas grandes manifestações esportivas, seja efetivamente “partilhada” com a população local?

Como resposta concreta a esse questionamento, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, junto com o ex-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, e em parceria com a União Europeia, criaram o projeto “Win in Africa, With África” (Vença na África, com a África). “A iniciativa tenta garantir que a Copa do Mundo da FIFA 2010 deixe um legado duradouro para a África do Sul e para o continente africano”, explica o presidente da principal organização do futebol mundial. A proposta faz parte de um grande projeto da FIFA, o “Futebol por um Mundo Melhor”, que tenta fazer do esporte um recurso para o desenvolvimento social.

Além de construir diversos campos de futebol em todas as regiões do continente, a FIFA tem feito parcerias com universidades africanas, que oferecerão cursos de gestão esportiva e organização de eventos, além de promover o desenvolvimento da medicina do esporte.

Na área da comunicação, o “Win in Africa, With África” fez uma parceria com a Fundação AFP, da agência France-Presse, para realizar um treinamento a fim de formar centenas de jornalistas africanos para a cobertura da Copa do Mundo deste ano. “Graças à nossa parceria com a Fundação AFP, cerca de 300 profissionais de mídia de todas as regiões da África estão sendo treinados em cursos de jornalismo de alta qualidade nos últimos 12 meses”, afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter.

Outro importante legado social para o continente e para os outros países participantes foi a primeira Copa do Mundo de Meninos de Rua. (www.streetchildworldcup.org). Organizado por diversas ONGs, o projeto levou oito times de crianças de rua vindos da África do Sul, Brasil, Índia, Ucrânia, Nicarágua, Tanzânia, Reino Unido e Filipinas para participarem de um evento em Durban, cidade sul-africana localizada na costa do Oceano Índico.

Durante o evento, além das atividades esportivas, foram feitas oficinas de vídeo onde os meninos contavam suas histórias por meio da arte, além de uma conferência com diversos representantes políticos e personalidades envolvidas nas ações em prol das crianças de rua. No final do encontro, foi criado o Manifesto da Criança de Rua, assinado por todos que lá estavam. A próxima edição da Copa do Mundo de Meninos de Rua acontecerá em 2014, no Brasil.

Ações de formação, trabalhos de infraestrutura e de educação. Todo esse massivo investimento na África tem, por outro lado, a necessidade de continuidade. Uma das principais preocupações parte justamente da geração de milhares de empregos temporários para, por exemplo, a construção de estádios, que pode gerar um grave problema social após o fim dos jogos. Durante os últimos anos, esses milhares de trabalhadores conquistaram um padrão de vida que não será mantido depois do evento.

Outro problema está nos chamados “Elefantes Brancos”, expressão usada para obras que só têm utilidade específica e temporária, sendo que em grande parte dos casos, ao final do evento, acabam abandonados pelo alto custo de manutenção, como é o caso dos modernos estádios construídos para sediar os jogos da Copa.

Copa para os africanos

Todos os trabalhos e o legado que a Copa do Mundo quer deixar para os africanos não exclui a preocupação para que o povo do continente também possa desfrutar diretamente do evento propriamente dito.

Porém, de acordo com o Comitê Organizador da Copa, a procura por ingressos pelos africanos tem sido muito baixa, mesmo diante do fato de que a África do Sul sediará um dos Mundiais mais baratos da história para a população local. Na categoria 4, reservada apenas para sul-africanos, o custo será de 140 rands (moeda local), o equivalente a pouco mais de 30 reais, enquanto os ingressos para estrangeiros variam de 80 dólares (cerca de 140 reais) nos lugares mais baratos para os jogos da primeira fase, até 900 dólares (mais de 1500 reais) no lugar mais caro da final.

A fraca presença de público foi um dos principais pontos negativos da Copa das Confederações, evento “pré-Copa, realizado na África do Sul em julho de 2009. O único jogo que teve lotação total foi o confronto entre Brasil e Itália, ainda pela primeira fase.

As dificuldades sociais são uma das muitas justificativas para a pouca participação da população na compra dos ingressos. Por isso, para amenizar esse problema foi criado o Fundo de Ingressos, uma iniciativa inédita nos 80 anos de história da Copa do Mundo da FIFA que, como primeira medida, prometeu que cada um dos 20 mil operários receberá dois ingres-sos para uma partida no estádio que estiver ajudando a construir.

“O objetivo do Fundo de Ingressos é tornar as partidas da Copa do Mundo da FIFA 2010 acessíveis àqueles que não teriam meios ou outra forma para adquirir ingressos. Os bilhetes não serão doados gratuitamente, mas concedidos como uma forma de recompensa ou incentivo, especialmente para os jovens sul-africanos que participam ou contribuem em atividades de desenvolvimento humano e social”, explica o site oficial da FIFA (www.fifa.com).

Também as crianças poderão adquirir um melhor conhecimento de questões ambientais, como a importância da reciclagem, aprenderão sobre a prevenção contra o vírus HIV, entre outras questões importantes, que são projetos apoiados pelo Fundo de Ingressos e estão se realizando nas escolas sul-africanas.

“A Copa ajudará o nosso país, principalmente em alguns negócios. Muitas pessoas, de modo especial aquelas com um espírito empreendedor, se beneficiarão, mas não é um segredo que, com suas políticas de negócio e licenças, a FIFA monopoliza as oportunidades e acaba sendo a mais beneficiada” – contrapõe João Ladeira, sobre o trabalho social realizado pela FIFA na África do Sul.

Assim, quando o apito soar, no próximo dia 11, para a partida inaugural entre os anfitriões e a seleção mexicana, não estará em jogo só o título de campeão da Copa do Mundo de futebol, mas também será possível observar a capacidade de fazer de um evento de entretenimento uma oportunidade de prover bem-estar para a população, carente não apenas de reconhecimento no campo esportivo, mas principalmente de recursos para o desenvolvimento como país.

Vítimas do desenvolvimento tecnológico

Chegou-me em mãos hoje um artigo a respeito dos casos de suicídio na fábrica de Longhua, dirigida atualmente da sociedade taiwanesa Foxconn.

O texto apresenta uma relação feita por alguns jornais desses suicídios com a etapa final de produção do grande lançamento da Apple em 2010: o IPAD.

Visto com bons olhos pelos profissionais de TI, a “mesa portátil” da multinacional norte americana tem na fábrica de Longhua seu grande pólo produtor.

O interessante é que este produto, evidenciado como sinônimo de DESENVOLVIMENTO, não vem apresentado levando em consideração seu processo de produção, típico de grandes potências mercadológicas que usam de grandes complexos industriais para desenvolvê-lo de forma subumana.

Interessei-me então pelo assunto e encontrei outro texto (http://www.gizmodo.com.br/conteudo/relatos-de-um-infiltrado-no-inferno-fabrica-da-foxconn) que conta a experiência de um repórter de um grande jornal chinês para entender as verdadeiras causas desse crescente número de suicídios.

Contudo, o que falta em tudo o que li sobre o assunto é uma importante relação desses suicídios com a cultura oriental da eficácia. Da busca incansável pela perfeição e o êxito. É conhecido de todos que esse perfeccionismo é exigido já com crianças e que vem acentuado na entrada ao Mercado de trabalho.

No site do programa da ONU que se ocupa da prevenção ao suicídio (http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/suicideprevent/en/) é possível perceber que estão na Ásia os maiores índices de suicídio. Em contrapartida tanto na África, como nas Américas Central e do Sul, onde as condições de trabalho são péssimas, esses índices não são tão altos.

É importante olhar universalmente para esses casos, como o do IPAD, procurando entender também os aspectos culturais e sem fazer ataques diretos a uma empresa ou produto específico.

O que precisa ser combatido é justamente o sentido de fazer com que a necessidade de produtos de consumo valha mais que o ser humano.

Não sei se dentro do Capitalismo, onde a cultura do sucesso é difundida além de qualquer valor, isso é possível.

De qualquer forma, seguem alguns links com as notícias:

http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI4452090-EI15608,00-Fabricante+chines+de+eletronicos+enfrenta+o+suicidio.html

http://info.abril.com.br/noticias/mercado/fabricante-de-iphone-quer-conter-suicidios-25052010-47.shl

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/05/empresa-de-taiwan-toma-providencias-para-frear-onda-de-suicidios.html

Para além da Copa – Revista Cidade Nova – maio 2010

Por Valter Hugo Muniz

AFRICA DO SUL:  Uma festa popular recheada de alegria, música e dança junto a um grande espetáculo esportivo são os ingredientes que a primeira Copa do Mundo de futebol na África tem a oferecer para todo o planeta. Mas será que é só isso?

O que a África faz você lem­brar? O que além de animais selvagens, savana, fome, des­nutrição, milícias e pobreza?

As respostas a estas perguntas es­tão, muitas vezes, ligadas ao que vemos em filmes e pela TV. Contudo, mesmo diante da visão caricaturada que se construiu sobre o continente africano, teremos, durante um mês, a oportuni­dade de ver, como explica a jovem an­golana Ivete Maria, que a “África não se resume a coisas negativas, se você se interessa em conhecer a beleza que existe no nosso continente”.

A primeira Copa do Mundo FIFA em solo africano, que acontecerá do dia 11 de junho a 11 de julho próxi­mos, será, principalmente, um con­vite ao planeta para ver o continen­te de maneira diferente.

Do sonho à realidade

Durante mais de 80 anos, a África do Sul passou por uma terrível es­tratificação social. No regime co­nhecido como Apartheid, a minoria branca (cerca de 10% da população) submetia o restante da população a um governo de leis segregacionistas que, entre outras coisas, impedia o casamento “entre raças”, estipulava locais onde alguns grupos negros poderiam habitar, além de formalizar a discriminação racial no em­prego e reduzir o nível de educação da população negra.

A Copa do Mundo de futebol existe desde 1930. Durante as 18 edi­ções já realizadas, o continente afri­cano nunca pôde sediar o evento. A África também jamais organizou uma edição dos Jogos Olímpicos, que acontecem há mais de cem anos.

Guardadas as devidas propor­ções, o anúncio de que a África do Sul seria o país-sede da Copa do Mundo de 2010, feito no dia 15 de maio de 2004, gerou a mesma ex­plosão de alegria daquele dia 10, do mesmo mês, mas dez anos antes, quando Nelson Mandela fez o jura mento como presidente da África do Sul diante de uma eufórica multidão, decretando o fim do Apartheid. Nos dois momentos fo­ram derrubados os “muros da se­gregação”.

“A Copa do Mundo é um mo­mento único para a África do Sul, mas também para os outros países africanos. Nosso povo sempre trouxe um ‘sabor especial’ a esse evento e é a hora de também nós termos esse privilégio de sediar uma Copa. Afi­nal não vai ser uma ‘Copa do Mun­do’ se a África estiver excluída, certo?”, comenta o técnico de in­formática, João Ladeira, morador de Johanesburgo, cidade mais popu­losa da África do Sul.

Para a alta comissária dos Direi­tos Humanos da Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, “o simbolismo da Copa do Mundo de 2010, que se realiza pela primeira vez em um país africano e, especialmente, em um país que foi, durante muitos anos, sinônimo de racismo institu­cionalizado, é importante”.

Um novo olhar

O primeiro impacto da Copa na África do Sul será na maneira como o resto do planeta olhará para o con­tinente africano durante os jogos.

As grandes multinacionais têm usado artistas e jogadores africanos em seus comerciais televisivos, além de explorar visualmente a imensa riqueza da fauna, da flora e a alegria do povo para apresentar o conti­nente. Também a indústria cinema­tográfica lançou neste ano, o filme “Invictus” (que indicamos na re­vista do mês de abril), história que mostra como o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela, fez uso do rúgbi, esporte que é uma paixão nacional, para construir a unidade em um país que estava di­vidido há muitos anos.

Contudo, muitos cidadãos afri­canos estão preocupados com o fato de que, às vezes, as estratégias comerciais acabam por caricaturar ainda mais a vida no continente. Mesmo assim, o fotógrafo brasileiro Cristiano Burmester, que trabalhou por muitos anos na África, acredita que a Copa será “uma ótima oportu­nidade para o mundo ter um olhar diferente e menos formatado sobre o continente”.

Diversidade cultural

“Com a Copa, o mundo vai co­nhecer o outro lado da África que nunca quis conhecer, vai entender que a África não é um país, mas sim um continente, rico em cultura e em diversidade”. Esse comentário da angolana Ivete aponta para as­pectos importantes como: a cultura, a história e a tradição africana. O povo zulu é uma expressão signifi­cativa da diversidade que constitui o continente.

Entre essas riquezas, destaca-se o papel que os jovens exercem na sociedade sul-africana e o senso de solidariedade presente no país. A juventude sempre desempenhou um papel fundamental na vida po­lítica e cultural da África do Sul. Os sul-africanos de 14 a 35 anos, das diversas etnias que compõem o país, exercem uma influência con­siderável na sociedade e no cotidiano da nação.

A expressão “ubuntu”, usada no país da Copa, resume a ideia de que “um ser humano se faz humano através dos outros seres humanos”. Este termo, que está intimamente relacionado à ideia de solidariedade coletiva, assumiu grande importân­cia durante o processo de constru­ção nacional da África do Sul.

Mas, afinal de contas, qual é a África que queremos ver? E qual é a África que os africanos querem mostrar?

“Eu não diria que essa Copa tem algo de missionário. Apenas que­remos devolver algo ao continente africano por tudo o que ele já fez e ainda faz pelo futebol mundial, sobretudo o europeu”, disse o presi­dente da FIFA, Sepp Blatter, quando questionado sobre o evento. Mas se olharmos para trás, para a histó­ria das nações, talvez seja todo o mundo que deve devolver à África a dignidade e o respeito por tudo o que o povo africano fez e ainda faz para o restante da humanidade. E o mundo não pode perder a excelente oportunidade que a Copa oferece. •

O mascote da Copa

A escolha de um mascote oficial da Copa do Mundo é uma tradição que existe há mais de 40 anos. O escolhido para homenagear a primeira copa em solo africano é o leopardo “Zakumi”. “ZA” significa África do Sul e “kumi”, em vários idiomas africanos, quer dizer “10”, relacionado ao ano da Copa: 2010. Criado por artistas africanos, Zakumi representa o povo, a

geografia e o espírito da África do Sul. “Ele nasceu em 1994, no mesmo ano em que também nasceu a democracia do país. Ele é jovem, cheio de energia, esperto e am­bicioso. Uma verdadeira inspiração para pessoas de todas as idades, não apenas no nosso país”, explicou Danny Jordaan, principal executivo do Comitê Organizador da Copa da África.

Devemos começar a contar as nossas roupas

Já estou cansado das catástrofes naturais.

Não que isso tenha algum tipo de conseqüência na diminuição delas e muito menos ressonância nas discussões e coberturas midiáticas que se repetem em estilo, abordagem e questionamentos. (perdão para a generalização, mas esse é o sentimento)

Depois de Angra, do Haiti… o que falaremos de diferente do Chile?

Quantos graus na escala richter foi o terremoto? 6, 7?

Quantos mortos 500, 1.000, 50.000?

Quantos brasileiros estão na contagem de vítimas? Quantos se salvaram?

De novo a catástrofe, de novo a dor, as mortes, mas infelizmente ainda falta a tal resposta a minha pergunta: o que eu tenho a ver com isso?

Revendo uma animação muito interessante (http://www.storyofstuff.org/international/ ) novamente pensei no quanto nos distanciamos das realidades.

De forma sintética, essa animação mostra como “hábitos verdes”, como a reciclagem, não resolvem mais o problema do nosso planeta.

Ok! Seria ótimo que todos separassem o lixo, reciclassem tudo, mas os maiores poluidores são as grandes empresas que continuam produzindo freneticamente para acompanhar o ritmo de consumo das pessoas.

E continuamos a falar das conseqüências e não da origem dos problemas!

Talvez letrados, especialistas, consigam despertar para questões mais amplas e até considerem ingênuo esse meu questionamento, mas a juventude (meus amigos) não consegue entender que devemos começar a contar as roupas que temos no armário.

Pode até ser que eu seja louco, mas será que é tão claro para mim e tão obscuro para muita gente que todas essas catástrofes são uma reação da natureza contra os nossos abusos PESSOAIS?

As respostas estão sempre distantes! Políticas públicas, boa vontade política, acordos econômicos. Argumentos assim mostram um alto grau de consciência. Só que o que eu gostaria mesmo era abrir o armário desses “ases da eloqüência”.

Conservamos hábitos insustentáveis e o mais interessante é que as decisões políticas acompanham todos eles.

(Em São Paulo fazem-se obras para ampliar grandes vias como a Marginal em vez de um investimento massivo em transporte público e até mesmo o rodízio, em vez de diminuir a quantidade de carros, incentivou as pessoas a terem dois carros para não perderem a possibilidade de se locomover com conforto)

Duas casas, dois carros, muitas camisetas, três tênis (afinal de contas eles precisam combinar com as roupas) e sapatos? Quantos pares?

Depois do pseudo-comunismo está na moda o pseudo-ambientalismo. Tudo perfeito no discurso, mas a falta de coerência prática gera conseqüências que fazem mal aos olhos, a alma.

Dessa forma, decidi abrir meu armário. Não só o local onde estão minhas roupas, coisas, mas onde está a consciência de que as mudanças nascem de dentro pra fora. Ou será que a gente só vai se sensibilizar quando forem os nossos parentes, amigos, que estarão entre os números da contagem de mortos de algum desastre?

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