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Intervenções urbanas de Eduardo Srur

farol

eduardosrur.tumblr.com

Todos os dias, durante o meu trajeto de retorno à casa, pedalando (claro!), passo pelo centro histórico de São Paulo.

Liberdade, Praça da Sé, Rua Direita, Mosteiro de São Bento e Vale do Anhangabaú são as principais atrações desse percurso cultural, que a vida de ciclista me permite admirar.

Contudo, na última semana, passando por ali, me deparei com uma intervenção artística, muito interessante, que me apresentou o inusitado artista plástico Eduardo Srur.

Um Farol, coberto com 15 mil ratos de borracha, de 8 metros de altura, avisa “os navegantes” paulistanos, sobre uma realidade, sempre escondida, do submundo da metrópole. Segundo o artista, São Paulo tem uma das maiores populações de ratos do planeta, com uma média de quase 15 por habitante.

Eduardo Srur é famoso por suas intervenções a céu aberto na cidade de São Paulo – garrafas pets gigante ou caiaques nos rios Pinheiros e Tietê -, instalações provocativas que denunciam o caos urbano.

Uma das suas intervenções mais interessantes que vi no seu blog eduardosrur.tumblr.com  foi a carruagem em tamanho real, instalada no mastro da ponte estaiada e que compara a velocidade média de deslocamento de um carro no trânsito paulistano no horário de pico, com a velocidade de uma carruagem nos tempos do Império.

Um artista interessante de conhecer. Made in Brazil. O que dá um orgulho especial.

Intervenção da carruagem:

[vimeo=http://vimeo.com/52162322]

Lição ao definir um atentado

atentado

Sempre ouvi dizer que as diferenças enriquecem o casamento. Posso garantir, sendo casado com uma estrangeira, que essa é uma verdade fundamental.

A diferença ajuda a gente a ser mais completo, a ampliar as perspectivas, desenvolver nossa sensibilidade e, assim, errar menos. Ontem, tive mais uma prova dessa realidade.

No final da tarde, entrei na internet e descobri que tinham sido explodidas duas bombas em Boston. Como jornalista, lendo os fatos que iam sendo apresentados pelos sites e redes de televisão, concluí, pelas evidências, que se tratava de um atentado terrorista.

O evento na capital do estado Massachusetts tinha um simbolismo importante, local e nacionalmente. Duas explosões aconteceram durante a Maratona de Boston, a mais antiga do mundo (moderno), disputada há 117 anos, e que reunia atletas de todas as partes do mundo.

Para relembrar: o ataque às Torres Gêmeas foi realizado no coração econômico dos Estados Unidos (Nova Iorque), com dois aviões e em dois arranha-céus onde trabalhavam uma vasta representação internacional.

As semelhanças são muitas, mas aqui emerge o valor da diferença: O jornalista é “treinado” para realizar uma leitura imediata dos fatos, para depois definir o evento. Assim, quando alguém perguntar “o que aconteceu?” ele, rapidamente, pode dar uma resposta clara e objetiva. Já uma especialista em relações internacionais, como minha esposa, age de maneira diferente. Assim que eu defini o atentado em Boston como “ataque terrorista” ela, imediatamente, disse que eu deveria tomar cuidado com a terminologia da definição. Não entendi o porquê. Os fatos falavam por si só, mas, passadas algumas horas, assistindo ao discurso de Obama, em que ele também tomou esse cuidado terminológico, me dei conta do quanto é importante respeitar o tempo, a apuração mais aprofundada, mesmo que a notícia “tenha que sair”.

O termo “terrorismo” e a sua instrumentalização feita, especialmente pelo governo Bush, produziu um mal histórico e serviu para justificar a morte de inúmeros inocentes no Oriente Médio. A chamada “Guerra ao Terror” acentuou o ódio dos “fanáticos” e pode ser considerada uma das causas do discurso demente do ditador norte coreano.

Definir como “atentado” sim, porque foi. Mas incluir “terrorismo” é afirmar que existe uma organização “criminosa” responsável pelo ato de violência, não somente direcionado às pessoas presentes no momento da explosão, mas ao Estado estadunidense e o seu significado simbólico, como liderança do chamado Ocidente. Essa conclusão ainda precisa de tempo.

Mais uma lição que aprendi com as diferenças. Ainda bem que elas existem.

Eles já foram punidos

maioridade penal

O ser humano tem uma capacidade assustadora de se acomodar. Enquanto tudo está bem, geralmente, nós não nos movemos, nos preocupamos, principalmente com os outros. Mas, toda vez que a nossa liberdade e os outros direitos individuais são afetados, saímos aos berros pedindo justiça, liberdade, paz!

A consequência dessa “ação e reação” é, contudo, mais drástica: o desvio do cerne da questão.

Será que a sociedade (sobretudo a rica) pensa no como estão sendo educadas as crianças (sobretudo as pobres) do país? Quem são as referências? A televisão? Quem são os pais? Ou melhor, elas crescem em uma família?

Enquanto é grande a exaltação da união homossexual, por ela ser manifestação da individualidade de cada um (e eu não sou contra ela), ninguém, contudo, se pergunta quais as consequências de uma criança não crescer em uma família, estável e com as duas referências de gênero.

Além disso, a mesma classe A e B que chora a morte de seu filho e condena, com razão, o assassino, exigindo que ele passe em vez de dois, vinte ou trinta anos na cadeia, apoia (ou é motriz de) uma dinâmica laborativa de baixíssimos salários, extenso regime de horas, colocando a “instituição” família em xeque.

Contudo, a formação dos “futuros(?) adultos” tem um papel muito mais decisivo na sociedade do que se possa imaginar.  E, infelizmente, o descaso com ela faz com que todos colhamos aquilo que, como sociedade, temos plantado.

Enquanto o pobre, preto, nordestino (grande maioria entre a população carcerária) continuar sendo explorado, social e economicamente. Enquanto não nos responsabilizarmos pelo mal coletivo que o nosso comodismo – especialmente em relação aos menos favorecidos – gera, a selvageria só irá crescer.

Claro que, isso não exclui o fato de a violência ser sempre injustificável. Assim, o autor, que mesmo com todos os condicionamentos, é “livre” para decidir não usá-la, deve ser punido.

Mas, como diz o Promotor de Justiça no Estado de São Paulo e mestre em Direito Público, José Heitor dos Santos , “no Brasil, a maioridade penal já foi reduzida: Começa aos 12 anos de idade. O maior de 18 anos de idade que pratica crimes e contravenções penais (infrações penais) pode ser preso, processado, condenado e, se o caso, cumprir pena em presídios. O menor de 18 anos de idade, de igual modo, também responde pelos crimes ou contravenções penais (atos infracionais) que pratica” podendo ser “internado (preso), processado, sancionado (condenado) e, se o caso, cumprir a medida (pena) em estabelecimentos educacionais, que são verdadeiros presídios”.

Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma conquista que parece querer ser abolida por alguns setores da sociedade, “ao adotar a teoria da proteção integral, que vê a criança e o adolescente (menores) como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, necessitando, em consequência, de proteção diferenciada, especializada e integral, não teve por objetivo manter a impunidade de jovens, autores de infrações penais, tanto que criou diversas medidas sócio-educativas que, na realidade, são verdadeiras penas, iguais àquelas aplicadas aos adultos”.

Enfim, no Brasil, como sempre, a lei que pune já existe. Mas, a tal impunidade crônica, protagonista em grande parte dos setores da sociedade, não permite que a lei seja realmente eficaz, tanto no que diz respeito ao seu cumprimento, quanto ao desenvolvimento, levando sempre em conta o fato de que estamos lidando com seres humanos.

Esses jovens assassinos, socialmente, já nasceram punidos, sem direitos, família, vida. Se a punição não tem dado resultados, parece que é a hora de encontrar outras soluções.

O drama do imigrante

bolivianos

Ontem a noite, assistindo o Profissão Repórter, da Rede Globo, sobre a situação dos bolivianos submetidos ao trabalho escravo no Estado de São Paulo, me lembrei da difícil realidade de viver imigrado.

Por duas vezes, na Suíça e na Itália, passei um período longo no “estrangeiro” e pude experimentar, na pele, o quanto é difícil viver em uma sociedade que não é a nossa. Essas dificuldades surgem já pelo simples fato linguístico, climático e gastronômico. Três dimensões impossíveis de “escapar” e que, enquanto não superadas, geram um sentimento de solidão tremendo, fruto, especialmente, da incomunicabilidade.

Passado tudo isso (e é preciso ter muita paciência e força de vontade), começa uma nova etapa na vida do estrangeiro: a legalização. Depois que entramos em determinado país, por motivo de estudo, trabalho ou casamento, é necessário prestar contas ao estado “acolhedor” e para isso, enfrentar momentos burocráticos, muitas vezes, humilhantes.

Difícil esquecer a experiência vivida na “Questura di Firenze”, a polícia federal local, responsável pela legalização dos imigrantes. Um lugar frio, com bancos duros, sem água para beber, um único e imundo banheiro, aspectos ainda mais dramáticos porque, para ser atendido, é preciso esperar, no mínimo, 5 horas.

Essa falta de respeito do estado italiano com os imigrantes tem explicações. O número de cidadãos vindos do leste europeu, norte da África e da América Latina aumentou muito nos últimos anos e, proporcionalmente, diminuiu a paciência do governo da Itália (ainda mais o país estando imerso em uma crise econômica e social avassaladora).

Porém, é sabida que a importância dos imigrantes, em um mundo globalizado, é fundamental para o desenvolvimento econômico. A circulação de pessoas promove diferentes ideias, costumes, soluções. Isso sem contar a aceitação de “subempregos” por parte dos imigrantes que, geralmente, os cidadãos, nativos de países de histórico econômico rico, não se submetem.

Esse assunto, que parecia dizer respeito somente ao Velho Continente, tem crescido exponencialmente no Brasil. O drama de bolivianos, que cruzam a fronteira do país para trabalhar e são escravizados nas oficinas de costura, é emblemático. As causas são muitas, mas, finalmente, são sempre seres humanos e suas famílias, na maioria, pobres, que acabam sofrendo todo tipo de abuso, desrespeito, colocando o Brasil na mesma condição de “explorador” que reclamávamos dos países europeus.

Certamente não se deve ignorar um grupo, minoritário, de imigrantes que vem ao país para enriquecer, aproveitando-se da “impunidade crônica” brasileira.  Esses devem ser investigados e convidados a retornar aos seus países. Contudo, todos aqueles que chegam ao Brasil a trabalho ou para estudar (e estando legalizados) devem ser valorizados, respeitados em seus direitos (e obrigações) e, jamais, serem escravizados.

Palmeiras: nada como um dia após o outro

palmeiras

O Palmeiras do século XXI deixou de ser um time grande. Essa afirmação, triste, porque sou palmeirense, se justifica pelos resultados e não pela história do clube. O Paulistinha e a Copa do Brasil vencidos nos anos 2000, não conseguem exprimir a grandeza do maior campeão brasileiro de todos os tempos.  Para piorar, neste século, o clube caiu duas vezes para a segunda divisão.

Uma administração medíocre, amadora, cheia de “mafiosos” que usam o clube como instrumento de poder é talvez o grande mau do clube. Não vou me delongar nesse aspecto, pois essa é uma dimensão do futebol que não deveria ser evidenciada, pois deveria somente estar a serviço do esporte e não o contrário.

Em 2013 a situação parecia se encaminhar para mais um ano triste. Um Palmeiras fraco, com poucos talentos de peso, cheio de jovens, e incapaz de pretender grandes coisas. Falava-se já de que seria quase impossível o retorno para elite do futebol brasileiro, ainda mais depois que o time perdeu de 6×2 do “pequeno” Mirassol.

Mas, como diz o ditado: “nada como dia após o outro”. Depois daquela derrota, da humilhação vivida, uma revolução interior aconteceu no time. Decididos a apoiar o técnico, os jogadores se uniram e começaram a mostrar que futebol se joga dentro das quatro linhas e que, muitas vezes, a vontade supera a falta de talento. Já dizia Thomas Edison, grande inventor americano nascido no século XIX: o “sucesso é 1% inspiração e 99% transpiração”.

Agora o time está transpirando, lutando, querendo, acreditando. Descobriu que as vitórias vêm com esforço, aplicação e respeito. A torcida está sentindo isso do time e voltou a apoiá-lo apaixonadamente. O Palmeiras não voltou a ser um time grande, não ganhou nada ainda, mas descobriu a fórmula para vencer, voltar a ser grande.

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