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Luto pelos professores do Brasil

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Hoje, de maneira especial, sinto uma profunda dificuldade em escrever algo de bom sobre a situação dos professores brasileiros.

Impossível, porém, não me orgulhar de ter sido alfabetizado por um membro dessa classe sofrida. Sou parte de uma pequena parcela da população que pode desfrutar dos privilégios de ser educada por uma professora “de verdade”. Crescendo, me dei conta de que a “maldição pedagógica” havia contaminado toda a minha família: primas, primos, tios e tias, muitos deles são professores, a maioria da rede Pública. Pior: acabei também me casando com uma filha de professora.

Cresci ouvindo muitos absurdos a respeito do que se passa dentro do Ensino Público, no Estado de São Paulo. Talvez por isso use, de maneira injusta, a palavra “maldição” para falar de um dos profissionais mais basilares de uma sociedade que se diz “desenvolvida”. Mas, não é preciso um olhar muito apurado para perceber que o cenário atual do professor brasileiro, justifique o emprego de “maldição”.

Acho que a festa pelo dia dos professores deveria ser levada mais a sério. Não bastam abraços dos discentes, os parabéns de diretores, secretários da educação, prefeitos, governadores e nem mesmo da “presidenta”. É preciso um olhar humano e estratégico em relação a esse profissional. Pois, o sucateamento das estruturas em que os professores trabalham e o descaso cultural que existe em relação a eles estão nos levando, como nação, para o fundo do poço.

Engana-se o “romântico” que pensa que a consciência coletiva tem crescido porque fizemos uma dezena de protestos exigindo “tudo”. Sem um projeto que coloque a educação (e seus profissionais) como um dos pilares do desenvolvimento da nação, nós não teremos nem passado, nem futuro.

O dia dos professores, até que a situação aspire uma mudança real, deveria ser lembrado com tristeza, um dia de LUTO, de reflexão, pelo que cada um de nós, cidadãos, NÃO tem exigido pela educação no Brasil.

Somos, como povo, incapazes de perceber que os valores de uma pátria têm na educação seu principal aliado. Por isso, estamos nos transformando, cada vez mais, em um país privo de Valores. Não somos o país da educação. Somos o país do futebol, das mulheres frutas, do pancadão, do PCC. E parece que está tudo bem.

A (ir)relevância do que lemos

casamento

Estamos constantemente consumindo informações e, muitas vezes, nem nos damos conta do conteúdo que a Grande Mídia “soca” em nossas mentes, sem qualquer tipo de compromisso em prover algo que é realmente importante para a vida das pessoas.

Hoje de manhã, acessando o site do globo.com, me deparei com dois exemplos pontuais de noticias que se encaixam nos extremos do que considero relevante ou não.

A primeira delas era sobre o passei solitário do jogador de futebol brasileiro Neymar, na China. É descarado o modo como a globo segue o jovem por todos os lados, faltando somente noticiar quando ele vai ao banheiro. Não é raro ler matérias sobre ele que fogem completamente do universo futebolístico em que ele está inserido. O porquê disso é difícil de entender, talvez pela necessidade comercial de fabricação de celebridades, mas a desnecessidade e irrelevância são óbvias.

A segunda notícia não se tratava de alguém famoso, mas de seres humanos desconhecidos, que, contudo, testemunharam algo que diz muito mais aos leitores, de maneira global.  Ela conta rapidamente o bonito ato de um americano com doença terminal que levou a filha ao altar deitado em uma maca. O testemunho Scott Nagy, no casamento da filha Sarah, na cidade de Strongsville, em Ohio, toca o coração do leitor de qualquer lugar deste planeta, pois acena para uma humanidade em que todos nos encontramos.

O paradoxo entre as matérias acima mostra a falta de critérios na produção de uma informação noticiosa. A humanidade de Neymar não vale menos ou mais que nenhuma outra. Por isso, ela deveria ser notícia, somente quando exprime algo relevante, no caso dele, principalmente, dentro de campo de futebol.

Seria bom se todos os sites fossem obrigados a incorporar um tipo de avaliação, como acontece em blogs e vídeos do youtube, para que as pessoas possam se manifestar, positivamente ou negativamente diante das informações exibidas, auxiliando o “corpo editorial” a escolher melhor o que noticiar. Isso se a Imprensa, de maneira geral, considerar relevante o que os leitores pensam sobre as noticias. Por enquanto, acredito eu, que não.

O genocídio de professores no Brasil

professores doentes

Talvez eu vá me cansar (e cansar os leitores), mas não consigo deixar de protestar contra a truculência da Polícia Militar que, sistematicamente, tem agredido os cidadãos do país. A minha revolta não é (toda) contra o elemento singular, o policial mal pago que está na linha de frente dos protestos, mesmo ele tendo o “dever moral da desobediência”. O que mais me entristece é aceitação social de uma corporação corrupta, assassina e centrípeta como a Polícia Militar, que não existe para servir o povo, mas para a manutenção dos próprios interesses corporativos.

É uma vergonha, ainda maior, ver alguns policiais militares baterem, descaradamente, na cara dos (poucos) professores que ainda restam nesse país e que lutam por essa classe tão marginalizada. O que foi feito com os profissionais da educação na Câmara Municipal carioca é mais um episódio que nós, brasileiros, deveríamos nos envergonhar.

Como um país vai se desenvolver sem educação? Sem valorizar seus professores? Como tem sido até agora, na malandragem, no jeitinho.

O mais triste é que há anos vem diminuindo potencialmente o número de jovens interessados na profissão de professor.  De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a educação básica brasileira (que inclui a educação infantil, a especial, o ensino fundamental, o médio e a educação de jovens e adultos – o EJA), em 2007 havia 2.500.554 profissionais atuando em sala de aula. No ano de 2009, esse valor baixou para 1.977.978.

Esse verdadeiro “genocídio” de profissionais da educação, fruto das políticas públicas que parecem concorrer para a ignorância coletiva, pode ter consequências ainda mais drásticas do que aquelas que estamos vendo crescer na sociedade brasileira.

Aceitar a violência histórica contra os professores do Brasil é ser cúmplice da falta de consciência cidadã e da desvalorização dos valores morais que estão na base de qualquer Estado-Nação.

A derrocada final do vemprarua

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Roberto Jefferson elogiando o novo julgamento para os acusados do Mensalão disse que, desta forma, “o Supremo afirmou que a democracia não é o regime da passeata, é o regime da lei. É a vitória da lei sobre a passeata”.

A afirmação do ex-deputado, condenado a sete anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, cria um antagonismo esquizofrênico que, antes de tudo, fere a ontologia da democracia.

Demo+kratos” é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões politicas está com os cidadãos, direta ou indiretamente. Isto é, democracia não é o regime da lei, mas a expressão comunitária dos interesses individuais, negociados em prol de um bem comum.

Subjugar o “governo do povo” à lei é colocar o Direito acima da sua (única) função: garantir que os interesses privados não se sobreponham aos comunitários, punindo (possivelmente) aqueles que se beneficiam pessoalmente da concessão de poder que lhes é conferido.

Roberto Jefferson e os outros 11 acusados pelo crime político, de maior gravidade no Brasil pós Collor, menosprezaram o clamor popular, o desejo de justiça coletivo, que deveria estar na ponta de um ambiente democrático.

A adoção de um novo julgamento para os acusados do Mensalão, mesmo se prevista em lei, exprime um fracasso simbólico, mais um, em um país que clama por justiça. Esta derrota não é no âmbito político-partidário, mas na desvalorização do #vemprarua, que mobilizou massivamente o povo e, agora, mostra novamente que, para mudar o país, é preciso muito mais que palavras de ordem.

Clique aqui e veja os quadrinhos que contam a história do Mensalão

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