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COP27 representatividade

COP27 – Revolucionando o meu conceito de diversidade 

Na viagem rumo à COP27 em Sharm El Sheikh, no portão de embarque da conexão em Istambul, conheci o Ananda Lee Tan, senhor canadense com origens indígenas na Índia. A conversa com ele me ajudou a redescobrir o quão importante é olhar com profundidade para o contexto em que estamos inseridos para poder identificar as verdadeiras causas dos problemas aparentemente insolúveis. 

O bate papo informal na fila do embarque me fez lembrar de um momento de partilha com Giuseppe Maria Zanghì quando eu vivia no Centro internacional dos jovens do Movimento dos Focolares, na região dos Castelos Romanos. Ele dizia: “É preciso olhar a nossa existência com profundidade senão acabamos reproduzindo o que está na superfície”.

Aqui no COP27, mas talvez em grande parte das reflexões de como frear o aquecimento global, existe uma fixação com a diminuição das emissões de CO2. Sim, ela é importante. Só que ao focar exclusivamente nela, desviamos a nossa atenção para as verdadeiras raízes do problema que têm impacto muito mais devastador para o clima do planeta.

São as questões da ocupação e degradação da terra, o desprezo das culturas nativas, a extração colonial dos recursos naturais nos países em desenvolvimento, na maioria das vezes impulsionadas por multinacionais com sede em países desenvolvidos. E, por fim, um sistema que carece de representatividade nos organismos internacionais, incapaz de criar impedimentos formais às praticas devastadoras do ambiente, combinadas com a negligência em proteger os direitos humanos.

E aqui inclusão não é só ligada à nação dos negociadores que importa. Mas se eles realmente espelham suas comunidades. Explico. Muitos dos negociadores de países em desenvolvimento aqui no COP27 já estão completamente desconectados da realidade daqueles que eles representam. O colonialismo cultural faz com grande parte da sabedoria local fosse perdida em detrimento de uma concepção de saber “de elite” que em vez de libertar conforma na sua uniformidade.

Toda vez que encontro um indígena, me dou conta da existência de um saber milenar que não dou a devida importância. É nesse sentido que precisamos facilitar encontros, entre diversos. É aqui a essência do que acredito ser representatividade. A busca de pessoas que trazem de suas diferentes vivências, educação, culturas, uma riqueza capaz de contribuir para soluções cadê vez mais difíceis de alcançar.

Olhar a crise climática como um processo de abertura e reconexão com o mundo, mas também entre nós, talvez ajude a encontrar um caminho de colaboração nessa nossa sociedade fragmentada e isolada no seu individualismo.

COP impementação

COP27 e as esperanças de uma implementação urgente

Estou à caminho da minha quarta Conferência do Clima das Nações Unidas, mais conhecida como  #COP27. Desde a minha primeira participação na COP21 em Paris já se passaram seis anos. 

De lá para cá, o otimismo e a euforia do Acordo de Paris acabou freado por governantes de extrema direita que se recusaram a implementar as medidas políticas ambiciosas acordadas na capital francesa. Somado a isso, o mundo teve de lidar com uma pandemia que tirou qualquer chance de que os países direcionassem seus recursos para a implementação das metas acordadas. Mas o pior é que não para por aí! A invasão russa na Ucrânia e a insegurança energética criada pelo conflito fez com que alguns países desenvolvidos voltassem ao uso do carvão para amenizar o impacto interno do aumento no preço do gás natural.

Mas e eu? O que eu tenho a ver com isso?

Já em 2015, fui cobrir a participação de organizações ancoradas em comunidades religiosas que levam para a conferência uma dimensão que vai além das questões técnicas.

Em diversas partes do mundo, inclusive no meu Brasil, quando as instituições políticas falham, muitas vezes são as instituições religiosas que dão suporte aos mais atingidos por secas, inundações e outras catástrofes naturais provocadas pela degradação dos recursos naturais.

São principalmente as igrejas que reforçam a narrativa de que existe um dever moral de cuidar da natureza, que precisa ser protegida porque é um dom de Deus e para que nossos filhos e netos possam habitar em um planeta como o que conhecemos hoje.

A narrativa espiritual também engloba comunidades indígenas, muitas delas em áreas do Pacífico, em que os oceanos estão engolindo suas terras devido ao aquecimento global. Para eles, não é uma simples questão logística, ou de perdas e danos, mas uma violência que fere a sua própria identidade, profundamente conectada à terra onde vivem.

Poder estar fisicamente presente nessas conferências globais dá uma noção do esforço coletivo de encontrar soluções conjuntas para um problema que afeta à todos. 

O meu trabalho será dar visibilidade ás vozes dos mais afetados, na esperança de que os governantes tenham a coragem de ir além dos desafios técnicos e dos interesses políticos.

Sem uma abertura holística que permita olhar a crise climática na sua dimensão humana, existencial e até mesmo espiritual, parece difícil crer que os líderes globais darão ouvidos aos gritos desesperados e urgentes daqueles que anseiam por uma implementação robusta que já deveria ter começado seis anos atrás.

Dia dos pais

Dia dos pais

Acabei de falar com o meu pai, que semana passada festejou seus 73 anos de vida. Que privilégio eu sinto de ser filho dele!

Pensar no meu pai me faz sempre refletir sobre o impacto dele na minha vida enquanto pai, homem e, acima de tudo, ser humano. Apesar dos seus limites e vazios, ele sempre esteve presente, com um olhar sereno e um sorriso acolhedor que me fez sentir amado. 

Hoje, mesmo com toda abertura da sociedade e o incentivo do Feminismo, o papel do homem continua problemático. Além do machismo estrutural, que muitas vezes custa a vida de mulheres em todo mundo, outro aspecto negativo de impacto avassalador é justamente a aceitação da ausência dos pais dentro de casa. Na partilha das tarefas domésticas, mas sobretudo na falta de participação na educação e no acompanhamento de filhos e filhas.

Infelizmente, existe também um certo conservadorismo imbecil que sustenta a manutenção de papéis ditos tradicionais com justificativas religiosas. Família é um espaço dinâmico, que encontra o próprio equilíbrio no esforço comum e cotidiano de pais e filhos para que todos encontrem a propria realização. TODOS.  Nos mais variavelmente coloridos caminhos.

Rotular ou encaixotar os papéis de pais e mães é como cultivar um jardim monocromático.

Que hoje seja um dia para festejarmos pais presentes (valeu pai!), protagonistas, abertos e dinâmicos.

É esse pai que eu tento ser, esforçando-me e rezando todo dia para me aproximar mais dele.

Racismo no Carrefour

Racismo no Carrefour

É doloroso ter que voltar a falar de racismo depois do que aconteceu em Porto Alegre com o João Alberto Silveira Freitas (40), dentro do estacionamento do supermercado Carrefour. Diante das imagens de violência perversa, como desenvolver um discurso conciliador? Pensando na dor de mais uma família órfã de pai fica quase impossível defender a misericórdia pois “a misericórdia sem justiça conduz à ruína”, como diz Santo Tomás de Aquino.

Três meses atrás eu participei de um bate papo do canal do YouTube Papo Objetivo, onde conversamos sobre Racismo Estrutural. Mais uma vez vem à tona o mal que é a principal causa do genocídio sistemático do preto no Brasil e que precisa ser combatido por todos.

Das pessoas assassinadas no país entre 2008 e 2018, 75,5% são negras, segundo o Atlas da Violência. Uma pesquisa da ONG Rio de Paz, mostrou que entre 2016 e 2019, 91% das crianças mortas por “balas perdidas” no Rio de Janeiro, eram negras.

Só com o endurecimento das leis para crime de racismo, oportunidades iguais para os e as jovens pretas e, sobretudo uma política de reparação histórica, é que podemos tratar uma sociedade adoecida pelo racismo, como é a brasileira. Porém, o diálogo também nesse âmbito acabou polarizado, banalizando o fato de que todas as vidas importam, inclusive as vidas pretas. 

Sem uma resposta incisiva e transversal continuaremos limitando a nossa luta à busca de uma justiça esvaziada de significado porque incapaz de olhar o todo e transformar as estruturas da nossa sociedade.

Racismo

Superar o racismo com o encontro

Falar sobre racismo sempre foi algo estranhamente distante para mim. Apesar de ter crescido em um ambiente jocoso em relação a minha cor, raras foram as situações em que me percebi inferior, simplesmente pela cor da minha pele ou por ocupar um espaço que não correspondia às expectativas dos brancos. Foi assim na escola, na universidade, na Igreja ou no mercado de trabalho, apesar de nunca ter encontrado um negro ocupando uma posição de liderança nesses ambientes para me espelhar.

A primeira vez que fui vítima do preconceito racial foi em uma das escolas particulares em que estudei. Durante um debate sobre as eleições daquele ano fui ridicularizado em voz alta por uma colega branca por não apoiar um determinado candidato que era preto como eu. Senti-me humilhado diante dos meus colegas, mas engoli a ofensa sem saber que estava sendo vítima de racismo. Muitos anos depois, dessa vez na Itália, fui ofendido e maltratado por suspeita de furto em um supermercado em Figline Val d’Arno. Um sentimento de indignação e desrespeito difícil de explicar.

Ontem foi ao ar o episódio sobre Racismo Estrutural do canal do YouTube Papo Objetivo em que fui convidado a partilhar minhas vivências como preto fora do Brasil. Essa foi a primeira oportunidade de externalizar publicamente o que venho descobrindo há alguns anos: a importância da luta pelo reconhecimento e a igualdade de direitos dos pretos, o valor da reparação histórica e, principalmente, a compaixão comigo e com todos aqueles que não sentem na pele as consequências do racismo estrutural.          

Um dia desses, aqui na Suíça, estava sentado em uma mesa repleta de pessoas brancas, discutindo sobre o racismo de forma inflamada, cheia de propósito. E eu estava lá, ouvindo tudo. Ninguém em momento algum pensou em me perguntar sobre a minha experiência enquanto negro. Por outro lado, era bonito perceber uma preocupação comum em todos de se tornarem pessoas melhores, mais conscientes do racismo estrutural.

Ao tomar a palavra, ressaltei a importância de enfrentar o racismo com a perspectiva do encontro. Não basta limitá-lo a uma discussão puramente intelectual. É preciso ir de encontro ao preto, à preta, à cultura preta, à arte preta. Eu sempre me pergunto: quanto amigos pretos as pessoas brancas têm? Quanto da cultura preta, da arte preta as pessoas conhecem? Quais dos autores e autoras pretas as pessoas já leram? No encontro a gente descobre as belezas e os limites do outro, profundamente diferente de nós, e a partir dele ampliamos a nossa percepção desse outro, ficando mais atentos para não o ferir ou ofendê-lo. 

Paralelamente, é fundamental educar as novas gerações para uma cultura antirracista. Temos o desafio de ajudar as meninas e meninos pretos a serem apresentados à questão racial não a partir do racismo, da violência. Eles precisam internalizar a sua negritude enquanto potência, como disse a jornalista Adriana Couto, durante o programa Roda Viva com o rapper Emicida.

O caminho antirracista é um caminho de luta quotidiana, mas que precisa ser feito com profunda compaixão e respeito. É preciso uma evolução que desça da cabeça e chegue aos braços e ao coração.

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