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Amor binacional: Experiências cotidianas de um casal binacional

Paternidade na família binacional: um desafio que exige unidade

Paternidade

Sempre ouvi dizer que a natureza é sábia quando se trata de gerar uma nova vida. No caso de nós, seres humanos, essa afirmação parece ter um peso ainda maior. Temos 9 meses para nos prepararmos para o desabrochar de um novo Ser e, principalmente, para compreender que, com a paternidade, a nossa existência nunca mais será a mesma.

O medo natural da paternidade

XI Mês de valorização da paternidadeFalar de gravidez, nos primeiros meses da nossa aventura como família binacional, era algo que, pessoalmente, me dava medo. Admiro todos aqueles que têm a coragem de, no início da vida à dois, já se sentirem prontos a acolher uma nova vida. Entretanto, sempre considerei importante dar-se tempo um ao outro, até alcançar o equilíbrio na nova vida juntos e, assim, viver com serenidade, as grandes mudanças que um filho gera.

O temor da paternidade cresceu quando vi muitos casos de famílias que se despedaçaram porque o casal não havia se “preparado” bem para essas grandes mudanças. (Para mim, é um absurdo atribuir ao nascimento de uma criança a incapacidade dos pais de viverem unidos essa nova experiência em família).

Certamente, eu nunca pensei que existe um tempo material preciso para o exercício da paternidade, mas acho fundamental um crescimento humano e espiritual do casal para que essa nova vida encontre uma realidade única. Para isso, muitas conversas e estratégias concretas devem ser tratadas (e depois refeitas).

Abertura gerada pela vida junto

PaternidadeSurpreendentemente, nos últimos meses, senti que meu coração começou a se abrir para a possível chegada de uma nova vida. Dessa maneira, estou descobrindo que a paternidade é – do ponto de vista cristão – uma graça, um dom de Deus. Estar fisiologicamente pronto ou ter a vontade curiosa de exercê-la, não parece dizer muito. É preciso desenvolver uma disposição irremediável para a árdua e divina “missão”da paternidade.

Foi o passar do tempo e a vivencia de inúmeras experiências como casal que apascentaram o meu coração. A vida, inicialmente “só” à dois, é uma saudável oportunidade de nos conhecermos sempre mais e também a pensar qual o tipo de ambiente queremos construir, para quando formos acolher uma nova vida. O que antes era sinônimo de preocupação e temor, hoje vivo com tranquilidade, serenidade.

Desafios na ótica da família binacional

Na nossa vida como família binacional, a instabilidade financeira acaba sendo também um fator que nos impulsiona à decisão de esperar para ter um filho. Nenhum pai ou mãe, em sã consciência, deseja dar menos daquilo que recebeu aos filhos. Por isso, o exercício efetivo da paternidade exige ressalvas, um planejamento financeiro, mas pensar só nos aspectos materiais pode levar a um condicionamento perigoso.

Em seguida, vem a questão das línguas que ensinaremos, de qual conceito de “mínimo” adotar, onde viver e etc. Mas, após a experiência que vivemos juntos na África, completamente privada dos luxos, percebemos que o que realmente conta para a saúde física e mental de um indivíduo é a sua inserção comunitária. Claro que, em se tratando da África que conhecemos, esse raciocínio exige alguns esclarecimentos no que diz respeito a saúde física, mas sem os exageros que o Ocidente parece impor.

É isso que, juntamente com o crescente desejo de gerar uma nova vida, temos procurado entender. Agora sem tantos medos – mas não definitivamente privados deles –  e mais seguros da unidade que construímos nesse ano e meio de vida juntos.

Carreira profissional: desafios e sacrifícios da família binacional

Carreira profissional

Acordar cedo – por iniciativa própria – mesmo sem ter de sair para trabalhar. Depois, durante o dia, ocupar-se com projetos profissionais pessoais, intercalando-os com os cuidados da casa (lavar roupas, cozinhar, limpar) e o estudo da língua. Essa tem sido, em resumo, a minha vida nestes quase dois meses de Europa.

Quem lê a descrição acima, pode talvez julgar de forma errônea esse momento da minha vida, talvez imaginando-me frustrado, desmotivado, por aquilo que vivo. Acontece que, a dinâmica de um casal binacional exige alguns sacrifícios específicos. Porém, essas “renúncias” não me fazem, de jeito algum, uma pessoa menos realizada, mesmo se, em alguns momentos, outros aspectos importantes da minha vida acabam ficando de lado.

O sonho da carreira profissional e sonho da família

Carreira profissionalSempre soube o que queria “ser quando crescer”: jornalista. Quem acompanha o escrevoLogoexisto, ao longo desses quase oito anos de existência, sabe bem o porquê: transformar sentimentos, reflexões e percepções em palavras é o maior dom/presente que posso oferecer às pessoas que leem o que eu escrevo.

Todo o meu caminho profissional até agora serviu para desenvolver minhas capacidades e, entre descobertas e experiências, me dei conta do quanto me satisfaz ver que os meus talentos, quando partilhados, tocam os corações das pessoas e fazem com que elas reflitam sobre outras possibilidades de viverem a vida, fazerem escolhas, serem felizes e gerarem felicidade.

Por outro lado, não vou negar que jamais fui um homem de carreira profissional. Isso não quer dizer que não tenho ambições neste importante aspecto da minha vida. Claro que sou ambicioso! Mas, para mim, a satisfação pessoal sempre esteve intrinsecamente ligada ao sonho de viver  a minha vida EM FAMÍLIA.

Pessoalmente, tenho feito experiências profissionais e intelectuais muito satisfatórias. Todas elas me fizeram crescer e descobrir como é fundamental encontrar uma atividade onde possamos fazer frutificar nossos dons para o bem da humanidade e, claro, para a nossa felicidade. Contudo, chegou um momento em que eu ansiava viver tudo isso “acompanhado”. Era uma força “interior” que me dizia “é impossível ser feliz sozinho”.

Assim, depois de (re)encontrar a Flavia – minha esposa – decidi me casar e dali em diante a minha vida começou a ser desenhada junto à dela, o que me levou a ter de fazer alguns sacrifícios, mas que, por outro lado, me fazem muito mais pleno.

A ilusão de uma carreira profissional perfeita x Viver por um Projeto Maior

DSC_0023Mesmo estando em situações profissionais aparentemente fantásticas – como trabalhar na equipe do programa Roda Viva, da Tv Cultura – percebi logo que não existe uma carreira perfeita.

Independentemente do trabalho que se faça, para que ele dê um resultado visível importante, é necessária muita dedicação, inúmeros sacrifícios e os frutos nem sempre são os esperados. Além disso, existe também a rotina de trabalho repetitiva que, mesmo se com variantes, encontra rapidamente uma mesmice, que se renova mais por conta das motivações interiores do que por aspectos exteriores.

Por isso, juntamente com a minha esposa e neste momento em que talvez não temos os trabalhos “perfeitos” no que diz respeito as nossas carreiras, entendemos que, acima de tudo, é fundamental fazer sempre algo que esteja de encontro com o nosso Projeto Maior: levar a felicidade que construímos em família, às pessoas que encontramos. Um aspecto importante é também ter trabalhos que, mesmo não considerados “ideais”, incorporem a essência desse Projeto, como possibilidades de auxilio concreto às pessoas.

A experiência que fizemos, recentemente, com o “Juntos rumo à África” é um legado fantástico para a nossa família. Lá em Man, na Costa do Marfim, desenvolvendo trabalhos simples, nem sempre ligados a nossa área de atuação profissional, podíamos sempre doar algo às pessoas que encontrávamos, deixando um pouco de nós, dos nossos talentos, para o Bem (=felicidade) daquela comunidade.

Isso nos faz viver essa nova fase, aqui na Europa, repleta de desafios e sacrifícios, com alegria. Talvez com um pouco menos euforia, mas procurando, em cada momento, sermos felizes e gerarmos felicidade.

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Acreditar, rezar e amar: quando Deus ajuda a família

Acreditar

A diversidade deve ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade.

Eu encontrei a frase religiosa acima na exortação apostólica Evangelii Gaudium, Alegria do Evangelho, em português. Geralmente não gosto muito de fazer discursos religiosos, pois acredito que cada um, à sua maneira, deve viver a própria Fé, sem alguma necessidade de convencimento doutrinal.

Porém, fiquei impressionado com essas palavras do Papa Francisco, pois elas resumem bem o significado de uma forte experiência que eu e minha esposa vivemos recentemente em família.

Dificuldades com a família de origem.

Ninguém casa pensando na dor ou nas dificuldades inerentes da vida à dois. Comigo foi igual.  Casei certo de que a minha esposa era (e é) a mulher da minha vida, depois de ter feito outras experiências e entendido que essa escolha não é, como pode parecer, relativa.

Pois bem, desde o dia em que decidimos começar “formalmente” nossa vida juntos, passaram-se alguns (poucos) anos e, graças ao bom Deus, vivenciamos muito mais momentos positivos que experiências negativas. Porém, nos últimos meses, fomos surpreendidos com um conflito, normal, mas até então inédito em nossa vida familiar.

Por motivos que não irei transcorrer aqui, para não me alongar, tive um triste desentendimento com o meu sogro, com quem sempre mantive uma relação de muito respeito e confiança. Como vivemos distantes dele, as possibilidades de comunicação que tínhamos no momento acabavam sempre sendo má interpretadas e por isso, por quase quatro meses, eu e minha esposa sofremos por não podermos esclarecer pessoalmente o mal entendido.

Acreditar na importância da oração instrumental[i]

AcreditarA impossibilidade de fazermos algo concreto, com as nossas forças, para resolvermos rapidamente a situação, nos levou a uma solução, para mim, inesperada: rezar. Confio e sempre confiei muito na oração, mas nunca tive uma relação instrumental com ela, acreditando que o simples fato de rezar poderia resolver aquilo que estávamos vivendo.

Mesmo assim, juntos, decidimos rezar um Pai Nosso após as missas que participamos, pedindo a Luz e a felicidade do meu sogro e acreditando que Deus poderia clarear em nossos corações o significado dessa experiência.

Porém, o dia do confronto chegou. Depois de muita tensão e lágrimas, conseguimos alcançar a desejada reconciliação. Um momento marcante, vivido entre todos e que me mostrou, mais uma vez, como o Amor é capaz de triunfar sobre o mal.

Foi Deus ou fomos nós?

A resposta que me dou a essa pergunta, sem pestanejar, é: foram ambos. Como diz a frase do Papa Francisco: “A diversidade deve ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade”.

Digo isso porque, quase sempre, os conflitos –  como o que tive com meu sogro –  se manifestam por conta da diversidade, que em si é positiva. Porém, a tolerância (e a misericórdia) em relação ao outro, a tal “unidade” que a frase parece evidenciar, exige algo que vai além das nossas forças humanas. Essa experiência que vivemos juntos, com a minha esposa e toda a nossa família europeia, me mostrou de maneira única o poder da oração instrumental e, com ela, a disposição de fazermos a nossa parte, para buscar a almejada unidade, na diversidade.

[i] Quando digo instrumental, considero a oração algo que serve como um meio – não necessariamente o único –  para determinado fim positivo. Nós não acreditamos que a oração tem um valor que se limita a sua imediata instrumentalização, como uma fórmula mágica. O que cremos é que, rezando para um determinado fim, colocamos todo o nosso ser, limitado e insuficiente, nas mãos da Força Divina, capaz de auxiliar na verdadeira resolução da causa apresentada.

Conceito de família: o Amor, a comunidade e as diferenças

Conceito de família

Há alguns meses tenho pensado seriamente na situação das famílias em geral, condicionado pelas experiências e descobertas que eu e a Flavia fizemos no continente africano.

Com o coração pesado ao olhar à sociedade “ocidental”, individualista em sua essência, percebo que existe um pensamento falacioso que tira dos casais e da comunidade a responsabilidade do sucesso das famílias.

O Amor e a comunidade

Observando o contexto africano, percebi o quanto a vida em comunidade ajuda a ver as situações com mais clareza, potencializando a tomada de decisões corretas.

Na África (que conhecemos) um casamento só é válido se tiver a benção dos pais e a aceitação da comunidade de origem. Esse consenso é, por outro lado, uma espécie de contrato social em que todos os membros da comunidade se comprometem a garantir a sobrevivência da nova família, diante possíveis adversidades que possam surgir. Dentro deste contexto, é praticamente impossível sustentar escolhas individuais, em relação a vida com outra pessoa, sem o aval comunitário, .

Nunca achei que a escolha da mulher com quem eu queria dividir minha vida deveria ter aprovação unânime. Mas, sempre estive atento as opiniões daqueles que me conhecem e realmente querem o meu bem. Parece besteira, mas essa aceitação – observada com cuidado, pois envolve outros aspectos mais complexos – foi fundamental para um SIM mais consciente e sereno.

As diferenças

Conceito de famíliaA importância do SIM sustentado pela comunidade é enorme, principalmente, porque, com o casamento, evidenciam-se as diferenças.

Talvez os casais binacionais são aqueles que melhor experimentam a maravilha proveniente do ser culturalmente diferente.  As diferenças de gênero e de família têm um peso grande em qualquer relação, mas quando o casal provém de culturas geograficamente distantes, as simples dinâmicas da vida à dois exigem uma entrega especial, para que as diferenças sejam acolhidas de maneira positiva.

Infelizmente, parece que a minha geração é culturalmente doutrinada a lamentar as diferenças e afastá-las para o próprio bem, individual. Dor, sofrimento e lágrimas devem ser rejeitados de todas as formas.

O outro: dor e alegria

Conceito de famíliaContudo, na vida a dois, geralmente é o conjugue a principal causa de felicidade e o motivo das mais reais dores. Na convivência diária com outra pessoa encaramos o grande dilema da nossa existência: ao mesmo tempo que descobrimos nossas falhas, reafirmamos escolhas, conceitos.

O outro nos ajuda a perceber quem somos e o quanto somos diferentes. Só que, na maioria das vezes, as diferenças promovem conflitos. Normais. Essenciais.  Saber lidar com esses conflitos tem, entretanto, consequências sérias, principalmente quando existem outras vidas diretamente envolvidas na relação do casal. A falta de amor, compreensão, diálogo verdadeiro (silêncio e palavra) e, principalmente, de perdão são determinantes para o futuro de uma família.

Conceito de família

A separação do casal – que nem sempre é o divórcio ou “sair de casa”, mas pode ser a recusa de viver profundamente juntos – cria seres humanos profundamente angustiados, inseguros.

A família como base da formação de um indivíduo e da edificação de uma sociedade saudável precisa ser entendida considerando a sua continuidade e não somente com o olhar diante de um momento singular, que pode ser de dificuldade, dor, incompreensão.

Para isso, a comunidade parece ter um papel fundamental. A linha tênue entre preservar a intimidade do casal – muitas vezes um “benefício” do individualismo – e partilhar as dificuldades (com as pessoas certas) parece ter, como condição, o bem comunitário e principalmente a felicidade dos filhos.

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Mudanças: montanha russa cultural, saudades e novos desafios

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Tarde ensolarada na bela – mas ainda fria – Genebra. Decido praticar um pouco de esporte, pego a minha bicicleta e pedalo rumo ao Lac Léman.  Quem já esteve em Genebra sabe bem o que é vislumbrar a maravilha que é essa cidade, como o Rio de Janeiro, bonita “por natureza”.

Durante a minha atividade esportiva, recebo a mensagem de uma amiga brasileira me saudando. Paro e envio pelo celular uma foto do panorama que estou apreciando. Em resposta, ela me pergunta se é difícil, em um mês estar no Brasil, em outro, na Costa do Marfim e, no seguinte, em Genebra.

Montanha russa cultural

rollercoasterA resposta que dei à minha amiga eu tenho repetido, quase sempre, a todos aqueles que me perguntam como está sendo a adaptação aqui no Velho Continente: “bem difícil”. Claro que estou reclamando “de barriga cheia”! Eu não sou um imigrado sozinho ou um refugiado. Estar casado com uma cidadã suíça ajuda muito a viver com tranquilidade as situações normais de instabilidade, diante da nova vida que começamos aqui em Genebra.

Porém, mesmo assim, não é fácil vivenciar, em tão pouco tempo, uma “montanha russa” de concepções culturais. Descobrimos – eu e minha esposa –  três culturas completamente diferentes, repletas de pessoas maravilhosas, mas ainda temos dificuldades de chegar às sínteses.

Mudanças: a saudade e os novos desafios

DSC_0015Ultimamente temos tido muitas saudades da África. A vida simples, com menos preocupações materiais e mais relacionamentos nos encantou e deixou uma marca forte em nossa família. Agora, desse lado do Mediterrâneo, precisamos enfrentar os novos desafios e continuar vivendo de forma equilibrada as diferentes dinâmicas culturais que a vida nos propõe.

O primeiro desafio é em relação ao impulso consumista que emerge como “pseudo-alternativa” ao vazio comum em sociedades individualistas. O desejo de “comprar para se satisfazer” parece maior quando não se experimenta constantemente a felicidade que o encontro com “o outro” oferece. Nos últimos dias, me vi agradecendo a Deus pela minha esposa, que tem sido uma ajuda fundamental para que eu não perca meus valores essenciais.

O segundo desafio é superar o imediatismo e o ativismo. Estar em uma situação de transição (em relação aos documentos de imigrante, aprendizado da língua, entre outros) cria uma certa frustração e a ansiedade de querer “fazer algo”, “ganhar dinheiro”, com urgência. Porém, muitas vezes, diante das mudanças, cabe a nós simplesmente esperar e transformar os momentos de “ócio” em oportunidade de repensar escolhas, projetos, com tranquilidade, antes de iniciar uma nova etapa da vida.

Mudar vale a pena?

As mudanças exigem grande paz de espírito e coragem para acreditar (novamente) que muitas coisas demandam tempo que, consequentemente, exige espera que, por fim, requer paciência.

Acredito que vale a pena mudar, simplesmente pelo fato de que as mudanças exigem de nós flexibilidade. Ao longo do tempo, muitas vezes, perdemos essa capacidade, principalmente quando mantemos uma vida acomodada e sem “grandes emoções”.

 

 

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