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Amor binacional: Experiências cotidianas de um casal binacional

A primeira gestação matrimonial

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Há um pouco mais de dois anos, com minha então namorada e agora esposa Flavia, decidimos nos casar. Não foi nem um momento traumático, como se pode, talvez, imaginar, nem algo mágico, romântico, como as mulheres costumam idealizar, principalmente aquelas que baseiam suas experiências de vida nos filmes hollywoodianos. Foi uma decisão simples, pensada juntos, com alegria e serenidade.

Bom, cada vez mais eu percebo que o casamento tem realmente pouco a ver com “romantismos”. Digo isso, não porque desprezo gestos sinceros, simbólicos e românticos, muito pelo contrário, sei muito bem o valor e o significado disso para grande parte das pessoas, principalmente aquelas de duplo cromossomo X. Só acho que supervalorizá-los pode criar frustrações e tirar o foco para o que realmente importa na vida a dois: o companheirismo cotidiano.

Ontem, 22 de setembro, festejamos nossos nove meses de aventura em família. Não foram só rosas e muito menos espinhos que “enfeitaram” nosso casamento até agora. As dinâmicas, descobertas, dores e alegrias, nos levaram a reconhecer o “abismo do outro” que pode ser, sim, trabalhado, mas somente se, à priori, aceitamos o “diferente” assim como ele realmente é.

Essa experiência cíclica permeou a nossa primeira “gestação” matrimonial. Foram meses de um contínuo recomeçar que, contudo, provavelmente continuará nos próximos 9 meses, 9 anos, 9 décadas….  Tudo na simplicidade do companheirismo cotidiano. No calar e escutar, no respirar e falar, no infinito amar.

Isso faz do casamento algo tão bonito porque real, simples, possível. E sem dúvidas, dia após dia, acredito que posso repetir: foi a melhor coisa que eu fiz na vida.

Ontologia do cônjugue

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O amor se desdobra em infinitos sorrisos. Pensar dessa forma me ajuda a perceber o bom das duas coisas: amar (e ser amado) e receber (e dar) um sorriso. É o que chamo de ontologia do cônjugue.

Essas duas (ou quatro) experiências, contudo, só são possíveis por meio de um encontro verdadeiro com o “outro”.  Mas, é um encontro dialógico e não dialético, que leva à uma síntese que não é fruto da destruição do mais fraco, mas da partilha.

Explico.

Por muito tempo pensei ter habilidades suficientes para lidar com o tal “outro”. O encontro com alguém, essencialmente diferente, mas com a mesma dignidade e direitos, nunca tinha sido um verdadeiro problema. E olha que já convivi com pessoas de todas as regiões do Brasil e de muitos países do mundo…

Só que essa concepção de “outro” mudou muito com o casamento e, principalmente, tem me feito perceber que nas outras relações construídas existia uma certa distância respeitosa, que fazia com que o encontro fosse menos “verdadeiro”, isto é, menos Encontro.

Contudo, no casamento, isso não é mais possível. A vida com “o outro” é fundamentalmente interligada, plasmada. A magia, ou o mistério, dessa experiência opera uma revolução interior, um mergulho em um mundo novo, completamente desconhecido, maravilhoso e, proporcionalmente, amedrontador.

Aquele “outro”, essencialmente diferente, na sua história, descobertas, experiências traumáticas, cultura, agora é uma parte de você. E parece que nós, seres humanos, temos mania de querer esconder, descartar, ignorar, aquilo que não é muito bonito em nós. Quando, porém, a dificuldade ou aquilo que não gostamos está no cônjuge muda-se fundamentalmente a dinâmica.

No casamento a aceitação paciente do outro é um processo “necessário” (entre aspas, porque, na verdade, somos SEMPRE livres) que se renova infinitamente. Aceitar o “outro”, casado, é enfrentar corajosamente os nossos limites mais profundos, sem nenhuma possibilidade de “fuga”, de distância respeitosa. Optar pela omissão, o descaso, o silêncio, é sacrificar o valor da união, dar-se por vencido neste imenso desafio.  Por isso, estar imerso nessa difícil dinâmica relacional me faz redescobrir o porquê de ter casado na Igreja, isto é, do valor religioso do casamento.

Existem momentos em uma relação em que a dificuldade do “outro” (nossa com ele e dele conosco) vai além das nossas capacidades humanas. É justamente neles que a “graça” do Sacramento nos ajuda a perceber que, construir uma família, é um caminho feito “à três”. As dificuldades existem, são grandes, dolorosas, mas servem para purificar o significado do amor e são sempre sustentadas pelo amor de Deus.

Diante disso, redescobrir a seriedade de amar e a graça (divina) que recebemos para superar a falta de amor (humana), causam a mesma sensação de plenitude ao receber um sorriso do “alvo” do nosso amor. Não é sinônimo de sucesso, conclusão definitiva, mas é a certeza (momentânea)  de estar caminhando, de modo certeiro, para fazer o “outro” verdadeiramente feliz.

Quando a amizade é base para o casamento

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Impossível esquecer o momento em que meus três melhores amigos, no final da celebração do meu casamento, cantaram uma linda música em homenagem a mim e minha amada Flavia.

Junto do Cristian (hoje vive em Budapeste – Hungria), o Bruno (casado e com uma linda filha) e o Fer (irá se casar em novembro) eu vivi os melhores momentos da minha adolescência. Construímos uma amizade verdadeira, de irmãos. Tantas aventuras, descobertas, crises vividas juntos, isso sem contar as inúmeras partidas de futebol e basquete, corrida de carrinho de rolimã e aventuras de bike. No dia 22 de dezembro passado, inesperadamente, eles estavam lá, cantando e festejando o momento mais feliz da minha vida.

Agora, completados cinco meses maravilhosos dessa aventura chamada CASAMENTO, a felicidade em ter amizades verdadeiras é ainda maior. Hoje, elas têm uma dinâmica toda particular, sem o mesmo contato (físico) constante, mas isso não diminui, nem um pouco, os laços construídos durante a vida.

Nesta fase da minha vida, eu percebo o quanto a vivencia de relacionamentos sadios, de partilha verdadeira, sendo alegrias ou tristeza, foi um dom imenso para mim e que, hoje, ilumina a minha nova família. A importância das amizades é ainda maior, porque minha esposa também pôde fazer a mesma experiência, com seus muitos amigos, na longínqua Confederação Helvética.

Para nossa família, cada vez mais, os relacionamentos são fundamentais. Sem um amor construído “fora” de casa, nada se têm a dar “dentro”. E vice-versa.

E… bom… Caso alguém ainda tenha dúvida do bom de casar, eu asseguro: Vale a pena!

Lembranças quatro meses depois…

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E aí, tá nervoso? Tudo bem? Nervoso? Como você se sente? Impossível contar quantas vezes os convidados que encontrei na porta da igreja me fizeram perguntas do gênero. Mas não, as lembranças ainda me confirmam: Eu realmente não estava nervoso.

Ninguém sabe, porém, o que tinha se passado alguns minutos antes de vestir meu “vestido de noivo”.

Sentado no quintal da casa onde a família da Flavia estava hospedada, tive meu momento de intimidade com meu Deus. Olhando a natureza à minha volta, pensava nesse grande acontecimento da minha vida… todo o caminho percorrido, as dificuldades, inúmeras crises, mas sempre acreditando no Seu amor incondicional.

Assim, por ser cristão, decidi rezar um terço (a terça parte do Santo Rosário), oração que, para mim, é um momento de adoração e agradecimento por tudo aquilo que Deus me permite viver.

Depois daqueles minutos íntimos, senti que estava “acompanhadíssimo” para o meu casamento. Por isso a ausência de nervosismo. Tinha me preparado 28 anos para aquele SIM ao Amor, então era impensável qualquer tipo de temor.

Passados quatro meses, completados hoje, a certeza de que esse é o meu caminho é sempre maior.  Felicidade grande, fruto de um amor construído e preservado com minha amada esposa. Uma escola de amor à diferença que enriquece.

Contudo, a maior descoberta é perceber que a felicidade do casamento se constrói em maneira “tripla”: No relacionamento pessoal com Deus, no “amar-se reciprocamente” com a esposa e no abraçar à humanidade. Sem um desses pilares me parece impossível sentir-se verdadeiramente pleno.

Lembranças três meses depois…

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Depois de passar a última noite “solteiro”, acordei animado, pois o dia mais aguardado da minha juventude tinha finalmente chegado.

Enquanto a noiva, no quarto ao lado, não queria sair dos seus aposentos, temendo ficar ainda mais nervosa, eu, não tive tempo de pensar muito. Levantei apressado, tomei banho e fui cuidar dos últimos preparativos do casamento.

Uma preocupação particular era com a decoração. Tínhamos nos arrependido de quem decidimos contratar, mas era tarde demais. Por isso, naquela manhã do dia 22 de dezembro, eu fiz algumas viagens até o local da nossa festa. Em uma delas, algo inesperado aconteceu. Manobrando o carro para retornar para onde estávamos hospedados, um dos pneus estourou.

Com muitas coisas para termina e a cabeça “cheia”, eu quase me desesperei. Mas, a presença solidária do ajudante do “salão” me tranquilizou. Com calma e empenho ele me auxiliou na troca do pneu e assim eu pude voltar “são e salvo”.

Faltava pouco para o início da celebração e tudo estava caminhando direitinho, muito melhor do que esperávamos.

Uma alegria especial tomou conta de mim quando eu entrei na igreja e encontrei minha família (brasileira e suíça) empenhada em fazê-la delicadamente bonita, para o nosso grande dia.

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