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Água: conservá-la hoje para garantir o futuro│Rodrigo Delfim

Água

Um recurso natural que parece tão farto por simplesmente sair pela torneira de casa ou cair do céu em forma de chuva. Não! Não se deixe enganar por essa visão sobre a água. É fundamental entender a relação que todos nós, de maneira geral, temos com essa substância tão preciosa e importante para a vida, mas ao mesmo tempo tão maltratada e desperdiçada.

Crise da água em São Paulo

ÁguaA atual crise de abastecimento que vive a cidade de São Paulo e regiões vizinhas é um momento para lá de propício para rever a nossa relação com a água. Parafraseando um dito bem conhecido no Brasil, já “não adianta chorar à agua desperdiçada” pela má distribuição e uso inadequados. Mas ainda há tempo de mudar nossos hábitos, pensando não apenas no hoje, mas, sobretudo, na água que nossos filhos e netos poderão desfrutar amanhã.

O que a maior metrópole sul-americana vive hoje, pode se tornar ainda mais comum em um futuro próximo. Se cada um não fizer a sua parte (poder público e sociedade) e entender, de fato, a importância desse precioso recurso natural, sentiremos “na pele” as graves consequências que a falta dele pode gerar.

Muito além das campanhas e multas

A questão da água vai muito além dos slogans comerciais das campanhas promovidas pela Sabesp, companhia que fornece água para a metrópole paulista: “Água: sabendo usar, não vai faltar”, ou “Usando bem, ninguém fica sem”; vai além das multas que o governo quer cobrar pelo consumo excessivo de água; vai inclusive além dos pequenos hábitos que ajudam e muito a reduzir o consumo de água e fazê-lo de forma mais responsável e sustentável (banhos mais curtos, formas diversas de reutilização, torneira fechada enquanto escova os dentes, etc.).

O imediatismo da atualidade nos condiciona a pensar sempre no hoje, sem, contudo, promover uma reflexão a respeito das consequências que as nossas atitudes do presente terão no amanhã. Situações como a que a cidade de São Paulo está vivendo são, porém, um convite para repensarmos nosso estilo de vida, procurando vê-lo em um contexto mais amplo e antes que as consequências dos nossos atos deem um xeque-mate no jogo da vida.

Mudar, pensando nos outros

ÁguaApesar de cada cidadão ser chamado a fazer sua parte, é preciso, de uma vez por todas, pensar no coletivo, abandonando o egoísmo e o individualismo que marcam a vida moderna.

Se há uma lição que essa crise de abastecimento nos deixa – entre outras coisas – é a de mostrar o quão frágil é a existência humana, uma vez que a vida é simplesmente inconcebível sem a água (tente-se imaginar sem acesso à agua potável, para começar). Porém, também podemos aprender mais sobre o potencial das ações coletivas na resolução de problemas, não apenas em relação à água, mas também diante dos demais recursos oferecidos pela natureza – e usados de forma insustentável pela humanidade.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

Pequenas gentilezas podem transformar – Karina Gonçalves

amor e gentileza

“Com os olhos toldados e incrédulos, não vemos, com muita frequência, que cada um e todos foram criados como um dom para nós e nós como um dom para os outros. Mas assim é. E um misterioso vínculo de amor liga homens e coisas, conduz a história (…)”. Chiara Lubich

Voltando do trabalho, dia cansativo, ônibus lotado, pessoas que se esbarram umas nas outras pela falta de espaço, uma hora e meia em pé… Em minha frente observo um homem ficando vermelho e em seguida arroxeando-se, percebo que não está passando bem. Sem pensar ofereço-lhe a minha garrafinha de água. E fico ali ao seu lado, sem dizer nada. Quando voltou a sentir-se melhor agradeceu-me muito e disse ‘você salvou minha vida’. Palavras fortes para um gesto tão simples. Depois daquele dia sempre que ele me encontra no ônibus me cumprimenta, ainda com um sorriso de gratidão.

Saindo de uma Igreja no centro da cidade de São Paulo, fim de tarde, vontade de chegar logo em casa. Na porta encontro uma mulher chorando. Observo e passo rapidamente por ela. Após alguns passos, algo me impulsiona a voltar. Aproximo-me dela, a olho, pergunto como está, se posso ajudar de algum modo. Entre lágrimas me conta sua dor daquele momento: havia sido demitida. Pergunto se posso dar-lhe um abraço e digo que a recordaria em minhas orações. Suas lágrimas cessam um pouco, me olha e um sorriso tímido lhe ilumina a face e diz: “estava aqui desacreditada do mundo e das pessoas, mas encontrar pessoas como você me faz ainda ter esperança”. Nunca mais nos encontramos, mas algo naquele momento nos uniu. Por semanas lembrei-me de rezar por ela.

Em uma noite chuvosa, saí de casa já atrasada para um compromisso. No caminho avisto uma senhora caminhando sob a chuva com uma criança. Dentro de mim, penso: “poxa, coitadas! Queria fazer algo, mas estou atrasada”. E logo em seguida: “mas o que importa?” Faço o retorno com o carro e ofereço a elas carona. Sem pensar entram em meu carro e rapidamente chegamos até a casa delas. Antes de descerem pergunto o nome da criança, Tamires. Ao me agradecer a senhora exclama: “Você foi um anjo que nos apareceu!”

Pequenas gentilizas com um grande significadoFlorGentil1

Alguém poderia questionar, mas a que servem essas gentilezas? São suficientes para realizar uma transformação social? Com certeza seria necessário muito mais! Talvez eu precisaria conhecer aquele homem no ônibus, encontrar um trabalho para aquela jovem, visitar Tamires e sua avó…

No entanto, os simples gestos do dia a dia, que poderiam ser relatados por tantas pessoas, parecem-me revelar a incrível possibilidade de comunicar-se com outros seres humanos, aparentemente distantes que, de maneira improvisa, tornam-se próximos, e provocam em nós um movimento de saída da esfera do egoísmo e das próprias necessidades, para estar atento àqueles que nos circundam.

Caminhando juntos rumo a verdadeira transformação

20111113114608508303aA alegria pessoal experimentada realizando pequenas gentilezas é enorme, preenche o dia de um sentido, difícil de ser vivenciado de outro modo, senão àquele da doação de nós mesmos. Ser presença gentil e solidária, paciente e respeitosa, sinal do amor que pode transformar nosso cotidiano. Entretanto, a mudança só pode ser realizada por pessoas em ação. Muitos homens e mulheres que, sendo capazes de irem além de si mesmos, encontram o espaço onde se sentem unidos. É justamente nele que uma verdadeira transformação pode ser desencadeada!

Não é bonito pensar que também, na correria do dia a dia, ao caminharmos pelas ruas das nossas cidades, podemos construir momentos de fraternidade?

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 Acessibilidade e inclusão social: preocupação real ou moda? | Karina GonçalvesKarina Gonçalves da Silva Sobral – Formada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) em 2007, motivada por questões existenciais e busca de respostas em como lidar com o sofrimento do outro, dos tantos outros que já tinha encontrado nas recentes mas, intensas, práticas como terapeuta ocupacional, concluiu em 2011 a “laurea magistrale” em ciências políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália.  Possui experiências, principalmente, no Serviço Público, na área de saúde mental,  e, atualmente, é terapeuta ocupacional com atuação na educação especial.

Candongueiro: cruzando a África por blogs e livros – Rodrigo Delfim

Candongueiro

Ler um bom livro te faz viajar sem sair do lugar e ajuda tanto a virar esquinas da vizinhança como a cruzar continentes e oceanos inteiros. E durante minhas férias, seja sentado em uma praça, no salão de embarque do aeroporto ou dentro de um ônibus ou avião, pude viajar um pouco à África de duas formas: com as atualizações dos amigos Valter e Flavia na internet (direto da Costa do Marfim) e com o livro “Candongueiro: viver e viajar pela África”, escrito pelo jornalista João Fellet.

Viver e viajar pela África

CandongueiroA sugestão de leitura veio da minha amiga Bruna, que é prima do autor e me emprestou o livro (ótima dica, muito obrigado!). Com uma leitura leve, a obra descreve a vivência que Fellett durante um ano e meio morando na África. A primeira parte se passa em Angola, onde ajudou a montar um jornal de economia, em um país que pouco a pouco se reestrutura após anos de guerra civil – mas não fica livre de contrastes e enormes contradições sociais, políticas e econômicas.

Depois da experiência em Angola, o jornalista decidiu fazer uma viagem de sul a norte, iniciada em Johanesburgo (África do Sul) e terminada no Cairo (Egito), passando por Moçambique, Tanzânia, Quênia, Uganda, Sudão do Sul (na época ainda parte do Sudão), Etiópia e o Sudão atual. Há também um blog sobre a experiência, chamado Candongueiro, que têm trechos presentes no livro e outros “causos” e fotos.

Cruzando a África  de candongueiro

A opção de viagem a bordo de candongueiros (como as vans de passageiros são chamadas em Angola), como diz Fellet, “não tinha nenhuma tendência masoquista”, mas sim vivenciar o meio de transporte utilizado diariamente pela maior parte dos povos que vivem na África.

Durante a jornada pela África, Fellett topou com diversos personagens marcantes, alguns deles com capítulos inteiros dedicados a eles. Só para citar alguns: a moçambicana e descendente de indianos Sakina, mãe e motorista de van; o etíope que fugiu de casa para não se casar e poder concluir os estudos; dois irmãos egípcios que imigraram para o Sudão e acompanharam o jornalista no caminho para o Egito; e o Mr. Brown, britânico de 78 anos que se diz apaixonado pela África e trocou a Europa e o Canadá por projetos sociais e educacionais em Uganda.

“Perrengues”, é claro, não faltaram, como o golpe do qual escapou no Quênia, pessoas que viram no jornalista uma forma de obter dinheiro ou alguma outra vantagem material, e o momento no qual o autor quase perdeu celular, documentos e sua câmera fotográfica em uma latrina. Para saber mais detalhes dos “causos” descritos no livro, é melhor ler o livro e o blog com os próprios olhos para não perder a graça.

Independente do destino ou trajeto, sem dúvida qualquer viagem tem potencial para virar uma vida do avesso. E a África, com toda sua história, riqueza e preconceitos a serem desfeitos, é um terreno dos mais férteis para essa experiência. E enquanto não chega minha vez de ir, viajo por ela com blogs e livros.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

Envelhecer: perdas e lamentações, novos encontros e alegrias

EnvelhecerÉ comum encontrarmos muitos idosos em nosso cotidiano. Um dos principais fatores é o aumento da expectativa de vida do brasileiro e a crescente preocupação com hábitos mais saudáveis e cuidados preventivos desde a juventude. Nunca o envelhecer esteve tão presente na nossa sociedade. Alguns vivem a velhice com mais qualidade de vida, outros menos. Alguns com uma vontade inesgotável de continuar a viver e outros assistindo a vida da sacada. Muitos modos de encarar a tal dita terceira idade.

O saudosismo e os sofrimentos do envelhecer

EnvelhecerNão raro nos deparamos com falas saudosas referentes a um passado glorioso cheio de vitalidade e possibilidades. Por instantes é possível perceber certo brilho no olhar de alguns idosos ao resgatarem lembranças amadas. No entanto, o olhar de tristeza que se segue pelo retorno ao presente, ao que é a realidade atual, é torturante.

Tristeza e dor pelas pessoas queridas que se foram, pelos filhos que seguiram seus rumos, pelo sentir-se inútil, incapaz e dependente. A solidão que emerge de falas como essas me inquietam. Mais do que solidão externa, é a aridez interior que impressiona, um vazio existencial ainda não preenchido.

Tais sentimentos são compreensíveis em uma fase da vida em que realmente o corpo não responde mais como outrora e a mente, em algumas situações, parece estar além da corporeidade. Deseja-se fazer tantas coisas, mas não há força e nem a disposição necessárias. Tudo parece mais difícil. Às vezes a vontade também se esvai e sobra espaço apenas para as lamentações. Pergunto-me como serei quando for velhinha, que sentimentos carregarei ?

O irradiar de uma  luz resplandecente

EnvelhecerPor outro lado, ao celebrar os 80 anos da avó do meu esposo, que passou a ser também minha, percebi que existe uma força interior capaz de irradiar luz, independente da idade e das dificuldades que a vida apresenta. É luz que acolhe e aquece, que aconselha e encoraja, que sorri e faz rir, que aconchega e nos faz ser gratos por tamanho amor, que ama simplesmente porque ama.

Para a ocasião, os filhos preparam uma grande festa. Celebrar a vida é sempre uma dádiva. A vida de nossas mães então é de uma preciosidade inenarrável.  Trabalhamos muito para deixar tudo lindo e digno da festejada. Mas quem realmente fez a festa acontecer e abrilhantar foi ela mesma, D. Suzana, com alegria e vivacidade, força e luz, emocionou a todos.

O salão estava repleto por familiares, netos e bisneto, amigos e, sobretudo, por suas irmãs do coração, as senhoras do grupo da terceira idade. Grupo que despertou nela e em tantas outras pessoas um novo sentido para a vida. Novos encontros e vínculos foram construídos, amizades estabelecidas, alegria restaurada e os olhos que derramaram tantas lágrimas de dor e amarguras pelas dificuldades da vida, hoje se transformaram em lágrimas de emoção, gratidão, alegria e felicidade. Nunca vi uma senhora com tantas amigas! O caminho se faz ao caminhar e como é bom caminhar ao lado de AMIGOS que nos fazem resgatar o sentimento de pertença!

Maturidade. Talvez seja isso. Encontrar a felicidade profunda que faz acolher cada momento da própria história passada, mas que acredita que as melhores lembranças são as de poucos minutos atrás, que já vão dando espaço para as do próximo instante, que é o agora. O presente se renova a cada instante, e é preciso ter olhos para ver, coração para sentir e mente sadia para captar a beleza do “eis que faço novas todas as coisas”.

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 Acessibilidade e inclusão social: preocupação real ou moda? | Karina GonçalvesKarina Gonçalves da Silva Sobral – Formada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) em 2007, motivada por questões existenciais e busca de respostas em como lidar com o sofrimento do outro, dos tantos outros que já tinha encontrado nas recentes mas, intensas, práticas como terapeuta ocupacional, concluiu em 2011 a “laurea magistrale” em ciências políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália.  Possui experiências, principalmente, no Serviço Público, na área de saúde mental,  e, atualmente, é terapeuta ocupacional com atuação na educação especial.

Lágrimas que dobram esquinas – Rodrigo Delfim

Lágrimas

“Como dez pessoas podem viver em um espaço tão pequeno?” Essa pergunta foi feita a mim por uma irlandesa de 18 anos durante uma visita à favela da Vila Prudente, na zona leste de São Paulo. Era uma bela e ensolarada manhã de sábado, 20 de julho de 2013. Ao todo, eram 50 jovens irlandeses, todos católicos entre 17 e 22 anos, que vieram à capital paulista para a Semana Missionária, evento da Arquidiocese de São Paulo que serviu como uma prévia da Jornada Mundial da Juventude – que aconteceria no Rio de Janeiro na semana seguinte.

A favela da Vila Prudente, localizada na zona leste de São Paulo e pertinho da região do ABC, é considerada a mais antiga de São Paulo. Poucos sabem ou mesmo devem se lembrar desse fato ao passar pela avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello e pelo complexo de viadutos que liga a região aos bairros do Ipiranga e Sacomã. Próxima a ela estão áreas de alto padrão e grande valor comercial, como o Shopping Mooca e o Parque da Mooca – exemplo clássico dos contrastes que marcam a maior metrópole brasileira e nosso país.

Lágrimas de indignação

LágrimasEu pouco sabia da comunidade às vésperas de visitar o local pela primeira vez. Como faltavam potenciais tradutores para os irlandeses, fui chamado às pressas por uma amiga que estava na acolhida dos jovens. E foi a partir desse “empurrãozinho” vindo do exterior que tive uma das experiências mais ricas nos últimos anos.

A pergunta feita pela minha colega irlandesa e as lágrimas que vieram dela a seguir me fizeram pensar: de fato, como podem famílias inteiras viver em cubículos que certamente devem ser menores que os quartos dos leitores deste texto? Sim, aquela era uma triste realidade confirmada pelo guia. Ou seja: estamos deixando as diferenças sociais se tornarem algo corriqueiro e perdendo a sensibilidade? Ela deveria chocar e mobilizar não apenas aqueles 50 jovens irlandeses, mas todos os cerca de 11 milhões de habitantes de São Paulo.

O choque era ainda maior em uma área da favela que conservava as marcas de um incêndio ocorrido seis meses antes, que tinha destruído cerca de 70 barracos. Felizmente ninguém morreu naquele episódio, mas os traumas materiais e sobretudo humanos eram evidentes diante dos barracos queimados. O pouco que consegui traduzir para o inglês daquele fato – e da realidade daquela comunidade – foram suficientes para tocar aqueles estrangeiros que até então só sabiam das “favelas” (termo usado por eles próprios para designar as moradias precárias nas quais vivem milhões de brasileiros).

Lágrimas de alegria

Contudo, nem tudo foram lágrimas naquele sábado. Apesar das dificuldades vividas pelos habitantes da comunidade, era possível encontrar alegria e demonstrações de solidariedade e superação que não apenas emocionaram os jovens irlandeses e os amigos brasileiros que os acompanharam, mas serviram como lição de vida para cada um dali em diante.

Foi possível ainda conhecer o trabalho feito por missionários da própria Irlanda que chegaram à região ainda na década de 1970. Eles formaram, com a ajuda da comunidade, um centro cultural e de capacitação profissional que ensina informática, alfabetiza e ajuda na inserção social da população local, dando ferramentas para que seus jovens, crianças e adultos possam ter um futuro melhor. Sim, as dificuldades existem e são enormes, mas quem disse que elas não podem ser superadas?

Aqui as lágrimas ainda apareciam no rosto dos jovens irlandeses – e também de seus parceiros brasileiros. Mas desta vez eram diferentes, pois expressavam gratidão, uma lição aprendida, uma nova visão de vida muito mais ampla que se abria no horizonte de cada um, sem o filtro das mídias e dos preconceitos que costumam ser atrelados às favelas e à vida de quem vive nelas. Uma radical virada na esquina para cada um que esteve ali presente.

Vire a esquina

Sei que ao ler este texto pode ficar um gostinho de “quero mais”, mas a experiência e o intercâmbio cultural foram tão intensos que palavras nem sempre são suficientes para expressar a gama de sentimentos e aprendizados que uma experiência como essa podem trazer a uma pessoa.

As lágrimas não apenas expressam nossa indignação com uma realidade perversa e desumana, mas também mostram nossa felicidade e gratidão com palavras amigas, sentimentos nobres. Em suma, as lágrimas podem nos ajudar a virar a esquina do preconceito, dos estereótipos e do determinismo de que “vai ser assim sempre e nunca mudará”. E ao virar essa esquina, é possível ver o quanto podemos fazer para ajudar a mudar essa realidade e tornar mais humanos a si e a sociedade ao redor.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

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