Author: Colaborador eLe

Para ir além da Linha Vermelha | Rodrigo Delfim

Linha Vermelha

Madalena, Iguatemi, Itaim. O que te vêm à mente quando ouve ou lê essas três palavras? Provavelmente os barzinhos da Vila Madalena, as baladas do Itaim Bibi e as compras no caríssimo Shopping Iguatemi.

E quanto ao Parque Santa Madalena? E Jardim Iguatemi? Ou sobre Itaim Paulista? Pois é, esses três locais de fato existem e são bairros da zona leste de São Paulo. E embora sejam bem menos famosos que os badalados points de entretenimento e consumo do lado oeste da cidade, concentram centenas de milhares de pessoas vivendo neles.

Esse exemplo simples mostra o quão diversa e contraditória é a cidade de São Paulo. Ostentação e simplicidade; riqueza e pobreza; condomínios de luxo e moradias em áreas de risco; grifes internacionais e pequenas lojas de produtos a R$ 1,99; arranha-céus e chácaras que lembram o começo do século XX.

A capital paulista vai muito além dos locais midiáticos. E nem é preciso ir muito longe. Basta ir além da linha vermelha, por exemplo. Sim, aquela mesma que vai da Barra Funda até Itaquera. Como praticamente todo o trecho leste corre em superfície, é bem interessante notar como a paisagem vai mudando conforme o trem avança zona leste adentro. As grandes torres residenciais pouco a pouco dão lugar a casas mais modestas, prédios mais baixos até chegar ao terreno ainda pouco ocupado nos arredores da estação Itaquera – o novo estádio do Corinthians já muda a paisagem local

Essa complexidade não pode – ou ao menos não deveria – ser ignorada ou desprezadas por aqueles que vivem na metrópole. Infelizmente ainda é possível notar certo “bullying” contra quem vive fora dos locais “top” de São Paulo.

Causou espanto para mim, por exemplo, quando cheguei à faculdade de Jornalismo na PUC-SP, em 2006, e contava nos dedos as pessoas que sabiam o que era a região do ABC Paulista. Ou então que já tinham ido além da estação Sé do metrô de São Paulo.

Enfim, se quisermos entender a complexidade que nos rodeia em uma cidade que é um verdadeiro minimundo, é preciso conhecê-la, sair dos círculos tradicionais. É preciso ir além da linha vermelha, mas também da azul, verde, lilás (em referência às linhas de metrô da cidade). Para começar, basta virarmos a esquina.

rodrigoRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

Phoneblocks: um projeto potencialmente transformador | Mariana Assis

Phoneblocks

Quantas vezes já ouvimos dizer que aparelhos eletrônicos antigos duravam décadas, enquanto os produtos de hoje estragam em poucos anos de uso? Talvez em relação aos celulares, essa afirmação não se aplica muito, não porque eles estragam, mas porque a cada ano uma nova funcionalidade é lançada, levando à maioria das pessoas trocarem de aparelho. Dessa forma, é realmente difícil saber quanto tempo dura um celular.

Phoneblocks: um projeto audacioso

Os telefones móveis evoluíram muito desde o seu lançamento. Os primeiros eram gigantes, depois vieram os pequenos e finos. Inventaram os toques polifônicos, as telas coloridas, as câmeras embutidas, as telas touch, e chegamos aos “minicomputadores” de hoje.

Minha primeira troca de celular foi porque eu desejava um aparelho com câmera, depois troquei de novo porque queria um modelo com GPS e foi assim até chegar ao meu atual smartphone.

Pensando em produzir um celular que facilite a inovação e ofereça um dispositivo versátil que não seja descartado logo que a primeira peça quebra, a Motorola anunciou, esta semana, em seu blog oficial o lançamento do projeto ARA.

Image2Baseada na ideia promovida pela Phoneblocks, lançada na internet em setembro deste ano, a gigante do setor de telefonia móvel quer produzir um celular personalizável, com peças substituíveis e que pode trazer uma mudança de paradigma para o mercado de celulares. Por exemplo, se você é uma pessoa que só usa o celular para ligar (Só?!) você poderia procurar um alto-falante de primeira e tirar o resto que você nem sabe para que serve; se você usa a internet o tempo todo, poderia investir em mais bateria. A customização seria uma forma de ter um celular apenas com o essencial para cada pessoa.

No vídeo abaixo, que teve um milhão de visualizações em 24h, há mais informações sobre como seria este novo celular.

[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=oDAw7vW7H0c]

Novos paradigmas de consumo

Mais do que um novo aparelho de celular, o Phoneblocks traz à tona uma discussão sobre consumismo, sustentabilidade e a tendência das pessoas hoje procurarem produtos personalizados. Se eu tivesse a possibilidade de trocar apenas algumas peças do meu primeiro celular, para colocar a câmera, o GPS e uma nova tela, talvez estivesse com ele até hoje, em vez comprar um celular novo só por causa de uma única funcionalidade. Consequentemente, não teria jogado no meio ambiente os componentes nocivos, presentes na bateria dos celulares e teria economizado os metais e o ouro presentes em algumas peças. Por outro lado, eu também não teria contribuído para o enriquecimento das fabricantes de celulares.

Aí é que, acredito, está a grande questão! Será que um celular que “dure para sempre” é interessante para o mercado? Para ele, talvez não, mas para nós e para o planeta Terra sim.

É intrigante ver a Motorola, uma fabricante de celulares que fatura, sobretudo, com a troca constante de aparelhos, apoiando um projeto deste tipo. Claro que haverá um ganho com a compra de peças novas, mas a ideia é justamente que o custo seja menor e que o comprador aproveite o máximo do aparelho, de acordo com as suas necessidades. Também é de se colocar na balança se estas novas peças terão uma boa qualidade, pois de nada adianta não trocar o celular, mas ter que comprar novas peças em um curto espaço de tempo.

Ideais simples que revolucionam

phonebloks-handsetMesmo parecendo um pouco utópico, o projeto tem grandes chances de ser concretizado. A Motorola está convocando desenvolvedores e pessoas que queiram contribuir com suas opiniões e ideias, com a pretensão de lançar uma versão alpha do aparelho nos próximos meses.

Quem sabe na próxima vez que trocar o celular você já possa ter um aparelho com a sua cara e que vá durar mais do que o anterior? Economizaríamos dinheiro e o meio-ambiente agradeceria.

Para as fabricantes de celulares talvez, no início, não seja economicamente vantajoso, mas o projeto possivelmente estimularia a busca por soluções que respondam às nossas necessidades reais, em vez de se contentarem em nos fazer gastar dinheiro com coisas supérfluas.

Algumas ideias podem parecer utópicas no papel, mas quando se tornam realidade podem ser revolucionárias.

marianaMariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.

O bem que existe na tecnologia | Mariana Assis

existe na tecnologia

Posso dizer que fui uma garota que sempre conviveu com tecnologia em casa, computadores, vídeo games, filmadoras, máquinas fotográficas, toda essa parafernália que foi sendo inventada nas últimas décadas. Meus pais sempre gostaram bastante de novas tecnologias, tivemos um computador 286 em casa logo que lançou. Telinha preta e verde, eu adorava jogar pacman.

Quando entrei na faculdade de Sistemas de Informação, nem sabia muito bem o que ia encontrar. Tinha a certeza de que gostava de novidades do mundo eletrônico e que isso me empolgava. Depois de 10 anos trabalhando com isso, tenho refletido sobre a motivação da avalanche tecnológica que vivemos. Porque a internet se desenvolveu tanto? Porque temos celulares que permitem fazer vídeo chamadas? Porque queremos começar a vestir gadgets como o google glass? Podemos ir mais longe e pensar, porque inventaram o telefone, o rádio, a TV?
Desde sempre a humanidade tem essa necessidade de comunicar, de viver em comunhão. Na pré-história o homem já desenhava sua vida nas paredes das cavernas. Eu acredito que a tecnologia e os meios de comunicação são uma resposta a estas exigências tão profundas do ser humano. Temos necessidade de amar, viver junto, contar, compartilhar, fazer parte das vidas uns dos outros. A felicidade não é nada sem ter alguém com quem compartilhar, já dizia a frase de autor desconhecido.

A troca, a comunhão nos fazem evoluir, encontrar novas soluções, nos fazem ampliar nossos pontos de vista estando mais abertos para o diferente, para o novo. E atualmente, a tecnologia nos permite viver a comunhão de forma exponencial. Conheci uma senhora, com uns 80 anos, que me contou que quando começou a namorar seu atual marido, ele morava em outra cidade e eles escreviam cartas todos os dias. Ela ia ao correio todo dia buscar as cartas dele. Eles foram uma exceção para época deles, imagina quanta gente ficou com o coração partido por não ter como se falar, sem celular, e-mail, facebook.

Hoje as distâncias diminuíram, uma filha que vai estudar fora pode falar e ver seus pais quantas vezes quiser, de graça. Namorados podem morar em cidades diferentes e continuam se comunicando em tempo real. Funcionários podem trabalhar em projetos internacionais de suas casas e muito mais:

• Graças às mensagens de celular, “SMS”, pequenos agricultores da África podem ter menos perdas, pois recebem a previsão do tempo no celular.

• As redes sociais, também trazem tantas possibilidades. Conheço casais que se conheceram no Orkut e hoje estão casados; gente que conseguiu emprego porque tinha seu currículo disponível no LinkedIn e até gente que virou celebridade postando vídeo no Youtube.

• E agora, o serviço do momento é o crowdfounding que, por exemplo, já ajudou uma menina brasileira estudar Física em Yale. Isso só foi possível porque ela contou com a ajuda de centenas de pessoas que fizeram uma espécie de “vaquinha” e mandaram o dinheiro para ela.

Bom. Claro que a tecnologia não substitui os momentos off-line maravilhosos que temos com nossas famílias e amigos e não devemos nunca abrir mão disso. Mas, porque não utilizar aquilo que ela nos traz de melhor?

Eu procuro usar o conhecimento que adquiri sobre tecnologia para servir as pessoas. Muitos já me procuram no mundo off-line, pedindo conselhos do tipo: qual celular comprar? Devo ou não trocar meu notebook por um tablete? Como faço uma loja virtual? Como faço um site para minha empresa? E etc.

Agora, pensei em utilizar este espaço para ajudar mais gente a descobrir novas soluções para os seus problemas e necessidades.

Tecnologia, por si só, não faz nada. São as pessoas que movem as engrenagens. Sem ela a internet seria tão vazia e parada quanto às ruas do Brasil em dia de jogo da Copa do Mundo. Cada um de nós é convidado a utilizar “qualquer” tecnologia para o bem, como um instrumento que nos possibilita alavancar nossas qualidades, habilidades, ideias.

marianaMariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.

O Outro, tão diferente e tão igual a mim | Karina Gonçalves

O Outro 

Minha primeira visita a um Hospital Psiquiátrico foi durante meu primeiro ano da faculdade de Terapia Ocupacional. Era uma visita acadêmica, planejada dentro da disciplina de Introdução ao Curso e foi uma experiência que me marcou para sempre porque me levou a encontrar O Outro.

Um dos antigos prédios tinha sido transformado em Museu Manicomial com o objetivo de preservar a história, para que atrocidades não se repitam, e apontar novos caminhos para o futuro.  Era possível reviver, através das imagens, dos equipamentos, das celas, camisa de força e cadeira elétrica, por exemplo, o clima de repressão e tortura, coerção e violência, além dos relatos de métodos ditos terapêuticos, aos quais antigamente os internados eram submetidos.

Nesse ambiente marcado por um passado frio e cruel, uma frase de Guimarães Rosa, entre tantas outras estampadas nas paredes, destacou-se mais do que todas: “A alma do louco não é louca”. Aquelas palavras me atingiram e provocaram em mim algo extraordinário. Ecoaram interiormente, durante todo aquele dia, nos vários encontros com profissionais e pacientes daquele lugar.

Encontrei Fátima, que há muitos anos estava institucionalizada, pois quando o Hospital foi transformado e um novo modelo de atendimento instaurou-se, mesmo podendo retornar para o seio de sua família e continuar o tratamento inserida socialmente, ela não encontrou nenhum familiar, amigo ou conhecido com quem pudesse restabelecer e resgatar vínculos sociais e afetivos. Sendo assim, permaneceu , como tantos outros, nas moradias terapêuticas. Parei para olhá-la; cumprimentá-la; seus olhos tristes, perdidos fizeram com que eu repetisse, solenemente, dentro de mim ‘aí tem uma alma tão sagrada quanto a minha’. Parece uma verdade óbvia, mas enxergar aquela pessoa como a mim mesma, com vontades, sonhos, um coração que pode chorar ou rir, me pareceu revolucionário.

Meus olhos encontraram os seus. Independente do sofrimento, da fala, às vezes, desconexa, da desapropriação de sua história, do olhar perdido e opaco aquela pessoa possuía algo que fazia com que eu me aproximasse dela sem estranhamentos, ao contrário, com respeito e acolhimento, era um outro tão diferente de mim, mas tão igual a mim! A sua ‘loucura’ não diminua em nada o seu ser humano.

Uma certeza já experimentada, mas ali confirmada pela primeira vez no âmbito da minha caminhada profissional. Qual era a certeza? A certeza da existência de algo forte que liga todos os seres humanos, independentemente da situação de dor, miséria, limites e alegrias que cada um vive.

Pareceu-me tão nobre viver pelo bem daqueles outros que ali conheci, e eis aqui meu ser Terapeuta Ocupacional. Compreendi que o fato de nos colocarmos no lugar do outro e identificar o que nos une, por sermos seres constituídos igualmente, nos ajuda a colocar o homem ao centro de qualquer prática e intervenção em saúde, não sendo possível olhar o sofrimento sem olhar para a pessoa que sofre. Tal realidade é um desafio constante o qual inicio, com alegria e imenso prazer, a compartilhar com cada um de vocês, desejando trilhar, através deste espaço, um caminho de comunhão e diálogo autênticos.

karina
Karina Gonçalves da Silva Sobral – Formada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) em 2007, motivada por questões existenciais e busca de respostas em como lidar com o sofrimento do outro, dos tantos outros que já tinha encontrado nas recentes mas, intensas, práticas como terapeuta ocupacional, concluiu em 2011 a “laurea magistrale” em ciências políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália.  Possui experiências, principalmente, no Serviço Público, na área de saúde mental,  e, atualmente, é terapeuta ocupacional com atuação na educação especial.

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