Author: Valter Hugo Muniz Page 67 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

[vidaloka] FINAL. No futuro, o que nos espera é sempre o Melhor

15 dias.

2 enterros.

Inúmeros reencontros.

O retorno pra casa depois de dois anos de [Vidaloka] tem sido uma experiência difícil, em alguns momentos quase “dramática”, pelas circunstâncias e situações que exigiam tranquilidade psicológica, mas é, sobretudo, maravilhoso.

Voltar a morar com meus pais não estava nos meus planos, mas essa passagem importante exigiu um “passo” interior e uma disposição nova para continuar vivendo por outras pessoas queridas, oportunidade única nessa fase da vida.

Enquanto os dias passam, entre a procura de trabalhos, free-las, recomeço nos estudos e uma importante adaptação ao clima, ritmo de vida, humor das pessoas… tem sido bom.

Mas, voltar para casa, mais que tudo isso, tem sido reencontrar meus grandes amigos – junto (certamente) com a família . Pessoas pelos quais eu e a Flavia decidimos voltar, enfrentar os sacrifícios para  estarmos próximos.

São nesses momentos que a gente percebe que a vida pode ser resumida às relações e o mundo, o país, à cultura… às PESSOAS. É por cada pessoa, cada relacionamento, que valem à pena os sacrifícios, sejam eles profissionais, pessoais, espirituais…

Contudo… a dimensão da morte, muito presente nesse retorno à casa, também me possibilitou fazer reflexões profundas, sem respostas racionais, só a esperança de que existe finalmente um sentido para vida.

Durante a produção da minha tese no Instituto Sophia me deparei, ajudado pela antropologia filosófica, com questionamentos a respeito da morte e o “excursus” (caminho) para a sua compreensão. Contudo, a inexistente resposta racional permite as mais diferentes interpretações e também convida ao protagonismo da vida.

Tenho que admitir, que no “advento” do tão sonhado casamento, encontar-me com a morte ajudou a relativizar o SEMPRE do “Felizes para sempre”, redescobrindo que o SEMPRE da felicidade é a soma da felicidade buscada cotidianamente.

Agora à [vidaloka] continua de outra forma, com outras perspectivas… e a certeza de que o que nos espera no futuro, quando pegamos o caminho correto, é sempre o melhor.

6 anos de escrevo Logo existo. Auto-Entrevista com Valter Hugo Muniz

Valter Hugo Muniz, 28, jornalista “filho da PUC-SP”, com passagem por diferentes experiências no mundo do jornalismo, com destaque para a produção do documentário “JORNALEIROS” (para assistir na íntegra clique aqui) que mostra as angústias e incertezas dos neo-jornalistas .

Concluída a graduação no Brasil, dois anos de Laurea Magistrale no Instituto Universitário Sophia, projeto acadêmico interdisciplinar de vanguarda, localizado na região do Val d’Arno toscano, aonde ele pôde aprofundar as teses levantadas em “Jornaleiros” e se concentrar em entender a comunicação de massas (e nela o jornalismo) a partir do ser humano, na sua integridade.

Hoje, há quase duas semanas vivendo novamente na sua amada São Paulo, Valter festeja o sexto aniversário do seu blog pessoal escrevo Logo existo, que totaliza mais de 160.000 acessos, 95 seguidores da página do blog no facebook, 100 assinantes diretos do blog e visitas com origem em mais de 70 países, números que podem ser considerados exorbitantes para um blog pessoal sem interesses econômicos  e estratégias de publicidade.

Por quê escrevo logo existo?

Porque escrevendo vejo que as barreiras espaço-temporais são rompidas, transformando a minha existência não só um fato pontual, mais um dom “sem medidas” para quem lê.

Em que sentido as “barreiras espaço-temporais” são rompidas?

Bom, uma coisa que acabo sempre redescobrindo é que alguns textos que escrevi no início do blog, em fases diferentes da minha vida, ainda fazem efeito nos leitores. Muitas vezes sou surpreendido com comentários e críticas de coisas que eu considero “passadas”, mas que têm significado para pessoas que agora vivem coisas que eu vivi antes.

Como surgiu a ideia de fazer um blog pessoal?

Foi no meu primeiro ano de faculdade de jornalismo na PUC-SP, em 2006, durante uma disciplina de produção de texto com a professora Raquel Balsalobre. Ela nos pediu para criar um blog para postar os trabalhos escritos e experimentar essa plataforma de produção de informação.

Mas o seu blog não é jornalístico, verdade?

Não. Tenho muitos escritos, poesias, crônicas, reflexões de muito antes da faculdade. Sempre gostei muito de expressar em palavras – e agora em fotos e vídeos – experiências vividas e meu olhar em relação ao mundo, do presente e do futuro.  Como, na sua maioria, os textos são “literários” e não “informativos” achei que não valeria a pena ter um blog jornalístico.

Então o escrevo Logo existo é pessoal e fala, sobretudo, sobre você?

Sim e não. Poderia dizer que o blog é sobre relacionamentos… comigo mesmo, com os outros e com mistério. Muitas vezes o que eu escrevo  exprime uma experiência feita diretamente por mim como no [VIDALOKA] ou [28 dias no país do Tsunami], mas nem sempre é assim. Uma história, reflexão ou poesia pode “surgir” por conta de algo que vi na rua, um sentimento depois de um filme, uma conversa… estímulos das mais variadas origens que geram comunicação.

Comunicação e não informação?

Isso… no modelo atual o significado de informação se baseia em uma transmissão linear e unidirecional. A Comunicação nasce também de uma transmissão, mas é dom de um emissor para um receptor da mensagem. Dessa forma a comunicação não se realiza somente no ato de escrever, doar-se… mas DEPENDE do leitor, do receptor da mensagem.

Em que sentido depende?

Não adianta escrever as coisas mais bonitas, mais profundas… se ninguém ler. Não basta que a informação seja transmitida. Se o que é escrito não toca e nem transforma as pessoas, não gera o desejo de reciprocidade, a comunicação é incompleta, é só informação.

Hoje o escrevo Logo existo completa 6 anos. É difícil encontrar projetos que sobrevivam tanto tempo e também com uma produção constante. O que te trouxe até aqui?

É verdade… se me lembro que quase todos os meus colegas de jornalismo haviam um blog pessoal em 2006 e hoje praticamente nenhum deles levou para frente a ideia, sinto que esse blog tem sim algo de especial. Mesmo sabendo que o escrevo Logo existo é cada vez mais parte de mim, como eu disse anteriormente, um modo de existir e me doar, tenho certeza que cheguei até aqui graças aos meus leitores, que não são muitos… tenho uma média de 100 acessos por dia… mas que em tantos momentos, quando eu estava desistindo, desanimando, escreviam um comentário, um e-mail, agradecendo por um texto escrito, uma poesia, me ajudando a perceber que os meus talentos foram feitos para serem desenvolvidos em prol dos outros, da humanidade e, por isso, devia continuar.

Como você vê o blog nesse sexto ano que começa hoje?

Igual…  sendo um suporte para as minhas reflexões e experiências. Tenho um sonho de, quem sabe um dia, encontrar pessoas dispostas a colaborar semanalmente com o escrevo Logo existo… alguém que gosta de cinema, música, fotografia, poesia… gente com o mesmo espírito e a mesma consciência de “comunicação” como troca. Seria também ótimo que mais gente conhecesse o blog, mas de maneira espontânea, não por meio de estratégias publicitárias.

Uma última pergunta… pensando no grande dramaturgo, apresentador do programa Provocações da TV Cultura, Antônio Abujamra… O que é a vida?

Para mim a vida é e sempre será os relacionamentos que podemos construir. E a beleza do relacionamento advém sobretudo do OUTRO… que é diferente… um abismo que quanto mais nos aproximamos, mais profundo se apresenta. São os relacionamentos que produzem vida… que nos movem ao novo, ao bonito, à felicidade. Viver é poder descobrir a beleza e os limites no relacionamento com o outro, superar medos, traumas e se deliciar com ele.

 

 

 

[vidaloka] Despedida

Despedida. Difícil explicar a intensidade do sofrimento vivido no segundo enterro em menos de 2 semanas de Brasil.

Nesses dias vejo a morte se aproximando cada vez mais dos «filhos da minha generação»,  mas também o casamento, a paternidade, o sucesso profissional…

Perder, ganhar, riscos, estabilidade, adquirem progressivamente pesos diferentes, as dores se intensificam e, proporcionalmente, também as felicidades.

Eu fui me despedir de uma amiga paraplégica, que viveu 30 anos a mais do que os médicos previam e que mesmo sem poder andar era “Phd” em construir relacionamentos, distribuir sorrisos, risadas e broncas.  Minha amiga Araceli testemunhava com a vida que felicidade não vem da perfeição fisiológica e sim do impulsos do “motor imóvel” aristotélico.

Contudo, despedidas são (e devem ser) sempre tristes. Produzem um vazio material. Mas a felicidade das boas lembranças enxugam as lágrimas, fazem até rir, mesmo se o sofrimento e, com ele, a saudade, permanecem intensos.

Só mais um GENFEST?

Há um pouco mais de uma semana da décima edição do GENFEST, que prevê a participação de 12.500 jovens de mais de 100 países, parece necessário refletir sobre o significado deste evento, nas nossas vidas e no contexto social em que nos encontramos.

Em um mundo que clama por novos projetos e ideais capazes de sobreviver às crises financeira e de valores éticos, participar de um Genfest é com certeza a possibilidade de encontrar respostas coletivas e de vislumbrar “de corpo e alma” a grandeza de um Ideal aderido por milhares de jovens, de diferentes culturas, que acreditam que um mundo fraterno é possível.

Porém não basta festejar o mundo unido, é preciso construí-lo com as próprias vidas.

Genocídio na Síria, epidemia de Ebola na Etiópia, chacina do narcotráfico mexicano, desemprego de 50% dos jovens na Espanha, corrupção crônica no Brasil são alguns exemplos alarmantes de um cenário social que afeta a vida de milhares de jovens de diferentes contextos.

Mas o que eu tenho a ver com isso? Muito.

Gozar de um bem estar social e espiritual pode servir de desculpa para a passividade, o comodismo. Fazer do ideal do Mundo Unido instrumemto de conforto psicologico, alimento de um romantismo utópico, não ajuda a difundir, tranformar em cultura, uma alternativa tão fundamental às questões contemporâneas.

A tal “Gen Revolution” precisa virar uma realidade cada vez mais “encarnada” na vida dos jovens presentes em Budapeste. O encanto com o evento precisa servir de combustivel para uma escolha radical, vitalícia, VOCACIONAL de viver a vida e usar os próprios talentos não só para realizar a própria felicidade, mas lutar por uma felicidade compartilhada.

O privilegio de viver essa experiência maravilhosa é grande, menor, porém, que a responsabilidade de transformá-la em algo que não se desfaça depois dos três dias de FESTA.

É importante ressaltar que na edição anterior do Genfest, no ano 2000, os jovens presentes eram 25.000, o dobro do previsto para este ano, mostrando também o quanto a adesão a um Ideal tão exigente é cada vez mais desafiadora.

Este será o primeiro Genfest sem a presença física de Chiara Lubich o que parece evidenciar um “sinal dos tempos” onde a responsabilidade em construir um mundo mais unido está fundamentalmente nas mãos daqueles que acreditam.

Se cada participante do Genfest conseguir pensar no como, pessoalmente, poderia trabalhar para fazer do Mundo Unido uma pequena realidade local, as pequenas pontes de fraternidade serão (continuarão sendo) construídas e poderão, talvez, chegarem à uma dimensão cada vez mais universal.

“Não se acontentem com migalhas, vocês têm apenas uma vida, sonhem grande. Não se acontentem com as pequenas alegrias, busquem a plenitude da alegria.” (Chiara Lubich, GENFEST, 2000)

O BEM da morte

Nem uma semana de Brasil completada e já pude me encontrar com o mistério da morte.

Além do vazio interior por não ter participado da experiência dolorosa de perder, pouco a pouco, um ente querido e da incapacidade de comunicar palavras que suprimissem a perda, pude, pela primeira vez, vislumbrar o BEM da morte.

Devaneios a respeito do significado de uma vocação têm me feito pensar nos SIM que damos cotidianamente e que produzem frutos positivos e negativos para a humanidade.

Olhando o corpo do meu grande amigo, exemplo de pai, marido, cidadão, percebi o quanto as respostas às nossas vocações[1] têm influencia direta na vida das pessoas que encontramos.

Acredito ser pouco discutível o fato de que estamos interligados em profundas relações que nos condicionam a uma vida melhor ou pior, a uma felicidade maior ou menor, a um BEM maior ou menor.

Um jovem que decide ser médico por vocação irá se desenvolver potencialmente, criar novos tratamentos, vacinas, que trarão benefícios à toda humanidade. Um piloto de avião com o mesmo desejo procurará realizar bem seus treinamentos conduzindo com segurança os deslocamentos de vidas. Um casal que decide estar juntos para sempre, superar as adversidades da vida, não somente porque estão apaixonados, mas pensando no projeto social que existe por trás de uma família, edifica um suporte eficaz para as gerações posteriores.

Os exemplos citados de “Sim” vocacionais para as diferentes dimensões da vida, produzem um efeito direto na vida de outras pessoas e da sociedade como um todo.

Tenho identificado uma crescente, e preocupante, banalização do significado de vocação. Vejo que o termo é usado somente em âmbito religioso, diretamente relacionado às pessoas consagradas, mas qualquer ser humano precisa descobrir qual é a própria vocação, o motivo pelo qual ele é chamado a viver e como deve buscar a fundamental felicidade pessoal afim de que ela possa enriquecer não só a própria vida, mas a sociedade como um todo.

O BEM que encontrei com a morte do meu grande amigo foi perceber que os resultados desses SIM às nossas vocações ficam, independente da nossa presença corporal nesse mundo.

Vocação, vida, relação… termos que professam uma mesma realidade que nasce da resposta (e da fidelidade) que procuramos dar à nossa passagem neste mundo e que o transforma, para o BEM ou para o “menos bem”.


[1] Vocações no plural porque não acredito que um ser humano é definido e definível por uma única dimensão, mas que deve responder a um cômpito específico em diversos âmbitos da própria vida: espiritual, profissional e etc.

Page 67 of 240

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén