Author: Valter Hugo Muniz Page 56 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Morar fora? Pra que?

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Eu passei quase metade dos últimos 10 anos vivendo no estrangeiro. O “glamour” desse fato, porém, se desfaz no que acredito serem as principais riquezas dessa experiência: o árduo exercício de “inculturação” e a valorização da própria cultura.

Quando nos limitamos a viver em um espaço físico reduzido, muitas vezes temos uma visão proporcional às coisas e o mundo. Ampliando os limites adquirem-se outras perspectivas, que nos transformam na essência e nos fazem ver que muitas experiências podem ser vividas de maneira completamente diferente e, mesmo assim, darem certo. É neste aspecto que se traduz a “inculturação”, completamente diferente de conhecer “o diferente” em passeios turísticos.

Adaptar-se a uma nova cultura é um exercício doloroso. Nesse processo de “perda” existe muita fadiga, revolta, sacrifício, mas que, quando superados, nos ajudam a crescer.

As maiores dificuldades são em relação ao clima, à comida e o idioma. Esse “triplo obstáculo” fundamenta qualquer processo de adaptação e se não for vencido, acaba transformando qualquer aventura em uma experiência traumática.

Depois dessa primeira fase, a vida no estrangeiro melhora bastante. Começamos a nos sentir bem, nos comunicar com os outros e, com isso, surgem outros dois novos desafios, menores, mas potencialmente destrutivos, se não forem lidados de maneira positiva: a não aceitação da diferença (ou a constante comparação) e a saudade.

Viver com “o diferente” nos leva constantemente a confrontar seus hábitos com os nossos esquemas psicológicos, construídos no processo de crescimento. A afetividade, abertura, seriedade, justiça, pontualidade… modos e valores… se plasmaram de maneira diferente em todo o mundo. A consciência (ou inconsciência) em relação a isso pode nos aproximar ou nos afastar da cultura alheia. Impedir-nos de entrar em profundidade, nos deixando simplesmente “fora” da vivência cultural.

As experiências que fiz me ensinaram a estar sempre aberto. Saber que “inculturação” exige, sempre, renúncia, mas que, por outro lado, promove benefícios profundos no nosso desenvolvimento.

Porém, mesmo o mais “inculturado” dos “estrangeiros” vai ter que aprender a lidar também com a saudade. Estar em outra cultura é sempre “estar em outra casa”. Nós temos raízes, origens, que nada é capaz de apagar. Basta ouvir alguém falando a nossa língua, usar a camiseta do nosso país, ouvir uma música ou encontrar alguém que conhece a nossa “casa” que a saudade “bate”.

E ter saudade é sinal de reconhecimento! É ter certeza de que somos de um determinado lugar, fruto de uma determinada cultura. Contudo, como qualquer sentimento, a saudade também pode ser controlada. Aprender a lidar com ela pode nos ajudar a redimensionar o significado de família, nação, casa.

Essa foi uma das experiências mais bonitas que fiz vivendo fora do país. Depois de tanto tempo longe, entendi que minha família, meu país, amigos, podem ser também aqueles com quem eu partilho cada momento, independente de onde esteja.

Superados estes desafios, descobre-se o quanto é bom morar fora. Uma experiência que todos deveriam fazer.

Um novo amor

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O amor é como uma brisa serena de outono, que entra e refresca o ambiente abafado pelo verão. É tão delicado que passa despercebido, funde-se no cotidiano, nos sorrisos, beijos e abraços desinteressados. Esse “tal” sentimento existe! Não é ideologia, sentimentalismo, ilusão, engano.

Foi esse amor que descobri em um (re)encontro, no Aeroporto de Cumbica, dia 7 de fevereiro de 2010. Ali começava uma aventura difícil de comunicar, mais fácil, porém, especialmente hoje, admirar.

Os 24 anos da minha amada esposa, Flavia, não são muitos. Sim, ela é muito nova. Nova para ser esposa e viver do outro lado do Atlântico, em outra cultura, distante da família. Nova para ter se arriscado em um amor “além das fronteiras” da segurança helvética. Muito Nova.

Eu, claro, vejo de outra maneira. A Flavia tem pressa pra ser feliz, para viver experiências grandes, fortes, bonitas, desafiadoras e, claro, viver cada coisa JUNTOS.

A novidade dessa vida se manifesta na beleza do cotidiano. No descobrir o que o “outro” gosta, desenvolver a paciência, entender o valor da diferença. Tudo no dia a dia, simples, verdadeiro e, por isso, perfeito.

O amor, mencionado, sentimento ontologicamente simples, se manifesta assim na sua, na nossa vida. Não é euforia, exagero, descontrole. É viver com Deus, entre nós e com uma multidão de “outros” maravilhosos, que nos aturam, ajudam e apoiam.

Com a minha esposa redescobri o significado subjetivo do Amor que, contudo, sempre se renova. A explicação objetiva, que exprima o quanto viver dessa maneira VALE A PENA, talvez eu ainda seja muito novo para dar.

Texto em homenagem à minha esposa Flavia e o início desse novo ano. Desejos de um amor que seja sempre capaz de se renovar, nas três dimensões fundamentais.

Lembranças quatro meses depois…

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E aí, tá nervoso? Tudo bem? Nervoso? Como você se sente? Impossível contar quantas vezes os convidados que encontrei na porta da igreja me fizeram perguntas do gênero. Mas não, as lembranças ainda me confirmam: Eu realmente não estava nervoso.

Ninguém sabe, porém, o que tinha se passado alguns minutos antes de vestir meu “vestido de noivo”.

Sentado no quintal da casa onde a família da Flavia estava hospedada, tive meu momento de intimidade com meu Deus. Olhando a natureza à minha volta, pensava nesse grande acontecimento da minha vida… todo o caminho percorrido, as dificuldades, inúmeras crises, mas sempre acreditando no Seu amor incondicional.

Assim, por ser cristão, decidi rezar um terço (a terça parte do Santo Rosário), oração que, para mim, é um momento de adoração e agradecimento por tudo aquilo que Deus me permite viver.

Depois daqueles minutos íntimos, senti que estava “acompanhadíssimo” para o meu casamento. Por isso a ausência de nervosismo. Tinha me preparado 28 anos para aquele SIM ao Amor, então era impensável qualquer tipo de temor.

Passados quatro meses, completados hoje, a certeza de que esse é o meu caminho é sempre maior.  Felicidade grande, fruto de um amor construído e preservado com minha amada esposa. Uma escola de amor à diferença que enriquece.

Contudo, a maior descoberta é perceber que a felicidade do casamento se constrói em maneira “tripla”: No relacionamento pessoal com Deus, no “amar-se reciprocamente” com a esposa e no abraçar à humanidade. Sem um desses pilares me parece impossível sentir-se verdadeiramente pleno.

Intervenções urbanas de Eduardo Srur

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eduardosrur.tumblr.com

Todos os dias, durante o meu trajeto de retorno à casa, pedalando (claro!), passo pelo centro histórico de São Paulo.

Liberdade, Praça da Sé, Rua Direita, Mosteiro de São Bento e Vale do Anhangabaú são as principais atrações desse percurso cultural, que a vida de ciclista me permite admirar.

Contudo, na última semana, passando por ali, me deparei com uma intervenção artística, muito interessante, que me apresentou o inusitado artista plástico Eduardo Srur.

Um Farol, coberto com 15 mil ratos de borracha, de 8 metros de altura, avisa “os navegantes” paulistanos, sobre uma realidade, sempre escondida, do submundo da metrópole. Segundo o artista, São Paulo tem uma das maiores populações de ratos do planeta, com uma média de quase 15 por habitante.

Eduardo Srur é famoso por suas intervenções a céu aberto na cidade de São Paulo – garrafas pets gigante ou caiaques nos rios Pinheiros e Tietê -, instalações provocativas que denunciam o caos urbano.

Uma das suas intervenções mais interessantes que vi no seu blog eduardosrur.tumblr.com  foi a carruagem em tamanho real, instalada no mastro da ponte estaiada e que compara a velocidade média de deslocamento de um carro no trânsito paulistano no horário de pico, com a velocidade de uma carruagem nos tempos do Império.

Um artista interessante de conhecer. Made in Brazil. O que dá um orgulho especial.

Intervenção da carruagem:

[vimeo=http://vimeo.com/52162322]

O medo de pedalar na cidade


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Uma das perguntas que mais me fazem, quando digo que sou ciclista em São Paulo há mais de 5 anos, é: você não tem medo?

Li recentemente uma frase bonita do Escritor e humorista norte-americano, Mark Twain: “Evitar a felicidade com medo que ela acabe é o melhor meio de ser infeliz. Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo”.

A frase não tem ligação direta com o fato de eu ter optado a bicicleta como meio de locomoção, mas exprime uma importante lição que todo ciclista urbano deveria aprender: resistir e dominar o medo, mas nunca perdê-lo.

O medo nos ajuda a ser prudente. Faz lembrar que, no caos do trânsito, da falta de educação e respeito, nós somos aqueles que mais arriscamos as nossas vidas, sobretudo pelo fato de estarmos mais desprotegidos. Esse importante sentimento nos ajuda a parar quando necessário, encostar a bicicleta, deixar passar um ônibus ou um táxi apressado.

Contudo, tenho que dizer o quanto é difícil exprimir, sendo ciclista, à felicidade fruto desse exercício de resistir e dominar o medo de pedalar na cidade. Chegar todo dia ao trabalho depois de uma pedalada é uma sensação que todo paulistano, que vive há poucos quilômetros do trabalho, deveria experimentar. A bicicleta nos faz sentir mais vivos, ajuda a perceber onde estamos e valorizar o fato de ter pernas, pulmão, coração… saúde (sem contar o aumento de rendimento no trabalho). Isso me faz cotidianamente superar o medo de algum incidente…

Outra questão é a probabilidade de que algo de ruim aconteça comigo. As estatísticas mostram que acontecem, proporcionalmente, muito mais acidentes com motoristas de automóveis e motoqueiros, que com os ciclistas. A questão da velocidade tem, penso, muito a ver com esse fato.

Na bicicleta o verdadeiro perigo são os outros. Desrespeito, pressa, desatenção podem realmente causar problemas sérios a um ciclista. Por outro lado, cabe também a quem pedala respeitar o trânsito: evitar calçadas, estar atento aos semáforos, dar passagem para ônibus, ambulância, táxi  não andar na contramão, não andar nas faixas centrais de ruas e avenidas com muito tráfego de automóveis. Enfim, procurar estar constantemente em harmonia com o ambiente e não querer se “impor” de maneira “agressiva”.

Assim, com paciência, começamos a lidar de maneira positiva com o nosso medo de pedalar na cidade, convivendo “pacificamente”, com ele.

 

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