Author: Valter Hugo Muniz Page 55 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Quando o ódio sobrevive!

Tamerlan Tsarnaev recebe troféu em universidade do Massachusetts, em 2007 Julia Malakie / AP

Tamerlan Tsarnaev recebe troféu em universidade do Massachusetts, em 2007 Julia Malakie / AP

Depois do triste acontecimento em Boston onde, supostamente, dois jovens de origem chechena armaram duas bombas durante a maratona da cidade, parece que o mesmo ódio que impulsionou o ato terrorista, ainda vive entre os cidadãos afetados pelo episódio dramático.

Passado quase um mês do terrível ataque, algumas cidades do estado de Massachusetts (nordeste dos EUA) se recusam a enterrar o corpo de um dos acusados, Tamerlan Tsarnaev, de 26 anos. Esse comportamento adotado por alguns cidadãos americanos evidencia alguns aspectos importantes e ilustra tamanha capacidade de desumanização, ao ponto de suscitar o desejo de vingança até mesmo de um corpo inerte.

O homo sapiens é o único animal que enterra seus iguais. O enterro é sinal antropológico dessa humanização. Até mesmo em conflitos bélicos enterram-se os inimigos como, talvez, uma maneira de encerrar a disputa. Negar-se enterrar o corpo de Tsarnaev é também uma demonstração de ignorância, de ódio cruel, mas é, sobretudo, um comportamento que dá continuidade a um acontecimento triste, que já devia ter sido enterrado.

Além dos aspectos mencionados, existe outro, mais sério. Não é a primeira vez que um crime dessas proporções surge internamente nos Estados Unidos. O massacre de Columbine, em abril de 1999, no estado do Colorado, Estados Unidos, é talvez o caso mais chocante. Na ocasião, os estudantes Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta, atiraram em vários colegas e professores do Instituto Columbine, matando 13 deles.

Ambos eram americanos. Não existia aqui a “desculpa” de serem de origem chechena, árabe, norte coreana, iraniana e assim, mesmo tendo cometido um crime horrendo, os jovens tiveram seus corpos sepultados no país. A renúncia do sepultamento do corpo de Tamerlan Tsarnaev, que vivia há mais de 10 anos nos Estados Unidos e tinha visto permanente é também uma omissão, como sociedade, da própria parcela de culpa neste acontecimento triste.

Um ato terrorista é, sobretudo, um ataque institucional, movido pelo ódio ou ideologias políticas que, ao meu ver, podem ser superados com a igualdade de direitos, a tolerância, o respeito e a consciência de que, independente de onde estamos, somos parte do corpo social. Algo faltou aos jovens de origem chechena que, claro, não torna menos injustificável o ato terrorista, mas que deve servir de alerta à sociedade, como um todo, de que o ódio fundamentalista precisa ser combatido com a fraternidade.

O perigo do Jaborismo

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Todas as manhãs, quando saio de casa, escuto os comentários do sr. Arnaldo Jabor na rádio CBN.

O fato de que o seu discurso, muitas vezes, me tira do sério, me provoca, mostra que Jabor comunica, pois a mensagem chega, chacoalha, independente do teor político dela. Contudo, o que a analise do conteúdo tem me feito pensar, é a respeito da periculosidade do método adotado pelo interlocutor.

A nossa “democracia adolescente” tem buscando, ao longo dos anos, desenvolver-se, ampliar seus protagonistas, para que o Brasil, tão maravilhoso e rico de recursos, possa superar traumas passados, que ainda o faz acreditar ser “escravo da colonização”.

Aquilo que o sr. Arnaldo Jabor faz, como comunicador, deferindo comentários agressivos, na forma e conteúdo,  é sacrificar os avanços de um debate fraterno entre “as partes”, fazendo subsistir o dilema dialético, defensor de um conflito destrutivo para se chegar a síntese.

Parece-me, contudo, que a condição de um saudável processo de tomada de consciência é o entendimento responsável entre as formas particulares de vislumbrar um sistema politico.

O perigo do “Jaborismo” é justamente impossibilitar o diálogo, estabelecendo uma distância conflituosa que não permite o crescimento, ou melhor, o consenso. Esse fenômeno se vê ilustrado nas muitas páginas de facebooks, em que “amigos” virtuais usam imagens ofensivas, vídeos ridicularizantes e comentários esdrúxulos, para atacar os representantes políticos eleitos.

Ninguém deve concordar com tudo o que o governo faz, fala! Eu mesmo não concordo! Mas a democracia exige o respeito à diferença e não só liberdade de expressão.

Um professor meu da “laurea magistrale” na Itália, Antonio Maria Baggio, defende a tese da fraternidade como “princípio esquecido” da politica. Assim, exalta-se a igualdade de direitos, a liberdade de direitos, mas não se pensa que ambos precisam ser lidos na ótica de um comportamento fraterno, capaz de respeitar, com maturidade “adulta” a ontológica diferença do “outro”.

Todas as manhãs, quando escuto Arnaldo Jabor, percebo com tristeza, que nossas manifestações democráticas, como a nossa democracia, ainda são profundamente adolescentes.

A “alma” da informação

E o lado positivo

Há alguns meses, tive um pequeno desentendimento com a pessoa responsável por um veículo de comunicação onde colaboro. Coisa que acontece, mas que além de distanciar duas pessoas pode, sem dúvidas, afetar o produto final.

Pois bem, uma das grandes descobertas profissionais que tive nos últimos tempos é que qualquer produto de comunicação tem uma “alma”. Não no sentido platônico, uma essência perfeita que se configure no “Além”, mas uma dimensão que “transcende” o emaranhado de palavras e frases e que, fundamentalmente, “toca” o receptor da informação.

Desta forma, o conflito com um colega de profissão, partícipe direto de um projeto comunicativo em comum, se não resolvido, pode sim influenciar negativamente essa “alma” do material produzido. Nas dinâmicas de elaboração do conteúdo, mesmo que este seja perfeito na “forma”, se “plasmado” em um ambiente negativo, ele se torna incapaz de “mover” positivamente o receptor.

Pode-se então afirmar que o contexto em que uma informação é produzida condiciona a expressão ou anulação dessa “alma”. Assim as “leituras”, as “intuições” e mesmo o método devem levar em consideração esse fator, difícil de mensurar, mas não impossíveis de perceber.

A “alma da informação” transforma a simples transmissão em verdadeira comunicação, no que diz respeito a “actio communio”, ação de colocar em comum, partilhar, em vez de querer impor, “pautar. Os “fins” tem sim relação de reciprocidade com os “meios”.

Superando a cacofonia da Babel

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Nos estudos que fiz durante a produção da minha tese de laurea magistrale, um dos aspectos que mais refleti foi a respeito da “incomunicação” existente no contexto atual. Mesmo em um mundo que, segundo Wolton, “todo mundo vê tudo, ou quase tudo”, não se compreende melhor aquilo que acontece. “A visibilidade do mundo não basta para torná-lo mais compreensível”, afirma o comunicólogo francês.

Wolton explica que o fim das distâncias físicas proporcionadas pela globalização revela, na verdade, “a incrível extensão das distâncias culturais”. Mesmo que as técnicas sejam homogêneas, o mundo preserva sua essência heterogênea.

A sonhada “Aldeia Global” apresentada pelo pensador canadense Marshall McLuhan é, na verdade, “cacofonia de Babel”.  Para Wolton “hoje a facilidade de comunicar dá o falso sentimento de que seja mais fácil compreender-se”. Contudo, nas pontas dos canais e redes de comunicação, encontramos frequentemente a incompreensão, para não dizer a “incomunicação”.

Neste contexto emerge também a questão da identidade. Historicamente lutada, sofrida e conquistada com o sangue de muitos, é difícil a sociedade abrir mão dela. Assim, de maneira natural, quanto mais os homens entram na globalização, mais eles querem afirmar suas raízes. Para o comunicólogo francês, tudo isso evidencia a necessidade de, “quanto mais comunicação e trocas houver, mais será preciso respeitar as identidades”.

Na prática, o desafio da comunicação contemporânea é marcado por constantes insucessos. Um exemplo simbólico é a da manipulação da informação feita pela rede de televisão americana CNN.  Além de suscitar oposições crescentes, desde a primeira guerra do Iraque (1991) e no pós 11 de setembro de 2001, a CNN, em vez de aproximar os pontos de vista, aumentou as distâncias culturais, exacerbando os maus entendidos.

O fato é que, como evidencia Wolton, “a globalização da informação cria um processo que foge a todo o mundo”, do qual é difícil controlar. Por isso, afirma o comunicólogo francês, “é preciso pensar a comunicação considerando a diversidade cultural”, em que os diferentes povos e culturas sejam respeitados. “Não há informação nem comunicação, sem o respeito do outro, do receptor”, afirma Wolton.

Eliane Brum no Provocações

Programa 553 com a repórter Eliane Brum – 19/03/2013

eliane e abujamra

Antes de ir conferir no wikipedia, poderia jurar que a jornalista Eliane Brum é gaúcha, pelo sotaque e pelos “tiques regionalistas” que eu só encontrei nos meus amigos do extremo sul do Brasil.

E eu acertei.

Natural de Ijuí, pequeno município gaúcho de quase 80 mil habitantes, Eliane Brum é hoje colunista da revista Época. Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), em 1988, Eliane ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem.

Já havia visto que muitos dos meus colegas jornalistas “partilhavam” alguns dos seus textos na rede social, mas nunca tive o desejo de parar para lê-los. Contudo, quando vi que o grande Abujamra tinha entrevistado Eliane, fui correndo assistir, almejando descobrir os motivos de tanto prestígio.

Diante de Abujamra, Eliane Brum falou de jornalismo e humildade, escuta, silêncio, lembrando-me do livro que estou lendo atualmente, do “mass-midiologista” italiano Michele Zanzucchi: “Il silenzio e la parola. La luce”, que apresenta justamente o silêncio como “principio esquecido” na profissão do jornalista.

“Eu não falo daquilo que eu não vou ver”. “A periferia e a Amazônia são abstrações”. Duas frases, que no discurso de Eliane não estavam diretamente ligadas, mas que têm quase uma relação causa-consequência ao inverso. Hoje, grande parte da população rica do país e também os “pobres ignorantes” exclui o contexto periférico das cidades, da sua concepção de espaço publico. E mesmo os intelectuais que defendem os direitos dos marginalizados, tiram conclusões por meio de livros, notícias de jornais… transformando a ignorância em cultura.

Sinceramente, não achei a Eliane uma boa entrevistada. Mais pelo jeito um pouco irritante, o tom de voz e uma certa antipatia. Provavelmente ela se dá melhor entrevistando. Contudo, é inegável a importância do seu discurso, sendo assim um programa que vale a pena ver.

Bloco1:

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